Aula completa: Filosofia Pré-Socrática

1 - PRÉ-SOCRÁTICOS: O surgimento da tradição filosófica

Entender o surgimento da filosofia é entender a própria formação da civilização grega e seu bem-sucedido desenvolvimento ulterior. Ademais, o que fez da Grécia tão excepcional historicamente? Pois estamos falando, também, dos criadores da ciência; da matemática; da literatura e da arte. Não obstante, pode-se dizer que todo esse processo foi dado de forma rápida e repentina, revolucionando os milhares de anos que o antecederam com as civilizações do Egito e da Mesopotâmia. Contudo, como nós podemos saber que a filosofia nasceu em um período tão específico e em um local tão certo, ou ainda como podemos conhecer o primeiro dos filósofos? 

O PENSAMENTO MÍTICO

Ao dizer que o pensamento filosófico nasceu na Grécia, no século VI a.C, não estamos afirmando que os distintos povos da antiguidade — egípcios, babilônios, persas, assírios, chineses e indianos — não buscavam entender a realidade que os cercava; pelo contrário, todos esses povos estudaram o mundo ao seu redor e deixaram contribuições fundamentais para a humanidade. Contudo a abordagem que eles utilizavam era aquela provinda dos mitos e não de uma análise científico-filosófica. Os mitos consistem numa forma dos povos de explicar os aspectos mais complexos da realidade: o surgimento do universo e da vida, o funcionamento da natureza e o comportamento moral das pessoas. No entanto, o que distingue o mito das explicações racionais é o seu apelo ao inexplicável, ao imaginário e às narrativas fictícias.

O mito surge através de uma tradição cultural e folclórica e tem uma transmissão predominantemente oral, que pressupõe a disponibilidade do interlocutor em aceitar esta narrativa. Outra característica importante, é que o pensamento mítico não constitui um imaginário específico ou algo do tipo, mas sim uma postura de aceitação, tal qual uma paradigma, que se interpõe sócio e politicamente. Aliás, não teriam todas aquelas civilizações uma figura central no poder que, de alguma forma, ou era mais próxima dos deuses ou os representava em sua totalidade? O que, de fato, vemos na história é que havia uma aristocracia militar e uma aristocracia sacerdotal, que muito frequentemente usurpava o poder real em tempos de crise.

O estudo da mitologia de um povo diz bastante acerca deste, por isso não se pode subestimar sua importância histórica e cultural; por exemplo, quando se estuda as religiões do Egito e da Babilônia, percebe-se que estas eram, primeiramente, cultos à fecundidade. Por isso a existência de deusas femininas, não era um ideal baseado na igualdade dos gêneros, na verdade, era exatamente o oposto. As figuras femininas nestes mitos serviam apenas para ressaltar seu poder/dever reprodutivo. Ainda podemos, através destes cultos, analisar o processo de dominação de um povo sobre outro, ou seja, estudar a apropriação de uma cultura dominante sobre uma cultura dominada; nesse contexto, nem se menciona a óbvia relação entre a cultura romana e a cultura grega, contudo, é bem curioso pensar que a Grande Mãe, cultuada sobre vários nomes na Ásia Menor, deu origem à Ártemis, que posteriormente, já em meio ao Cristianismo, viria a ser chamada de Virgem Maria. Um concílio, realizado em Éfeso, ainda viria legitimar o seu título de “Mãe de Deus”. 

E quanto a moralidade e a legislação destes povos? Ora, o código legal mais antigo de que se tem registro é o de Ur-nammu, rei da cidade de Ur, na Suméria. Este código foi imposto em cerca de 2100 a.C e transformava costumes antigos em leis. Centenas de anos depois, em 1754 a.C, tivemos a imposição do célebre código de Hammurabi, rei da babilônia que afirmava ter recebido o código do próprio deus Marduk. 

Desta forma, fica claro que o pensamento mítico exerce  uma função fundamental em qualquer civilização que o use como maneira d ver o mundo. Ele é muito mais do que a crença no deus A ou B; ele é um paradigma de não-questionamento, em que o senso comum é fundamentado como explicação absoluta dos fenômenos naturais. O que seria então o pensamento filosófico?

O PENSAMENTO FILOSÓFICO-CIENTÍFICO

A Grécia, assim como as outras civilizações, foi inicialmente regida pelos costumes e pela sua mitologia. Não obstante, o chamado período homérico foi um momento de vasta produção poética e grande influência posterior; nele tivemos o grande autor Homero, escritor de “A Ilíada” e “Odisseia”, que propagavam não apenas narrativas, mas crenças e valores. A importância desse período está no fato de o pensamento filosófico não se dissociar completamente dos mitos, mas de alguma forma usufruir deles para buscar bases racionais.

Assim chega-se ao período arcaico, entre os anos 800 e 500 a.C, em que teremos a consolidação das primeiras cidades-estados, assim como um novo sistema econômico e político. Tudo isso há de culminar no primeiro pensador: Tales de Mileto. Com a decadência da civilização micênico-cretense, por volta do século XII a.C, cuja estrutura era monárquica e a classe sacerdotal apresentava expressiva influência sobre o poder, tornou-se cada vez mais fraco o elo entre os mitos e a política. Depois disso, entre os anos 900 e 750 a.C, com as invasões da Grécia pelas tribos dóricas advindas da Ásia central, começam a surgir as primeiras pólis, que trarão uma participação mais ativa da população e uma progressiva secularização desta. O papel da religião, assim como dos mitos em geral, é agora o de manter a tradição cultural e não mais explicar a realidade. 

Devido ao surgimento da democracia ateniense no final do século VI a.C, explicações extraordinárias ou fictícias tornam-se cada vez mais insuficientes, pois o próprio sistema argumentativo do debate exige bases mais sólidas. Por último, vamos considerar o porquê do pensamento filosófico não ter nascido em uma cidade do continente grego, mas nas colônias gregas do Mediterrâneo oriental, no mar Jônico, atual Turquia. Em especial, podemos mencionar Mileto e Éfeso, que foram importantes polos comerciais em que se encontravam diversas caravanas provenientes do Oriente, de lá suas mercadorias eram levadas a outras partes do mediterrâneo. Nessas cidades, viviam diversas culturas harmoniosamente, pois, devido aos interesses comerciais, os povos que lá viviam eram bastante tolerantes. Tendo em mente esse pluralismo cultural, a ampla diversidade cultural, linguística e mítica levou a relativização dos mitos, o que acabou por enfraquecer o seu caráter outrora universal e absoluto, pois este agora era visto em sua dimensão histórica e individual: cada povo tinha sua própria forma de ver o mundo. Parece então muito razoável que, em um contexto de atividades comerciais e interesses práticos, as explicações imaginárias percam cada vez mais o seu espaço.

Assim surge uma nova tradição do pensamento humano, fundamentada na razão e no estudo da physis (natureza) — objeto fundamental da escola jônica. Contudo, ainda há muito do pensamento mítico nas entranhas do pensamento filosófico, principalmente dentre os pensadores ditos pré-socráticos. Muito do que será visto futuramente em Pitágoras, Heráclito, Parmênides e muitos outros pode ser entendido como o conflito entre o espírito dionisíaco (mito) e o espirito apolíneo (razão).

1.2 – Escola Jônica

Depois de entender o processo histórico que levou a formação da tradição filosófica, nós vamos agora estudar as características que se fazem presentes nesta doutrina; assim como buscaremos entender o pensamento dos seus primeiros representantes. Usualmente se divide os primeiros pensadores entre pertencentes à escola jônica e pertencentes à escola italiana, esta classificação nos será bastante útil pois, além de salientar características comuns entre pensadores de uma mesma escola, ela ressalta o paradigma monista-mobilista, que abordaremos futuramente. Há ainda um terceiro grupo de filósofos nomeados Pluralistas, que surgem em uma fase diferente do pensamento pré-socrático.

Nesta aula, estudaremos apenas os primeiros pensadores, que compunham a escola jônica. Esta escola reunia os filósofos milesianos, assim como Xenófanes de Colofon e Heráclito de Éfeso, o qual será amplamente discutido futuramente. Um de seus aspectos fundamentais era sua visão naturalista e seu caráter científico. Desta forma, para estuda-los com uma maior facilidade, começaremos com um panorama geral a respeito do seu método e do seu objeto de estudo. 

Vale comentar também que tudo que se sabe hoje sobre os pré-socráticos deriva do que se encontra nas doxografias e nos fragmentos. As doxografias são comentários, análises ou interpretações de autores posteriores em cima de dizeres pré-socráticos, enquanto que os fragmentos são citações diretas dos enunciados transcritos ou escritos literais destes.

NOÇÕES FUNDAMENTAIS

Em meio a investigação racional de Tales e de seus discípulos, é essencial que se tenha noção de que realidade esses pensadores pretendiam abordar, isto é, o que seria a base de seus estudos. Enquanto que, durante a tradição mítica, o universo era visto de forma sobrenatural, incompreensível e além dos poderes de observação do homem — lê-se humanidade —, os representantes da escola jônica consideram-se cientistas da physis, daí seu apelido de físicos. A physis nada mais é do que a própria natureza concebida inteiramente a partir dos seus fenômenos naturais internos. Embora não ateia, esta visão de mundo é altamente secularizada, pois recusa a crença em qualquer objeto externo à realidade natural. 

