Por Lucas Shoji
Definição da escala de magnitudes
Vimos na aula passada que o brilho, ou seja, o fluxo cai com o quadrado da distância até uma estrela. Podemos estimar o brilho de uma estrela comum, idêntica ao Sol, a uma distância interestelar comum, digamos, kpc. Como kpc UA, a estrela seria vezes menos brilhante que o Sol. Esse é um número muito pequeno! Para deixar a notação mais palpável, e fácil de visualizar (entre outros motivos históricos), os astrônomos criaram a escala de magnitudes.
A escala de magnitudes é uma escala logarítmica de fluxo em que uma estrela de magnitude é vezes mais brilhante do que uma estrela de magnitude . Ok, mas como relaciono isso com o fluxo? Vamos descobrir. Começaremos escrevendo
Como a escala é logarítmica, a razão entre dois fluxos de magnitudes consecutivas é a mesma, :
Usando mais uma vez as propriedades do logaritmo, como a razão entre fluxos de estrelas que têm diferença de magnitude é (o menos vem do fato da magnitude diminuir e o fluxo aumentar), para a razão deve ser . Assim, para duas estrelas com diferença de magnitude , a razão entre os fluxos deverá ser :
Essas são as equações que você vai usar em praticamente todos os exercícios de magnitudes.
Alguns outros fatos importantes que podem ser cobrados são que o limiar da capacidade de detecção do olho humano comum está em , e que Vega, α Lyrae, foi utilizada inicialmente para a calibração da magnitude . Atualmente, com a descoberta da variação do brilho das estrelas, usa-se um outro método mais estável para calibrar esse sistema, mas mesmo assim a magnitude de Vega é bem próxima de .
Exemplo: Sistema binário
Vamos aplicar a escala que acabamos de criar para o seguinte problema: sabendo as magnitudes das componentes individuais de um sistema binário e , como consigo achar a magnitude combinada, , que vemos no céu?
Sabemos que .
Também, o fluxo combinado que observamos é . Aplicando a equação da magnitude:
Substituindo e isolando , temos finalmente:
Outros conceitos
Quando falamos de magnitudes, nós normalmente falamos da magnitude no visível, composta pela luz no espectro visível ao olho humano. Porém, na maioria dos problemas astrofísicos, precisamos saber a magnitude composta pelo fluxo total, ou seja, em todas as frequências. Chamamos essa magnitude de magnitude bolométrica, . O fluxo total é o fluxo visível vezes um certo fator multiplicativo. Como em um logaritmo um fator multiplicativo torna-se um fator aditivo, podemos definir esse fator como uma correção bolométrica, . Assim, sendo a magnitude visível:
O módulo está na equação pois não há consenso de qual lado colocar o , levando a valores opostos dele. Podemos sempre chegar na equação certa sabendo que o fluxo total obviamente é maior que o fluxo visível, portanto .
Outro conceito importante é a magnitude absoluta, , que é a magnitude de uma estrela vista a pc de distância dela. A magnitude absoluta pode ser pensada como se fosse um análogo da luminosidade para as magnitudes, já que ela é, como o nome diz, absoluta. Podemos deduzir a relação entre a magnitude aparente e a absoluta:
O termo da esquerda, , também é conhecido como módulo de distância.
Também, outra definição aparece de vez em quando é quando consideramos a magnitude superficial de um objeto extenso. Expressada em mag/arcsec², a magnitude superficial é um análogo da magnitude para a intensidade:
onde é a intensidade e o ângulo sólido. Muitas vezes, como os ângulos envolvidos são muito pequenos e portanto a superfície da esfera pode ser aproximada para um plano. Então, o ângulo sólido usado na intensidade é aproximado para uma "área angular", justificando assim o "arcsec²". Por exemplo, uma galáxia esférica de diâmetro angular " tem área angular arcsec².
Exercícios
1. Quantas Sirius () precisaríamos para obtermos o mesmo brilho do Sol?
2. Um sistema trinário é composto por duas estrelas de magnitude absoluta e outra de .
a) Qual a magnitude absoluta combinada do sistema?
b) Supondo que o sistema esteja com magnitude aparente agora, e que o sistema esteja se afastando de nós a km/s, quando a estrela deixará de ser visível?
3. Assuma que todas as estrelas têm mesma magnitude absoluta e estão distribuídos homogeneamente pelo espaço. Seja o número de estrelas mais brilhantes que a magnitude . Ache a razão .