Equação Funcional de Cauchy- Parte 2

Equação Funcional de Cauchy- Parte 2

 

Continuaremos aqui o conteúdo dado na primeira aula. A abordagem principal que faremos é sobre quando uma equação de Cauchy nos reais admite apenas soluções lineares.

Cauchy em \mathbb{R}

Vamos começar por um fato bem interessante, mostrando que as soluções não lineares de Cauchy são muito mais difíceis de representar. Este primeiro exemplo depende um pouco de cálculo e álgebra linear. Como ele não é absolutamente necessário para entender completamente o conteúdo, sinta-se confortável para pular caso não conheça muito bem essas áreas.

Teorema 1. Para cada real x, atribua o ponto V(x)=(x,f(x)) a ele. Se f for não linear, então o conjunto \{ V(x) : x \in \mathbb{R} \} é denso no plano.

Prova. Se f é não linear, então existem a,b reais não nulos com

\frac{f(a}{a} \neq \frac{f(b)}{b}

Em outras palavras, V(a),V(b) são linearmente independentes no plano (Verifique!). Consequentemente, para todo ponto P no plano, existem reais \alpha, \beta tais que

P= V(a) \alpha +V(b) \beta

Como os racionais são densos nos reais, existem sequências de racionais \alpha _1, \alpha _2 ,... e \beta _1 , \beta _2 ,... convergindo para \alpha e \beta respectivamente. Agora basta verificar que

\lim (V(a) \alpha _n +V(b) \beta _n) =P

Para finalizar, temos f(a \alpha _n)= f(a) \alpha _n uma vez que \alpha _n é racional. De fato, basta utilizar daquele truque que vimos na última aula:

qf(\frac{pa}{q})=f(\frac{2pa}{q})+(q-1)f(\frac{pa}{q})=...=f(pa)

f(pa)=f(a)+f((p-1)a)=...=pf(a)

\Rightarrow f(\frac{pa}{q})=f(a)\frac{p}{q}

Logo

\lim V(a \alpha _n +b \beta _n) = \lim (V(a) \alpha _n +V(b) \beta _n) =P

Como desejado.

 

Agora vem a parte realmente importante desta aula.

Teorema 2. (Critério de Linearidade). Todas as condições a seguir são equivalentes:

\text{i} f é linear

\text{ii} f é limitada (unilateralmente limitada já é o suficiente) em algum intervalo aberto

\text{iii} f é contínua em um ponto

\text{iv} f é monótona em qualquer intervalo aberto

 

Prova. Para os que tem um olho afiado, já ficou visível que esse Teorema 2 é uma consequência imediata do Teorema 1. Para uma prova mais detalhada, veja que:

\text{iv} \Rightarrow \text{ii}

nesse intervalo. De fato, se f é limitada num intervalo aberto (a,b), podemos tomar um subintervalo fechado [c,d] com a<c<d<b e teremos que f será limitada por f(c),f(d) nesse intervalo (independentemente de quem seja maior entre f(c),f(d).).

Para provar \text{ii} \Rightarrow \text{i}, suponha que f é limitada superiormente por W no intervalo (a,b). Pelo o que vimos, se f for não linear, então (x,f(x)) possuirá pontos suficientemente próximos de ( \frac{a+b}{2} , W+1), absurdo (Verifique!).

Para provar \text{iii} \Rightarrow \text{i}, suponha que f é convergente num ponto a e que o limite seja A=f(a). Pelo o que vimos, se f for não linear, há pontos em (x,f(x)) suficientemente próximos de (a,A+1), absurdo (Verifique!).

Por fim, é claro que \text{i} implica todas as outras propriedades.