Aula 2 - Estrutura da população I

Escrito por Gabriel Volpato Lima

Nesta aula, daremos início à exploração do tema da população, abordando a estrutura etária e a distribuição por sexo. Veremos como a população se divide em diferentes faixas etárias e como a proporção de homens e mulheres afeta o conjunto total. Além disso, discutiremos a relação entre expectativa de vida, taxas de natalidade e mortalidade, bem como os diferentes regimes demográficos que classificam os países como jovens, idosos ou em processo de envelhecimento. Por fim, analisaremos a distribuição geográfica desses regimes demográficos em todo o mundo.

Estrutura etária

A pirâmide etária é formada por dois eixos: o eixo horizontal, ou abscissa, que indica a quantidade de pessoas, seja em valor absoluto ou porcentagem, e o eixo vertical, ou ordenada, que representa as faixas de idade. As mulheres são representadas à direita e os homens à esquerda.

A pirâmide é composta por três partes: a base, que corresponde à população jovem; o corpo, que equivale à população adulta; e o ápice ou topo, que representa a população idosa. A análise de uma pirâmide etária permite inferir várias conclusões sobre a população de um país. Por exemplo, se a base da pirâmide é larga, isso indica que a taxa de natalidade é alta e que a população jovem é numerosa. Se o topo é estreito, isso indica uma pequena participação percentual de idosos no total da população, sugerindo que a expectativa de vida é baixa. Essas são características típicas de países subdesenvolvidos. Por outro lado, se a base da pirâmide é estreita, indicando uma baixa taxa de natalidade, e o topo é largo, apontando para uma maior expectativa de vida, essas são características de países desenvolvidos. Portanto, a pirâmide etária é uma ferramenta poderosa para entender a demografia de um país e suas implicações para o futuro.

Qual a importância da pirâmide etária para a Geografia da População?

A importância da pirâmide etária para a Geografia da População reside no fato de que as pirâmides etárias, ao refletirem a estrutura da população por idade e sexo de um determinado país, revelam importantes tendências de comportamento de sua dinâmica demográfica. Quando analisadas historicamente, ou seja, ao longo do tempo, as pirâmides etárias evidenciam alterações relativas à quantidade total da população, proporção entre os sexos e as faixas de idade, expectativa de vida da população e deformações provocadas por guerras ou outras catástrofes.

De modo geral, a estrutura da população por sexos representada em uma pirâmide etária permite a discussão sobre como se comporta a população em termos de homens e mulheres. A partir do gráfico, é possível discutir o equilíbrio ou desequilíbrio entre o número de pessoas do sexo masculino e o do sexo feminino.

Além disso, pode-se perguntar: por que será que, geralmente, as pirâmides etárias apresentam um maior número de homens na base e de mulheres no topo? Segundo os demógrafos, o maior número de homens na base da pirâmide deve-se ao fato de que a taxa de natalidade masculina é superior à feminina. Já em relação ao maior número de mulheres no topo da pirâmide, a justificativa está no fato de a população masculina apresentar uma taxa de mortalidade um pouco maior que a feminina e, assim, a expectativa de vida das mulheres é mais elevada. Contudo, essas diferenças são pouco significativas; raramente ultrapassam os 5% ou 6%.

Como classificar as populações a partir de suas pirâmides etárias?

A estrutura da população por idade e sexo, representada pela pirâmide etária, é um aspecto demográfico fundamental que varia significativamente em escala mundial. Dada a heterogeneidade entre os países, podemos classificá-los em diferentes regimes demográficos com base em suas conformações etárias e sexuais.

Ao longo do tempo, muitos países passam por alterações nas estruturas de suas pirâmides etárias. Existem quatro tipos principais de pirâmides populacionais, classificadas de acordo com a idade predominante da população:

  1. Pirâmide Jovem: Esta pirâmide possui uma base larga, devido à elevada natalidade, e um topo estreito, em consequência de uma elevada mortalidade e esperança média de vida reduzida. As pirâmides deste tipo representam populações muito jovens, características de países subdesenvolvidos, principalmente no continente africano, que não dispõem de políticas públicas ligadas à saúde, nem fácil acesso a métodos contraceptivos.
  2. Pirâmide Envelhecida: Esta pirâmide possui a base mais estreita do que as classes dos adultos. Reflete uma diminuição da natalidade e um aumento da esperança média de vida. Este tipo de pirâmide é característico dos países desenvolvidos, sobretudo da Europa. Países como Portugal, França e Japão, que se enquadram neste perfil, temem pelo futuro de suas economias, uma vez que a oferta de força de trabalho tem se reduzido drasticamente, aumentando, em contrapartida, os gastos com a saúde e equipamentos sociais para idosos, e a consequente perspectiva de falência da segurança social.