Esta organização natural dos fenômenos é um preceito conhecido como kosmos, ou cosmo, e seria então a própria realidade ordenada e harmônica, esta em oposição ao kaos (desordem). Assim, a investigação racional só seria possível porque os fenômenos e a realidade absoluta que nos cerca mantêm uma certa organização causal; ou seja, fenômenos independentes sucedem-se uns aos outros e  podem ocasionar eventos terceiros, sendo todos estes fenômenos naturais. A isto chamamos de princípio de causalidade. Com efeito, pode-se dizer que a causalidade já existia durante o pensamento mítico, pois é notável que grande parte da cultura dessas civilizações surgia como justificativa para os fenômenos do dia-a-dia. A grande diferença é que, na tradição filosófico-científica, as causas devem pertencer ao mundo natural, dado que é paradoxal recorrer a uma explicação que usa do inexplicável. 

Para esclarecermos ainda mais essa distinção, vejamos um exemplo: o fenômeno da chuva. Para as civilizações do Egito e da Mesopotâmia, nascidas próximas ao rios Nilo, Tigre e Eufrates, a água era vista como sinônimo de vitalidade, o que era ainda reforçado pelo fato de serem sociedades agrícolas que precisavam da água para o cultivo. Desta forma é compreensível que achassem que apenas um deus poderia ser a causa para tal efeito. Sob a perspectiva dos milesianos, contudo, o estudo da physis mostraria a existência de um ciclo natural da água em nossa planeta, na qual cada etapa anterior causaria a posterior. Com isso, vemos que ambas as formas de pensamento baseiam-se em causalidade, mas que a tradição filosófica não aceita causas não-naturais.

Estabelecido este método de investigação, os primeiros pensadores — estende-se a todos os pré-socráticos — irão se deparar com um problema mais-do-que-clássico, a busca pela arque. Dado que todo os eventos causam novos eventos, chamados efeitos, e que estes primeiros eventos são, por sua vez, efeitos de causas anteriores, não haveria uma cadeia infinita de eventos, uns antecedendo-se aos outros e ainda outros mais anteriores? 

Este tipo de prova foi bastante usado pelos pensadores gregos, caracterizando-se como uma redução ao absurdo (reductio ad absurdum), pois a ideia de “até o infinito” (ad infinitum) era considerada pelos gregos como impossível. Sua noção de infinito era bastante primitiva e apenas teórica, qualquer hipótese de infinito real era tradicionalmente descartada. Este conhecimento falho do infinito proporcionou uma série de paradoxos, em especial os paradoxos de Zenão, que iremos estudar na próxima aula. 

Com a hipótese de uma cadeia infinita de causas abandonada, a única explicação possível era a de que deveria ter havido um elemento primordial da qual tudo se originou, esta sendo a arqué. Pode-se dizer que o grande projeto filosófico do pensamento pré-socrático foi a busca por este elemento primordial.

Por último, temos que mencionar o fato de a tradição filosófica, diferentemente da mítica, ser uma doutrina de caráter crítico; a crítica é um conceito antagônico ao dogmatismo, que se baseia no princípio de questionar as bases da tradição, isto é, a crítica e a dúvida tornam-se parte integral do pensamento filosófico. Sabendo disso, percebe-se que os discípulos se opunham as teorias de seus mestres não por indisciplina, mas pela própria natureza questionadora que é característica da filosofia. Torna-se razoável até que os próprios fundadores das escolas tenham desafiado seus pupilos a criticarem suas teorias.

Tendo conhecimento de todas essas características, podemos finalmente partir para o estudo dos pensamentos individuais de cada um de seus representantes: Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Xenófanes. Nesta aula, não iremos falar sobre o pensamento de Heráclito, pois este será guardado para uma posterior mais completa.

TALES DE MILETO

Tales era natural de Mileto e provavelmente viveu por volta do século VI A.C, dado que se tornou célebre pela previsão de um eclipse em 585 A.C, que encerrou a Batalha de Hális, documentada por Heródoto. Além de primeiro filosofo, Tales é também considerado como o pai da matemática e da ciência, tendo feito contribuições essenciais para ambas. Na matemática, foi o primeiro a usar de provas dedutivas e a enunciar teoremas, incluindo claramente aquele com seu nome; foi também responsável por levar conhecimentos práticos de geometria para o Egito. Já nas ciências naturais, fundamentou seu objeto e fez estudos dos mais variados com a natureza.

Depois dessa breve contextualização, podemos dar início a discussão que mais importa dessa seção: a sua arque. Tales acreditava que a hydor (água) era o elemento da qual todas as coisas se originaram. Esta afirmação pode parecer idiota hoje em dia, mas se olharmos o contexto na qual ela emerge, percebemos o quão importante e bem trabalhada é essa hipótese. Ao estabelecer suas ideias, Tales não está se baseando em deuses ou fábulas, mas apenas em sua experiência com a physis: não há vida sem água; apenas ela é encontrada nos três estados na natureza e o seu ciclo tem uma relação íntima com o funcionamento do nosso planeta. Tales não se referia à água como a que experimentamos diariamente, mas ela enquanto princípio, enquanto substância líquida. É notório que as conclusões de Tales são hoje facilmente refutáveis, porém é louvável que ele tenha iniciado uma tradição que nos levou tão longe. 

Diria Nietzsche sobre a arque de Tales em seu A Filosofia na Época Trágica dos Gregos:

A filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: “tudo é um”.

ANAXIMANDRO

Anaximandro é, atualmente, aquele que mais intriga os estudiosos do pensamento pré-socrático, pois ainda hoje suas ideias podem ser consideradas desafiadoras. Estamos falando de um homem que provavelmente nasceu por volta de 610 A.C  e que, ainda assim, defendia uma forma primitiva de evolucionismo animal. Não obstante, ele acreditava que todo o universo estava em constante evolução, assim como os outros universos além deste, que giravam e moviam-se imersos em uma substância infinita e eterna, o apeíron. Nesta última sentença, temos reunidas as principais ideias de Anaximandro, as quais iremos desenvolver em seguida.

Para primeiro comentar sua hipótese de que os mundos existiam em um regime de constante movimento, precisaremos entender porque os gregos costumavam achar que nada se movia no espaço. Baseados em seus preceitos mitológicos, eles acreditavam que as estrelas eram na verdade deuses, que repousavam no vazio da imensidão do universo que os cercava, sem nunca precisar se mover. O próprio movimento era entendido pelo gregos como algo falho, porque se tratava de uma busca por uma melhor posição e só algo que ainda não é perfeito pode melhorar; portanto, a perfeição dos deuses, orbes celestes, impedia que estes se movessem. Ora, assim vemos o quão revolucionário é o pensamento de Anaximandro ao propor que todo o universo está a se mover e mais, que o nosso próprio planeta está a girar em torno de um eixo — por mais que acreditasse que a terra tinha um formato cilíndrico.

Olhando agora para sua crença na evolução do universo, enquanto hipótese científica, percebemos como esta ideia condiz com o conhecimento que temos da nossa realidade atualmente. Basta que se entenda a palavra “evolução” como a  passagem de um estado mais simples a um estado mais complexo, o que de fato constitui uma lei; ou, sob uma outra óptica, que a vejamos como significando meramente expansão. O fato é que até muito pouco tempo atrás ainda se acreditava em um modelo fixista do universo e ele, mesmo há milhares de anos, já atacava esta hipótese.

No que diz respeito ao seu pensamento zoológico, não é preciso nem comentar demais. Tales, seu mestre, já acreditava em alguma forma de modificação animal, mas não explorara profundamente esta hipótese. Distintamente o fez Anaximandro, que estudou como teriam os seres vivos se originado, concluindo que todos estes teriam se formado na umidade. Os seres humanos, particularmente, descenderiam dos peixes. Anaximandro errou sobre muitas coisas, mas é curioso ver onde ele conseguiu chegar sem fósseis, genética ou pesquisas anteriores.

Por último, comentemos sobre a sua arque, que não representava um elemento natural, mas uma substância abstrata e indeterminada. Ao contrário da escolha de Tales pela água, que ainda hoje não se sabe ao certo os motivos, sabemos muito bem porque Anaximandro optou pelo apeíron. Sua escolha se baseou em considerar a hipótese mais justa. No entanto, a noção de justiça que ele estava a considerar era a noção cultivada pelos gregos, que difere bastante da que temos atualmente. 

A justiça dos gregos aproximava-se bem mais de uma questão harmônica do que de uma questão ética, pois tratava do equilíbrio dos conflitos. Eles acreditavam que todos os elementos naturais existiam em uma proporção fixa, mas que buscavam incessantemente alargar seus domínios, extinguindo os demais. Havia, contudo, um tipo de lei natural que restituía constantemente o equilíbrio destes mesmos elementos; quando o fogo deliberadamente alastrava-se pelos campos, buscando toma-los para si, ele eventualmente apagava em cinzas, que os gregos consideravam terra. Isso era o que os gregos chamavam de justiça, esses limites eternamente estabelecidos que se aplicam tanto para os homens como para os deuses. 

O argumento de Anaximandro para demonstrar que o elemento primordial não podia ser a água ou qualquer elemento natural se baseava no fato de que se um desse elementos fosse anterior, dominaria todos os outros. Se qualquer um deles fosse infinito, os outros sequer deveriam existir. Por conseguinte, o elemento primário deveria ser um agente neutro neste conflito, não sendo, assim, natural.

Aos moldes da filosofia, pode-se dizer que Anaximandro foi o discípulo perfeito, pois ele estudou e compreendeu as ideias de seu mestre Tales e teve a coragem de não se prender a estas; indo além do pensamento que o antecedeu, ele contrapôs as hipóteses da água como elemento primário e fundamentou uma arque mais abstrata, porém mais consistente. Infelizmente as ideias de seu sucessor acabam por ser bem menos revolucionárias.

