Aula 2.1 - Estrutura da população II

Escrito por Gabriel Volpato Lima

Nesta segunda aula sobre a estrutura da população, você estudará a distribuição da população de acordo com os setores de atividades econômica

Os setores de atividade econômica podem ser classificados em primário, secundário e terciário:

Setor Primário: Inclui as pessoas que trabalham na agricultura, pecuária e extrativismo. Atualmente, é um setor que abrange uma grande percentagem da população ativa nos países com baixo nível de industrialização, como Uganda, Nigéria e Angola. Com o tempo, à medida que os países aumentaram os níveis de industrialização, o percentual de trabalhadores no setor primário diminuiu. Exemplos dessa situação incluem EUA, Reino Unido e Suíça.

Setor Secundário: Este setor abrange os trabalhadores da indústria. Entre o final do século XIX, quando ocorreu a I Revolução Industrial, até a década de 1970, fase de transição para a Revolução Técnico-Científica Informacional ou III Revolução Industrial, este setor era considerado o mais importante da economia e apresentava um elevado percentual de trabalhadores (aproximadamente 30% da População Economicamente Ativa - PEA). No entanto, com a III Revolução Industrial, que possibilitou a substituição da mão de obra empregada nas fábricas por robôs (robotização) ou máquinas poupadoras de mão de obra, verifica-se uma redução acentuada de trabalhadores neste setor, principalmente nos países desenvolvidos.

Setor Terciário: Este é o setor mais complexo dos três, pois envolve uma diversidade de atividades com padrões de desenvolvimento distintos. Inclui pessoas que prestam serviços no comércio, em bancos, empresas de transportes, instituições públicas ou privadas voltadas para administração, educação, saúde, comunicação, etc. Abrange desde atividades tradicionais, como camelôs, biscateiros e subempregados, até atividades modernas vinculadas ao sistema financeiro, universidades e empresas de computação, consultorias, assessorias, etc. Nos países desenvolvidos, mesmo no auge da II Revolução Industrial, este setor já se mostrou representativo em termos de absorção de trabalhadores, pois o seu crescimento era gerado em função do dinamismo dos setores primário e secundário. Em décadas recentes, o setor apresenta uma crescente expansão motivada pela III Revolução Industrial e o consequente crescimento da área da informática.

É importante ressaltar que, embora esses setores apresentem definições conceituais, no dia a dia, esses ramos estão bastante interligados. O setor primário, para realizar suas competências, precisa do setor industrial e de serviços. O mesmo ocorre com o setor industrial, que para produzir bens industrializados, cada vez mais necessita das atividades pertinentes ao setor terciário. O setor terciário tem por competência absorver as demandas dos outros setores, criando novas demandas e ofertando ao mercado consumidor, de modo direto ou indireto, o que a sociedade produz como bens materiais e imateriais. O setor terciário se realiza economicamente, articulando e ampliando as demandas postas pelos setores primário e secundário, tornando-os consumidores dos seus produtos.

O setor terciário é considerado o setor do futuro, responsável pela maioria dos empregos gerados no século XXI. Sua capacidade de gerar emprego está associada à sua amplitude e diversificação. No entanto, a análise desse setor exige cautela, pois inclui tanto prestadores formais de serviços (economia formal) quanto subempregados que desenvolvem atividades não regulamentadas (economia informal).

Por outro lado, o setor primário, com a intensificação do uso de máquinas e equipamentos modernos, e o setor industrial, com a robotização, demandarão cada vez menos trabalhadores.

É fundamental entender que o desenvolvimento desses setores, embora ocorra de maneira articulada e dependente em termos espaciais, apresenta desníveis na composição e absorção do que cada um gera e na capacidade de interferir um no outro. Assim, é possível encontrar em uma mesma região áreas com um desenvolvimento agrícola, industrial ou de serviços mais intenso e áreas cujo dinamismo é mais lento. Essas diferenças também podem ocorrer dentro dos próprios setores. Os desníveis existentes estão relacionados à capacidade que cada setor tem de absorver o desenvolvimento técnico disponível no mercado das trocas que envolvem os setores da economia.

