Escrito por Gabriel Volpato Lima
Ideias sobre a população
Desde os gregos antigos nós conseguimos ver que o humano pensa na população e os seus fenômenos. Os gregos achavam que eles viviam no melhor lugar da terra, e que a Grécia era o centro da parte habitável da Terra. Esse local habitável era chamado de ecúmena, nome que se manteve até os dias de hoje para as áreas habitáveis da Terra (mas agora a gente considera um pouco mais do que só a Grécia). Mas esse costume de colocar sua terra natal como o melhor lugar da Terra é bem comum entre vários povos.
(Se prepare para essa aula pois tem bastaaaante texto)
Ideias modernas sobre a população
Thomas Malthus (1766-1834) “Population, when unchecked, increases in a geometrical ratio.”
(A população, quando sem controle, aumenta em uma progressão geométrica)
Ester Boserup (1910-1999) “The power of ingenuity would always outmatch that of demand.”
(O poder da ingenuidade vai sempre se sobressair ao da demanda)
Teoria Malthusiana
A teoria populacional de Malthus é baseada na ideia de que a população cresce em uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32, 64…), enquanto os recursos crescem em uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5…). Isso leva à conclusão de que não é possível existir um progresso contínuo, e o futuro reserva uma escassez de recursos e o advento da “miséria e vício”.
- A previsão malthusiana é que haverá um advento de miséria e vício à medida que a população cresce mais rápido do que os recursos disponíveis.
Malthus também teorizou sobre os salários no longo prazo, afirmando que eles flutuam em torno do nível de subsistência. Ele identificou fatores que afetam essa tendência, incluindo
- “freios positivos” que aumentam a taxa de mortalidade, como guerras, fomes e doenças;
- “freios negativos” que diminuem a taxa de natalidade, como aborto, contracepção;
- “restrições morais”, como adiar o casamento.
Essa teoria, embora controversa, teve um impacto significativo no campo da economia e continua a ser um ponto de referência importante para os estudiosos dessas áreas.
A abordagem populacional sempre teve, e sempre vai ter, forte relação com a evolução do pensamento econômico. E o maior destaque dessa relação economia e população é o economista inglês Thomas Malthus, que escreveu dois ensaios sobre a teoria demográfica dele com nomes bem longos. O primeiro denominado “Um Ensaio sobre o Princípio da População em relação aos seus efeitos sobre o futuro progresso da sociedade, com comentários sobre as especulações do Sr. Godwin, Condorcet e outros escritores (1798)" e o segundo “Um ensaio sobre o principio da população ou uma visão de seus efeitos passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona”.
A economia, como ciência, se estabelece a partir da Escola Clássica, sistematizada por Adam Smith e David Ricardo, baseada nos princípios da famosa teoria da “mão invisível” e do valor-trabalho. Thomas Malthus, por outro lado, segue uma linha de pensamento econômico mais conservadora, sendo um dos representantes da chamada Escola Utilitarista, que de certa forma se opõe ao pensamento de Adam Smith e David Ricardo. Malthus é um defensor da lógica econômica da conhecida Lei da Oferta e da Procura, também estudada por seu contemporâneo, Say, o grande fundador dessa lei, que muitos economistas ainda seguem hoje como um guia religioso.
Voltando ao tema do tópico atual, quais seriam os fundamentos da teoria demográfica de Malthus e por que sua análise ainda ressoa nos dias atuais? Vamos a eles.
A primeira questão está relacionada à forte influência religiosa de Thomas Malthus, que passou parte de sua vida como pastor anglicano. Os elementos de natureza moral têm um forte impacto em sua teoria populacional, mesmo depois que ele desistiu de ser pregador religioso e se dedicou à atividade acadêmica, casou-se e constituiu uma família, o que de certa forma contradiz algumas de suas propostas para diminuir o crescimento populacional, como a aplicação da castidade ou da abstinência sexual.
Assim, Malthus defendeu várias propostas de natureza moral para conter a expansão populacional, das quais podemos destacar três das mais conhecidas.
A primeira é que a pessoa deveria adiar seu casamento o máximo possível, para extrair duas vantagens. Casamentos mais tardios levam à formação de famílias com menos filhos e a atração sexual diminui à medida que a pessoa envelhece. Além disso, só deveria se casar quem tivesse realmente condições financeiras de sustentar a família.,
A segunda proposta, como mencionado anteriormente, é o exercício da castidade, principalmente entre os solteiros. Apenas os casados teriam direito ao relacionamento sexual, enquanto os não casados deveriam evitar ao máximo a prática sexual.