ANAXÍMENES

Não há tanto o que falar sobre Anaxímenes, seja em relação a suas ideias ou a sua vida pessoal. Sabe-se que viveu antes do ano 494 A.C., pois, nesse ano, Mileto foi destruída pelos persas, quando estes sufocavam a revolta dos jônios. Embora atualmente seja, entre os pensadores do trio de Mileto, aquele que menos interessa os estudiosos, na antiguidade, ele foi bem mais admirado que Anaximandro, seu mestre. Isto se dá pela sua influência no pensamento pitagórico, de caráter mais abstrato e místico. Mantinha crenças de que a terra tinha o formato de um disco e de que o elemento primordial era o ar (pneuma).

 Supõe-se que tenha escolhido o ar por sua constituição invisível e incorpórea, que possibilitaria sua onipresença; ou ainda que o tenha escolhido pois acreditava que tudo representava a manifestação do ar em diferentes graus de condensação. Indo da alma até a terra, ar altamente condensado.

Aqui se encerra a escola de Mileto, que teve uma importância fundamental no desenvolvimento do pensamento humano. Analisaremos agora o último dos pensadores que estamos classificando como pertencentes a escola jônica — Lembrando que não trataremos do pensamento de Heráclito nessa aula.

XENÓFANES DE CÓLOFON

Xenófanes poderia ser integrado tanto a esta aula quanto a próxima, pois ele nasceu na Jônia e viajou para o sul da Itália. Optamos por colocá-lo aqui para estudar a passagem do pensamento jônico para o pensamento italiano de forma mais gradual. Enquanto que a escola de Mileto é caracterizado por um estudo científico da physis, as escolas pitagórica e eleática se tornaram célebres pela sua abordagem mais abstrata e religiosa da realidade, sendo, em certos aspectos, bem mais chamativa e tendo realizações mais marcantes.

Foi o precursor dos eleatas e existe a possibilidade de ter sido mestre de Parmênides. Seus escritos demonstram que apresentava um tom poético e que criticava o antropomorfismo da religião grega. Foi talvez o primeiro pensador a defender a existência de um deus único que se relaciona com a natureza ou que, até mesmo, se identifica com a própria. O deus de Xenófanes em nada é semelhante aos homens e paira sobre todas as coisas, mantendo uma unidade com tudo que existe. A forma dele não condiz com nada que os homens podem conceber. 

Um fragmento encontrado na obra Tapeçarias, de Clemente de Alexandria, diz: “Mas se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões e pudessem com as mãos desenhar e criar obras como os homens, os cavalos semelhantes aos cavalos, os bois semelhantes aos bois, desenhariam as formas dos deuses e os corpos fariam tais quais eles próprios têm”. Em uma outra, na mesma obra, afirma: “Os etíopes dizem que os deuses têm nariz chato e são negros, os trácios, que eles têm olhos verdes e cabelos ruivos”. É notável, por estas duas citações, que Xenófanes já propusesse uma noção primitiva de relativismo cultural; ao menos em relação a religião.

Acreditava, portanto, que o elemento primordial era a terra (seco) e a água (molhado), extremos que alternavam durante o decorrer do tempo cósmico. Em um momento a água cobriria toda a superfície do planeta e, em outro, a terra se tornaria num deserto gigantesco; com esta alternância, a vida iria sumir e reaparecer várias e várias vezes. Ele se baseou em observações de fósseis — não como os que conhecemos hoje — para supor que a terra já esteve completamente submersa em água.

1.3 – Pitágoras

Por mais científico que tenha sido o florescimento da filosofia com os pensadores de Mileto, têm-se que, ao se desenvolver no sul da Itália, a tradição tenha adquirido um caráter místico-religioso e, sob muitos aspectos, órfico. Não encontraremos, no estudo da escola italiana, uma verdadeira preocupação com a physis; com efeito, pode-se dizer que o objeto destes pensadores é bem mais abstrato e distante da realidade.

Compõe a escola italiana: a escola pitagórica — fundada por Pitágoras — e a escola eleática — cuja figura principal é Parmênides. Contudo, por questões didáticas, deixaremos para falar de Parmênides e do pensamento eleático juntamente com a análise do pensamento de Heráclito de Éfeso; ou seja, nesta aula, trataremos apenas do pensamento da escola pitagórica.

Desta forma, o principal pensador a ser analisado é o próprio Pitágoras, uma das figuras mais controversas e peculiares de toda a história; por um lado, um célebre matemático cujas contribuições vão desde a sistematização da geometria até as bases do pensamento platônico, por outro, um líder de uma seita esotérica que acreditava na transmigração da alma e pregava a abstenção de se alimentar de favas. 

BIOGRAFIA

Não é nem um pouco fácil escrever sobre a vida de Pitágoras, pois, devido a sua personalidade misteriosa e ao caráter místico de sua escola, muitos de seus discípulos espalhavam lendas acerca de sua pessoa. Uns diziam que era filho do próprio deus Apolo, senhor de toda beleza e harmonia; acredita-se ainda que, ele próprio, considerava-se um ser semidivino. De qualquer forma, existem alguns acontecimentos de sua vida que são tidos como consenso pela maioria dos historiadores.

Acredita-se que tenha nascido na ilha de Samos, na Jônia, em cerca de 570 A.C, filho de um cidadão rico chamado Mnesarcos. Samos foi dominada pelo tirano Polícrates de 538 a 522 A.C, o que o levou a abandonar sua cidade por desgosto do governo vigente. Supõe-se que tenha passado pelo Egito, onde teve contato com as religiões egípcias e as ideias de transmigração da alma, embora ele também possa ter tido contato com essas crenças na região da Trácia, no Norte da Grécia.

Logo após, ele migrou para Crotona, na Itália, onde pôde finalmente fundar sua sociedade de discípulos, dado que se tratava de uma cidade rica e próspera. O apreço do povo por sua seita decresceu progressivamente até ser expulso, culminado em fuga para Metaponto, local de sua morte. Em relação a sua morte, existem inúmeras histórias, algumas trágicas e outras cômicas; uns afirmam que teria morrido de inanição voluntária, ao acreditar que já vivera o suficiente, outros defendem que a sua abstenção a favas o levou a ser linchado, e outros ainda acreditam que teria morrido queimado junto com alguns de seus discípulos. A única coisa que se sabe de fato é que alcançara uma idade próxima de 80 anos.

ESCOLA PITAGÓRICA

Temos que reconhecer as contribuições do pensamento pitagórico aos tempos contemporâneos. Pitágoras e seus discípulos foram os fundadores da matemática como argumento dedutivo, isto é, da matemática pura e os primeiros a defender a esfericidade do planeta terra. Sua sociedade foi uma das, senão a primeira, a aceitar mulheres e a trata-las com igualdade de condições. Nela também havia um modo de vida comum, em que todos os bens e realizações matemáticas eram tidos como coletivos. 

Quanto a sua crença na imortalidade da alma, Pitágoras defendia que, assim como tudo na terra não some, mas transforma-se em algo novo, a alma também deve voltar indefinidamente para novas vidas em corpos distintos; podendo, inclusive, aderir ao corpo de animais. Esta crença levou a pregação do vegetarianismo em meio aos membros de sua sociedade, assim a pregação para animais. 

A influência de sua escola se estende desde Euclides até a forma como nós vemos a religião atualmente. O deus de Pitágoras é um deus atemporal e perfeito, que se manifesta na existência por meio dos números, que por sua vez são também perfeitos e atemporais. Nasce em seu pensamento o abandono do mundo material e a pregação de um mundo inteligível, o mundo dos teoremas, das provas e, sobretudo, o mundo de deus. Fica evidente o quão substancial foi a influência de Pitágoras no pensamento platônico, particularmente em relação ao saber e ao amor contemplativo, que comentaremos mais adiante.

Outro tópico que foi profundamente estudado por Pitágoras foi a música. Por muito tempo ela foi tratada como matéria de cunho geométrico, o que explica termos como “progressão harmônica” e “média harmônica”. Ele também analisava seus efeitos sobre o funcionamento da mente humana.

Como última grande influência, temos o método geométrico, que influenciou indefectivelmente o avanço da ciência durante o período moderno; especialmente, no que se refere à formulação do método científico. Além disso, vemos a ideia dos axiomas, pressupostos incontestáveis que servem de base para a teoria, tanto na ética, ao considerarmos, por exemplo, os direitos inalienáveis de todo e qualquer ser humano, como na teologia, ao considerarmos os dogmas da patrística.

A MATEMÁTICA

No estudo da vida e do pensamento de Pitágoras, percebe-se uma relação obscura entre matemática e religião, fato que se torna ainda mais curioso quando comparado ao pensamento jônico. Uma boa hipótese do porquê de isso acontecer é a seguinte: o florescimento da filosofia se deu em ausência de uma sistematização intrínseca a investigação racional, o que corroborou a ramificação da filosofia em uma vertente que buscava racionalizar a physis e outra que buscava um objeto racionalizado a priori.

Este objeto, na concepção dos pitagóricos, era o número. Dado que esse seria o elemento fundamental, presente em todas as coisas, e que associaria a aritmética à geometria. A visão que Pitágoras tinha da aritmética era que esta fundamentava o estudo da estética; este fato pode ser observado na arte e na arquitetura grega, que buscavam sempre trazer proporções exatas entre os elementos representados. Não obstante, temos que ele já apresentava uma ideia embrionária de atomismo, ao entender os comprimentos, áreas e volumes como múltiplos inteiros de uma unidade comum. 

Existe outra forma de explicar o misticismo presente em sua corrente, que é usada por Francis Cornford e diz que o Pitagorismo é, na verdade, uma reforma do orfismo, culto a Orfeu, que se utiliza de uma análise, particularmente, intelectual; ou seja, o pensamento de Pitágoras não representa uma ramificação da tradição filosófica em uma abordagem mais religiosa — talvez até o faça, porém de forma diminuta —, mas sim de um culto místico-religioso de caráter filosófico.

