Escrito por Ualype Uchôa
Nesta aula, iremos entender como as cargas elétricas interagem entre si de um ponto de vista mais físico, e também iremos introduzir e aplicar o conceito de campo elétrico.
A Força Elétrica: Lei de Coulomb
Sabemos que as cargas elétricas, quando aproximadas entre si, irão se repelir ou atrair. Tal repulsão ou atração é gerada por um agente da natureza: uma força. Essa força, chamada de força elétrica (ou eletrostática), é uma força conservativa do tipo eletromagnética. No caso de cargas de mesmo sinal, ela é repulsiva, e, de sinais opostos, atrativa, como esperado. Para duas cargas pontuais (de dimensões muito pequenas) e , seu modulo é dado pela seguinte expressão, a Lei de Coulomb, formulada pelo físico Charles Augustin de Coulomb:
.
Aqui, é a distância entre elas e é conhecida como a constante eletrostática do meio em que as cargas se encontram, e é chamada de permissividade elétrica do meio. De antemão, o meio com o qual trabalhamos nos exercícios geralmente é o vácuo, para o qual definimos e , com . O sentido da força pode ser descoberto utilizando os argumentos já mencionados. O resultado mais importante é perceber que a força varia com o inverso da distância ao quadrado (um comportamento idêntico à força gravitacional!). Para que obtenhamos um maior formalismo, suponha que seja uma carga de prova a uma distância de uma carga pontual em repouso. Qual é a força que a carga de prova sente devido à presença de ? Este é o problema fundamental da eletrostática. Utilizando a Lei de Coulomb, podemos escrever, vetorialmente:
.
Usamos que . Perceba que o módulo no produto entre as cargas não é mais necessário, pois o sentido já é determinado pelo vetor.
Princípio da Superposição
Você pode estar se perguntando sobre a validade do resultado anterior para uma situação diferente: e se, em vez de apenas uma carga fixa , tivéssemos uma coleção de cargas (com ) a distâncias de ? O princípio da superposição nos ajuda a resolver esta questão; ele diz que a força entre quaisquer duas cargas não é afetada pela presença de outras [cargas]. Sendo assim, para a distribuição discreta que imaginamos, a força total em pode ser escrita como um somatório das forças individuais:
.
E, para o caso de uma distribuição contínua, o somatório transforma-se em uma integral:
.
Caso a carga esteja distribuída:
a) Ao longo de uma linha, definimos como a densidade linear de carga, de tal forma que , com sendo o elemento de comprimento.
b) Ao longo de uma superfície, definimos como a densidade superficial de carga, de forma que , com sendo o elemento de área.
c) Ao longo de um volume, definimos como a densidade volumétrica de carga, de forma que , com sendo o elemento de volume.
Veja os exemplos a seguir:
Exemplo 1:
Três cargas, , e , estão em repouso presas por fios, conforme o esquema abaixo. Determine os valores das trações e .
Solução: Na carga , as forças de repulsão devido à e são canceladas pela tração no primeiro fio. Assim:
.
Similarmente, para as forças em :
.
Exemplo 2:
Nos vértices de um cubo de lado, foram fixadas cargas como mostra a figura a seguir:
Caso seja colocada uma carga no ponto de encontro das diagonais do cubo, qual será a força sentida por ela?
Solução: Note que não precisamos calcular a força que cada carga exerce na carga de prova . A força resultante produzida em ao longo das diagonais do cubo que possuem cargas de sinais iguais nos vértices será nula, visto que uma ambas produzem forças de atração/repulsão de mesmo módulo (pois está a uma mesma distância de todas as cargas), porém sentidos opostos. Observamos, então, que somente uma diagonal não possui tal característica; basta calcular as forças produzidas pelas cargas que se encontram ao longo dela! Como o comprimento da diagonal é e a carga de prova encontra-se no centro, a uma distância de de qualquer uma das cargas:
.
Exemplo 3:
Uma carga é uniformemente distribuída sobre um fio semicircular de raio . Calcule a força com que atua sobre uma carga de sinal oposto colocada em seu centro.
Solução: É evidente que estamos nos deparando com uma distribuição contínua (caso não esteja familiarizado com cálculo, dê uma olhada na Ideia 11 de Física). Vamos começar analisando a força que um pedaçinho do fio - de carga e comprimento - faz na carga de prova.
Já que a carga é uniformemente distribuída, vamos definir um parâmetro , a densidade de carga linear, de tal forma que :
Agora, perceba que, se olharmos para a força que um pedacinho oposto a esse exerce na carga de prova, as componentes horizontais das forças se cancelam. Sendo assim, precisamos olhar apenas para a componente vertical :
Logo, integramos de até para obter a força total exercida pelo fio:
.
Evidentemente, a força é de atração, vertical e aponta para cima.
O Campo Elétrico
Até então, discutimos o efeito de cargas elétricas umas nas outras. Agora, partamos para um conceito mais abstrato: analisar o efeito que uma carga/distribuição de cargas gera no espaço ao seu redor. Definiremos uma quantidade vetorial muito importante, chamada de campo elétrico, da seguinte forma:
Isto é; o campo elétrico gerado em um certo ponto do espaço por uma distribuição quaisquer de cargas é a força exercida sobre a carga de prova, no limite em que a carga de prova tende a zero. Para fins práticos (a necessidade do limite na definição formal ficará clara em aulas futuras):
.
Então, temos, para uma distribuição discreta:
.
E, contínua:
.
Perceba que o campo elétrico varia em cada ponto do espaço e não depende da carga de prova, mas, sim, da configuração das cargas geradoras do campo que buscamos calcular. Mas, afinal, o que realmente é o campo elétrico? Fisicamente falando, é a força por unidade de carga exercida na carga de prova caso esta fosse posicionada no ponto do espaço em que se deseja calcular o campo. Contudo, essa é uma interpretação muito simples de um conceito demasiadamente abstrato. Mas, podemos intuitivamente pensar que o campo é realmente uma entidade física, preenchendo todo o espaço na vizinhança de qualquer carga elétrica; esta interpretação nos ajudará em breve.
Vejamos o exemplo a seguir:
Exemplo 4:
Ache o campo elétrico no ponto , que está a uma distância acima do ponto médio de duas cargas iguais . Veja se o seu resultado é consistente com o esperado para .
Solução:
Observe a imagem a seguir:
É evidente que as componentes horizontais do campo elétrico gerado por cada uma das cargas irão se cancelar, devido à simetria. Sendo assim, o campo elétrico total será a soma das componentes dos campos elétricos ao longo da reta que contém e o ponto médio entre as cargas:
Onde , o campo gerado por cada carga, será dado por:
Logo, o campo em é
,
e aponta para verticalmente para cima. No limite em que , esperamos que o campo seja praticamente aquele gerado por uma carga pontual . Desprezando os termos de segunda ordem na expressão obtida:
.
Que condiz com as nossas expectativas.