Então você quer aprender economia?
Esse guia tem como objetivo orientá-lo em seus estudos de economia visando especialmente as olimpíadas científicas dessa matéria. Hoje, brasileiros podem participar de duas competições de conhecimento: a Olimpíada Brasileira de Economia (OBECON) e a Olimpíada Internacional de Economia (IEO, do inglês International Economics Olympiad). A OBECON é uma olimpíada jovem: surgiu em 2018 com o objetivo de difundir o estudo da economia entre os estudantes do ensino médio e selecionar a equipe brasileira que representaria o país na primeira IEO, que aconteceria mais tarde naquele mesmo ano. O formato da OBECON de 2020 ainda está sujeito à mudanças (afinal, a olimpíada teve apenas duas edições até agora). No seu primeiro ano, contou com duas fases: a primeira foi totalmente online, em um sistema semelhante ao da Olimpíada Brasileira de Linguística, com 40 questões de múltipla escolha. A segunda fase foi presencial, com uma prova em papel contendo tanto questões de múltipla escolha quanto questões discursivas. Já na edição mais recente, a segunda fase foi totalmente discursiva e uma terceira fase presencial foi adicionada, na qual os participantes elaboraram a resolução de um business case. Essa tarefa consistiu na criação de um plano de negócios em grupo, que deveria ser apresentado oralmente para uma banca de jurados. A Olimpíada Internacional de Economia, hoje em sua terceira edição, testa as habilidades dos competidores de maneira similar à OBECON, com uma prova de teoria econômica e um business case. Além dessas tarefas, porém, a IEO também exige conhecimentos de finanças com um desafio de investimento. Agora que você sabe como funcionam a OBECON e a IEO, você pode continuar lendo para saber o que estudar para cada fase da OBECON e até para a internacional.
OBECON - 1ª Fase
A primeira fase da OBECON é uma prova online com 40 questões de múltipla escolha, como já foi mencionado. Tanto em 2018 quanto em 2019, manteve um esquema semelhante, consistindo em questões simples envolvendo história econômica, geografia (especialmente política), matemática financeira, finanças e investimentos, economia comportamental e conceitos em geral de economia. É uma fase mais introdutória, que foca mais em conteúdo normal do ensino médio. Os recursos recomendados aqui também podem ser utilizados para estudar para a segunda fase da OBECON, pois eles exploram a economia em um nível mais profundo do que necessário para a primeira fase.
Materiais de Estudo O Noic já está trabalhando em seu próprio curso, fique ligado pelo nosso Jornal Olímpico! No entanto, não deixe de conferir os links abaixo: 😀
- Crash Course Economics (vídeos em inglês, mas legendados em português)
- Economia no Khan Academy (não é necessário se aprofundar muito para essa fase inicial)
- Introduction to Microeconomics da Marginal Revolution University (vídeos em inglês, mas legendados em português)
OBECON - 2ª Fase
A segunda fase tem um modelo bem diferente da primeira. Ela é presencial, aplicada em um número variável de cidades dependendo da demanda no ano. Dura 4 horas e tem cerca de 8 questões. Em 2019, foi dividida em duas partes: uma qualitativa e uma quantitativa (mais focada em matemática, principalmente financeira). É necessário ter um conhecimento sólido dos fundamentos da microeconomia para responder a parte qualitativa. Uma compreensão básica de macroeconomia e economia comportamental também é recomendada.
Materiais de Estudo
- Provas anteriores da 2ª fase
- Aprofundamento nos assuntos da 1ª fase
- Introduction to Macroeconomics da Marginal Revolution University (vídeos em inglês, mas legendados em português)
- Qualquer apostila de matemática que ensine juros e progressões geométricas e aritméticas.
- CORE: The Economy (em inglês)
- Apostila de economia recomendada pela IEO. Mais detalhes sobre ela na seção de estudo para a IEO.