A aversão ao mundo natural em Pitágoras se expressa pela segurança do saber matemático, enquanto saber teórico, em oposição ao saber empírico dos físicos; dado que a validade de um teorema está baseada totalmente na veracidade de seus axiomas, estes que são auto evidentes. Portanto, seguindo este mesmo raciocínio, Pitágoras prioriza bem mais o conhecimento fruto do puro raciocínio do que aquele derivado de experiência sensível. 

Infelizmente, foram suas próprias descobertas que acabaram por destruir sua teoria. Estou me referindo exatamente ao seu mais célebre teorema, que pode, no entanto, ter sido descoberto por um de seus discípulos. Os egípcios já sabiam que um triângulo cujos lados medem 3, 4 e 5 tem um ângulo reto se opondo ao maior lado. Contudo, foram os pitagóricos os primeiros a perceber que 3^2+ 4^2 = 5^2 e a partir desse caso, provar a proposição geral. Sabendo desse fato, eles consideraram um triângulo reto isósceles, com ambos os catetos valendo 1 unidade, o que levou a descoberta de uma hipotenusa com valor irracional. Pitágoras supôs que tal número pudesse ser representado na forma \frac{m}{n} com m e n sendo inteiros positivos e primos entre si, isto é, sem fatores primos comuns. Desta forma, \frac{m^2}{n^2} = 2m^2 = 2n^2. Sabe-se então que o quadrado de m^2 é par e, portanto, m também é, podendo, assim, ser escrito na forma m = 2k, com k inteiro. Por outro lado, se o substituirmos na primeira equação, teremos: 4k^2 = 2n^2, o que analogamente implica que n é par. Portanto chega-se a um absurdo, pois foi suposto que m e n não tinham fatores primos em comum, mas se são ambos pares, certamente terão o número 2 em suas fatorações. 

Esta observação destruiu a teoria pitagórica de que, para tudo no mundo, existiriam proporções racionais de seus valores. Depois disso, a aritmética e a geometria foram separadas em dois estudos distintos. O próprio Euclides dedica todo o capítulo 10 da sua obra Elementos para tratar de medidas incomensuráveis (irracionais), claramente usando de uma abordagem geométrica. Apenas com René Descartes que estes dois estudos irão convergir novamente, a geometria, amplamente desenvolvida pelos gregos, e a aritmética, juntamente com a álgebra desenvolvida pelos árabes. 

ÉTICA CONTEMPLATIVA

Para Pitágoras e seus discípulos, a vida boa e correta só podia ser alcançada através da observação passiva e da reflexão. Os seres humanos, pois, só existiriam para contemplar a beleza de deus e da geometria e era isso que os qualificava como pessoas morais. Este louvor à contemplação irá influenciar profundamente o pensamento de Platão e toda forma de religião ocidental.

De acordo com a doutrina platônica, as pessoas que vão a um espetáculo apenas assistir são superiores aquelas que, de fato, farão o espetáculo. Quando ele cunha o termo filosofia, amor à sabedoria, é exatamente este amor ao qual ele se refere. O amor contemplativo, que aprende desinteressadamente. Estes valores fogem muito ao homem moderno.

A contemplação, naquele contexto aristocrático e escravocrata, dignificava o ócio da classe no poder — o trabalho era visto como uma atividade inferior —; todavia, com as revoluções burguesas que destituíram a classe dominante do poder e caracterizaram o mundo moderno, novos valores foram instaurados, valores que prezam a atuação, o liberalismo e o pragmatismo. Neste novo mundo, há pouco espaço para a contemplação desinteressada, o que nos distancia dos ideais pitagóricos.

1.4 – Monismo x mobilismo: Heráclito x Parmênides

Nesta aula, iremos, enfim, tratar de um dos tópicos mais relevantes e prolíficos da história da filosofia e, particularmente, do pensamento grego. Claramente estou me referindo aos pensadores Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia que, conjuntamente e conflituosamente, estabelecem o primeiro grande embate de paradigmas que abordaremos nesse curso, a saber, a oposição monista-mobilista. Em alguns aspectos, que te serão cada vez mais familiares ao longo dos seus estudos, todas as grandes oposições da filosofia moderna e contemporânea são frutos desta primeira oposição, por isso sugiro que dê bastante atenção a esse tema.

Não obstante, sugiro, também, que não entenda a análise desses pensamentos como uma busca por um vencedor; o fato é que ambas as teses, em seus sentidos mais absolutos, já foram, de certo modo, superadas. Isto não significa, contudo, que esses posicionamentos estejam errados ou ainda que não restem resquícios de suas ideias no pensamento contemporâneo — dizer tal coisa seria pecaminoso —, mas sim que ambos apresentam méritos assim como falhas que devem ser devidamente abordadas. Pode parecer, e de fato ser, difícil não aderir a nenhuma corrente filosófica ao longo dos seus estudos, mas é um esforço necessário; dado que se apegar demais a uma linha de pensamento pode te impedir de perceber os erros presentes nela, assim como os acertos presentes em suas antíteses. De qualquer forma, considere-se livre para não seguir esse conselho se não quiser.

Irei começar falando sobre o posicionamento dos mobilistas porque, convencionalmente, se estuda o monismo como posterior, embora o desenvolvimento de ambos não seja pontual, estendendo-se, pois, por muitos anos e diferentes pensadores. No que diz respeito a esse primeiro, tratarei apenas de Heráclito, ainda que os atomistas também o representem, pretendo apresenta-los como pluralistas no próximo artigo. Já no que tange este último, minha abordagem se dará em Parmênides, principalmente, e nos seus seguidores da escola eleática, isto é, Melisso de Samos e Zenão de Eléia.

HERÁCLITO

Um verdadeiro estereótipo de filósofo arrogante que subestima, e até mesmo questiona, o conhecimento de seus antecessores, de natureza árdua e escrita difícil, seguia um estilo afórico — série de escritos antológicos esporádicos que, não necessariamente, mantém relação entre si — poético, o que o levou a ser chamado de “o Obscuro”; se não estivéssemos no período clássico, certamente se pensaria que estou me referindo a Friedrich Nietzsche e essa comparação é, de fato, pertinente, ao menos em certos aspectos, embora completamente anacrônica. Isso e muito mais serve para demonstrar o espírito ímpar do sujeito que estamos analisando. 

Heráclito viveu por volta de 540 a 475 A.C, embora nascido na Jônia, ele não apresentava o mesmo caráter científico dos milesianos — optamos por citá-lo na segunda aula por uma questão meramente geográfica. Seguindo uma linha de pensamento mística, ele acreditava que a unidade da realidade se dava em uma unidade composta pela multiplicidade, isto é, pelo conflito de elementos opostos. 

Eis uma palavra importante do vocabulário de Heráclito: conflito. Do grego pólemos, tal palavra é a representação máxima do eterno e incessante chocar de elementos opostos que, em seus constantes encontros, movem-se caracterizando a si mesmo e a própria realidade como um todo. Os opostos são, assim, complementares e não fazem sentido isoladamente, pois apenas em par pode-se ter uma síntese do que realmente representam: o movimento eterno que realiza o equilíbrio de todas as coisas. Assim como vimos na segunda aula, em Anaximandro, o pensamento heraclítico também pressupõe a existência de uma justiça cósmica, a qual condicionaria o conflito a se dar indeterminadamente; caso contrário, um dos opostos eliminaria o outro e, consequentemente, se descaracterizaria, deixando de existir. Essa justiça está encarnada sob o nome de Deus em seus fragmentos.

Sua crença nos conflitos se expressa pelo seu amor pela guerra, diz ele: “A guerra é o pai de tudo e o rei de todas as coisas; fez de certas criaturas deuses e de outros homens; umas livres e, outras, escravas”. Ademais, dado seu desprezo pela humanidade, sua ética autodominante e sua visão do conflito, é quase que óbvio que manifestaria tal posicionamento. Vale mencionar que o pai da história da filosofia, Hegel, viria a considerar Heráclito como o primeiro pensador a usar de uma análise dialética. — termo esse que ainda veremos muito ao longo das aulas.

Acreditava no fogo como elemento primordial, uma escolha bem curiosa, mas que representava fielmente o embate de opostos em que se baseavam suas ideias. “Este mundo, que é o mesmo para todos, não foi feito nem pelos deuses nem pelos homens; mas sempre foi, é e será um Fogo eterno, com unidades que se acendem e unidades que se apagam”. O fogo assim é, portanto, a própria representação das transformações que ocorrem na realidade. A alma seria composta por fogo e água, em diferentes proporções; sendo melhor que possuísse uma alma seca, cheia de fogo, do que uma deliberadamente molhada. A alma seca seria como a maturidade desta, que não cederia aos desejos do coração, demonstrando, assim, autodomínio e evitando a distração do homem.

Por último, devemos comentar sobre sua opinião mais célebre, que diz respeito a constante mudança presente em todas as coisas. Panta Rhei, ou “tudo flui”, é a clássica frase que todos atribuem e usam para descrever seu pensamento; infelizmente, não podemos ter certeza se se trata ou não de uma frase do próprio Heráclito, podendo muito bem ser apócrifa. Temos também a famosa frase: “Não se pode banhar-se me um rio duas vezes, pois novas águas sempre correm sobre ti”. Apesar de a credibilidade dessas frases serem decerto questionáveis, elas servem perfeitamente para expressar suas ideias. Pensadores contemporâneos analisam essa frase, também, sobre uma abordagem epistemológica, já que o sujeito — elemento conhecedor — nunca teria um contato permanente com o real, ou seja, com seu objeto — elemento a ser conhecido. Veremos uma ideia parecida quando formos estudar a política da linguagem em Nietzsche — se comento muito sobre esse autor, é porque a influência dele no pensamento contemporâneo é absurda.