A terceira proposta é evitar a procriação excessiva. Segundo Malthus, é da própria natureza do ser humano, como parte do mundo animal, manter o instinto da espécie pela atração entre os sexos. E o ser humano, na busca incessante pelo prazer sexual, não teria condições de realizar o controle natural do número de nascimentos, fenômeno observado em outras espécies animais, mas difícil de ser percebido pelo homem e pela mulher.

Em outras espécies, existe um controle natural do número de seres em um determinado local (ou ecossistema) em relação à quantidade de alimentos disponíveis. No entanto, para a espécie humana, que se vê em uma posição superior em relação às outras espécies, essa lógica de controle natural não é uma grande preocupação. Isso leva à conclusão de que o crescimento natural da população não tem relação com a disponibilidade de alimentos, resultando em um crescimento contínuo, pior ainda, em progressão geométrica. A maior consequência dessa falta de “consciência” de que a quantidade de alimentos não cresce na mesma proporção que a população é o aumento da fome. O aumento das taxas de natalidade se torna um dos maiores obstáculos ao crescimento econômico.
Malthus, com suas fortes influências morais e religiosas, estava interessado em analisar apenas um elemento - o demográfico. Ele inseriu valores morais e religiosos para explicar a causa da pobreza e a certeza de que o crescimento da economia de um país se processaria a partir de uma determinada quantidade de pessoas, dispostas para um determinado nível de consumo e principalmente para o trabalho, evitando assim o desemprego. Uma das maiores críticas à abordagem malthusiana é a discriminação e o preconceito, principalmente contra os pobres. Segundo Malthus, os pobres deveriam ser conduzidos a agir por atitudes meramente individuais, tendo poucos filhos e casando mais tarde. Se continuassem pobres, estariam condenados a nunca fazerem sexo durante toda a vida, nem casar.
Apesar dessas contradições, as proposições de Malthus repercutiram em outras áreas do conhecimento, sendo um dos principais influenciadores de Charles Darwin. Na obra de Darwin, “A Evolução das Espécies”, a relação entre a quantidade de seres e a disponibilidade de alimentos poderia gerar competição na disputa pela sobrevivência à medida que faltasse alimentos e apenas os mais fortes e aptos poderiam sobreviver. Além disso, a Teoria Populacional de Malthus serviu como base para o desenvolvimento da teoria neomalthusiana, amplamente conhecida e aplicada principalmente a partir da década de 50 do século passado.
Ademais, a teoria malthusiana não se baseou em nenhum fundamento empírico, ou seja, não foi baseado em nenhuma realidade. Sem exemplos, a teoria malthusiana perdeu credibilidade e acabou por não provar nada sobre a capacidade ilimitada do ser humano reproduzir ou do volume de alimentos disponíveis para todos. E não chegou a analisar fenômenos demográficos como a China e a Índia com suas populações enormes ou outros fatores que influenciam na população como distribuição de renda ou distribuição espacial, conceitos que fogem da questão população x alimentos.
É POSSÍVEL DIZER QUE A TEORIA DE MALTHUS É VÁLIDA PARA OS NOSSOS DIAS?
A teoria populacional malthusiana, escrita há mais de 200 anos, enfrentou limitações teóricas e empíricas, e a história econômica desde então praticamente desmantelou seus principais argumentos. Suas propostas alternativas de controle populacional são vistas hoje como piada, dada a extrema liberdade sexual que vivemos e as múltiplas maneiras de evitar a concepção. Além disso, o volume de alimentos produzidos atualmente é maior que o crescimento demográfico.
No entanto, algumas questões não podem ser ignoradas em nosso cotidiano demográfico, e surpreendentemente, Malthus está mais vivo do que nunca. Uma questão primordial está relacionada ao fenômeno da explosão demográfica. Nunca nasceu tanta gente no mundo como no século XX. Alguns estudiosos apontam que o total de pessoas nascidas e mortas até o final do século XIX é menor que o total de nascimentos vistos no século XX.
