Aula 8 - Cálculo de fórmulas moleculares

Escrito por Fernando Garcia

Cálculo de fórmulas químicas

Bom, uma das coisas mais iniciais que vimos neste curso de introdução à química é que substâncias químicas tem uma fórmula molecular bem definida, mas o que seria isso? Uma fórmula molecular é uma sequência de átomos que, em um número específico, se arranjam para formar certa molécula ou composto. Peguemos como exemplo a água. Sua fórmula molecular é H_2O, isso nos indica que na estrutura de uma única molécula dessa substância vamos encontrar dois átomos de hidrogênio e apenas um de oxigênio. 

Como determinar essas fórmulas?

Agora sim, chegamos na parte legal deste tópico que é onde entram algumas contas. Hoje em dia determinamos fórmulas moleculares de compostos de diversas maneiras diferentes que envolvem conceitos de espectrometria, um bem famoso é espectrometria de massa, contudo, temos práticas mais modernas como o RMN. Infelizmente, não falaremos desses métodos citados anteriormente neste material, haja visto que eles são bem mais difíceis e exigem bastante conhecimento para a leitura de seus resultados. 

Assim sendo, nosso material vai focar em métodos mais arcaicos para a determinação de fórmula mínimas de compostos. Note que, apesar de ser algo bem menos requintado, funciona e além disso, é o que vai ser abordado quase que certamente em olimpíadas de nível estadual ou até na OBQjr. Sendo assim, vamos começar a brincadeira. 

Queimando e determinando...

Em questões de níveis mais iniciais sobre este tópico uma reação provavelmente vai ser comum a todas: A combustão. Geralmente o problema vai abordar uma substância orgânica que contenha por exemplo átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre. Com base nisso ela vai falar o seguinte: “Assumindo que 10 g de um composto orgânico contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre foi queimado em uma atmosfera com excesso de oxigênio, foram produzidos X g de CO_2, Y g de SO_2, W g de H_2O e Z g de N_2. Sabendo que a massa molecular do composto é de M g/mol, determine sua fórmula mínima e sua fórmula molecular.”

Vamos tirar um tempo para analisar primeiro o enunciado dessa questão. A primeira coisa que notamos de mais diferença foi ela citar fórmula mínima e fórmula molecular, dando a ideia de dois conceitos diferentes. Essas duas coisas são de fato bem distintas entre si, apesar de terem uma relação mútua. A fórmula mínima é aquela que possui a porcentagem em massa de cada elemento igual ao da fórmula molecular, só que com os menores números inteiros possíveis. 

Tomemos como exemplo a molécula de fórmula molecular C_6H_6. Sua massa molecular é de 78 g/mol, deste modo, calculemos a seguir a porcentagem em massa de cada elemento neste composto: 

\%C = \cfrac{72}{78} = 92,3\%

\%H = \cfrac{6}{78} = 7,7\%

Note que essa porcentagem é feita multiplicando o índice do elemento na fórmula, multiplicando ele por sua massa atômica e depois dividindo esse produto pela massa molecular da substância analisada. 

Agora vamos analisar a fórmula mínima para o C_6H_6. Para chegar nela, temos que dividir os índices dos átomos que compõem a sua fórmula molecular pelo seu máximo divisor comum. No caso do C_6H_6 o máximo divisor comum é 6, deste modo, para obtermos a fórmula mínima, temos que dividir todos os índices por 6, o que nos dá a fórmula mínima de CH

Calculando a porcentagem em massa de cada elemento nessa fórmula mínima, percebemos que ela se mantém igual a da fórmula molecular, veja: 

\%C = \cfrac{12}{13} = 92,3\%

\%H = \cfrac{1}{13} = 7,7\%

Isso prova nosso ponto de que a fórmula mínima não passa de uma fórmula que conserva a porcentagem de cada elemento da fórmula molecular original, só que com os menores números inteiros possíveis. 

Voltando a discutir a ideia para resolver nosso querido problema proposto anteriormente, temos que falar sobre achar primeiro a fórmula mínima e depois a fórmula molecular. Para isso, devemos achar a porcentagem de cada elemento do nosso composto inicial. Sabemos que a fórmula dessa substância que foi queimada é do tipo C_jH_bO_cN_dS_k. Assim, a equação básica de queima desse composto será a seguinte: 

C_jH_bO_cN_dS_k + fO_2 \rightarrow jCO_2 + \cfrac{b}{2}H_2O + \cfrac{d}{2}N_2 + kSO_2

Como sabemos a massa de cada um desses produtos formados, devemos começar por descobrir a massa de cada um dos elementos (com exceção do oxigênio) presentes no composto inicial. Agora surge a incrível pergunta: Como fazer isso?

