Aula 0 - Origem da Agricultura

Escrito por Gabriel Volpato

A origem da agricultura e sua localização são obscuras, pois seu surgimento remonta à própria história escrita, dificultando a localização de evidências ou fatos que caracterizem com mais clareza sua origem. No entanto, admite-se que ela tenha surgido independentemente em diferentes lugares do mundo, provavelmente nos vales e várzeas fluviais habitados por antigas civilizações.

Há um consenso de que a agricultura tenha surgido no Oriente Médio há mais de nove mil anos e hoje se faz presente em todos os cantos do mundo, embora não tenha evoluído da mesma forma em todos os lugares. Na antiguidade, os grupos humanos não conheciam as técnicas de cultivo nem sabiam domesticar os animais, viviam da caça e da pesca, sendo obrigados a migrar para regiões onde as condições climáticas fossem favoráveis à obtenção de alimentos, o que os classificava como povos nômades.

Quando as condições naturais eram favoráveis, a produção de alimentos aumentava e aos poucos se começou a gerar excedentes que podiam ser armazenados. Assim, os povos nômades não precisavam sair em busca de alimentos, passando a permanecer num mesmo lugar e acabaram tornando-se sedentários. Tal fato leva a crer que a agricultura permitiu a fixação do homem em um determinado lugar e promoveu o avanço da relação entre o homem e o meio natural.

Ao longo da história da humanidade, os agricultores sempre buscaram desenvolver novas técnicas que lhes proporcionassem maior produção e maior independência em relação às condições naturais. Como exemplo, a utilização de animais para arar o solo, a construção de canais de irrigação e de equipamentos como arados, enxadas, carroças, moinhos etc., que se desenvolveram lentamente ao longo dos séculos, resultando na 1ª Revolução Agrícola.

O surgimento da divisão social do trabalho em função do sexo, da idade e da experiência acumulada determinou uma certa especialização das tarefas, o que contribuiu para elevar a produtividade do trabalho. Com o desenvolvimento da agricultura e da pecuária e o aumento na produção de alimentos, permitiu-se a divisão de algumas tarefas, tais como: plantar, produzir ferramentas, comercializar o excedente produzido em forma de escambo, com o intuito de adquirir os produtos que eles não produziam.

Com a agricultura, veio a organização da vida comunitária nos vilarejos. As pessoas viviam em agrupamentos permanentes, cultivando a terra ao redor deles durante cerca de 10 anos, até que o solo se esgotasse, daí mudavam para uma outra área, deixando o solo recuperar-se em um processo que poderia levar muitos anos. Isso era possível devido ao fato de existir um número reduzido de habitantes, o que não seria concebido na atualidade, devido ao elevado contingente populacional, resultando em intensa degradação ambiental.

Após alguns anos de cultivo, os solos perdiam sua fertilidade natural e a produtividade diminuía. A primeira solução encontrada para esse problema foi a adubação com esterco de animais, cascas, restos de alimentos, o húmus trazido pela água dos rios e qualquer outra matéria orgânica despejada na superfície das áreas de cultivo para repor os nutrientes do solo e recuperar a fertilidade perdida.

A partir daí, o homem passou a buscar matéria orgânica, principal fator de fertilidade do solo, que era considerada de suma importância para a agricultura. No antigo Egito, as terras mais disputadas localizavam-se em torno do delta do rio Nilo, pois durante o período de cheias, essas terras recebiam matéria orgânica trazida pelas chuvas e ao mesmo tempo transportadas pelo rio, tornando a área bastante rica devido à presença do húmus.

No entanto, mesmo adubando a terra, era impossível utilizar a mesma área agrícola de forma permanente. Então, os agricultores começaram a praticar o pousio, ou seja, interrompiam o cultivo em certas áreas por um ou mais anos, para que a própria natureza recuperasse a fertilidade do solo. Esta prática, no entanto, deixava parada uma parte do terreno que poderia ser cultivada, o que diminuía o volume de produção por propriedade.

Durante a Idade Média, na Europa, uma inovação muito importante permitiu que as áreas agrícolas fossem utilizadas sem interrupção: a rotação de cultura. Esta consistia no revezamento dos produtos cultivados em pequenos intervalos de tempo. Com esse revezamento, a nova planta repunha no solo os nutrientes que o produto anterior havia retirado, além de não deixar as terras paradas, ou seja, improdutivas. Tal inovação possibilitou ampliar a produção e, consequentemente, com o excedente produzido, gerou um acúmulo primitivo de capital.

A importância da agricultura no processo de formação histórica da sociedade é um fato inquestionável. No entanto, enquanto alguns consideram um passo decisivo para a humanidade, para outros, pode ser considerado um retrocesso. Isso se deve ao fato de que a agricultura levou à sedentarização do homem, à divisão do trabalho, à propriedade privada e, consequentemente, às desigualdades sociais.