Portanto, mesmo que combatamos a relação equivocada de Malthus entre população e alimentos, enfrentamos uma realidade demograficamente explosiva. A população mundial continua a crescer. Mesmo que tenhamos certeza de que vivemos em um mundo abundante em termos de recursos materiais, mas pessimamente distribuídos, a chamada bomba demográfica é uma certeza. Mesmo que as taxas de crescimento sejam cada vez menores, o volume demográfico ainda é considerável (são mais de 80 milhões de nascimentos por ano), e o problema não seria apenas econômico, mas cultural e principalmente de cunho religioso.
Teoria neomalthusiana
Não podemos separar questões demográficas de questões econômicas. O crescimento populacional impacta a organização da economia capitalista, especialmente na formação do mercado de trabalho, desemprego, nível de escolaridade, etc. O excesso demográfico pode trazer consequências sociais e economicamente desfavoráveis, ou o contrário, um pequeno crescimento populacional pode levar à falta de mão-de-obra, maior envelhecimento da população e expansão do mercado interno.
No entanto, é importante perceber que as justificativas demográficas dependem do contexto histórico em que estão inseridas. Assim, a Teoria Neomalthusiana surgiu em um momento de grandes diferenças econômicas entre os países capitalistas. A descoberta da existência de uma grande quantidade de pobres na África, Ásia e América Latina assustou os representantes políticos dos países mais ricos, tornando-se uma preocupação e na busca de explicações, a teoria de Thomas Malthus foi ressuscitada como uma saída “justificável”. Sob a temática da “explosão demográfica”, que se processou a partir dos anos 50 do século passado, os representantes da teoria neomalthusiana reagiram ao susto demográfico. Sua estratégia central era construir políticas de contenção ou de controle demográfico.
A explosão demográfica, concentrada nos países pobres, não ocorreu devido à melhoria das condições de vida da maioria da população, mas por questões estritamente demográficas. Segundo Milton Santos, em seu livro “Manual de Geografia Urbana (1981)”, a principal causa da aceleração do crescimento demográfico dos países subdesenvolvidos foi a diminuição das taxas de mortalidade. Nessa linha de pensamento, é evidente que a explosão demográfica era uma realidade, decorrente da queda acentuada das taxas de mortalidade e da persistência de altas taxas de natalidade. Os neomalthusianos, temerosos com o número de nascimentos e o crescimento do socialismo em várias partes do mundo, justificaram a desigualdade “colocando a culpa nos outros”.
Assim, o neomalthusianismo, além de ressuscitar os fantasmas da absurda teoria de Malthus, serviu para aplicar políticas públicas de controle da natalidade através da aplicação de técnicas higiênicas e sanitárias, para que a fecundidade diminuísse drasticamente. Isso efetivamente ocorreu em várias partes do mundo.
A disseminação de pílulas anticoncepcionais, a aplicação do dispositivo intrauterino (DIU), as esterilizações generalizadas e até mesmo a realização de abortos foram as técnicas mais comuns usadas para controlar a explosão demográfica. Assim, podemos estabelecer os seguintes elementos para entender a teoria neomalthusiana:
a) A explosão demográfica seria um fenômeno socialmente incontrolável.
b) Seria necessário o controle da natalidade, através da ação das políticas de planejamento familiar, sob a intervenção de governos e entidades internacionais.
c) A causa da pobreza e o crescimento demográfico.
d) Para os países mais pobres, se quisessem superar sua pobreza, seria necessário conter o crescimento da população o mais rápido possível.
O neomalthusianismo serviu como base para conter a expansão de outros fenômenos além da questão demográfica, como a expansão do socialismo nos países subdesenvolvidos, a independência das colônias europeias (como as nações africanas), etc. No entanto, a questão central foi a maneira violenta que se operou contra os mais pobres, condenando a pobreza simplesmente porque tinham muitos filhos! O neomalthusianismo teve seu auge entre as décadas de 50 e 60 do século passado. Após esse período, percebeu-se que as políticas de planejamento familiar não surtiram efeito, onde, mesmo sob a aplicação rigorosa das políticas de controle da natalidade, com a disseminação de milhões de pílulas anticoncepcionais, esterilizações de milhões de mulheres, cursos de planejamento familiar, etc., seus fundamentos não foram provados. Pelo contrário, a explosão demográfica continuou.
Conclusão
Acho que depois de ler tudo isso você já deve ter entendido muito bem o quão maluca essa ideia é, e por ela ser tão controversa ela cai muito em provas, na prova da OBG da fase Estadual de 2023 houveram questões falando sobre Malthus, e portanto é um cara que vc tem que prestar atenção pra não errar de bobeira.