Algumas pessoas também usam dessa perspectiva para chama-lo de relativista; ou seja, alguém que acredita que a verdade, como condiz com a realidade, é subordinada à óptica daquela que a estuda. Essa ideia é bem interessante e, caso se interesse, eu sugiro que pesquise sobre, ou, pelo menos, reflita se seria possível qualquer forma de conhecimento em uma realidade inconstante, em que seu objeto escorrega pelos seus dedos.

Se não certa, a filosofia de Heráclito é, ao menos, corajosa, pois se baseia em pouquíssimas verdades imutáveis; ao contrário da religião, que clama pela imutabilidade seja em Deus ou na vida-após-a-morte ou até mesmo na moral, ao contrário, também, da ciência e da geometria, essa que se baseia em observações empíricas tidas como reais e esta que se fundamenta em uma série de axiomas, cuja veracidade é, supostamente, auto-evidente. No entanto, não se pode afirmar que não há nada de imutável no pensamento heraclítico, já que a própria mudança, o contorcer desmedido e constante do fogo, é eterno. “sempre foi, é e será um Fogo de vida eterna”. Esse comentário, como sempre, pode ser questionado, basta que consideremos o fogo não como uma substância, termo que será futuramente melhor explicado, mas como um processo. Vendo assim, o fogo não seria uma coisa, no sentido mais comum da palavra, mas sim uma energia que iria variar, tirando-a qualquer forma de identidade.

PARMÊNIDES

Se, para Heráclito, tudo na realidade se constituía de um eterno devir e de uma mudança incessante, para o filósofo que agora iremos comentar, nada realmente muda. Parmênides nasceu em Eleia, por volta de 530 A.C, e foi, sem sombra de dúvida, a maior influência do pensamento platônico. Claro que, por ser um pensador da Magna Grécia (Sul da Itália), também sofreu influência das ideias de Pitágoras; porém, não se pode, de maneira alguma, reduzir a relevância de Parmênides a uma mera cópia do pensamento pitagórico, pois esse é considerado o pai da metafísica e o fundador da lógica, embora esse título se adeque melhor em Aristóteles. Com efeito, pode-se dizer, ao menos, que nasce, com ele, um nosso jeito de argumentar e entender a realidade.

Muitas de suas ideias vão contra o senso-comum e o que nos é, usualmente, intuitivo. Em seu Da Natureza, fonte máxima de seu conhecimento, ele diz que a realidade, enquanto o que podemos perceber com os sentidos, é uma mera ilusão, não podendo sequer chamar-se realidade. Esta ilusão sensível acoberta um ser único eterno, indivisível e, sobretudo, imutável. Para demonstrar tais verdades, Parmênides usa de uma tautologia lógica, termo que ainda não existia, o princípio da identidade ou da não-contradição: o ser é e o não ser não é. Logo, o ser deveria eternamente ser, pois, se o deixasse de ser, não seria e, portanto, em algum momento de sua existência o ser teria não sido; não obstante, o ser também não poderia vir a ser, dado que não seria se só viesse o ser no futuro, só vem a ser aquilo que não é — pode parecer confuso no começo, mas se trata de uma ideia bem simples. O ser é esférico porque está centrado em si mesmo e cada parte o contém como um todo, não pode ser divisível porque, se o fosse, quebraria, deixando de ser.

A mudança, para Parmênides, é, portanto, uma mera aparência da realidade que julgamos existir por não termos um acesso pleno ao ser. Ademais, como poderia haver transformação se para que houvesse eu tivesse de reconhecer no produto final algo do produto inicial, caso contrário seria apenas alguma outra coisa, a mudança, assim, pressupõe a permanência. As coisas aparentam mudar, mas suas essências permanecem sempre a mesma. Por exemplo, digamos que uma mãe, ao se deparar com seu filho já na vida adulta, pronuncie a seguinte frase: “meu filho, você mudou tanto!”, é evidente que esta frase se dirige a seu filho que, supostamente, teria mudado, mas se ele, de fato, tivesse mudado, tornado-se algo distinto do que era, ela sequer poderia lhe atribuir mudança, pois seria ele outro alguém; com efeito, ela sequer poderia lhe chamar de “filho” se a essência dele não tivesse permanecido, o que nos leva a outro aspecto sua tese, o aspecto linguístico.

Sim, muito antes dos pensadores contemporâneos atribuírem à linguística a importância que ela tem hoje, Parmênides já usava desta para ter um entendimento mais válido da realidade. Esse fato está presente na seguinte citação: “A coisa que pode ser pensada, e aquilo pelo qual existe o pensamento, é o mesmo; porque não podes encontrar uma ideia sem algo que é, e a respeito do qual ela se manifesta”. Essa frase diz que o exercício do pensamento, assim como o da fala, exige um elemento externo, ou seja, ao pensar, nós estamos, de fato, pensando em algo. Para que a língua seja eficiente, isto é, que possamos expressar um mesmo nome para um mesmo sentido em ocasiões distintas, é preciso que aquilo a que nos referimos não se transforme, por conseguinte, a mudança é impossível, porque se esta existisse, o nome das coisas teria, também, de mudar incessantemente — atentem a essa ideia, pois a tal política da linguagem nietzschiana, que mencionei a pouco, consiste em algo semelhante.

Por mais bem estruturado que esse argumento seja, em especial para a época, esta prova é logicamente inconclusiva, ou pelo menos incoerente, para a lógica moderna. Se partíssemos dessa hipótese, uma afirmação como “isto não é uma mesa” não poderia ter significado algum, pois ela seria congruente a assertiva “isto é uma não-mesa”, e como todas as palavras, para terem sentido, precisam fazer referência a algo que, de fato, existe, a palavra “não-mesa” não pode ter significado real, dado que ela referencia algo que não é. Este não é o único paradoxo que emerge dessa inferência, afinal o que devemos dizer então de palavras como “unicórnio”, “elfo”, “hobbit” e todo esse vocabulário de cunho fantástico, essas palavras não têm sentido?

Sem dúvida alguma, se você se der ao trabalho de perguntar para qualquer pessoa o que é um unicórnio, ela provavelmente irá te responder a mesma coisa, fazendo a descrição de um ser que se parece com um cavalo, ou pônei, e que apresenta um chifre em sua testa. Sabendo disso, a afirmação de que essa palavra não tem sentido por si próprio parece-nos, atualmente, absurda, mas vejamos além. Essa palavra tem significado quando posta em uma frase? A veracidade da expressão “os unicórnios vivem na terra encantada” é, ao menos, duvidosa, mas certa em algum sentido — certamente não no histórico —, a pergunta que surge é: como atribuir um valor de verdade ao predicado de uma palavra como essa? Usualmente, se estivéssemos a falar de uma expressão como “pedras são duras”, poderíamos constatá-la como verdadeira ao simplesmente observar a realidade que nos cerca, porém, não podemos fazer isso quando nosso sujeito não pode ser encontrado, o que nos leva a crer que uma frase como essa não pode ser nem falsa e nem verdadeira, algo inaceitável para Parmênides, talvez daí venha a ideia de a frase não ter sentido.

E quanto a um nome que referencia uma pessoa morta, ela tem sentido? Ora, para Parmênides, o passado não existe de fato, pois, quando nos lembramos de algo, lembramos agora e não no passado; esses eventos que correm a sua mente o fazem neste momento e não em outro, o que implica que algo que existiu no passado existe e sempre existirá. O mesmo ser dá em relação ao futuro, pois, se algo viesse a existir, estaria vindo a ser, portanto, não era e, consequentemente, nunca seria. Mas, se Parmênides acredita que tudo que vai ser já é, então o futuro tem de já estar determinado em sua concepção, por isso o classificam como determinista.

Poderia me estender muito mais acerca da problemática que a inferência de Parmênides gera e o desenvolvimento lógico que ela acarreta, mas pretendo abordar esse tema em aulas futuras. Como podemos ver, a linguagem é um assunto bastante rico e complexo e que terá, e tem, bastante foco na contemporaneidade. Para ressaltar, as principais ideias de Parmênides que persistirão até o mundo moderno são: a indestrutibilidade da substância — termo abstrato que será mais bem definido em Aristóteles e se manterá até o começo do pensamento contemporâneo — e sua contribuição lógico-metafísica.

ESCOLA ELEÁTICA

Como fundador da escola eleática, as ideias de Parmênides serviram como base para seus discípulos que, por meio de métodos próprios, buscavam justifica-las. Em suma, temos dois pensadores que precisam ser conhecidos: Melisso de Samos e, especialmente, Zenão de Eléia. Cada um deles usará da própria abordagem para contradizer a ideia de movimento e mudança.

MELISSO, além de filósofo, foi também militar e não se tem muito que falar sobre ele; de fato, seu pensamento é apenas uma sistematização das ideias e do método de seu mestre e traz em suas demonstrações uma estrutura lógica bem mais ordenada, com premissas e conclusões, estas que implicam em conclusões posteriores. Além disso, ele foi um grande influente da escola atomista, podendo até ter sido mestre de Leucipo, um de seus fundadores.

