Escrito por Gabriel Volpato Lima
As expressões “área urbana”, “zona urbana”, “zona de expansão urbana”, entre outras, são cada vez mais utilizadas por pesquisadores para nomear estudos focados na temática urbana, que abrange desde o crescimento populacional até os problemas decorrentes desse crescimento. A vida urbana compõe uma parcela significativa da história da humanidade. No entanto, a urbanização, com seus aspectos positivos e negativos, é um fenômeno do século XX, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento.
Densificação populacional nas áreas urbanas: o fenômeno da urbanização
Para muitos pesquisadores, a urbanização representa o terceiro e principal estágio no decorrer dos estágios de espacialização da população. O primeiro estágio pode ser caracterizado pelo domínio de perímetros acanhados, dispersos e descontínuos, cujos volumes populacionais eram pequenos se comparados às atuais áreas urbanas e rurais. Além disso, não havia fixação do homem ao espaço, o que é explicado pelo nomadismo. Neste estágio, a relação população/espaço não apresentava questões importantes, como a concentração espacial da população, a posse da terra ou dos bens nela contidos e o seu uso.
O segundo estágio do processo de espacialização da população está associado ao desenvolvimento da agricultura como provedora da subsistência humana. Isso envolveu a conquista e a manutenção de espaços mais amplos, maior permanência e fixação do homem, permitindo a criação das bases pelas quais as populações cresceriam e, posteriormente, se redistribuiriam sobre as diferentes áreas do globo terrestre. A agricultura permitiu a existência de aglomerados humanos com maior densidade populacional que os sustentados pela caça e pela coleta. No entanto, as concentrações espaciais caracterizadas como urbanas só ocorreriam depois de um tempo significativo, desde a expansão da agricultura vinculada à presença humana.
O terceiro estágio foi iniciado com o processo de concentração de população, ocorrido por conta do complexo crescimento da organização da sociedade humana, associado à liberação pessoal e social do homem nas áreas de atividades rurais. O desenvolvimento foi tamanho que os processos de assentamento e redistribuição espacial da população fizeram com que os vestígios dos dois estágios anteriores tenham, praticamente, desaparecido.

É provavelmente por isso que, hoje, a distribuição espacial da população rural não passe de resíduos em muitas áreas do mundo. Desta maneira, pode-se sintetizar este estágio através do binômio população/espaço, ou seja, volumes populacionais altamente concentrados em pequenos espaços. Isto quer dizer que, na atualidade, menores espaços detêm maior quantidade de pessoas. Uma simples comparação entre densidades demográficas de populações nas sociedades pré-urbanas, com as existentes hoje nas áreas urbanas, revela diferenças mais significativas que as alterações em seu próprio crescimento vegetativo.
Como dito anteriormente, a Revolução Industrial do século XVIII é o marco do processo de urbanização. Contudo, enquanto a Revolução Industrial está no passado, a urbana continua se desenrolando. Agora, em adaptação ao fenômeno do urbano, a palavra indústria deixou de ser usada para designar os grandes galpões repletos de máquinas e chaminés para ser utilizada no ramo de negócios como, por exemplo, a indústria de fundos de investimento. As revoluções urbanas que estão acontecendo são múltiplas, rápidas, apresentando datas iniciais variadas de país para país.
Fases da urbanização
A primeira fase, entre 1750 e 1950, foi limitada aos países mais desenvolvidos da Europa e da América do Norte. Durante esse período, a taxa de urbanização desses países aumentou de 10% para 52%, e a população urbana cresceu de 15 para 423 milhões de pessoas. A Inglaterra já tinha uma taxa de urbanização superior a 50% em 1850, e nos Estados Unidos, a população urbana ultrapassou a rural na década de 1910. Esse processo pode ser explicado pela industrialização, o desenvolvimento das cidades e a modernização agrícola.
A segunda fase de urbanização começou nos anos 1950 nos países então subdesenvolvidos da África, América Latina e Ásia. O Brasil, por exemplo, cruzou essa fronteira no final dos anos 1960. A ONU estima que a população urbana deverá dobrar entre 2005 e 2030, com a América Latina apresentando um nível de urbanização superior ao da Europa. Cerca de 80% desse crescimento deverá ocorrer na África e na Ásia, que no final deste período abrigarão quase sete de cada dez habitantes urbanos do mundo. Apesar disso, a China e a Índia, que possuem as maiores populações do mundo, ainda têm uma grande porcentagem de população rural. Essa segunda fase pode ser explicada pela concentração fundiária e pela falta de apoio aos pequenos agricultores, resultando em êxodo rural.
Dentro desse quadro de urbanização e adensamento populacional, é importante destacar o papel das migrações, que ocorrem principalmente por motivos econômicos, guerras, tensões políticas e desastres ecológicos. Segundo a ONU, a migração refere-se a toda mobilidade de pessoas que ocorre no espaço geográfico entre diferentes lugares, quando um indivíduo se estabelece em um determinado território. Assim, a migração é um elemento importante nas análises sobre as transformações demográficas de um país. A migração pode ser interna, ocorrendo dentro de um país, como o êxodo rural constante nos países em desenvolvimento, ou externa, correspondendo a todo fluxo populacional que se desloca de seu país de origem para outro, especialmente para os países desenvolvidos.
A migração rural-urbana em vários países tem como destino um número reduzido de cidades centrais. Por exemplo, no Uruguai, o foco é Montevidéu; na Argentina, Buenos Aires; e na Coreia do Sul, Seul. Essas são cidades que concentram mais de 50% da população urbana de seus países, um fenômeno de agrupamento populacional conhecido como macrocefalia urbana. Isso é, um desequilíbrio populacional de uma determinada localidade (que pode ser uma cidade, estado ou país) que se torna dominante e autoritária em relação a outra, devido ao volume de habitantes que contém e também à quantidade de indústrias em seu território. Esse inchaço urbano gera, além dos problemas de infraestrutura já conhecidos, a exclusão social, seja pela falta de empregos formais, seja pelos subempregos informais, de baixa remuneração e falta de qualificação dos candidatos.

A cidade é um elemento crucial na distribuição da população. O ambiente urbano se distingue do rural por sua densidade e compacidade. Mesmo em países como os Estados Unidos, onde as cidades se estendem por vastos subúrbios residenciais, há um ponto em que as cidades dão lugar a campos e terras rurais, onde a superfície construída é pequena. Em algumas localidades, o conglomerado de cidades é tão grande que muitas delas se estendem sobre vastos espaços quase sem interrupção. Assim, a importância das cidades na distribuição da população é exercida diretamente através da concentração de pessoas em seu núcleo central e indiretamente através da dispersão da população para áreas mais distantes do centro.
O processo de urbanização é inevitável. A concentração de pobreza e/ou miséria, o crescente fenômeno da favelização e a exclusão social nas cidades apresentam um quadro sombrio. No entanto, nenhum país pós-Revolução Industrial conseguiu alcançar um crescimento econômico significativo sem a urbanização. Se por um lado a cidade concentra a pobreza, por outro lado, ela oferece a oportunidade de escapar dela. Além disso, a cidade também reflete os danos ambientais, oriundos da moderna civilização. É exatamente por isso que, cada vez mais, especialistas, pesquisadores e analistas reconhecem a necessidade de implementar o conceito de sustentabilidade nas cidades. Se a cidade gera o problema ambiental (e social), ela também fornece a solução. Assim, os potenciais benefícios da urbanização compensam suas desvantagens. Na realidade, o desafio está em aprender como explorar suas possibilidades.