Soluções Física - Semana 134

Escrito por Ualype Uchôa

Iniciante:

Assunto abordado

Calorimetria

[collapse]
Solução

Logo de cara, é importante perceber que o calorímetro não é ideal; ou seja, ele troca calor com os componentes que estão dentro dele; para colocá-lo nas contas, basta tratá-lo como sendo um corpo adicional no nosso sistema térmico, com massa e calor específico conhecidos. Feito esse adendo, prosseguimos com a resolução.

Primeiramente, devemos analisar se todo o gelo chega a derreter (lembre-se que a mudança de estado ocorre à temperatura constante), pois, caso a resposta seja sim, a temperatura de equilíbrio está acima de 0^{\circ} C. Caso não, a temperatura de equilíbrio é 0^{\circ}C. Lembre-se que a mudança de estado ocorre à temperatura constante. Para fazermos isso, imagine "trazer" tanto o alumínio quanto a água até 0^{\circ}C para entrarem em equilíbrio com o gelo - que mantemos a 0^{\circ}C -, e assim analisemos o calor total que eles podem fornecê-lo. Esse calor total (que é sensível) é dado, em, módulo, por

Q_{fornc.}=250*0,21*20+500*1,00*20=11050 cal.

Mas o gelo, para derreter por completo, precisa de um calor latente de

Q_{derr.}=100*80=8000 cal.

Ora, como Q_{fornc.}  data-recalc-dims= Q_{derr.}" />, todo o gelo vira água e o sistema alcança uma temperatura final maior que 0^{\circ}C, pois o calor que pode ser fornecido é mais que suficiente. Após tal análise, podemos finalmente calcular de fato a temperatura de equilíbrio T_f. Utilizemos a equação fundamental da calorimetria, a qual estabelece que a soma dos calores trocados é nula, pois os componentes estão isolados:

\displaystyle \sum Q=0.

Devemos levar em conta: calor sensível do calorímetro de alumínio + calor sensível dos 500 g de água + calor latente do gelo ao derreter + calor sensível do gelo que virou água. Portanto:

250*0,21*\left(T_f-20\right)+500*1,00*\left(T_f-20\right)+100*80+100*1,00*\left(T_f-0\right)=0.

Isolando T_f e fazendo as contas, acha-se:

\boxed{T_f=4,67^{\circ} C\approx 4,7^{\circ}C}.

[collapse]
Gabarito

\boxed{T_f=4,67^{\circ}C \approx 4,7^{\circ}C}.

[collapse]

Intermediário:

Assunto abordado

Calorimetria

[collapse]
Solução

Para solucionar o problema, bastava usar a equação fundamental da calorimetria, pois os corpos encontram-se isolados:

\displaystyle \sum_{i=1}^{N} Q_i = 0.

Chame de T a temperatura de equilíbrio. Então, vale que

C_1\left(T-T_1\right)+C_2\left(T-T_2\right)+C_3\left(T-T_3\right)+...+C_N\left(T-T_N\right)=0.

Isolando T, o escrevemos compactamente da seguinte forma:

\boxed{T=\dfrac{\displaystyle \sum_{i=1}^{N} C_i T_i}{\displaystyle \sum_{i=1}^{N} C_i}}.

[collapse]
Gabarito

\boxed{T=\dfrac{\displaystyle \sum_{i=1}^{N} C_i T_i}{\displaystyle \sum_{i=1}^{N} C_i}}.

[collapse]

Avançado:

Assunto abordado

Calorimetria e Termodinâmica (Ciclos termodinâmicos)

[collapse]
Solução

a) A chave desse problema (e que servirá da mesma forma para o item b)) é o processo devemos escolher para intermediar essa troca de calor. Para obtermos a máxima quantidade de trabalho possível, é claro que devemos escolher o ciclo que possui a maior eficiência teórica; com isso, concluímos que a máquina deve ser de Carnot. Simbolizando por dQ_1 e dQ_2 os infinitésimos de calor dos corpos 1 e 2, respectivamente. Como o processo é reversível, e, portanto, isentrópico, a variação de entropia do sistema é zero. Isto é:

dS=\dfrac{dQ_1}{T_1'}+\dfrac{dQ_2}{T_2'}=0,

sendo T_1' e T_2' as temperaturas instantâneas dos corpos. A partir dessa equação, encontramos a temperatura T_F de ambos os corpos ao fim do processo, quando a troca de calor cessa. Temos:

\dfrac{a dT_1}{T_1'}+\dfrac{a dT_2}{T_2'}=0.

