Conhecendo o céu a nível olímpico

Por Arthur Siqueira

 

Mapa

Esse é um guia voltado para estudantes que desejam conhecer o esfera celeste, e principalmente para preparar-se para olimpíadas científicas de astronomia que cobram tal conhecimento, como a OBA, a OLAA e a IOAA. Para acompanhamento paralelo a esse guia, é recomendado o uso do aplicativo Stellarium e de um criador de mapas celestes (Recomendamos o Interactive Skymap do armchairastronautics e o Heavens Above).

Para saber onde ficam todas as relevantes estrelas, DSOs (Deep Sky Objects) e constelações, e saber onde está o Polo Sul/Norte Celeste, a Eclíptica, o Equador Celeste, o Ponto Vernal e o Ponto de Libra você precisa ir por partes.

Conhecendo estrelas, DSOs e constelações em 6 passos:

1. Principais constelações

Primeiramente você precisa criar os seus principais pontos de referência, que são normalmente constelações que olhando para o céu ou qualquer mapa celeste você possa facilmente achar. Algumas constelações bem identificáveis ou conhecidas, como Órion, Cruzeiro do Sul, Escorpião, Sagitário, Pégasus, Cão Maior e Ursa Maior são ótimas para começar.

Estude-as separadamente, conheça o formato delas e estrelas ou grupos de estrelas que só possam ser dessa constelação. Exemplos disso são as três estrelas do cinturão de Órion (Mintaka, Alnilam e Alnitak), o grande quadrado de Pégasus (Markab, Scheat, Algenib, Alpheratz), Sírius (a estrela mais brilhante além do Sol) em Cão Maior etc…

Orion
As Três Marias (Mintaka, Alnilam e Alnitak) no interior de Órion.

E saiba onde é o Norte, Sul, Leste e Oeste da constelação, isso vai facilitar bastante você se localizar posteriormente na esfera celeste.

2. Grupos de constelações

Agora você deve dividir o céu em grupos de constelações para subordinar constelações mais desconhecidas com as que você já conhece, e assim, inseri-las em sua memória. Não há problema em dois grupos conterem uma mesma constelação.

Nisso, usamos alguns asterismos como: O Triângulo do Verão Boreal, de Deneb, Altair e Vega (α Cygni, α Aquilae e α Lyrae), o Triângulo do Verão Austral, de Formalhaut, Archenar e Peacock (α Eridani, α Piscis austrinus e α Pavonis), e o Hexágono do Inverno Boreal, com Sírius, Prócion, Pólux/Castor, Capella, Aldebarã e Rígel, na periferia, e Betelgeuse no interior, e o Diamante de Virgo, consistindo de Arcturus, Spica, Denébola e Cor Caroli.

Verao
Triângulo do Verão

Com isso, você deve conhecer também o Norte, Sul, Leste e Oeste desses grupos.

3. Juntando os grupos

Tendo os grupos de constelações, você deve tentar expandi-los de modo que a união deles inclua todas as 88 constelações. Nesse momento, o importante é saber qual parte de um grupo encaixa com a outra parte de outro, e assim, sempre lembrando de conferir se houver algum conflito lógico para evitar erros e você não acabar juntando o Leste de um grupo com o Leste de outro.

4. Nomes das estrelas e designação de Bayer

Sabendo se movimentar pelas constelações e tendo noção dos cantos da esfera celeste, o próximo passo é aprender o nome das principais estrelas de cada constelação e sua designação de Bayer.

Toda constelação tem seu nome em latim (que você deve saber prioritariamente do que em qualquer outra língua) e uma abreviação da IAU, por exemplo: Lyra, Lyr. Para as estrelas, temos os nomes próprios e a designação de Bayer, em que as principais estrelas de uma constelação são ordenadas com o alfabeto grego seguido pelo genitivo da constelação ou a abreviação IAU (Exemplo: Vega é α Lyrae ou α Lyr). Note que a primeira é cobrada principalmente em seletivas, e a segunda na IOAA.

Certas constelações por serem bem conhecidas ou serem bem visíveis possuem muitas estrelas que você deve saber tanto o nome quanto a designação de Bayer, alguns exemplos são: Leão, Boieiro, Virgem, Capricórnio e Órion.

5. DSOs

Você não consegue ver, na maioria das vezes, DSOs a olho nu, então você precisa criar/usar técnicas para encontrá-los. Treinando observar a posição de objetos de céu profundo, você é capaz de desenvolver suas próprias técnicas para achar tais objetos através de prolongamentos e estimativas.

