Aula de João Víctor Pimentel
1. Introdução à Química Orgânica
A área da Química que estuda quase a totalidade dos compostos conhecidos, em geral muito mais estruturalmente complexos que os inorgânicos, é a Química Orgânica. Tais compostos são marcados pela presença do elemento carbono. Compostos como carbetos, carbonatos, bicarbonatos, cianetos, etc. são considerados compostos de transição, pois possuem carbono em sua estrutura, mas comportam-se como compostos inorgânicos.
Um breve histórico do desenvolvimento da referida área é mostrado a seguir:
- Século XVIII: Scheele isola diversos compostos de materiais biológicos; Bergman define a Química Orgânica como a que estuda compostos de organismos vivos.
- Século XIX: Berzelius lança a teoria da força vital, afirmando que somente os sistemas vivos poderiam sintetizar compostos orgânicos; Wohler, no entanto, sintetiza ureia a partir de cianeto de prata, oxigênio molecular e cloreto de amônio:
A Química é uma ciência unificada, regida pelas mesmas leis em todas as suas áreas. A divisão em Química Orgânica e Inorgânica é puramente didática.
1.1. Carbono
Em 1858, Kekulé e Couper propuseram independentemente os postulados:
- O carbono é tetravalente.
- As quatro valências do carbono são equivalentes.
- Os átomos de carbono podem formar longas cadeias, chamadas cadeias carbônicas.
Em 1865, Kekulé sugeriu a existência de cadeias carbônicas cíclicas. Em 1874, muito antes do desenvolvimento da teoria da repulsão dos pares eletrônicos de valência, Van't Hoff e Le Bel propuseram a orientação tetraédrica das quatro ligações do carbono, este ocupando o centro do tetraedro regular. Uma ligação simples entre dois átomos de carbono ocorreria por um vértice comum aos dois tetraedros, uma dupla, por uma aresta comum e uma tripla, por uma face comum. Com o tempo, essa teoria foi modificada e aperfeiçoada.
1.2. Hibridização
É a combinação linear das funções de onda dos orbitais atômicos. Com ela, o número de orbitais é conservado, isto é, o número de orbitais não híbridos que havia no início e que participaram da hibridização é igual ao número de orbitais híbridos no final. Os orbitais híbridos apresentam a mistura das características dos orbitais que se combinaram para gerá-lo, como energia e penetrabilidade. Devido a isso, quanto maior o caráter de um orbital híbrido de orbitais e , ou seja, a razão entre o número de orbitais e o número de total de orbitais hibridizados para formá-lo, e.g., Caráter (orbital ), maior sua energia e menor sua eletronegatividade, pois os orbitais puros são alongados, ou seja, possuem alta energia e baixa proximidade do núcleo do átomo. Os orbitais híbridos aumentam a força da ligação e SEMPRE formam ligações . As ligações são formadas por orbitais puros.
Geometria molecular e hibridização estão intimamente relacionadas. No metano, um exemplo simples, um orbital e três orbitais do átomo de carbono são hibridizados, resultando em quatro orbitais . O orbital é esférico e os orbitais apresentam dois lóbulos simétricos cada um. Já os orbitais resultantes possuem dois lóbulos assimétricos (um longo e um curto) cada um e apontam para os vértices do tetraedro regular que possui o carbono no centro. A hibridação dá maior simetria ao sistema e minimiza as repulsões eletrônicas.
1.3. Fórmulas estruturais dos compostos orgânicos
Os compostos orgânicos podem ser representados nas seguintes formas: fórmula estrutural de traços, fórmula estrutural condensada e fórmula de linhas. A mais utilizada é a de linhas, visto que ela evita a escrita de átomos de carbono e de átomos de hidrogênio ligados aos primeiros. Cada interseção entre linhas representa um átomo de carbono ligado a tantos átomos de hidrogênios quantos forem necessários para completar sua valência. Lembrete: carbonos que apresentam ligação tripla são hibridizados em , sendo, portanto, lineares.
1.4. Classificação dos átomos de carbono
Um átomo de carbono pode ser classificado em primário, secundário, terciário ou quaternário de acordo com o número de átomos de carbono ligados diretamente a ele. Nessa ordem, um, dois, três e quatro átomos de carbono ligados diretamente a ele.
1.5. Classificação das cadeias carbônicas
- Quanto ao fechamento da cadeia
- Aberta, acíclica ou alifática: no mínimo duas extremidades livres e nenhum ciclo.
- Fechada ou cíclica: nenhuma extremidade livre e no mínimo um ciclo.
- Mista: no mínimo uma extremidade livre e um ciclo.
- Quanto à disposição dos átomos de carbono
- Normal: apenas duas extremidades livres. Só há carbonos primários e secundários.
- Ramificada: mais de duas extremidades livres. Há, também, carbonos terciários e/ou quaternários.
- Quanto ao tipo de ligação entre os átomos de carbono
- Saturada: apenas ligações simples entre os átomos de carbono.
- Insaturada: há pelo menos uma insaturação (ligação dupla ou tripla) entre átomos de carbono.
- Quanto à natureza dos átomos
- Homogênea: não há heteroátomo (átomo de elemento diferente de carbono) entre dois átomos de carbono da cadeia.
- Heterogênea: há heteroátomo entre dois átomos de carbono da cadeia.
- Classificações exclusivas de cadeias fechadas
- Quanto à aromaticidade
- Aromática: normalmente, mas não sempre, possuem núcleo benzênico.
- Alicíclica ou cicloalifática: não há núcleo aromático.
- Quanto ao número de anéis, ciclos ou núcleos
- Monocíclica ou mononuclear: apenas um ciclo.
- Policíclica ou polinuclear: dois ou mais ciclos.
- Condensada: os ciclos não possuem átomo de carbono em comum.
- Isolada: os ciclos possuem ao menos dois átomos de carbono em comum.
- Quanto à aromaticidade