Parte VI - Fonotática e tonicidade

Por Felipe Araújo Moraes Barros

Aqui, nós estudaremos a estrutura silábica e o estresse (sílabas tônicas ou não), que são coisas EXTREMAMENTE LIGADAS. É praticamente impossível resolver estresse em problemas da linguística sem conhecer muito bem as estruturas de sílabas. Se você entender isso muito bem, os problemas serão mil vezes mais fáceis.

A fonotática é o jeito que os sons podem se organizar em sílabas. As sílabas são compostas (praticamente sempre) de ataque e rima. A rima, ainda, é dividida em núcleo e coda. O núcleo (nucleus, em inglês) é, praticamente sempre, uma vogal, e é essencial para a existência da sílaba. Não existe sílaba sem núcleo. O ataque (chamado de onset, em inglês) é o que precede o núcleo, enquanto a coda (ou cauda) é o que sucede o núcleo.

As estruturas silábicas são diversas, podendo ir de um simples CV até algo como CCCCVCCCC. São elas, junto a outros processos fonotáticos, que permite a formação das palavras. Elas, aliás, são responsáveis por dar “aparências” para palavras. A palavra vancaço não existe no português, mas poderia. A palavra ptsirkclandrto, é impensável e jamais seria possível no português. Se você, ao formar uma palavra em um problema que envolva fonotática, encontrar uma palavra que não soe coerente com o resto da língua, é possível que haja algum fenômeno (como inserção de schwa) que você não notou.

Quanto à tonicidade ou estresse, é essencial entender a estrutura da sílaba. É interessante você identificar todas as estruturas silábicas possíveis em um problema que envolva sílaba tônica. No português, por exemplo, temos V (amor), CV (pare), CCV (fraco), CVC (pazes) ou até CCVC (cabras). Isso vai permitir que você identifique diferentes cenários silábicos.

A partir disso, você irá poder estudar o conceito de moras. Consoantes em coda e vogais mais longas podem possuir um peso moraico maior, e, consequentemente, recebem geralmente o acento tônico. Assim, em 90% dos problemas de tonicidade, o que importa é somente a rima, isso é, o núcleo, que pode ser de vogal curta ou longa, e a consoante em coda, que pode ou não ocorrer. Podemos montar uma tabela com esse estudo da rima:

 

Vogal curta Vogal longa
Sem coda CV CVV
Com coda CVC CVVC

 

Assim podemos entender as sílabas como leves ou pesadas. Há línguas que somente a duração da vogal possui valor moraico maior, então sílabas CV e CVC são leves, enquanto sílabas CVV e CVVC são pesadas. Do mesmo modo, pode haver casos em que só a coda possui maior peso moraico:  CV e CVV são leves (nesse caso, podemos chamá-las de abertas) e CVC e CVVC são pesadas (podemos chamá-las, também, de fechadas). Existe, ainda, casos em que as duas circunstâncias são notórias, com o CV sendo leve e CVV, CVC e CVVC sendo pesadas

É possível, ainda, que a estrutura CVVC seja considerada duplamente pesada, por ter duas características mais moraicas na rima. Nesses casos, CVVC é considerada superpesada. Esse fenômeno não é muito comum, mas é determinante para a resolução dos problemas em que aparece. 

Claro, isso varia bastante de língua para língua. O professor Alexander Piperski tem uma palestra maravilhosa sobre isso, então, se você tiver 1 horinha livre, assista a palestra logo acima, pois vale bastante a pena. Mas, no geral, na escolha de sílaba tônica, importa a posição na palavra, a interação com as tônicas secundárias e, em alguns casos, até o TIPO da vogal ou da consoante, inclusive no ataque (vide Pirahã, IOL 2013.3). E isso é tudo para esta parte da apostila.