Entre estes dois extremos, existem ainda duas situações intermediárias:

  1. Pirâmide Adulta: Esta pirâmide possui uma base ainda larga, mas existe um aumento da classe dos adultos e dos idosos. Reflete uma diminuição da taxa de natalidade e o aumento da esperança média de vida, devido a situações como a entrada da mulher no mercado de trabalho, a crescente urbanização, o elevado custo de vida nos centros urbanos, e o acesso facilitado a métodos contraceptivos. Este tipo de pirâmide é característica de países em desenvolvimento, como Angola e Brasil.
  2. Pirâmide Rejuvenescida: Esta pirâmide reflete alguma recuperação das classes etárias dos jovens em virtude do aumento da fecundidade, geralmente em países desenvolvidos que estimulam a natalidade, através de políticas de apoio à natalidade, como Alemanha, Austrália, Japão e Rússia.

Implicações socioeconômicas da estrutura etária

Note que os dados são de 2000, portanto a análise deve ser entendida como um método pra compreender a distribuição da população

A distribuição da população por idade e por continentes e subcontinentes revela padrões interessantes e importantes sobre o desenvolvimento global. Em relação à população total do mundo, a maior parcela é de adultos (63,8%), seguida por jovens (30,3%) e idosos (5,9%). Isso reflete uma tendência mundial de declínio na participação dos jovens na população total, devido à queda nas taxas de natalidade e fecundidade, e um aumento na proporção de idosos, devido ao aumento da expectativa de vida. Ao avaliar a distribuição da população mundial, a África se destaca por ter o maior percentual de jovens e a menor proporção de idosos. No outro extremo, a Europa tem um percentual de jovens relativamente baixo, sendo apenas um pouco superior ao de idosos. Essas diferenças na distribuição etária sinalizam os níveis de desenvolvimento dos países que compõem essas áreas continentais.

No contexto mundial, a Europa, América do Norte e Oceania têm uma população jovem relativamente baixa e um contingente de idosos proporcionalmente elevado, indicando a predominância de países desenvolvidos. Por outro lado, na África, América do Sul e Ásia, a proporção de jovens é relativamente alta e a de idosos é proporcionalmente baixa, indicando a concentração de países subdesenvolvidos nessas áreas.

A questão central é: é mais vantajoso para um país ter uma população predominantemente jovem ou madura? E quais são as implicações de ter mais de 50% de sua população formada por jovens ou adultos?

Jovens

Durante algum tempo, prevaleceu a ideia de que era vantajoso para um país ter uma população predominantemente jovem, pois isso poderia levar a um futuro melhor. No entanto, essa ideia mudou nas últimas décadas. Em geral, nos países onde esse perfil ainda se mantém, predominam a pobreza e o subdesenvolvimento. Assim, a predominância da população jovem é vista como negativa, pois é considerada um peso para os adultos, que são responsáveis por sua sustentação.

Nos países subdesenvolvidos, a população jovem é vista como um peso para os adultos, que têm que assumir os custos relacionados à educação, saúde, alimentação, qualificação profissional, entre outros. Isso leva a população jovem a entrar precocemente no mundo do trabalho. Assim, os jovens, que deveriam estar se dedicando aos estudos, passam a trabalhar para aumentar a renda familiar. Essa situação socioeconômica alimenta problemas graves, que se prolongam no tempo e se manifestam na baixa qualificação da mão de obra e nos baixos índices educacionais, tanto da população adulta quanto da população jovem. Isso ocorre porque os estudos foram comprometidos, alimentando um círculo vicioso em que o adulto tem que sustentar os jovens em seu processo de formação, mas os jovens em formação têm que entrar no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar. Nesse jogo, o que perdura é a necessidade de implementar políticas públicas que equacionem as desigualdades sociais que marcam essas nações.

