Escrito por Paulo Henrique
Introdução
Quando se quer resolver um circuito analiticamente o primeiro passo é escrever as equações de Kirchkoff que descrevem as correntes através de cada trecho do circuito. Em muitos casos, isso é feito diretamente por inspeção do diagrama do circuito. Dependendo da complexidade do circuito em questão, essa tarefa é trabalhosa e inviavél de se fazer, tendo em vista o tempo limitado de prova de uma olímpiada, por exemplo. Com a aplicação de alguns teoremas que serão ensinados nessa aula, o circuito pode ser simplificado, e com a utilização de métodos sistemáticos o problema pode ser resolvido facilmente.
A partir de agora, admita que todos os elementos de circuito são lineares: os valores das resistências não dependem da corrente que nelas passsam. Sendo assim, a relação
é válida.
Teorema de Thévenin
Considere um circuito conectado a um outro circuito através de seus terminais. O objetivo desse teorema é mostrar que no ponto de vista do circuito , atua simplesmente como fosse uma fem em série com uma resistência .
Como determinar essas quantidades? O teorema independe da natureza de (circuito externo), mas, por questão de simplicidade, consideremos como sendo uma fem . A prova geral será deixada como exercício em um problema no final da aula.
Como exemplo, considere o circuito da figura abaixo.
Utilizando lei das malhas (utilizando o método do 'loop", onde cada malha está associada a uma corrente. A única diferença desse formalismo é que as equações de conservação de corrente em cada nodo são satisfeitas automaticamente. Para obter a corrente real em algum trecho, deve ser feita a soma algébrica das correntes de malhas adjacentes), chegamos nas seguintes equações:
Essas 3 equações são da mesma forma: todas possuem termos lineares nas fems e produtos entre e . Esse conjunto de equações pode ser escrito na forma matricial do tipo:
Onde é uma matriz cujos elementos são funções somente das resistências, é matriz coluna (com elementos , , ...,) e é uma matriz coluna com elementos sendo combinações lineares das fems. No presente caso, temos
A solução para as corrente é . A priori, não sabemos exatamente a forma de . Mas isso não importa: só depende das resistências e como é linear nas fems as correntes também serão. Portanto:
Onde n é o número de fems no circuito e os coeficientes são constantes que dependem das resistências. Defina
Com essas definições
Mas a equação acima é exatamente o que iríamos obter se o circuito fosse substuitido por uma fem em série com uma resistência . Conforme dito antes, os coeficiente só dependem das resistências do circuito. Portanto, para descobrir podemos usar qualquer conjunto de valores convenientes para as fems , ,..., . Sendo assim, escolhendo todas as fems como vemos que é dado pela resistência equivalente entre os terminais do circuito quando todas as fems são zeradas, ou seja, substituidas por fios lisos (). Com o valor de podemos fazer (equivale aos terminais em curto-circuito, ou seja, um fio liso os conectando), o valor de é dado por
Onde é é a corrente que passaria por se os terminais fossem conectados por um fio liso. O subscrito "CC" vem de "curto circuito". Há outra forma de calcular , a prova é parte de um problema do final da aula. é dado pela diferença de potencial através dos terminais quando é removido do sistema, ou seja, é a d.d.p. de circuito aberto.
Para se familiarizar com esse teorema, considere os dois seguintes exemplos:
Caso inicial
Qual a diferença de potencial entre os pontos e ?
Considere como circuito externo (chamado também de "carga") a bateria em série com a resistência (também funciona se escolhermos a carga como sendo a resistência R ), agora deixemos de lado para calcular e . Quando as duas fems de cima são substituidas por fios lisos, a resistência equivalente entre os pontos e é a de uma resistência em paralelo com uma , logo
Agora, coloquemos de volta as duas baterias e calculemos . Para treinar, faremos isso das duas formas: calculando a d.d.p. de circuito aberto, e através da relação . Primeiramente, considere a figura abaixo, onde a carga ja foi retirada:
As equações de loop são:
A solução para esse sistema é
A d.d.p. de circuito aberto será
Portanto, com o circuito simplificado, podemos calcular a corrente na carga (tenha cuidado com a polaridade de , o potencial de é maior que o de ).
O que dá
Sendo assim, a diferença de potencial entre os pontos e é
Agora, calculemos (considerarei ainda a carga como sendo o trecho com a bateria).
As equações de loop são
O que da
Portanto
Que é o mesmo valor obtido quando calculamos a d.d.p. de circuito aberto.
Potência máxima
Determine qual deve ser a resistência da carga conectada ao circuito através de seus terminais tal que a potência dissipada nessa resistência é máxima.
Pelo teorema de Thévenin, o circuito é equivalente a uma fem em série com uma resistência . É um resultado conhecido que a potência máxima é obtida quando a resistência da carga é igual a resistência interna da bateria (que no nosso caso representa a resistência Thévenin). Portanto, a resistência procurada é a própria resistência Thévenin, que pode ser calculada facilmente
Princípio da superposição
Na nossa análise do teorema de Thévenin, foi provado que quando estamos lidando com elementos lineares, a corrente em um trecho qualquer de um circuito qualquer é dada por
Onde os coeficientes dependem somente dos valores da resistências envolvidas. Devido a essa linearidade segue um importante teorema
A corrente total fluindo em qualquer parte do circuito é igual a soma algébrica das correntes que fluiríam nessa parte se cada f.e.m. atuasse sozinha, todas as outras estando em curto circuito.
A prova desse teorema é imediata:
Considere, por simplicidade, que no circuito só há 3 fem: , e . A corrente no trecho (trecho qualquer) é dada por:
Mas observe que cada termo separado pelos parenteses representam a corrente no trecho se as outras duas fems são 0 (fios lisos).
Duas fontes
Determine a corrente em todos os resistores. Para facilitar as contas faça e .
Conforme vimos acima, podemos substituir cada fonte por um fio liso e calcular a soma algébrica das correntes que passariam em cada resistor nessa situação hipotética. Primeiramente, quando a fonte 1 é retirada, a corrente nos resistores é , para baixo em , para a esquerda no resistor , para baixo no resistor e para a esquerda no resistor . Quando a fonte 2 é retirada, similarmente ao primeiro caso, a corrente em cada resistor é : para baixo no resistor , para a direita no reisistor , para a direita no resistor e para baixo no resistor . Efetuando a soma algébrica
Problemas
Resistor de
Considere o circuito abaixo. Se um resistor de é conectado através dos terminais do circuito qual corrente passará por ele? (Resposta: )
Equivalentes Thévenin
Para o circuito abaixo, encontre os valores de e em relação aos terminais e . Todas as fems valem e todas as resistências . (Resposta: e )
Circuito infinito
Determine a fem equivalente do circuito abaixo. (Resposta: onde )
Superposição em malhas infinitas
Determine a resistência equivalente entre os potos e da malha infinita abaixo. Cada fio têm resistência . (Resposta: )
E com capacitor?
Determine a diferença de potencial entre as placas do capacitor. (Resposta: )
Desafio
Demonstre o teorema de Thévenin sem simplificações. Mostre também que
Dica: Use o princípio da superposição. Se preferir considere que o circuito não possui fem. Isso não restringe a demonstração visto que, pelo princípio da superposição, a corrente em devido a não depende dessas fems internas.