OBECON - 3ª Fase
A terceira fase acontece em Junho e é a mais diferente de todas e envolve a resolução de um business case em grupo. Um business case é um plano de ação para um negócio, especificando o que deve ser feito e como será feito para resolver um problema. É basicamente um compilado da estratégia de ação de uma organização em uma tarefa. Os problemas a serem resolvidos incluem questões como: “Como a empresa vai cortar gastos diante de uma crise?”, “Para quais novas regiões a empresa deve expandir?”, “Devemos investir em projeto X?” e (até mesmo envolvendo o setor público) “Como o Estado pode reduzir o anafalbetismo?”. Os grupos são selecionados aleatoriamente e envolvem de 3 a 6 pessoas, então é muito provável que você tenha que trabalhar com pessoas com quem nunca falou na vida, o que é um desafio por si só. O grupo tem a noite da sexta feira, o sábado, e a manhã do domingo para preparar um relatório e uma apresentação de um business case que deve ser apresentado na tarde do domingo para um júri que avaliará a qualidade de vários pontos do business case, como apresentação, modelagem financeira, modelagem de risco, análise de mercado, e trabalho em equipe, entre outros pontos. Nessa fase é muito importante o trabalho em equipe, e ter não só bons conhecimentos de economia e matemática, mas também estratégia, oratória e habilidades com PowerPoint. Também é útil conhecer programas que permitem a produção de modelos matemáticos, como o Wolfram Mathematica ou alguma linguagem de programação. Nota-se também que tanto o relatório apresentado quanto a apresentação em si contam pontos e que embora a maioria dos pontos que cada indivíduo recebe seja devido à performance da equipe como um todo, cada aluno vai receber notas diferentes dependendo da sua participação individual. Os 5 primeiros colocados da OBECON são selecionados para representar o Brasil na IEO. Até o ano de 2019 a fórmula para a nota final era de 10% da nota da primeira fase, 40% a nota da segunda fase e 50% a nota da terceira fase.
Materiais de Estudo
- Noic Business cases (em breve)
- O Princípio da Pirâmide (Minto's Pyramid Principle) por Barbara Minto
- Cases da Harvard Business Review (em inglês)
- Cases da MIT Sloan School of Management (em inglês)
- Case da IEO 2018 (em inglês)
- Case da IEO 2019 (em inglês, contém também slides da McKinsey com dicas)
IEO - Fase Internacional
A International Economics Olympiad (IEO) é uma olimpíada nova (começou em 2018) de origem na Higher School of Economics na Rússia. No mesmo ano de seu surgimento, também surgiram várias olimpíadas nacionais com o intuito de selecionar as equipes nacionais que iriam para a competição. Dentre estas estava a Olimpíada Brasileira de Economia. Em sua primeira edição em Moscou, contou com 13 países, e, em sua segunda em São Petersburgo, 24 países e 29 delegações. Ambas as edições foram marcadas pela participação do Brasil, que vem se consagrando como um dos países mais fortes na olimpíada, tendo conquistado o terceiro lugar em 2018 e o primeiro lugar global em 2019. A sua terceira edição será em 2020 em Nursultan no Cazaquistão, a primeira fora da Rússia. A olimpíada partilha de certas semelhanças e diferenças com a OBECON. A principal diferença é a presença de uma prova de finanças. Outra importante diferença é que a IEO é 100% EM INGLÊS. Diferente de outras olimpíadas, onde tudo é feito por escrito e há tradução por parte dos team leaders de cada país, na IEO tudo deve ser feito em inglês, da resolução da prova teórica até a apresentação do business case. Consequentemente, o domínio do idioma é essencial para que o estudante consiga fazer uma boa apresentação do business case e poder responder bem as questões na prova teórica. Domínio do idioma do país-sede é um adicional valioso, porque a tradição é que os business cases se refiram ao país-sede. Saber o idioma local é um grande auxílio para coletar dados do país, e, portanto, é uma vantagem competitiva. Como foi previamente mencionado, a IEO é uma competição com três partes: uma prova teórica (que vale 50% da nota), um business case em grupo (valendo 25% da nota), e uma competição de finanças (completando os 25% restantes da nota final).
Teórica Contém duas partes: a primeira são 20 questões de múltipla escolha sobre conhecimentos clássicos de economia, principalmente focados em microeconomia mas, ocasionalmente, com um pouco de macroeconomia. As questões podem ser muito conceituais ou podem envolver matemática (principalmente financeira). Já a segunda parte é composta de seis questões dissertativas com múltiplos itens. O aluno deve escolher cinco questões para resolver, não havendo necessidade de completar as seis questões para ganhar todos os pontos da prova. Nessa segunda seção, o viés microeconômico se mantém, mas há uma presença maior da macroeconomia. As questões dissertativas também envolvem uma análise bem mais aprofundada do que as de múltipla escolha No ano de 2019, a prova tocou em questões difíceis para economistas atualmente, como o combate às drogas e os impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho. Espera-se que a segunda parte da prova se mantenha como uma prova aberta, que demanda muito pensamento crítico do aluno, além de como saber aplicar conhecimentos de economia. A primeira parte conta um total de 80 pontos e a segunda um total de 120 pontos. Noções de cálculo são importantes. A prova também exige muito raciocínio, em especial as questões dissertativas, que pedem aplicações indiretas dos conceitos econômicos.