No entanto, ao considerar a questão da prevalência de jovens na população por outra perspectiva, é possível vislumbrar algo positivo para o futuro, desde que haja investimento em educação e saúde. Jovens bem preparados, tanto do ponto de vista biológico quanto intelectual, teriam melhores condições de se inserir no mercado de trabalho e garantir uma boa qualidade de vida para seus futuros dependentes. Portanto, embora existam desafios associados a uma população jovem, também existem oportunidades que podem ser aproveitadas para promover o desenvolvimento sustentável.

Idosos

O envelhecimento da população é uma tendência que vem se configurando em escala mundial, inicialmente verificada entre os países desenvolvidos, mas que também ocorrerá em países subdesenvolvidos devido à redução nas taxas de natalidade e mortalidade. Este fenômeno tem implicações significativas, especialmente no que diz respeito ao mercado de trabalho e às condições de vida necessárias para uma população idosa.

No mercado de trabalho, o envelhecimento da população resulta em um aumento na proporção de idosos na população total, e consequentemente, um aumento no número de aposentados. Isso leva a uma diminuição na relação entre o número de trabalhadores necessários para sustentar o número de aposentados. Por exemplo, algumas décadas atrás, existiam cerca de seis trabalhadores para cada aposentado, enquanto hoje, em alguns países, essa proporção já é de dois para um. Isso implica que a qualidade da aposentadoria pode ser reduzida, pois será necessário um maior volume de recursos para manter o crescente número de aposentados, em um contexto onde a porcentagem de adultos diminui simultaneamente ao aumento de idosos.

A melhoria nas condições de vida do idoso, em um cenário de envelhecimento populacional, tornou-se um imperativo para o governo e a sociedade em geral. Isso não pressupõe apenas mudanças em termos de políticas públicas e ações governamentais, mas também na forma como o idoso é percebido e tratado no ambiente familiar. Ideias, valores e práticas precisam ser urgentemente redefinidos para que a sociedade aprenda a lidar e conviver com essa nova realidade demográfica.

Todos os setores da sociedade estão sendo afetados, tornando-se necessário readequar os sistemas de saúde, educação, transportes, lazer, produção, comércio, publicidade, entre outros, para assegurar melhores condições de vida para o idoso. A economia de mercado, que até pouco tempo via o idoso apenas como uma representação de custos, hoje já vislumbra nessa parcela da população um potencial de consumo, reconhecidamente existente nos países desenvolvidos, onde eles podem pagar por viagens, programações sociais e culturais, aquisição de produtos eletrônicos, entre outros.

Além dessas iniciativas do mercado, há outras que se referem à oferta de cursos universitários para a terceira idade, criação de clubes ou associações, promoção de viagens ou programações especiais de lazer e/ou culturais/festivas. Essas estratégias de sociabilidade são fundamentais para manter o idoso integrado à sociedade. Este é um grande desafio, pois, de acordo com a concepção mercantilista de trabalho que norteia a sociedade capitalista, eles estão marginalizados por não trabalharem; mas na perspectiva do consumo, representam uma nova fronteira, que merece usufruir de condições de vida apropriadas. Portanto, é crucial que a sociedade e o governo trabalhem juntos para garantir que a população idosa seja valorizada e tenha acesso a oportunidades e recursos adequados.

Transição Demográfica

transição demográfica é um fenômeno e teoria que se refere à mudança histórica de altas taxas de natalidade e altas taxas de mortalidade em sociedades com tecnologia mínima, educação e desenvolvimento econômico, para baixas taxas de natalidade e baixas taxas de mortalidade em sociedades com tecnologia avançada, educação e desenvolvimento econômico.

A teoria é baseada em uma análise do historiador demográfico americano Warren Thompson (1887–1973) desenvolvida em 1929. Observações semelhantes sobre tendências demográficas e potencial de crescimento populacional foram feitas por Adolphe Landry da França por volta de 1934. Nas décadas de 1940 e 1950, Frank W. Notestein desenvolveu uma teoria de transição demográfica mais sistemática. Em 2009, a presença de uma associação negativa entre fertilidade e crescimento econômico se tornou um dos achados mais reconhecidos geralmente na ciência social.