Expansão do modelo de três setores

Além do modelo de três setores (primário, secundário e terciário), o desenvolvimento adicional levou à sociedade de serviços ou pós-industrial. Hoje, o setor de serviços cresceu tanto que às vezes é ainda mais dividido em um setor quaternário baseado em informações e até mesmo um setor quinário baseado em serviços humanos. Entretanto, é importante ressaltar que esses setores não são rigorosamente definidos e existe ainda muita discussão sobre suas abrangências.

Setor Quaternário: Este setor da economia é baseado na atividade econômica associada à economia intelectual ou baseada em conhecimento. Isso consiste em tecnologia da informação; mídia; pesquisa e desenvolvimento; serviços baseados em informações, como geração e compartilhamento de informações; e serviços baseados em conhecimento, como consultoria, entretenimento, transmissão, mídia de massa, telecomunicações, educação, tecnologia da informação, planejamento financeiro, blogs e design. Outras definições descrevem o setor quaternário como serviços puros. Isso pode consistir na indústria do entretenimento, para descrever mídia e cultura, e governo. Isso pode ser classificado em um setor quinário adicional.

O termo reflete a análise do modelo de três setores da economia, no qual o setor primário produz matérias-primas usadas pelo setor secundário para produzir bens, que são então distribuídos aos consumidores pelo setor terciário.

Contrariamente a essa sequência implícita, no entanto, o setor quaternário não processa a produção do setor terciário. Ele tem apenas conexões limitadas e indiretas com a economia industrial caracterizada pelo modelo de três setores.

Em uma economia moderna, a geração, análise e disseminação de informações são importantes o suficiente para justificar um setor separado em vez de fazer parte do setor terciário. Este setor evolui em países bem desenvolvidos, onde os setores primário e secundário são uma minoria da economia e requer uma força de trabalho altamente educada.

Setor Quinário: As definições deste setor variam significativamente. Alguns o definem simplesmente como trabalho sem fins lucrativos, como para instituições de caridade e ONGs.

Outros o definem como o setor que se concentra em serviços humanos e controle, como governo e algumas instituições de caridade, bem como a criação ou uso não rotineiro de informações e novas tecnologias, vinculando-se ligeiramente ao setor quaternário.

Às vezes referidas como profissões de ‘colarinho dourado’, elas incluem habilidades especiais e altamente remuneradas de executivos seniores de empresas, funcionários do governo, cientistas de pesquisa, consultores financeiros e jurídicos, etc. Os tomadores de decisão ou formuladores de políticas de mais alto nível realizam atividades quinárias.

A situação ocupacional

Em relação à situação ocupacional, a população de um país pode ser dividida de acordo com os seguintes itens:

População Economicamente Ativa (PEA) ou população ativa: Corresponde ao contingente de pessoas de 10 anos de idade ou mais que exercem atividades extradomésticas e por ela recebem uma remuneração. Envolve as pessoas ocupadas (que têm trabalho) e as desocupadas (que estão em busca de trabalho).

População Ocupada: Diz respeito apenas às pessoas que exercem atividade remunerada, portanto, difere da PEA por não abranger a população desocupada ou desempregada. Este grupo de pessoas pode ter carteira assinada ou não.

População Economicamente Inativa (PEI): Corresponde às pessoas que não estão empregadas (crianças, estudantes, aposentados etc.) ou que não exercem atividade econômica remunerada (donas-de-casa etc.).

Em relação à ocupação da população, é importante observar a relação que ocorre entre ocupação e setores de atividade econômica. O trabalho ou os postos de trabalho existem e se modificam em sintonia com as transformações que estão ocorrendo nos ramos de atividade. Assim, é possível encontrar setores mais aquecidos ou menos aquecidos, em termos de produção e trabalho. Isso significa que as exigências do mundo do trabalho estão atreladas ao dinamismo econômico. Este se realiza em escalas geográficas que articulam realidades distintas. Assim, os setores da economia e a ocupação da população se realizam em um ambiente geográfico determinado. Para entender como isso ocorre, é preciso saber aplicar na leitura do espaço as diferentes escalas geográficas, ou seja, interpretar as relações que se estabelecem entre o local e o global, na tessitura dos estudos populacionais.

