Escrito por Antônio Ítalo
Chamamos de oscilação todo movimento periódico no tempo. O exemplo mais simples de uma oscilação é o Movimento harmônico simples, abreviado como M.H.S. É importante notar que em alguns trechos dessa aula será necessário um conhecimento básico sobre derivadas, portanto, se não está acostumado com esse conceito pode ignorar esses trechos à princípio ou antes de prosseguir ler a Ideia 11 de Física, que trata de diversas aplicações do Cálculo na Física. Em outros trechos, pode-se estar utilizando notações relacionadas às derivadas, entretanto, é necessário somente entender que se refere por exemplo à aceleração instantânea ou à velocidade instantânea por exemplo. Devido à abrangência desse conteúdo muitos trechos dessa aula são acima do Nível 2 da OBF, mas esses trechos estarão marcado com um *.
M.H.S.
Um movimento harmônico simples é todo movimento cuja a segunda lei de Newton da partícula que está o realizando pode ser escrita na forma:
ou
Obs: Aqui será utilizada a notação para simbolizar a derivada temporal , ou seja, .
Onde é uma coordenada da partícula e é a chamada frequência angular da oscilação, devendo ser real. Ao chegar nesse tipo de equação poderemos demonstrar que esse será um movimento senoidal de período dado por:
Há duas maneiras principais de demonstrar isso, uma delas é a resolução da equação diferencial obtida a partir da segunda lei de Newton, a outra e que será abordada aqui é uma analogia com outro movimento bem conhecido: o movimento circular uniforme.
Antes de prosseguirmos com nossa demonstração será necessário demonstrar um fato conhecido mas que não foi apresentado em aulas anteriores, a existência da aceleração centrípeta em um movimento circular uniforme e a fórmula que nos dá seu valor. Realizaremos isso pela definição de aceleração:
Primeiramente, precisamos escrever o vetor posição de nossa partícula em coordenadas cartesianas:
Agora, derivando duas vezes, obteremos a aceleração:
Também é possível realizar uma demonstração mais geométrica desse fato ao desenhar o vetor velocidade em dois instantes consecutivos e realizar a diferença entre esses dois vetores, entretanto, é interessante compreender a primeira demonstração mostrada pois dessa mesma maneira pode-se encontrar a aceleração em coordenadas polares de um movimento mais geral.
Observemos que esse resultado é muito interessante para nós, pois, temos que no eixo de um M.C.U.:
Portanto, temos que o eixo de um M.C.U. representa um M.H.S. de frequência angular igual à velocidade angular do M.C.U. sabemos então encontrar a solução geral para um M.H.S. que será do tipo:
Ou ainda:
Onde ,, e são constantes que dizem respeitos às condições iniciais de nossa partícula, ou seja, sua posição e sua velocidade inicial. Sabendo disso, é fácil ver que o período de oscilação será o tempo para que a fase dentro do cosseno mude por , ou seja:
Tendo visto a teoria sobre M.H.S., podemos ver a seguir alguns exemplos:
Exemplo 1 (Oscilador Massa mola):
Um bloco de massa , está conectado à uma mola de constante elástica que está conectada à uma parede fixa. Sendo a origem do eixo a posição de equilíbrio desse sistema, encontre a função horária do espaço para nosso bloco sabendo que sua velocidade inicial é e sua posição inicial é .
Solução:
Escreveremos a segunda lei de Newton para o bloco:
Definindo:
Temos então que a solução geral é:
Aplicando as condições iniciais:
Logo:
Exemplo 2 (Pêndulo Simples):
Uma massa está ligada por um fio sem massa de comprimento à um teto fixo em um campo gravitacional constante. Na posição vertical essa massa está em equilíbrio, entretanto, um agente externo causa uma pequena pertubação e esse está no instante fazendo um ângulo pequeno com a vertical e possui velocidade angular inicial nula. Encontre o ângulo com a vertical em função do tempo e o período dessas oscilações.
Obs: Ângulos positivos no sentido anti-horário.