ZENÃO foi um pensador com uma metodologia bem diferenciada e criativa, seguindo a prova reductio ad absurdum, que eu já comentei ao falar sobre Anaximandro, ele desenvolveu uma série de paradoxos que provavam a impossibilidade do movimento e do próprio tempo. Aristóteles chega a considerar que suas provas são o nascimento da dialética enquanto técnica argumentativa, pois se baseiam na aderência a tese de seu opositor para então demonstra-la como falsa. Não obstante, estes paradoxos representam problemas que persistiram por milhares de anos e, até os dias de hoje, trazem novos questionamentos à lógica contemporânea, principalmente pela sua complexidade e pelo caráter abstrato do que representam. Vamos, pois, conhecer tais paradoxos.

Comecemos com o paradoxo de Aquiles e da tartaruga, pois esse é o mais célebre e discutido paradoxo de Zenão. Imagine uma corrida que irá ser disputada por Aquiles, o herói mítico, e uma tartaruga qualquer, é bastante evidente que, devido a sua vantagem natural e a seu coração justo, ele cederá alguns segundos para que a tartaruga tenha a dianteira. Digamos então que, ao dar a largada, Aquiles se encontra a um metro da tartaruga, quando ele percorrer essa distância entre ambos, a tartaruga terá andado mais um pouco, consideremos 10 centímetros, ele terá, agora, de percorrer esses 10 centímetros, o que dará tempo a tartaruga de percorrer mais um e, quando ele percorrê-lo, ela andará a décima parte de um centímetro e assim sucessivamente. Com efeito, Aquiles pode diminuir quanto for a distância entre ele e a tartaruga, mas nunca a alcançará. Uma das originalidades desse argumento é que ele relaciona explicitamente tempo e movimento, pois o tempo também estaria indefinidamente sendo divido por 10 e, assim, tendendo a zero, fazendo com que a própria ideia de tempo fosse absurda.

O outro paradoxo que temos que comentar é o da flecha imóvel, que nada mais é do que o mesmo argumento dito de uma forma diferente. Para que uma flecha se mova, ela precisa antes percorrer seu próprio comprimento, mas, para isso, deve percorrer também a metade do seu comprimento e um quarto deste. A flecha pode ser infinitamente divida em partes menores, o que implica que ela deve permanecer imóvel.

Ambos os paradoxos podem ser resumidos na quebra do tempo em instantes infinitesimais, fazendo como que o fluir do tempo não possa se dar realmente. Esses paradoxos influenciaram o matemático Georg Cantor a desenvolver a teoria dos conjuntos e dos limites — um dos fundamentos primários para o cálculo infinitesimal —, provando que uma soma de termos infinitos pode convergir para um número finito, isso se torna particularmente claro quando reparamos que a distância entre Aquiles e a tartaruga representa uma progressão geométrica. Basta supor que as distâncias entre ambos, nos instantes respectivos, são: a, aq, aq^2,..., aq^n, a soma de seus valores se daria por S = a + aq + aq^2 +... + aq^n, daí com um pouco de manipulação algébrica se teria que S - Sq = a - aq ^ {n+1}, ou seja, S = a \frac{1-q^{n+1}}{1-q}. Para encontrar a distância percorrida após infinitos instantes, temos de fazer com que o valor de n tenda ao infinito; como estamos considerando que Aquiles é substancialmente mais rápido que a tartaruga, 0 < q <1, pois a distância entre eles está cada vez menor. Portanto, se considerarmos o produto deste número consigo mesmo, este deve ser ainda menor, o que demonstra que ele diminuirá cada vez mais quanto maior for a potência ao qual estiver elevado. Podemos concluir, então, que ao ser elevado a um número extremamente grande, maior do que qualquer outro que se possa conceber, seu resultado será menor do que qualquer valor maior do que zero, o que define que esse valor tende a zero. Consequentemente, teremos que S =\frac{a}{1-q}. Assim pode-se determinar em que ponto e em que momento o encontro de ambos se dará, refutando Zenão.

O mais importante das ideias de Zenão é que elas marcam um ponto chave na história da filosofia, que é quando ocorre a dissociação entre o senso comum, nossas percepções imediatas da realidade, e a explicação teórica da realidade, que se dá de forma mais árdua por meio de uma análise lógica. Por isso não se pode refutar Zenão simplesmente falando: “mas é óbvio que Aquiles irá ultrapassar a tartaruga, sua análise toda é absurda”. Eis o porquê de o estudo da filosofia ser tantas vezes perturbador, passam-se centenas, milhares de anos para que se refute uma ideia que nos parece tão claramente falsa, isso quando é refutada.

1.5 – Pluralistas

Nesta última aula, trataremos do que muitos historiadores da filosofia consideram a segunda fase do pensamento pré-socrático. Com efeito, a maneira pela qual estes pensadores concebem a realidade é, sob muitos aspectos, distinta das de seus predecessores e não apenas no que tange as particularidades de suas teorias, mas no que concernem as características mais abstratas presentes em suas teses. Por exemplo, os pensadores desta fase não se prenderão radicalmente a nenhum polo do paradigma monista-mobilista, mas buscarão, em vez disso, hipóteses que se encontrem em um meio-termo entre tais posicionamentos.

Desta forma, para esses pensadores, a realidade é múltipla e dinâmica, essa pluralidade está impressa no seu sincretismo — mistura de diferentes doutrinas, muitas vezes opostas, que será vista mais profundamente no estudo das escolas helenistas — em relação aos seus predecessores. Assim sendo, era possível que um desses representantes pudesse ter sido influenciado tanto por Parmênides como por Heráclito e, ainda, tentasse conciliar as visões de mundo diametralmente opostas de ambos. 

ANAXÁGORAS DE CLAZÔMENAS

A primeira coisa que se deve ressaltar da vida e da obra de Anaxágoras é que sua importância é, em geral, maior do que lhe é atribuída. Nascido em Clazomênas, na Jônia, por volta de 500 A.C, foi levado pelo próprio Péricles para Atenas, onde passou mais de 30 anos. Não obstante, foi ele a pessoa que introduziu a filosofia em Atenas, que viria futuramente se tornar o centro da discussão filosófica do mundo grego. 

Dois conceitos são fundamentais para explicar o pensamento de Anaxágoras: nous (espírito) e homeomerias. Acreditava ele que a realidade era potencialmente divisível ao infinito e que cada coisa no universo continha um pouco de todas as coisas e se aparentavam tão mais àquelas que mais continham. Em sua concepção de mundo, a realidade, em toda sua pluralidade, era descrita pela manifestação de sementes que continham um pouco de todas as coisas, as homeomerias, que não variavam em consequência da presença, ou ausência, absoluta de um elemento particular, mas das proporções de um elemento sobre o outro. Consequentemente, havia de tudo em todas as coisas, mas predominava nelas aquelas coisas que elas eram. Na realidade, nem tudo; apenas as coisas vivas apresentavam espírito — o termo espírito não é empregado por Anaxágoras com o seu atual sentido —, este que é infinito e autônomo e não pode ser misturado com mais nada. 

O espírito seria a inteligência cósmica, ou poder organizador, que movia as homeomerias de sua posição primária, mantendo-as sempre em estados homogêneos àqueles primeiros. Desta forma, Anaxágoras achou uma maneira de possibilitar a mudança sem cair nas críticas de Parmênides. Entendendo dessa forma, cada coisa seria formada, também, por uma parte, provavelmente ínfima, de seus opostos — de fato, a única coisa que não estaria presente em todas as outras coisas seria o espírito, este que também não conteria nenhuma outra coisa além de si mesmo —, justificando a ideia de que a neve é negra, parcialmente.

Sendo o espírito a fonte máxima do movimento, ele rotacionaria toda a realidade, fazendo com que as coisas mais leves fossem para as bordas, enquanto que as mais pesadas se concentrassem no centro. O espírito estaria igualmente em homens e em animais, seriam suas diferenças físicas que causariam suas diferenças intelectuais.

Outra coisa que não pode deixar de ser dita é a ligação entre Anaxágoras e a escola de mileto, particularmente com Anaxímenes. Com efeito, ele é responsável por revitalizar a tradição científico-filosófica, especialmente no que diz respeito à noção de mecanicismo; muito embora ele utilizasse o espírito como causa, ele apenas o fazia quando não achava outra solução plausível, na maior parte de sua obra, ele explica as coisas por uma abordagem puramente mecânica. Nos seus escritos não se encontra quase nada acerca de religião ou ética, o que, somado ao fato de sua filosofia altamente secularizada, nos leva a crer que fosse provavelmente ateu. Todas essas foram “provas” usadas por seus perseguidores para acusa-lo de impiedade — crime o qual seria condenado Sócrates futuramente. 

Em Apologia de Sócrates, o próprio cita Anaxágoras para ironizar os comentários de seus acusadores e alegar-se como inocente:

— Digo isto: que você não acredita nos deuses, absolutamente.

— Que maravilha, Meleto! Como pode dizer isso? Que eu, então, ao contrário de toda a humanidade, não acredito que o sol e a lua sejam deuses?

— Não, por Zeus, ó juízes, porque diz que o sol é uma rocha e a lua é uma terra!

— Então acusa Anaxágoras, meu caro Meleto, e o coloca como débil? Supõe que sejam tão iletrados que não sabem que os livros de Anaxágoras de Clazômena são cheios de tais afirmações.

O mérito de Anaxágoras para com a ciência foi ímpar, tendo sido responsável pela descoberta de que a lua brilha por refletir a luz do sol e por explicar como ocorriam os eclipses. Além disso, acreditava que o sol, e todas as outras estrelas, eram rochas superaquecidas que estão incomensuravelmente distantes de nós, estando, inclusive, mais distantes que a própria lua — contrariando uma crença comum da época. Também previu por dois mil anos a constatação de Galileu de que havia montanhas na lua, acreditando, também, que lá haveria habitantes.