M1
Nebulosa do Caranguejo (M1)

A maioria dos DSOs mais conhecidos são do catálogo Messier, então ter uma boa noção dos principais objetos Messier é fundamental. Mas outros que estão fora do mesmo também podem ser relevantes, como Ômega Centauri, Caixinha de Joias, 47 Tucanae entre outros, em que, é interessante saber os seus números de NGC.

6. Mudança de perspectiva e treinamento

Após os outros passos, você basicamente já entende o mapeamento dos diversos objetos do céu, mas para que você tenha certeza que pode identificar esses de qualquer posição, você deve mudar o tipo de mapa que está usando. Veja como se sai com um mapa com projeção cilíndrica, Aitoff, Estereográfica etc. Veja onde fica cada astro em cada um desses. Vale a pena usar os mapas do Interactive Skymap do armchairastronautics.

Projeção Aitoff
Projeção Aitoff

 

Projeção Estereográfica
Projeção Estereográfica

E além disso confira sempre se você não esqueceu nada, se pergunte sobre o que você aprendeu até detectar uma falha, e então conserte-a... treinamento é o principal fator

Como achar o Polo Sul Celeste:

Uma forma bem conhecida de achar o Polo Sul Celeste é através do Cruzeiro do Sul: simplesmente prolongando 4,5 vezes o braço maior da cruz.

Outro método, é prolongando o braço maior da cruz do Cruzeiro do Sul, e cruzando esse prolongamento com o prolongamento que passa por Miaplacidus e Aspidiske.

Além disso, ao olhar o céu de um local no hemisfério Sul, a altura do Polo Sul Celeste será a própria latitude do local (em módulo).

Como achar o Polo Norte Celeste:

Com o Polo Norte Celeste não tem muito mistério, você só tem que achar Polaris de Ursa Menor, que além de muito próxima do Polo Norte Celeste, tem magnitude aparente menor que 2. Uma técnica para achar Polaris/Polo Norte Celeste é prolongando de β UMa para α UMa até cruzar com uma estrela bem brilhante (Polaris).

Além disso, ao olhar o céu de um local no hemisfério Norte, a altura do Polo Norte Celeste será a própria latitude do local.

Como achar o Ponto Vernal:

Bem, a forma mais óbvia é tendo a Eclíptica e o Equador Celeste e interceptando eles de modo que a Eclíptica vá do Sudeste para o Noroeste. Outra forma, é memorizar a sua posição, que é, atualmente (2020), próxima a uma das cabeças de Pisces.

Vernal
Ponto vernal no cruzamento da Eclíptica e Equador Celeste

Como achar o Ponto de Libra:

Da mesma forma que o Ponto Vernal, você pode achar o Ponto de Libra com o cruzamento do Equador e Eclíptica, de modo que essa última se dirige do Nordeste para o Sudoeste.

E também como o Ponto Vernal, recomenda-se decorar sua posição no céu, que é, atualmente (2020), bem próxima de Zavijava (β Vir).

Libra
Ponto de Libra no cruzamento das duas linhas ao lado de Zavijava (β Vir)

Como achar a Eclíptica:

A eclíptica é um dos círculos máximos na esfera celeste mais simples de ser achado, porque afinal, é por onde passam as constelações do zodíaco. Logo, uma forma simples de estimá-la é passando por essas.

Outra forma de achar é ligando duas estrelas sobre, ou bem próximas da Eclíptica como Regulus (α Leo) e Zavijava (β Vir).

Regulus
Regulus e Zavijava bem próximas à Eclíptica

Lembre que o Sol sempre está na Eclíptica, e isso pode ajudar a achá-la.


Como achar o Equador Celeste:

Uma forma bem conhecida de estimar o Equador Celeste é pegando a reta que passa pelo cinturão de Órion e rotacionando-a 50° no sentido horário de forma a passar sobre Mintaka.

Outro modo é a partir da constelação de Aquário, onde Equador Celeste passa muito próximo de Sadalmelik (α Aqr), η Aqr e Sadaltager (ζ Aqr), logo é só ligá-los e formar um círculo máximo.

Aquario
Estrelas de aquário cruzando o Equador

É importante lembrar também que o Equador Celeste tem todos os seus pontos a 90° de distância de ambos os polos celestes.