Estágio Um: No primeiro estágio, as taxas de mortalidade e natalidade da sociedade pré-industrial são altas e aproximadamente em equilíbrio. Acredita-se que todas as sociedades humanas tiveram esse equilíbrio até o final do século XVIII, quando esse equilíbrio na Europa Ocidental parou. De fato, desde a Revolução Agrícola há mais de 10.000 anos, as taxas de crescimento foram pelo menos inferiores a 0,05%. Nesse processo, o crescimento populacional geralmente é muito lento porque a sociedade é limitada pelo suprimento de alimentos disponíveis; portanto, a menos que a sociedade introduza novas tecnologias para aumentar a produção de alimentos (por exemplo, descobrindo novas fontes de alimentos ou alcançando rendimentos de culturas mais altos), quaisquer flutuações nas taxas de natalidade logo serão equilibradas pelas taxas de mortalidade.

Estágio Dois: As taxas de mortalidade caem rapidamente no estágio dois, de um mundo em desenvolvimento, devido a melhorias no fornecimento de alimentos e saneamento, que aumentam as expectativas de vida e reduzem as doenças. A reprodução seletiva e a rotação de culturas e métodos agrícolas geralmente estão incluídos nas mudanças específicas no fornecimento de alimentos. Geralmente, outras melhorias incluem panificação e acesso a fornos. Por exemplo, várias melhorias na saúde pública reduzem a mortalidade, especialmente a mortalidade infantil. Antes da metade do século XX, essas melhorias na saúde pública estavam principalmente nas áreas de manuseio de alimentos, abastecimento de água, esgoto e higiene pessoal.

Estágio Três: No estágio três, as taxas de natalidade estão caindo devido a vários fatores de fertilidade, como acesso à contracepção, aumento dos salários, urbanização, diminuição da agricultura de subsistência, aumento do status e educação das mulheres, diminuição do valor do trabalho infantil, aumento do investimento parental na educação infantil e outras mudanças sociais. O desenvolvimento na população está começando a se estabilizar. O declínio nas taxas de natalidade nos países desenvolvidos começou no norte da Europa no final do século XIX. Embora os avanços nos contraceptivos desempenhem um papel no declínio da taxa de natalidade, no século XIX os contraceptivos não eram comumente disponíveis ou amplamente usados e, portanto, provavelmente não desempenharam um papel significativo no declínio naquela época.

Estágio Quatro: Tanto as baixas taxas de natalidade quanto as baixas taxas de mortalidade estão presentes durante o estágio quatro. Em países como Alemanha, Itália e Japão, as taxas de natalidade cairão para muito abaixo do nível de reposição, levando a uma população em declínio, um perigo para muitos setores que dependem do crescimento populacional. Isso impõe um fardo econômico à população trabalhadora em declínio por causa da grande comunidade nascida durante os anos do estágio dois. Devido a aumentos nas doenças do estilo de vida devido a baixos níveis de exercício e alta obesidade e uma população envelhecida em países desenvolvidos, as taxas de mortalidade podem permanecer consistentemente baixas ou aumentar ligeiramente. As taxas de natalidade e mortalidade nos países em desenvolvimento se estabilizaram em taxas mais baixas no final do século XX.

Estágio Cinco: Alguns estudiosos propõem um “estágio cinco” de níveis de fertilidade abaixo da reposição, a partir do estágio quatro. Outros hipotetizam um “estágio cinco” separado envolvendo um aumento da fertilidade.

A imagem acima é uma representação idealizada, como todos os modelos, da mudança demográfica nesses países. O modelo é uma generalização que se aplica como uma categoria a esses países e não representa todos os casos individuais com precisão. Ainda resta ver até que ponto ele se estende às comunidades menos desenvolvidas hoje.

Devido à rápida mudança social e econômica, muitos países, como China, Brasil e Tailândia, passaram pelo Modelo de Transformação Demográfica (DTM) muito rapidamente. Devido ao desenvolvimento lento e aos efeitos de doenças tropicais subinvestidas e subpesquisadas, como malária e AIDS em uma extensão limitada, algumas nações, especialmente os países africanos, parecem estar estagnadas no segundo estágio.