Solução:
Escrevamos a segunda lei de Newton na direção tangencial para essa massa:
Sendo pequeno, podemos usar:
Logo:
Temos então:
Energia em um M.H.S.
Vamos tentar calcular o trabalho de uma força do tipo entre dois pontos. Essa força não é constante, portanto temos duas opções:
Opção 1 (Usa cálculo integral):
Calcular o trabalho pela sua definição formal:
Temos então que o trabalho não depende do caminho, podemos então associar uma energia potencial a essa força:
Opção 2 (Não usa cálculo integral):
Podemos utilizar o fato de que o trabalho entre dois pontos de uma força no eixo é a área orientada do gráfico por , temos então no gráfico uma linha reta de coeficiente angular , logo, a área será dada simplesmente pela diferença entre a área orientada do triângulo que vai de à e do triângulo que vai de à :
Temos então que o trabalho não depende do caminho, logo podemos associar uma energia potencial à essa força:
Conhecendo a energia potencial desse tipo de força, podemos, através da conservação da energia, encontrar por exemplo :
Oscilações forçadas
Até agora temos trabalhado somente com problemas em que a única força sobre o sistema é do tipo , entretanto, como procederíamos se além dessa força houvesse uma força externa dependente do tempo? Como por exemplo se tivéssemos um oscilador vertical sujeito a força peso que é constante. Esse é o exemplo mais simples e será realizado a seguir, em seguida, procuraremos um método para resolver para uma força geral dependente do tempo e em seguida o aplicaremos para uma força senoidal.
Exemplo 1:
Um bloco de massa está ligado à uma mola de constante elástica e comprimento natural que está ligada à um teto fixo. O campo gravitacional é constante. Encontre em função de duas constantes arbitrárias que serão determinadas pelas condições iniciais sendo a origem do espaço definida no teto e definido como positivo para baixo. (Desconsidere a possibilidade de colisões com o teto).
Solução:
Primeiramente, procuremos a posição de equilíbrio desse sistema, ou seja, procuremos tal que a força resultante na nossa massa seja nula:
Agora, vamos definir um novo sistema de coordenadas em que quando temos o nosso bloco em . Ou seja: . Escrevamos então a segunda lei de Newton:
Sabemos então que:
Onde . Logo:
Encontramos então .
(*)Força Geral:
Agora devemos nos perguntar como resolver isso para uma força arbitrária . Pensemos sobre o procedimento que realizamos no caso anterior. Nós reescrevemos a posição como:
Onde x_{eq} era a posição em que caso ele estivesse estaria em equilíbrio. Faremos algo parecido no caso de uma força qualquer escrevendo nosso como:
Onde é o que chamamos de solução homogênea, ou seja, é a solução para caso não houvesse força externa e é o que chamamos de solução particular, ou seja, é uma solução qualquer para que obedeça a segunda lei de Newton sendo independente de constantes arbitrárias, no exemplo anterior nosso era o que era constante, mas no nosso próximo exemplo veremos que isso nem sempre acontece.
(*)Exemplo 2:
Um bloco de massa está ligado à uma mola de comprimento natural e constante elástica que está ligada à uma parede fixa. Esse sistema está sobre uma mesa horizontal. Um agente externo realiza uma força variável com o tempo sobre o bloco da forma:
Sendo definido na parede encontre em função de duas constantes que podem ser determinadas pelas condições iniciais. (Desconsidere colisões com a parede).
(*)Solução:
Primeiramente, escrevamos a segunda lei de Newton:
Sendo .
