Escrito por Ualype Uchôa
Questão 1
Somas infinitas e Cinemática
i) Com as informações dadas, podemos esboçar a trajetória do microorganismo:
Ambas as coordenadas serão dadas por sucessivas somas e subtrações de vários termos. Perceba que, no eixo x, a coordenada do móvel ora é reduzida de 1/4 da distância percorrida nessa direção anteriormente, ora cresce do mesmo fator, indicando uma progressão geométrica. Portanto, vale escrever
xp=1,0−0,25+0,0625−0,015625+...
xp=1−14+116−164+...
Isso configura uma progressão geométrica (P.G.) infinita de razão q=−1/4 cujo termo inicial vale 1. Usando a soma dos termos da P.G. infinita:
xp=11−(−14)=45 →
→ xp=0,8cm.
O raciocínio é análogo para yp.
yp=0,5−0,125+0,03125−0,0078125+...
yp=12−18+132−1128+...
yp=121−(−14)=25 →
→ yp=0,4cm.
'ii) Para achar o tempo de movimento, basta dividir a distância total percorrida d pela velocidade v do micróbio. Note que as distâncias percorridas compõem uma P.G. infinita de razão 1/2:
d=1+12+14+18+116+...
d=11−12=2,0cm.
Por fim:
t=dv=2,00,15=13,33s →
→ t≈13s.
(xp,yp)=(8,4)⋅10−1cm=(8,4)⋅10−3m
t≈13s
Questão 2
Cinemática: Lançamento Oblíquo e Movimento Circular
i) Ao ser lançada, a velocidade da bolinha pode ser dividida em duas componentes ortogonais entre si: uma paralela a barra e outra tangente ao movimento circular que a partícula executava antes de ser jogada. A primeira é simplesmente v, enquanto a segunda é Ωr, sendo r o raio de curvatura do movimento do circular, i.e. a distância da massinha ao eixo em torno do qual a barra girava, que vale Lsinθ. Veja abaixo o esquema (3D) do vetor velocidade da massa ao sair da haste para melhor compreensão. O segmento traçejado encontra-se sobre o eixo vertical.
Para analisar a cinemática da bolinha enquanto no ar, vamos dividir o movimento em duas componentes independentes, pelo princípio de Galileu. O primeiro é o movimento exclusivamente devido à velocidade inicial v, que configura um lançamento oblíquo esquematizado abaixo:
A equação horária para a altura y(t) convencionando o positivo para cima num movimento desse tipo é
y(t)=y0+v0yt−12gt2.
A partir disso, podemos encontrar o tempo de vôo T da massinha, até que retorne ao nível do solo. Queremos y(T)=0, logo:
0=Lcosθ+vcosθT−12gT2 →
→ T2−2vcosθgT−2Lcosθg=0.
Por Bháskara:
T=2vcosθg±√(2vcosθg)2+4⋅2Lcosθg2.
Escolhemos a raiz positiva pois a negativa nos forneceria um tempo negativo, o que é absurdo. Portanto:
T=vcosθg(1+√1+2gLv2cosθ).
ii) Agora, imagine uma visão de cima da situação, como a esboçada abaixo. A bolinha percorre uma distância ΩLsinθ⋅T em uma direção e vxT=vsinθ⋅T na outra (lembre-se que a velocidade horizontal é inalterada em um lançamento sob a ação de gravidade no eixo vertical), chegando por fim no ponto C ao atingir o solo.
Por fim, levando em conta a projeção do tamanho da haste Lsinθ, utilizamos o teorema de Pitágoras para encontrar o tamanho do segmento BC, que é a distância desejada. Chamando-a de D, temos
D2=(Lsinθ+vsinθ⋅T)2+(ΩLsinθ⋅T)2.
D=√(L+vT)2+(ΩLT)2sinθ,
com T determinado previamente.
D=√(L+vT)2+(ΩLT)2sinθ,
onde
T=vcosθg(1+√1+2gLv2cosθ)
Questão 3
Conceitos de Astronomia e Trigonometria
É necessário, antes de mais nada, esboçar geometricamente a situação (vide figura abaixo).
