Escrita por Paulo Henrique
Introdução
É muito comum, em problemas de Termodinâmica, que se faça perguntas a respeito do sistema durante uma dada transformação. Por exemplo: Um gás X é submetido a uma transformação regida pela equação:
PV=constante (1)
Determine o trabalho realizado pelo gás desde de V1 até V2. Ou seja, o aluno deve, sabendo o que ocorre com o sistema, determinar certos paramêtros termodinâmicos. Aqui, iremos desenvolver uma ideia de suma utilidade que, de certa forma, generaliza o resultado do exemplo proposto acima. Os chamados processos politrópicos são da forma:
PVn=constante (2)
Dada essa equação, inúmeras perguntas relacionadas ao sistema podem ser feitas.
Desenvolvimento
Como você já deve ter percebido, a equação do processo não é suficiente para tratar o problema. Obviamente, deve-se saber qual o sistema em questão. Em questões de olimpíadas, a substância de trabalho a qual o processo é submetido geralmente é um gás ideal. Por motivos de aplicação, usaremos esse tipo de gás para a análise do processo. Lembre-se de que a equação de estado de um gás ideal é:
PV=nRT (3)
onde n é o número de mols e as outras letras representam as funções usuais.
Podemos diferenciar (2) para obter:
dPdVVn+PnVn−1=0
Ou
dPdV=−nPVn−1Vn=−nPV (4)
Procedendo da mesma forma, diferenciemos (3):
VdPdV+P=RdTdV (5)
Bom, as duas equações geradas por diferenciação direta de (2) e (3) não nos dizem muita coisa. Mas um resultado interessante pode ser obtido a partir da primeira lei da Termodinâmica na forma diferencial, veja:
dU=d′Q−PdV (6)
Podemos definir a capacidade térmica molar C do sistema da seguinte forma:
d′Q=CdT (7)
Evidentemente, C, que depende do processo ao qual o gás é submetido, pode ser função da temperatura, volume, etc. Portanto, se o processo é isovolumétrico (a volume constante), temos:
dU=CvdT (8)
onde o subscrito em C sinaliza um processo a volume constante. Logo, (6) toma a seguinte forma:
CvdT=CdT−PdV (9)
Diferenciando a equação acima, obtemos:
dTdV=PC−Cv (10)
Podemos substituir (10) e (4) em (5). O resultado obtido é:
C=Cv−Rn−1 (11)
Que, curiosamente, só depende de n. Podemos reduzir (11) mais ainda se percebemos que, para um gás ideal:
Cp−Cv=R e CpCv=γ
Onde Cp se refere a capacidade térmica do sistema em um processo a pressão constante e γ é o chamado coeficiente de Poison, uma constante do gás.
Logo:
Cv=Rγ−1
Dessa forma, nosso resultado final toma a forma compacta:
C(n)=Rγ−1−Rn−1 (12)
Conforme você verá nos exemplos, essa equação, fácil de memorizar, nos permite obter várias informações sobre o sistema e nos faz economizar muito tempo em questões. Observe, que (12) é uma expressão para capacidade térmica molar dos sistema. Se quisermos obter informações quantitativas, é preciso que se multiplique pelo número de mols do gás.
Verificações
Vale a pena testar (12) para resultados já conhecidos:
1- Volume constante
Nesse caso, é melhor expressar a transformação da seguinte forma:
VP1n=constante
Dessa forma, fica claro que, como V é constante e em geral P não é, seu expoente deve ser zero a fim de manter o produto constante. Então n tende a infinito e pela equação para C, chegamos em:
C=CV
2-Adiabático
Evidentemente, a n=γ e C=0. O que era de se esperar, visto que nessa transformação não há troca de calor.
3- Isotérmico
Sabemos pela equação de estado, PV=constante. Logo n=1, e concluimos que:
C→∞
Podemos interpretar isso da seguinte forma: como o gás é considerado ideal, sua energia interna, que é função de estado só depende da temperatura. Visto que ΔT=0 temos ΔU=0. Sendo assim, podemos escrever, a priori:
dT=PdVC=0
Que corresponde a C→∞.
Aplicações
1- Suponha que a pressão P e a densidade ρ do ar estejam relacionadas conforme a expressão Pρn=constante, independente da altura. Encontre o gradiente de temperatura correspondente.
2- Um cilindro horizontal, fechado numa extremidade, é girado com uma velocidade angular constante Ω sobre um eixo vertical passando através da extremidade aberta do cilindro. A pressão de ar exterior é igual a P0, a temperatura é igual a T e a massa molar de ar é igual a M. Encontre a pressão de ar em função da distância r a partir do eixo de rotação. A massa molar é considerada como sendo independente de r.
Dica: Encontre o gradiente de pressão: dP(r)dr usando o fato que, a uma distância r, uma partícula de gás sofre uma aceleração Ω2r. Considere o gás como ideal.
3- O volume de um mol de gás ideal, com o expoente adiabático γ, varia de acordo com a lei V=aT, onde a é uma constante. Encontre a quantidade de calor obtida pelo gás nesse processo, sabendo que sua temperatura aumentou em ΔT
4- Demonstre que em um processo politrópico, o trabalho realizado por um gás ideal é proporcional á variação de sua energia interna. Determine a constante de proporcionalidade.
5- Para quais valores de n a capacidade térmica do gás será negativa?
6- Num determinado processo politrópico, o volume de argônio aumentou em α=4 vezes. Simultaneamente, a pressão diminuiu β=8 vezes. Encontre a capacidade térmica molar do argônio nesse processo, considerando que o gás é ideal.
7- Um mol de argônio é expandido politropicamente, sendo a constante politrópica n=1,5. No processo, a temperatura do gás muda em ΔT=−26 K. Encontre:
a) a quantidade de calor ganha pelo gás.
b) o trabalho realizado pelo gás.
8- Um mol de um gás ideal, cujo expoente adiabático é γ, sofre um processo no qual a pressão do gás é P=aTα, onde a e α são constantes. Encontre:
a) o trabalho realizado pelo gás, sabendo que sua temperatura ganha uma variação ΔT
b) a capacidade térmica molar do gás nesse processo. Para qual valor de α a capacidade térmica será negativa?
9- Um recipiente isolado termicamente é dividido por um pistão leve que
pode se mover sem fricção, como mostrado na figura. A parte esquerda é
preenchida com um mol de um gás monoatômico; o que está à direita do
recipiente é evacuado. O pistão é conectado à parede direita por meio de
uma mola, cujo comprimento livre natural é igual ao tamanho do recipiente.
Determine a capacidade térmica molar do sistema, negligenciando a capacidade do recipiente, do pistão e da mola. Considere R como a constante dos gases ideais.