Como a força externa é senoidal, procuremos uma solução particular também senoidal de mesma frequência do tipo:
Substituindo na segunda lei de Newton:
Sendo assim, nossa solução mais geral será do tipo:
(*)Oscilações amortecidas
Nesse tópico, estudaremos o que ocorre quando além de uma força do tipo nosso bloco também está sofrendo a influência de uma resistência do ar linear, nesse caso, nós podemos ter três tipos de oscilações, mas só estudaremos aqui o caso mais simples, a oscilação amortecida sub-crítica. Definiremos qual a condição para que isso aconteça mais tarde. Para analisar o problema, claro, precisamos escrever a segunda lei de Newton para nosso bloco:
Sendo que nossa força de resistência linear será do tipo:
Logo:
Como sempre, definimos:
Definimos também:
No caso em que não havia resistência do ar resolvemos a segunda lei de Newton através de uma analogia com o M.C.U, entretanto, nesse caso essa analogia não será possível então teremos que "chutar" uma solução. Em geral, podemos procurar soluções do tipo:
Derivando, obtemos:
Substituindo na segunda lei de Newton:
Temos então duas soluções para :
Define-se:
Note que a solução mais geral então será do tipo:
Se tivermos imaginário (Condição para amortecimento subcrítico), podemos escrever.
E definir:
Teremos então, após algumas manipulações:
Oscilações Acopladas
Além dos Movimentos harmônicos simples, teremos também oscilações acopladas, aquelas em que, por exemplo, duas massas estão presas e ligadas por uma mola de constante elástica . Para resolver essas situações estudaremos os chamados modos normais de oscilação. Para mostrar como resolver esse tipo de problema daremos um exemplo a seguir.
Exemplo:
Dois blocos, um de massa e outro de massa , estão ligados por uma mola de constante elástica sob uma superfície horizontal. O sistema de coordenadas utilizado para localizar esses blocos é tal que quando e temos a mola no seu comprimento natural. Encontre e em função de 4 constantes arbitrárias que serão determinadas pelas condições iniciais.
Duas soluções serão apresentadas.
Solução 1:
Nessa solução, procuraremos as chamadas coordenadas normais desse oscilador, ou seja, procuraremos combinações lineares de e tal que a equação dessa coordenada seja um M.H.S. ou outra equação que saibamos resolver. Antes de tudo, escrevamos as equações do movimento:
Ou ainda:
Defina as seguintes variáveis:
Somando e , obtemos:
Temos então algo como um M.U. para essa "coordenada":
Sendo e constantes arbitrárias a serem descobertas pelas condições iniciais.
Somando e , obtemos:
Definimos então a massa reduzida por:
E também:
Temos então um M.H.S. na "coordenada" q:
Sendo e constantes arbitrárias a serem determinadas pelas condições iniciais.
Temos então o seguinte sistema:
Resolvendo então esse sistema poderemos obter e em função de outras constantes arbitrárias:
(*)Solução 2:
Nessa solução tentaremos encontrar os chamados modos normais de vibração. Nesses modos tanto a massa como a massa realizam um M.H.S. de mesma frequência . Após acharmos todos os modos normais, a solução geral será uma superposição de todos os modos normais. Essa solução requer um conhecimento básico de álgebra linear. Escrevemos então novamente as equações de movimento.
Substituímos então e . A partir de agora, escreveremos isso na forma matricial.
Sendo que nós queremos as soluções não triviais para e , ou seja, e diferente de zero, logo, um dos resultados da álgebra linear diz que devemos ter:
Calculando o determinante:
Novamente definimos a massa reduzida como , resolvendo então, teremos dois modos normais de oscilação:
Primeiro modo normal:
Se substituirmos essa frequência angular nas equações de movimento obtemos:
Ou seja, há um modo normal em que ambos possuem o mesmo deslocamento da posição de equilíbrio e aceleração zero (devido ). Nesse caso, teremos:
Onde e são constantes determinadas pelas condições iniciais.
Segundo modo normal:
Se substituirmos essa frequência angular nas equações de movimento obtemos:
Ou seja, esse é um modo normal onde e oscilam com frequência angular , mas com uma razão constante na amplitude desse movimento, podemos então escrever:
Onde e são constantes determinadas pelas condições iniciais e
Sendo assim, a solução mais geral será escrita na forma:
Condizente com a solução anterior.
É importante notar que nesse caso ambos os métodos de resolução tiveram a mesma dificuldade para a resolução do problema, entretanto, para problemas mais complexos, pode ser muito difícil encontrar as chamadas coordenadas normais, que nesse caso seriam múltiplos de e , portanto é preferível se acostumar ao segundo método que é sempre realizado exatamente da mesma maneira.