Bom, primeiramente devemos achar a porcentagem de cada elemento de interesse nos produtos obtidos na queima. A partir dessa porcentagem conseguimos achar a massa desse elemento no composto original (haja visto que o problema nos forneceu a massa de cada um dos produtos) e consequentemente a quantidade de mols, que é o que usamos para achar a fórmula empírica do nosso composto. Agora chegou a parte que botamos a mão na massa, observe como se obtém a fórmula empírica. 

Determinação da massa de cada elemento na amostra inicial

Vamos relembrar a questão hipotética mostrada no inicio do material: “Assumindo que 10 g de um composto orgânico contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e enxofre foi queimado em uma atmosfera com excesso de oxigênio, foram produzidos X g de CO_2, Y g de SO_2, W g de H_2O eZ g de N_2. Sabendo que a massa molecular do composto é de M g/mol, determine sua fórmula mínima e sua fórmula molecular.”

Já que agora vamos fazer contas, definimos os valores de X, Y, Z, W e M como sendo respectivamente 5,86 g, 8,52 g, 1,86 g, 1,17 g, e 150 g/mol. Certo, agora com os valores acertados, vamos aos cálculos.

Calculando a massa de cada elemento nos seus respectivos compostos: 

m(C) = 5,86 \cdot \cfrac{12}{44} = 1,6g

m(S) = 8,52 \cdot \cfrac{32}{64} = 4,26g

m(H) = 1,17 \cdot \cfrac{2}{18} = 0,13g

m(N) = 1,86 \cdot \cfrac{28}{28} = 1,86g

m(O) = 10 - 7,85 = 2,15g

Um adendo legal que podemos fazer nessa determinação da massa de cada elemento em seu composto específico é que ela é dada pela porcentagem em massa desse elemento na substância em questão multiplicada pela massa total da mesma. Outra coisa que podemos ressaltar é a maneira que determinamos a massa de oxigênio no nosso composto original, veja que isso foi feito descontando a soma das demais massas da massa total da amostra. Isso acontece pois, como dito no problema, essa queima é realizada na presença de excesso de oxigênio, não temos como afirmar que o oxigênio presente nos óxidos gerados também estava presente no composto. Deste modo, determinamos sempre a massa de todos os demais componentes do nosso composto de interesse para depois determinar a massa de oxigênio pela diferença entre a massa total da amostra e a massa somada de todos os outros elementos somados. 

Fazendo a relação molar e descobrindo a fórmula empírica

Já temos as massas de todos os elementos que compõem o nosso composto de interesse, agora apenas temos que transformar tudo para mol e achar a proporção entre esses elementos para achar a fórmula empírica (ou fórmula mínima) do mesmo. Para isso, temos apenas que pegar as massas calculadas anteriormente e dividir pela respectiva massa molar do elemento e obter a quantidade em mol de cada um. Feito isso, pegamos o menor valor e dividimos todos por ele para achar a proporção. Vejamos na prática: 

n(C) = \cfrac{1,6}{12} = 0,13

n(S) = \cfrac{4,26}{32} = 0,13

n(H) = \cfrac{0,13}{1} = 0,13

n(N) = \cfrac{1,86}{14} = 0,13

n(O) = \cfrac{2,15}{16} = 0,13

Como todos os valores de mol calculados são exatamente iguais, não temos um menor para escolher, por isso dividimos tudo por 0,13 e partimos para o abraço. Assim, dividindo tudo pelo número de mol de menor valor (neste caso tanto faz já que todos são iguais) obtemos a proporção estequiométrica do composto, ou seja, os índices relativos de cada elemento na fórmula mínima. No nosso caso seria apenas de 1 para todos, assim, sua fórmula mínima seria CHONS. Pode ocorrer que, ao dividirmos todos os números de mol, os índices não sejam inteiros. Neste caso, multiplicamos todos os índices de modo a deixá-los todos com os menores coeficientes inteiros possíveis e obter assim a fórmula empírica desejada.

Determinando a fórmula molecular

Ainda não terminamos nossa questão, ainda falta acharmos a fórmula molecular do composto, a chave para isso está na massa molecular. Calculando a massa molar da nossa fórmula mínima previamente calculada, achamos uma massa de 75 g/mol. Contudo, note que a questão disse que a massa molecular da substância em questão é 150 g/mol. Deste modo, basta multiplicar a fórmula empírica por 2, temos assim a fórmula C_2H_2O_2N_2S_2. Em grande parte dos casos, a fórmula molecular é um múltiplo inteiro da fórmula empírica, achamos esse múltiplo pela massa molecular em 99\% das vezes. 

Conclusão

Agora você sabe calcular fórmulas moleculares de vários compostos, além de aprender vários conceitos como o de fórmula mínima e de fórmula molecular. Isso é extremamente importante no decorrer do entendimento da química e é uma introdução muito boa aos cálculos químicos. Não esqueça de exercitar seus conhecimentos com vários exercícios, bons estudos!