Integrando, com os devidos limites:

\displaystyle \int_{T_1}^{T_F} \dfrac{ dT_1}{T_1'}+\displaystyle \int_{T_2}^{T_F} \dfrac{ dT_2}{T_2'}=0,

T_F=\sqrt{T_1 T_2},

positivo, pois a outra solução (temperatura negativa) não faz sentido. Agora, executamos o balanço de energia para a máquina térmica: tudo que entra, sai. Vamos supôr T_1  data-recalc-dims= T_2" />, sem perda de generalidade, apenas para definir quem é nossa fonte quente - nesse caso, o corpo 1. Sendo W o trabalho total extraído, vale escrever que:

-dQ_1=dW+dQ_2.

Preste atenção na convenção de sinais: usamos -dQ_1 pois dQ_1 é o calor sensível do corpo 1, que perde energia, o que faz o corpo 2 esquentar; portanto -dQ_1 é positivo e refere-se à energia que adentra a máquina. A energia que flui para fora é a soma de dW e dQ_2 (como o corpo 2 ganha energia, dQ_2 já é positivo).  Sendo assim:

dW=-dQ_1-dQ_2=-a\left(dT_1+dT_2\right).

Integrando:

W=-a\left(\displaystyle \int_{T_1}^{T_F}dT_1+\displaystyle \int_{T_2}^{T_F}dT_2\right),

W=a\left(T_1-2\sqrt{T_1T_2}+T_2\right),

ou, de forma mais "limpa":

\boxed{W=a\left(\sqrt{T_1}-\sqrt{T_2}\right)^2}.

b) O raciocínio é totalmente análogo. As contas mudam levemente ao efetuar as integrais devido à dependência da capacidade térmica com a temperatura. Você pode mostrar (precisará resolver integrais de potências simples) - com base em tudo que fora feito até agora - que a nova temperatura final é

T_F=\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{\frac{1}{n}}.

E, com isso, chegar na seguinte expressão para o trabalho:

\boxed{W=\dfrac{a}{n+1}\left[T_1^{n+1}+T_2^{n+1}-2\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}\right]}.

Para reproduzir o resultado do último item, não basta tomar n=0, pois acabamos com algumas indeterminações no último termo. Tomando o limite de n \rightarrow 0, fica claro que os dois primeiros termos viram apenas T_1 e T_2, e n+1 \rightarrow 1. O desafio está na seguinte operação:

\displaystyle \lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}.

Necessitaremos de um considerável manejo matemático. Esta parte está além do que em geral é cobrado em olimpíadas de física; caso queira, pode pular sem preocupações. Para os curiosos e sedentos por conhecimento, tratem como um adicional. Começaremos separando o termo maior em dois, e então invocamos a propriedade de que o limite do produto de duas funções é o produto dos limites de cada função entre si:

\displaystyle \lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}=\lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right) \lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{\frac{1}{n}} ,

\displaystyle \lim_{n\to0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}=\lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{\frac{1}{n}}.

Foi utilizado, na última linha, que o resultado do limite à esquerda é 1. Agora, lembrando que u=e^{ln(u)}, façamos a seguinte transformação:

\displaystyle \lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{\frac{1}{n}} \rightarrow \lim_{n\to 0} e^{ln\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{\frac{1}{n}}}= \lim_{n\to 0} e^\dfrac{ln\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)}{n}.

Haja vista que a função exponencial é contínua, podemos executar a seguinte operação, utilizando o fato de que \lim f(g(x))= f (\lim g(x)) para uma função f contínua:

\displaystyle \lim_{n\to 0} e^\dfrac{ln\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)}{n} \rightarrow e^{\displaystyle \lim_{n\to 0} \dfrac{ln\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)}{n}}.

E, por fim, utilizando a regra de L'Hospital (é útil lembrar que d(c^x)/dx=c^xln(c), sendo c uma constante e d(lnx)/dx=1/x):

e^{\displaystyle \lim_{n\to 0} \dfrac{ln\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)}{n}}=e^{\displaystyle \lim_{n \to 0} \dfrac{T_1^n ln T_1 + T_2^n lnT_2}{T_1^n+T_2^n}}.

O limite no expoente é trivial, e pode ser encontrado fazendo n=0 diretamente. Desta forma, podemos, por fim, escrever que

\displaystyle \lim_{n\to 0} \left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}=e^{\displaystyle \dfrac{1}{2}ln(T_1T_2)}=\sqrt{T_1 T_2}.

Portanto, conseguimos resgatar a expressão em a) forçando um caso particular de b):

W=a\left(T_1-2\sqrt{T_1T_2}+T_2\right) c.q.d.,

como queríamos demonstrar.

[collapse]
Gabarito

a) \boxed{W=a\left(\sqrt{T_1}-\sqrt{T_2}\right)^2}.

b) \boxed{W=\dfrac{a}{n+1}\left[T_1^{n+1}+T_2^{n+1}-2\left(\dfrac{T_1^n+T_2^n}{2}\right)^{1+\frac{1}{n}}\right]}.

Demonstração.

[collapse]