Problema 1
As bissetrizes internas dos ângulos e do triângulo se encontram no ponto . A reta paralela a que passa pelo ponto encontra a reta no ponto . A reta paralela a por encontra a reta no ponto . As retas e se encontram no ponto . Mostre que , e são colineares então .
Solução
Vamos mostrar que se , e são colineares, então, .
Observe o triângulo , como , pelo Teorema de Tales:
Agora observe o triângulo , como , novamente pelo Teorema de Tales:
Por fim, chame de o ponto que corta e utilize o teorema de Ceva no triângulo :
Pelos resultados anteriormente encontrados:
O ponto será ponto médio de . Para finalizar o problema basta aplicarmos o teorema da Bissetriz Interna relativa ao lado :
Mas .
Como queríamos demonstrar!
Problema 2:
Encontre o menor tal que qualquer conjunto de pontos do plano cartesiano, todos com coordenadas inteiras, contém dois cujo quadrado da distância é um múltiplo de .
Solução
Sabemos por geometria analítica que a distância entre dois pontos e pode ser obtida em função das coordenadas e dos pontos e a partir desta equação:
Chamando e e sabendo que temos:
Como então satisfazem:
(1)
(2)
(3)
Em (1): se então existe para tal que , mas sabemos por Legendre que , portanto não é resíduo quadrático, então não existe tal que , logo a única solução é .
Em (2): se então existe para tal que , mas sabemos por Legendre que , portanto não é resíduo quadrático, então não existe tal que , logo a única solução é .
Em (3): se . Olhando os resíduos quadráticos módulo : , vemos que os únicos que satisfazem são ou , e então ou .
Daí tiramos que e satisfazem estas três equações abaixo:
ou
De onde podemos reduzir para:
(4) ou
(5)
Logo precisamos contabilizar o menor número tal que conseguimos encontrar que satisfazem (4) ou (5). Para isto utilizaremos de argumentos combinatórios. Para isto utilizaremos o PCP e tentaremos descobrir o maior tal que o enunciado não é verdade, defina como o conjunto de todos os pontos do plano que possuem sua coordenada como e coloque variando de a .
Lema 1: possui no máximo elementos.
Prova: Caso possua mais que elementos então existem dois pontos que possuem sua coordenada com a mesma congruência módulo e então por (4) encontramos dois pontos que possuem sua distância múltipla de , algo que não queremos, logo não podemos ter dois elementos de com sua coordenada de mesma congruência módulo , e então possui no máximo elementos.
Lema 2: O par de conjuntos e possuem no máximo 168 elementos juntos.
Prova: Caso e (perceba que ) possuem mais que elementos então existem dois pontos que possuem suas coordenadas em algum dos dois conjuntos diferenciando de módulo por PCP onde basta colocar casas com os pares de números que diferenciam de módulo e portanto se tivermos mais que teremos três na mesma casa e logo teremos dois números diferenciando de ou três números com a mesma congruência módulo e então ou terá dois elementos com mesma coordenada (absurdo pelo lema 1) logo existem dois números diferenciando de , e então por (5) encontramos dois pontos que possuem sua distância múltipla de , algo que não queremos, logo não podemos ter dois elementos de e com suas coordenadas diferenciando de módulo , e então e possuem no máximo elementos.
Vejamos agora que todos os conjuntos terão no máximo elementos, onde se adicionarmos um elemento ou o lema 1 ou o lema 2 deixará de fazer efeito e então teremos que existem dois pontos que possuem sua distância múltipla de e com elementos um fácil contra exemplo é colocando pontos em cada de tal modo que a congruência de suas coordenadas módulo sejam . Vejamos que nenhum par de pontos satisfaz (4) ou (5). Logo com pontos certamente encontraremos dois que satisfazem ou (4) ou (5) e portanto serão múltiplos de .
Problema 3:
Seja um inteiro positivo fixado. Alberto e Beralto participam do seguinte jogo: dado um número inicial e começando por Alberto, eles alternadamente fazem a seguinte operação: trocar um número por um número tal que e e diferem, na sua representação em base , exatamente em dígitos consecutivos para algum tal que . Quem não conseguir jogar perde. Dizemos que um inteiro não negativo é vencedor quando o jogador que recebe o número tem uma estratégia vencedora, ou seja, consegue escolher os números seguintes de modo a garantir a vitória, não importando como o outro jogador faça suas escolhas. Caso contrário, dizemos que é perdedor. Prove que, para todo inteiro positivo, a quantidade de inteiros não negativos perdedores e menores do que é .
Observação: é o maior inteiro menor ou igual a . Por exemplo, , e .