EMPÉDOCLE DE AGRIGENTO

Empédocles é uma figura curiosa, principalmente devido à forma como relaciona ciência e magia, assim como pela sua participação política. Tendo nascido por volta do ano 490 A.C, foi contemporâneo, embora bem mais novo, de Parmênides; apesar disso, foi bem mais influenciado por Heráclito. Ficou marcado no mundo ocidental por sintetizar as ideias de seus predecessores com sua doutrina dos quatros elementos: água, terra, fogo e ar. No entanto, essa ideia é bem mais completa do que popularmente se sabe.

Assim como Anaxágoras, Empédocles buscava resolver o paradigma monista-mobilista sem ter de aderir completamente a um dos lados, pois sabia que, ao se posicionar como monista, tomaria para suas teorias todos os absurdos frutos da concepção non-sense dos eleáticos e, caso se agregasse ao posicionamento mobilista — o que seria mais provável —, ficaria sujeito aos paradoxos insolúveis e irrefutáveis contra a mudança. Sabendo disso, ele conjecturou que a realidade deveria se manifestar através de elementos primários, permanentes, que ao se reunir, em suas muitas possíveis proporções, davam origem às substâncias complexas, estas sim que eram variáveis. Além dessas, haveria também o Amor e a Luta, que existiam para unir e separar os elementos, respectivamente. Existindo assim momentos em que o Amor predominava e momentos em que a Luta se demonstrava soberana.

Não obstante, em sua concepção, a realidade era como uma esfera, em que tanto a Luta como o Amor poderia estar no interior. Ao passo que o Amor ia unindo os elementos, a Luta, mantinha do lado de fora, até que, ao estarem profundamente misturados, a Luta começaria a separa-los; quando completamente desunidos, o Amor os reuniria novamente. Esse ciclo se manteria lentamente fazendo das substâncias temporais, contrastando-se, assim, com os elementos, que seriam eternos.

Como consequência do ciclo do Amor e da Luta, nós temos quatro períodos, sendo bem intuitivo descrevê-los. Inicialmente, temos o momento onde tudo estava combinado, o Amor estava dentro da esfera e a Luta totalmente fora. Em seguida, temos o segundo período, em que o Amor estava saindo e a Luta entrava na esfera, os elementos estavam parcialmente combinados e parcialmente separados. No terceiro período, a Luta está completamente inserida na esfera e as coisas estão todas dissociadas. Finalmente, no último período, o Amor está combinando novamente os elementos, enquanto a Luta sai da esfera. Claramente que, na concepção de Empédocles, o nosso mundo só poderia existir no segundo e no quarto período. 

Outra característica que diferencia bastante o pensamento de Empédocles é a sua crença na aleatoriedade, no acaso; para ele, todos esses processos que aqui foram descritos não tinham nenhuma finalidade em si próprio, mas apenas a tinham enquanto produto necessário de um acaso autônomo e soberano. 

Sua noção de aleatoriedade também está presente em seus estudos sobre a evolução animal, em que descreve uma hipótese de proto-seleção-natural. Acreditava que as partes dos corpos animais surgiram primeiro, completamente ao acaso, como as cabeças, orelhas, pernas, mãos e etc. “Nela muitas cabeças sem pescoço germinaram, e nus erravam braços desprovidos de ombros, e olhos sozinhos vagueavam privados de fronte.” e então estas partes começam a se unir, também ao acaso. Desta reunião randômica surgem seres completamente bizarros. “Muitos de ambíguo rosto e de ambíguo peito nasciam, bovinos de figura humana, e ao contrário surgiam humanos de cabeça bovina, híbridos em parte de homens, em parte raça de mulher de umbrosos membros ornada”, levando, assim, a eliminação daqueles que não estavam aptos para a sobrevivência. Tudo isso se daria no quarto período, também conhecido como período do Amor.

No âmbito científico, ficou conhecido por sua prova da existência do ar, esta que aparece em um trecho relacionado à respiração, processo que Empédocles se interessava bastante. Curiosamente, sua prova usa bastante de observações empíricas e consiste, basicamente, em constatar que ao se colocar um balde com a concavidade virada para a água, ou seja, com o fundo virado para cima, o balde ficará suspenso na água sem que seu interior seja preenchido por água. A única explicação lógica, segundo ele, é que houvesse outra coisa a preencher o interior do balde, sendo esta o ar.

Quando uma menina, brincando com uma clepsidra de metal brilhante, coloca o orifício do tubo em sua bela mão, submergindo a clepsidra na massa cedente de água prateada, a corrente não penetra em seu interior, mas o volume de ar que se acha dentro, fazendo pressão sobre as perfurações abundantes, a mantém afastada, até que a menina destape a corrente comprimida; mas então o ar escapa e entra um volume igual de água

No que tange suas crenças religiosas, seguia uma doutrina muito similar a de Pitágoras e mesmo com todo o misticismo a que estava tradicionalmente subordinado, apresentou um rigor científico bem maior que o de Parmênides e de Heráclito.

OS ATOMISTAS

 Acredita-se que a escola atomista tenha sido fundada por Leucipo, figura cujas fontes nos são escassas, e, posteriormente, sistematizada por Demócrito, este na qual já se tem mais informações. O primeiro tendo nascido em Mileto ou Abdera por volta do ano 470 A.C, enquanto que o segundo originou-se em Abdera, muito provavelmente, dez anos após seu predecessor. Não obstante, devido à elevada similitude entre ambos pensadores e sendo, para estes fins, um tanto quanto desnecessário, quando estiver associando uma ideia a um deles, não estarei excluindo a possibilidade desta ideia ser advinda do outro representante.

Demócrito, por mais que seja estudado como pré-socrático, foi contemporâneo de Platão e demonstrou uma visão de mundo radicalmente oposta a deste, alguns chegam a dizer, como Diógenes Laércio, que o discípulo de Sócrates tentou atear fogo a suas obras. Com efeito, a concepção de mundo dos atomistas baseava-se em uma quantização da realidade; isto é, a decomposição da realidade em elementos extremamente pequenos e indivisíveis, os átomos, que seriam maciços e indestrutíveis — os átomos que uma vez existiram ainda existem e sempre existirão. Estes átomos seriam infinitos em número e iriam variar segundo sua distribuição geométrica, calor e, segundo alguns, peso. 

Não obstante, os átomos estariam sempre se movendo, movimento este que caracterizaria as mudanças que presenciamos. Quanto à maneira que se dava este movimento, temos a visão dos epicuristas — Epicuro, pensador helenista, foi um grande adepto do atomismo —, que acreditava que os átomos estariam eternamente a cair e, desta forma, se chocariam com aqueles que se moviam mais devagar (os mais leves). Esta hipótese é utilizada pelo filósofo moderno Eduard Zeller e pode, também, estar  expressa na doxografia de Diógenes Laércio acerca da cosmologia de Leucipo —podendo não estar associada a Demócrito — e apresenta-se na seguinte forma:

Diz ele que o Todo é infinito e que é parcialmente cheio e parcialmente vazio. Estes (o cheio e o vazio), diz ele, são os elementos. Deles provêm e neles se desfazem mundos inumeráveis. É dessa maneira que os mundos vêm a ser. Por "abscisão a partir do infinito”, muitos corpos com toda sorte de formas foram levados "a um portentoso vazio” e, uma vez reunidos, produziram um só vórtice. Neste, ao entrarem em colisão uns com os outros e serem rodopiados de toda sorte de maneiras, os que eram semelhantes foram separados e se aproximaram dos que lhes eram semelhantes. 

Contrariando essa posição, temos o autor John Burnet, que afirma que a própria tradição epicurista trata a ideia de “peso natural” dos átomos como sendo um acréscimo do próprio Epicuro. Na passagem de Diógenes não haveria, portanto, uma alusão direta ao peso, mas sim a semelhança dos átomos no que diz respeito às suas formas; os átomos menores se encontrariam no centro e os átomos maiores na circunferência. Podendo-se, assim, justificar a leitura equivocada dos comentadores futuros, Teofrasto e Aristóteles, que acabaram por assumir que a dimensão de um átomo se relacionava com o seu peso. Consequentemente, por não ser mais devido aos seus pesos, o movimento dos átomos não descreve mais uma queda, mas um movimento completamente aleatório e caótico, aproximando, surpreendentemente, da moderna teoria cinética dos gases.

Outro ponto que foi bastante comentado, sobretudo por Aristóteles, diz respeito à origem do movimento dos átomos. Enquanto que Anaxágoras e Empédocles preocuparam-se em pressupor a existência de um elemento primordial que possibilitaria o movimento, a saber, espírito e Amor e luta, respectivamente, a filosofia atomista não buscava conhecer a causa do movimento, não no sentido teleológico. Desta forma, não existia no movimento atomista nenhum propósito ou causa final e é este detalhe, especificamente, que mais aproxima o pensamento de Leucipo e Demócrito da ciência moderna; dado que a causalidade, quando utilizada em relação a uma origem ou fonte inicial, se extingue enquanto princípio. Ora, caso contrário, não bastaria encontrar a arque, pois esta própria necessitaria de uma causa. A análise dos atomistas, portanto, entende a realidade de forma puramente mecanicista.