Ao se levantar, os olhos do observador adquirem uma altura adicional (ainda que muito pequena se comparada ao raio da Terra) em relação à superfície. Agora, ele pode ver objetos que antes eram inacessíveis devido à curvatura do planeta. O efeito prático disso é uma espécie de "novo horizonte" inclinado de um ângulo θ em relação ao antigo, que é definido tomando-se a reta tangente à superfície da Terra, contendo os pontos O e P. Dessa forma, o Sol precisa "descer" de um ângulo θ sob o ponto de vista do observador terrestre até que sua borda superior toque o "novo horizonte". O ângulo varrido pelo Sol no céu (equivalentemente, o ângulo que a Terra girou*) é ωΔt, sendo ω=2π/T a velocidade angular de rotação terrestre. Ou seja:
θ=2πTΔt.
No ΔCOP, temos:
cosθ=RTRT+h.
Isolando RT:
RT=hcos(2πTΔt)1−cos(2πTΔt).
OBS.: As condições especificadas no enunciado (equinócio, experimento feito no equador, etc.) nos permitem argumentar que o ângulo que a Terra girou é o mesmo varrido pelo Sol no céu em seu movimento diurno.
RT=hcos(2πTΔt)1−cos(2πTΔt)
Questão 4
Cinemática: MRUV
Primeiramente, temos de otimizar tempo da viagem. Para fazer isso, é necessário que o elevador acelere até uma velocidade máxima V que é exatamente a necessária levá-lo ao repouso no último andar, ao fim da fase de frenagem. Chame de t1 e t2 os tempos em cada trecho. Graficamente, temos:
Vale que:
V=a1t1=a2t2.
A distância total percorrida é h, que deve equivaler à área total embaixo do gráfico, que forma um triângulo de base t1+t2 e altura V. Logo:
h=V(t1+t2)2,
2h=a1t1(t1+a1a2t1).
O que nos leva a
t1=√2ha2(a1+a2)a1,
e
t2=√2ha1(a1+a2)a2.
Por fim:
t=t1+t2 →
→ t=√2h(a1+a2)a1a2.
t=5√2≈7,0s.
t=√2h(a1+a2)a1a2≈7,0s.
Questão 5
Termologia: Calorimetria
Da Lei de Stefan-Boltzmann, obtemos a potência emitida pelo filamento cilíndrico. Tendo em vista que πd2/4≪πdl, podemos desprezar a área das tampas do filamento no cálculo da potência. A área lateral é A=πdl, logo
P=σπdlT4W.
Essa potência, em sua totalidade, serve para aquecer as mãos da pessoa. Sendo Δt o tempo requerido, temos
PΔt=mc(T2−T1),
Δt=mc(T2−T1)σπdlT4W.
Substituindo os valores:
Δt=411,5s≈4∗102s.
Δt=mc(T2−T1)σπdlT4W≈4∗102s.
Questão 6
Mecânica: Hidrostática e Leis de Newton
(a) Quando a esfera se locomove fluido abaixo, há 3 forças atuando na esfera: o seu peso, para baixo; o empuxo da água para cima; e a força de arrasto viscoso também para cima, contrária ao vetor velocidade. Escrevendo a 2a Lei de Newton, convencionando o positivo para baixo:
→Fres=m→a,
mg−E−Fv=ma.
ρe43πr3g−ρl43πr3g−6πηrv=ma,
Quando sua aceleração se torna nula, o corpo atinge a velocidade terminal vt. Logo:
43ρeπr3g=43ρlπr3g+6πηrvt,
η=29(ρe−ρl)gr29vt.
(b) Primeiro, chequemos a dimensão da viscosidade no SI. Da expressão do enunciado, F∝ηrv→η∝Fr−1v−1. F possui dimensões de kg⋅m−1⋅s−2, enquanto r−1v−1 tem dimensão de m−2⋅s−1, o que nos leva a concluir que η possui dimensão de kg⋅m−1⋅s−1 ou Pa⋅s. Substituindo os valores (convertidos para unidades do SI) na expressão:
η=29(2,70−0,92)∗103∗10∗(1,00∗10−2)25,00 →
→ η=7,91∗10−2Pa⋅s.