Desemprego

O desemprego é a situação em que uma pessoa apta ao trabalho não está exercendo nenhuma atividade que lhe garanta remuneração ou salário. Ele pode ser classificado em:

  • Desemprego Conjuntural: É gerado a partir de uma conjuntura econômica desfavorável, como recessão econômica e redução dos índices de consumo, que resulta na dispensa de trabalhadores. No entanto, existe a possibilidade de recuperação dos postos de trabalho caso a situação melhore.
  • Desemprego Estrutural: É gerado a partir do desenvolvimento de novas tecnologias, que possibilitam a robotização e informatização dos setores produtivos, extinguindo definitivamente vários postos de trabalho. Nesse caso, o trabalho das pessoas é substituído pelo uso de máquinas e robôs, estratégia em que muitas funções deixam de existir ou para serem executadas já não prescindem de várias pessoas, uma vez que os sistemas de informação racionalizam e reduzem o número de empregados.

O processo de globalização, que acentuou a concorrência internacional exigindo que as empresas promovessem a racionalização da produção e a redução dos gastos, e as transformações ocorridas no mercado de trabalho têm contribuído para o aumento do desemprego. Nos países subdesenvolvidos, esse problema é mais grave entre os jovens, principalmente os que possuem baixo nível de escolaridade.

A configuração da População Economicamente Ativa (PEA) varia de acordo com os níveis de desenvolvimento dos países. Nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, a distribuição da PEA pelos setores de produção apresenta diferenças significativas, que estão diretamente relacionadas ao nível de desenvolvimento de cada país.

As mudanças nos setores produtivos resultaram na emergência de um novo tipo de trabalhador: o trabalhador agrícola. Este é um indivíduo que reside na cidade, mas se desloca diariamente para a zona rural para realizar atividades relacionadas à agricultura.

Existem vários fatores que provocam alterações na distribuição da PEA de um país. A industrialização é um desses fatores, pois estimula a mobilidade da força de trabalho para os setores secundário e terciário, devido à sua capacidade de gerar novos empregos e provocar um crescimento acentuado das cidades.

urbanização, que está intimamente ligada à industrialização, é outro fator importante. Este processo se manifesta, entre outros aspectos, através da migração rural-urbana. Com isso, há um aumento da população urbana que impulsiona o crescimento do setor terciário (transportes, comércio, bancos, escolas, hospitais, clínicas médicas, saneamento básico, etc.), ampliando o mercado de trabalho.

Por fim, a modernização do setor primário, que decorre da mecanização da agricultura e das mudanças nas relações de trabalho no campo, também contribui para a alteração na distribuição da PEA. Estes fatores contribuíram para a redução da força de trabalho rural e estimularam a migração desta força de trabalho para a cidade.

A interpretação dessas informações permite inferir sobre algumas características que marcam a estrutura da população por setores de atividade econômica em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. As disparidades entre os percentuais da População Economicamente Ativa (PEA) por atividades econômicas são evidentes, indicando diferenças estruturais nos setores produtivos.

Nos países desenvolvidos, o setor primário absorve o menor contingente de trabalhadores. No entanto, isso não significa que o setor é frágil. Ao contrário, esse reduzido percentual de pessoas desenvolvendo atividades agrícolas, pecuárias ou extrativas decorre do alto nível de desenvolvimento científico tecnológico que permitiu avançada racionalização do setor, incluindo acentuada mecanização e industrialização da agricultura. Os elevados investimentos em ciência e tecnologia também respondem pela distribuição da PEA entre os setores terciário e secundário.