Para Aristóteles, assim como para seus predecessores Platão e Sócrates, a explicação das coisas devia sempre atender uma visão passada destas, isto é, já como re-correntes, pois devia se dirigir exatamente a função que elas, posteriormente, desempenhariam na nossa realidade. Como exemplo, tomemos novamente o caso clássico da chuva. Em meio ao corpus aristotelium, como estudaremos futuramente, cada processo natural que ocorre na natureza desempenha um papel bem estabelecido: a chuva existe para que, da sua água, os animais e plantas possam beber e assim continuem vivos para se reproduzir; eventualmente, ao longo da vida destes animais, sob a ação do sol, eles devolverão toda essa água para os céus que, juntamente com aquela que foi armazenada nos rios, lagos e oceanos, dará origem a uma nova chuva. Fazendo com que a chuva exista para permitir o fluxo da água em planeta assim como a vida de todos os seres. Nesta concepção, a causa das coisas se expressa por suas finalidades (telos), daí a classificação teleológica. 

No entanto, quando nos referimos aos atomistas, não parecia haver finalidade nas coisas, mas apenas causas que as geram. No próprio exemplo da chuva, esta seria explicada apenas como a sublimação (passagem do estado gasoso para o líquido) das partículas de água que, anteriormente, evaporaram sob a ação do sol. Dentro de uma explicação mecanicista, o conhecimento das circunstâncias na qual algo é originado é suficiente. Outro motivo pelo qual este fator não deve ser considerado como um erro dos atomistas está no fato de toda explicação mecanicista se dá em um começo arbitrário. De outra forma, sempre teríamos causas mecânicas anteriores àquelas que, a priori, estabelecemos como primeiras. Por isso seria inconclusivo buscar as causas do movimento primário dos átomos.

Devido a isso, muitos acreditavam que a sua realidade estava completamente fundada em acaso, mas isso não é verdade. O mundo de Leucipo, assim como também se presume nas ideias de Demócrito, atendia a um determinismo científico extremo, em que cada acontecimento era devido ao seguimento de uma lei natural. “Nada acontece por nada, mas tudo ocorre por uma razão e por necessidade”.

Um cuidado que deve ser tomado é o de compreender que a teoria atomista de Leucipo e Demócrito, por mais bem estruturada que seja, não está dentro dos moldes da ciência moderna. Eles não atingiram essas conclusões da mesma forma que os químicos do século XVIII, ou seja, por meio da observação empírica, mas sim por intermédio de uma mistura confusa de empirismo e racionalismo, como era comum na época. De fato, não havia uma demarcação clara entre prova lógica e constatação empírica. Por conseguinte, deve-se admitir o fator “sorte” na hipótese deles, ainda que ela apresente fundamentos excepcionais para seu tempo.

Leucipo, como forma de defender o constante movimento dos átomos, teve também de defender a existência do vazio, pois não se acreditava na possibilidade de movimento em um pleno — espaço totalmente preenchido. Hoje em dia sabe-se que movimentos cíclicos podem se dar em um pleno, mas, na época, isso não parecia evidente aos gregos. Desta forma, necessitava-se de um espaço por onde os átomos poderiam se mover, sendo este espaço não constituído de átomos. Todavia, pensando como Parmênides, este vazio não seria ser, pois não teria átomos, e, não sendo ser, teria de não-ser, mas se assim o fosse, não seria, portanto, o vazio não poderia existir. Os atomistas, para solucionar esse problema, assumiram que o não-ser era, porém, de forma imperceptível e incorpórea, servindo apenas de espaço.

O único pleno que existiria seria o conjunto dos átomos, que não seria uma unidade, mas uma multiplicidade, pois esta se manteria constante já que os átomos são indestrutíveis. Esta multiplicidade seria, pois, infinita e invisível — aqui vemos que não se pode distinguir o todo da parte — e circularia dentro do não-ser, isto é, o vazio, que existiria. Quando esta multiplicidade se encontrava, eliminando o vazio entre si e tornando-se contínuo, produzia um vir a ser, pois agora seria devido à ausência do vazio; por outro lado, quando se separava, ao estabelecer novamente uma descontinuidade, produzia-se um passar, ou um deixar de ser. Consequentemente, um átomo sozinho não constituiria ser, mas apenas o seu contato com os outros átomos.

Aristóteles, a partir dessa problemática, diferencia, em sua obra Física, a matéria do espaço. O espaço não é nada além de um lugar onde a matéria vai existir, ou ocorrer. Em meio ao surgimento da física moderna, Isaac Newton definirá a existência de um espaço absoluto, onde os movimentos não necessitariam de um referencial externo. Evidentemente a ideia de um movimento absoluto nos parece contra intuitiva, já que todos os movimentos que experienciamos são relativos. A questão do vazio permanece até os dias de hoje, tendo passado por Descartes, Leibniz e muitas figuras da física moderna. A conclusão da ciência, pode-se dizer, é a de que o vazio não existe, embora não necessariamente substancial, sempre teremos energia pairando por todas as partes do nosso universo. Vale ressaltar, contudo, que essa desconsideração possa ser meramente heurística, isto é, que apenas sirva para possibilitar que a ciência tenha resultados.

No que se refere à percepção, Demócrito defendia que o pensamento era um processo físico e que mesmo a inteligência estava subordinada aos nossos sentidos, podendo assim ser enganadora. Acreditava também que algumas qualidades dos objetos não estavam neles, mas eram consequência dos nossos órgãos sensoriais, como gosto, calor e cor; diferentemente de qualidades como tamanho, dureza e densidade, que eram devidas ao próprio objeto.

Demócrito foi um pensador diferente de todos os outros que o precederam, pois guardava em suas ideias o caráter materialista que só viria emergir em meio à comunidade filosófica muito tempo depois. Não acreditava nas religiões comuns, nem em nada que não fosse regido por leis naturais. A própria alma em sua concepção seria formada de átomos e o pensamento nada mais que um processo físico. Influenciando os ideais éticos epicuristas, acreditava que o sentido da vida estava na felicidade e na moderação, assim como na cultura.

RECAPITULAÇÃO

  • A filosofia surge na colônia grega de Mileto no séc. VI A.C. com Tales, que afirmava ser a água o principio de tudo.
  • A busca pela arque continua com os sucessores de Tales: Anaximandro e Anaxímenes, que afirmavam que o principio primordial eram o apeíron e o ar, respectivamente.
  • Xenófanes, precursor do pensamento eleático, distanciou-se do cientificismo da escola milesiana e afirmou serem a água e a terra os elementos primeiros.
  • No sul da Itália, surge uma corrente mística de influência filosófica conhecida como Pitagorismo cuja busca do fundamento se dá na matemática através do número.
  • O paradigma monista-mobilista surge como um antagonismo entre as filosofias de Heráclito de Éfeso e de Parmênides de Eléia, um defendendo que tudo estava em constante mudança e outro defendo que a mudança sequer existiria, respectivamente.
  • Os sucessores de Parmênides, representantes da escola de Eléia, Melisso e Zenão desenvolvem a tese de seu mestre por meio de inúmeros argumentos contra a mudança.
  • Um conjunto de pensadores, como forma de superar a dualidade criada entre o monismo e o mobilismo, criaram teorias que explicavam a realidade como sendo plural e dinâmica. 
  • Empédocles baseou-se na doutrina dos quatro elementos: fogo, água, terra e ar, que sintetizavam teorias anteriores; assim como no Amor, que unia, e na Luta, que separava.
  •  Anaxágoras acreditava no espírito, motor de todas as mudanças, e nas homeomerias, sementes infinitamente pequenas que eram compostas por um pouco de todas as coisas, mas apenas as coisas vivas tinham espírito, que não se misturava com mais nada.
  • O pensamento atomista, representado por Leucipo e Demócrito, distinguia-se de todos os outros por sua concepção materialista da realidade, defendendo que esta podia ser decomposta em partículas indivisíveis e indestrutíveis, chamadas de átomos.                                                                                                                        FONTES E LIVROS PARA APROFUNDAMENTO
    • Bailey, Cyrill. The Greek Atomists and Epicurus. (capítulos I, II, III – Parte I).
    • Burnet, John. O Despertar da Filosofia Grega. (capítulos I a IX).
    • Heath, Sir Thomas. A history of Greek Mathematics. (capítulos I, III, IV, V, VIII).
    • Laércio, Diógenes. Vida e Obra dos Filósofos Ilustres. (livros I, II, VIII, IX).
    • Marcondes, Danilo. Iniciação a História da Filosofia dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. (capítulos 1 e 2).
    • Russel, Bertrand. História da Filosofia Ocidental, vol.1. (capítulos I a IX).
    • Vernant, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego.

QUESTÕES 

  1. Quais os fatores que influenciaram o surgimento da filosofia na Grécia?
  2. Explique a importância da escravidão para o desenvolvimento da filosofia.
  3. Em relação a postura dos, assim chamados, físicos da Grécia antiga, o que os diferencia dos demais pensadores pré-socráticos? Sua influência ainda existe nos dias de hoje, se sim, quais são elas?
  4. O que é o orfismo e como ele influenciou o pensamento pitagórico?
  5. Em que sentido os representantes da escola eleática foram responsáveis pelo desenvolvimento da lógica e, sobretudo, da metafísica?
  6. O que é metafísica e qual sua relação com a ontologia?*
  7. Comparando-os com a lógica moderna, porque podemos classificar os argumentos de Parmênides como falaciosos?*
  8. Quanto aos paradoxos de Zenão, eles poderiam ser simplesmente relevados por contradizerem o óbvio? 
  9. Compare a noção de mudança heraclítica com a de Empédocles e a de Anaxágoras.
  10. O paradigma monista-mobilista persiste no pensamento contemporâneo?
  11. Por que se classifica Demócrito como pré-socrático?
  12.  Em que sentido as ideias de Demócrito iam na contramão das ideias platônicas?*
  13. A tradição filosófica, tal como foi concebida, ainda está presente no mundo contemporâneo?

- Aula escrita por Cauan Marques

Próximo: Aula 2 - Sócrates e Sofistas.


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