(a) η=29(ρe−ρl)gr2vt
(b) η=7,91∗10−2Pa⋅s
Questão 7
Cinemática e Trigonometria
Haja vista que o objetivo é obter a maior pontuação, a colisão entre o objeto e o projétil deve ocorrer em t=0,50s. A imagem abaixo esquematiza a configuração do sistema nesse momento, sendo C o ponto do choque.
No triângulo ΔCOB, podemos utilizar a Lei dos Senos para encontrar α:
Rsinα=v0tsin(π−ωt) → sinθ=sin(π−θ)
→ α=arcsin(Rsinωtv0t).
Com α em mãos, podemos encontrar x de uma forma prática tomando as projeções horizontais de OC e BC:
x=Rcos(π−ωt)+v0tcosα.
Substituindo cosα=√1−sin2α e sabendo que cos(π−θ)=−cosθ:
x=√v20t2−R2sin2ωt−Rcosωt.
O alvo gira de um ângulo ωt=2,50rad que equivale a 150∘=5π/6rad utilizando π=3. da capa da prova. Logo, sinωt=sin30∘=0,50 e cosωt=−cos30∘=−0,85. Inserindo as quantidades numéricas, obtemos
α=arcsin(215),
x=9,13∗10−1m.
α=arcsin(Rsinωtv0t)=arcsin(215),
x=√v20t2−R2sin2ωt−Rcosωt=9,13∗10−1m.
Questão 8
Mecânica: Conservação de energia e Momento linear
OBS.: Na solução que segue, a palavra "sistema" sempre faz referência implícita ao sistema "M+m+m0". Caso o sistema ao qual se refere for outro, será explicitado.
i) Vamos analisar a colisão entre a bala e a massa m. Devido ao incrustamento da bala, a colisão é do tipo inelástica. Se após essa colisão os dois móveis andam juntos com v0 para a direita, conservamos o momento linear do sistema "m+m0" por ser mecanicamente isolado (a mola não foi deformada logo após a colisão):
m0v=(m+m0)v0,
v0=m0m+m0v.
Desta forma, a energia inicial do sistema após o choque da bala é dada por
E0=(m+m0)v22=m202(m+m0)v2.
ii) Agora, é necessário identificar em que momento a mola alcançará a deformação máxima. Sabemos que o comprimento da mola está diretamente relacionado com a velocidade relativa entre os corpos ligados às suas extremidades. Quando esta velocidade relativa torna-se nula, a mola alcança o momento de máxima deformação; após isso, a velocidade de M torna a ser maior e o comprimento volta a aumentar. Sendo assim, o instante que buscamos é aquele no qual os três móveis movimentam-se juntos como se fossem um corpo só. Resta agora equacionar. Acompanhe:
Seja vf a velocidade final do sistema, no momento de máxima deformação. Ora, todas as forças atuantes no sistema sempre são e foram internas, então o momento linear sempre se conserva. Logo:
m0v=(M+m+m0)vf,
vf=m0M+m+m0v.
Denote por Ef a energia mecânica final do sistema na máxima deformação da mola. Após a colisão de m0 com m, a energia mecânica do sistema se conserva devido à ausência de agentes dissipativos. É errôneo dizer que a energia cinética inicial da bala se transforma na energia mecânica final Ef, pois a colisão inelástica no início é responsável por dissipar uma fração da energia inicial da bala; por esse motivo calculou-se E0 na etapa passada. Escrevendo a conservação da energia mecânica:
E0=Ef,
m202(m+m0)v2=(M+m+m0)v2f2+kΔx22,
m202(m+m0)v2=m20v22(M+m+m0)+kΔx22,
Assim, obtemos por fim:
Δx=v√Mm20k(M+m+m0)(m+m0)=0,10m.
Uma ideia muito semelhante foi cobrada nos níveis 1 e 2 da OBF 2011 Terceira Fase, provas as quais você pode conferir os comentários clicando aqui. Uma solução mais rápida e imediata poderia ter sido feita utilizando-se massa reduzida (Ideia 05) ou referencial do CM (Ideia 24). Optou-se aqui por uma solução mais tradicional que seja mais familiar ao aluno.
Δx=v√Mm20k(M+m+m0)(m+m0)=0,10m