Materiais de Estudo
- CORE: The Economy (em inglês)
- Esse ebook é uma apostila moderna de economia, que introduz as ideias da economia de maneira aplicada. Apesar do livro ser extenso e não ter uma base teórica tão forte quanto outros, é muito importante fazer os exercícios dele, pois muitas questões de múltipla escolha da IEO vem diretamente do CORE. Ao estudar por esse livro, foque nos exercícios e nos capítulos de microeconomia (Capítulos 1-9,12-15).
- Mankiw - Introdução à Economia (Principles of Economics)
- Esse livro é a apostila convencional de economia para alunos de graduação. É um livro mais teórico que o CORE, e é fortemente recomendado para aprender micro- e macroeconomia. (Capítulos 1-7,10,14-17, 20,23,28-30)
- Entre nesse site para converter o número de capítulos entre as versões de Introdução à Economia, Microeconomia e Macroeconomia.
- Pindyck - Microeconomia (Microeconomics)
- Apostila muito boa para aprofundar em microeconomia. A prova da internacional tende a favorecer questões de microeconomia, então vale a pena investir mais nessa área (Capítulos 1-6).
- Introduction to Game Theory (em inglês)
- Uma sequência de posts que servem como boa introdução aos conceitos da Teoria dos Jogos de maneira divertida e didática.
- Curso de Microeconomia do Khan Academy
- Leitura de notícias com foco econômico em geral para se manter atualizado sobre as últimas tendência na economia. Procure por matérias relacionadas a economia nas versões internacionais em inglês de portais de notícias grandes do país sede da vez. Dê preferência à leitura em inglês tanto para se familiarizar com os termos quanto para ter mais chance de convergir em tópicos com a IEO. Sugestões: The Economist ; Bloomberg ; The New York Times ; CNN Business ; The Wall Street Journal ; Reuters ; Reddit (r/Economics)
- Também é interessante ler livros que aplicam a economia aos problemas sociais, de maneira similar ao que ocorre nas questões dissertativas. Lembrando que a IEO está interessada na intersecção da economia com questões como mudança climática, inteligência artificial e direito, seguem algumas recomendações de livros que podem lhe ajudar na IEO:
- Predictably Irrational de Dan Ariely (economia comportamental)
- The Case Against Education de Bryan Caplan (economia da educação)
- Climate Shock de Martin Weitzmann (economia da mudança climática)
Finanças O grande diferencial da IEO em relação a OBECON é a existência de uma competição de finanças. Nas duas edições que ocorreram, a competição consistiu de um simulador de investimentos no qual os participantes devem escolher um portfólio de ativos para garantir uma aposentadoria confortável. Porém, existe uma forte possibilidade dessa parte da IEO ser reformulada na edição de 2020. Por isso, recomendamos o estudo de finanças de maneira mais geral e integrada com o estudo da teoria econômica.
Materiais de Estudo
- Investopedia
- Simulador de investimentos do Investopedia
- Wall Street Survivor - Simulador de investimentos
- Curso de Finanças e Mercado Financeiro do Khan Academy
Business Case Em relação ao business case, as mesmas dicas e materiais relevantes à olimpíada nacional são aplicáveis. Uma diferença importante, porém, é o idioma: como a apresentação deve ser realizada em ingês, é essencial praticar a pronúncia e a oratória nessa língua. Um fator adicional é o domínio do idioma do país sede da olimpíada, o que pode ajudar bastante na hora de procurar dados caso o business case envolva o país sede (o que parece ser a tendência da IEO, embora seja meio cedo para afirmar com certeza). Outro detalhe é que as equipes agora serão as delegações do time, então os participantes já se conhecem e já treinaram juntos, o que facilita a tarefa. Por enquanto é isso! Para mais informações, confira os links a seguir:
Para dúvidas e sugestões, fale conosco pela seção de contato ou pelas nossas redes sociais. Bons estudos! 😀