Solução:
O problema, infelizmente, não possui solução com o enunciado em tais condições, visto a quebra de lógica em que, fazendo os casos iniciais, vemos um contra exemplo. Para um , podemos constatar que sempre serão posições perdedoras e sempre serão posições vencedoras, basta colocar e na fórmula, e basicamente isso contradiz o problema já que podemos ir do para e portanto seria vencedor e qualquer outra interpretação do enunciado é contradita a partir destas quatro posições já definidas. A equipe do Noic espera poder corrigir o problema e resolvê-lo. Sstamos aguardando possíveis correções e pedimos desculpas ao leitor, mas esperamos a compreensão, visto o erro da prova.
Problema 4:
Qual é a maior quantidade de inteiros positivos menores ou iguais a que podemos escolher de modo que não haja dois números cuja diferença é , ou ?
Solução
A maior quantidade de inteiros positivos menores ou iguais a que podemos escolher de modo que não haja dois números cuja diferença é , ou é . Suponha que não, então é pelo menos . Divida os números de a em “grupos” de números consecutivos:
Como , pelo Princípio das Casas dos Pombos um dos grupos terá três números escolhidos. Tome apenas os restos dos números desse grupo na divisão por , pela disposição independentemente do grupo teremos:
Vamos mostrar que é impossível escolher três números desta configuração, para isso vamos dividir o problema em casos, onde em cada um vamos explorar as possibilidades a partir de determinado o primeiro dos três escolhidos (lembrando que não podemos escolher números cuja diferença é , ou pelo enunciado do problema):
(0) Caso seja : Restam .
(1) Caso seja : Restam .
(2) Caso seja : Restam .
(3) Caso seja : Restam .
(4) Caso seja : Restam .
(5) Caso seja : Restam .
(6) Caso seja : Restam .
A partir desses dados, basta mostrar que escolher dois números dentre dois ou três consecutivos gera um absurdo, mas isso, de fato, acontece:
- Dois consecutivos têm diferença .
- Dentre os três consecutivos não podemos escolher dois consecutivos pela preposição anterior, logo resta “descartar” o do meio, mas ainda assim os números restantes terão diferença igual a .
Analisando novamente os casos, o único que não gera absurdo a partir dessas afirmações é o , mas e têm diferença , o que também não pode pelo enunciado, logo não podemos escolher números e o máximo é, de fato, .
Podemos construir um exemplo escolhendo todos números que deixam resto ou na divisão por .
Problema 5:
Considere o polinômio do segundo grau . Defina a sequência de polinômios e para todo inteiro
(a) Prove que existe um número real tal que para todo inteiro positivo .
(b) Determine a quantidade de inteiros tais que para infinitos inteiros positivos .
Solução:
a) Olhando para as raízes do polinômio temos que satisfaz logo basta resolver a equação do segundo grau: , onde:
Logo e , portanto . Coloque , então e portanto e indutivamente se então , logo para todo vale que , logo se então para todo , e portanto achamos o que queríamos.
Obs.: Antes que o leitor pense que "tiramos do bolso" o polinômio observe que é extremamente intuitivo pensarmos na ideia de ponto fixo, ou seja, fazer com que para todo e a partir disto chegaríamos no polinômio .
b) Primeiramente vejamos que segundo o polinômio sabemos que se e então , ou seja, . Esqueça temporariamente a condição e trabalhemos agora apenas com números positivos (estamos fazendo isso pois se for negativo haverá uma troca no sinal da desigualdade, o que não queremos, mas depois ajeitaremos isto). Então se é positivo e então .
Lema 1: Se então para todo .
Prova: Vejamos que se então . Logo , portanto , observe que usamos o fato de que para todo , o que é claramente verdade pois a função forma uma parábola com concavidade para cima. Indutivamente se então , logo , e assim para todo , logo nunca teremos para .
Agora olhemos para este lema:
Lema 2: para todo real.
Prova: Olhemos a coordenada do vértice () da parábola formada pela função , que é uma parábola. Então sabemos que . Sabemos além disso que para algum par então como é uma parábola, vale que e possuem a mesma diferença em relação ao , ou seja, , logo temos , ou seja, , para todo real, como queríamos.
Vejamos agora que pelo lema 2 , logo como para todo vale pelo lema 1 que para todo teremos , então se simetricamente e analogamente teríamos , o que implicaria pelo lema 1 que para todo teremos (é como estivéssemos começando do ). A partir desta duas informações, nosso universo de candidatos a solução se reduziu para entre e , provaremos que todos estes números satisfazem as condições propostas pelo enunciado. Basicamente dividiremos os números em dois grupos, analisando o gráfico de veremos que existem os números que possuem positivo (que estão "acima e abaixo" das raízes) e os que possuem negativo (que estão entre as raízes). Primeiramente vejamos que as raízes de são e . Logo, considerando apenas o universo possível de soluções:
Lema 3: Se então para algum teremos .