O setor terciário, que mais emprega pessoas, ampliou e diversificou seu raio de atividades, propiciando o surgimento de muitos e novos postos de trabalho. No entanto, esses postos de trabalho são cada vez mais exigentes em termos de conhecimento, portanto, de qualificação da mão-de-obra. Em geral, as pessoas que trabalham nesse setor são especializadas e possuem curso de nível superior. O setor secundário, situado em uma faixa intermediária quanto ao número de pessoas que emprega, apresenta tendência à redução dos postos de trabalho, em virtude da crescente implementação de máquinas e robôs no processo produtivo.

Entre os países subdesenvolvidos, é preciso considerar as disparidades socioeconômicas existentes. Assim, é comum classificá-los em subdesenvolvidos e subdesenvolvidos industrializados, que constituem o grupo de países que experimentaram significativo processo de industrialização e urbanização após a II Guerra Mundial. No entanto, é reconhecível a heterogeneidade mesmo nesses subgrupos.

Os países subdesenvolvidos, em geral, possuem uma economia baseada no setor primário, especialmente na agricultura. São atividades que, em geral, apresentam baixa produtividade por trabalhador e, em consequência, requisitam um grande contingente de mão-de-obra. Essa característica se traduz no elevadíssimo percentual da PEA ocupada no setor primário. Como a indústria é limitada, geralmente produz apenas bens de consumo imediato como alimentos, sapatos, vestuário etc., o percentual de trabalhadores do setor secundário é pouco expressivo. Já o setor terciário emprega um maior número de pessoas que o secundário, todavia predomina a prestação de serviços básicos, que, em geral, funcionam de maneira precária e ineficiente.

Nos países subdesenvolvidos industrializados, apesar da persistência de alguns problemas socioeconômicos como a concentração de renda e de terras, a pobreza, a dependência tecnológica, entre outros, é reconhecível que a industrialização e a urbanização impulsionaram a dinâmica urbana e influenciaram a modernização do setor primário em algumas áreas.

Esses processos de industrialização e urbanização têm um impacto significativo na distribuição da população por setores de atividades econômicas. Nesses países, essa distribuição assume uma condição intermediária entre a situação delineada nos países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos.

Isso significa que, embora ainda enfrentem desafios socioeconômicos significativos, esses países subdesenvolvidos industrializados estão passando por transformações que estão mudando a estrutura de sua População Economicamente Ativa (PEA). Essas mudanças estão criando uma distribuição de trabalhadores entre os setores primário, secundário e terciário que é mais equilibrada do que nos países subdesenvolvidos, mas ainda não tão diversificada quanto nos países desenvolvidos.

As atividades econômicas e o local de produção

Até recentemente, as atividades econômicas eram comumente classificadas de acordo com o local de produção. A indústria e a construção civil, segmentos do setor secundário, bem como o comércio, serviços e administração pública, segmentos do setor terciário, eram considerados atividades urbanas. Por outro lado, a agricultura, pecuária e extrativismo, segmentos do setor primário, eram identificados como atividades rurais.

No entanto, essa visão foi alterada no contexto da modernização dos sistemas de transporte e de comunicação, que marcaram as duas últimas décadas do século XX. Essas mudanças ampliaram as possibilidades de industrialização e oferta de serviços no campo.

Um exemplo disso são as agroindústrias e as indústrias extrativo-minerais, que se destacam como referências de como o desenvolvimento tecnológico permitiu a inserção da industrialização no ambiente de produção rural. Esses segmentos produtivos são emblemáticos da associação entre os setores econômicos, pois seu funcionamento envolve tanto a produção da matéria-prima (primário), quanto a transformação em bens de consumo ou de produção (secundário) e a circulação e comercialização de insumos e mercadorias produzidas (terciário).

Nas agroindústrias, por exemplo, já é maior o número de pessoas que exercem atividades ligadas à operacionalização e manutenção de máquinas, planejamento de estratégias de venda e marketing, administração e informatização da empresa do que aquelas que lidam diretamente com a preparação e cultivo do solo e colheita da produção. Ou seja, na agroindústria, o número de postos de trabalho gerado pelas atividades típicas do setor primário é menor do que aqueles vinculados aos setores industrial e de serviços. Isso ilustra a complexidade e a interconexão dos setores econômicos na economia moderna.