Prova: Considerando como uma sequência provaremos que a mesma sempre decresce e nunca converge para algum ponto. Vendo novamente o polinômio , sabemos que como aqui então , logo para qualquer teremos , logo e como possui seu coeficiente de e positivos, esta diferença entre e empre aumentará a medida que aumentarmos e portanto irá sempre decrescer e nunca convergir em algum ponto, portanto em algum momento teremos que para alguém , , como queríamos.
Vejamos agora que se pelo lema 2 teremos uma simetria e então podemos aplicar o lema 3, podendo assim afirmar que para qualquer que escolhermos, então em algum momento teremos . Agora para finalizar o problema:
Lema 4: Se então para todo .
Prova: vejamos que a coordenada do vértice da parábola é , basta olhar que é raiz de e portanto , no caso . Portanto para todo vale que , logo e e indutivamente se então logo , mas e . Então e assim temos que para todo vale que .
Pelo lema 3 para todo teremos que existe tal que , mas como , mas , logo e e podemos aplicar o lema 4 a partir daí e então teremos infinitos tais que . Portanto para todo tal que temos que satisfaz o enunciado, logo existem inteiros que satisfazem o enunciado.
Problema 6:
Seja um quadrilátero convexo, não circunscritível, sem lados paralelos. As retas e se cortam em . Seja a intersecção dos circuncírculos de e . As bissetrizes internas de determinam um quadrilátero convexo cíclico de circuncentro e as bissetrizes externas de determinam um quadrilátero convexo cíclico de circuncentro . Prove que , e são colineares.
Solução:
(Adaptado de Davi Lopes - Professor do Colégio Farias Brito)
Seja a interseção das bissetrizes internas de e , e a interseção das bissetrizes externas de e , onde , são vértices consecutivos de . Seja a circunferência que passa por , , , e a circunferência que passa por , , , . Sejam o raio de e o raio de , . Seja ainda a interseção do eixo radical de e com a reta .
Lema 1: Existem duas homotetias que levam em , uma de centro e razão , e outra de centro e razão . Além disso, os cinco pontos , , , , são todos colineares e satisfazem à figura abaixo e às equações de segmentos:
; ; ;
Podemos determinar as três primeiras equações com base nas relações de homotetia e o valor de associando os valores encontrados com a propriedade de : pertence ao eixo radical das circunferências e por isso tem mesma potência de ponto para ambas.
Seja a interseção de e , e seja a interseção de e . Observe que os pontos , , , estão em , na bissetriz interna de (eles são centros de circunferências inscritas e ex-inscritas opostos a esse ângulo), e os pontos , , , estão em , na bissetriz interna de pelo mesmo motivo. A razão de chamar essas retas usando sinais está elucidada no Lema 2.
Lema 2: Considerando a configuração de pontos a seguir, temos que o ponto está na reta e o ponto está na reta .
Prova: Seja o ponto, em , diametralmente oposto a , e o ponto diametralmente oposto a em . Pode-se provar, usando arrastão, que e são dois quadriláteros cíclicos com lados homólogos e diagonais homólogas, todos paralelos. Daí, como eles são orientados no mesmo sentido, a homotetia de centro que leva em leva em . Logo, está na reta , que é a reta . Analogamente, está na reta , provando o lema 2.
Agora, seja a reta que passa por , , , , , , . Sejam ainda os pontos médios de .
Lema 3:
Prova: Primeiro, é possível provar que por arrastão. Para finalizar a prova, basta provar que é inscritível, pois aí . Para tanto, provaremos que .
Como é a imagem de pela homotetia de centro e razão , temos:
Daí:
Por outro lado, pelo resultado obtido no lema , assim:
Para terminar, basta calcular o valor de com os dados encontrados também no lema e conferir a igualdade. Primeiro, vamos encontrar :
Agora basta multiplicar pelo valor de , que também pode ser encontrado utilizando o lema :
Exatamente o esperado e assim terminamos a prova.
De modo análogo ao Lema 3, temos que , , , donde temos as igualdades de ângulos:
E assim está na interseção dos arcos capazes de determinados por , , , , ou seja, é o único ponto no plano com essa propriedade. Mas e aí que entra o ponto , pois pode-se provar, por arrastão, que o ponto também satisfaz a igualdade de ângulos:
E assim . Como , , já são colineares, temos que , , são colineares.
OBSERVAÇÃO: Pode-se deduzir, de tudo o que fizemos, que a reta é bissetriz de , e . Também, perceba que .