Soluções - Astronomia Semana 103

Escrito por Davi Lucas 

Iniciante

Trufas roubadas.

Para que o Sr. Trufa continue em movimento sem tocar os pés no chão, é necessário que ele esteja em órbita. Considerando uma órbita circular ao redor do equador do planeta Iuam, podemos determinar a velocidade orbital sabendo que a força gravitacional atua como a resultante centrípeta do movimento:

 F_g = F_{cp}


 \frac{GMm}{R^2} = \frac{mv^2}{R}


 \frac{GM}{R} = v^2

Assim, a velocidade de uma órbita circular é:

 v = \sqrt{\frac{GM}{R}}

Substituindo os valores do enunciado:

\boxed{ v = 5,01 \rm{km/s}}

Intermediário

Romene mais leve

Analisando o caso de uma pessoa na latitude \phi de um planeta que gira com velocidade angular w e tem raio R, a gravidade efetiva experimentada por essa pessoa não será apenas a aceleração gravitacional  \vec{g} . Devemos também considerar a aceleração centrífuga  \vec{a_{cf}} advinda da pessoa acompanhar rotação do planeta realizando movimento circular de raio r.

Usando ângulos alternos internos, podemos encontrar o triângulo da figura seguinte e descobrir que  r = R \cos \phi .
A aceleração centrífuga de um movimento circular pode ser expressa como a_{cf} = w^2r = w^2 R \cos \phi. Vale ressaltar que estamos utilizando a aceleração centrífuga, e não a centrípeta, pois estamos analisando o referencial girante, que, neste caso, é a pessoa.

Podemos somar os vetores  \vec{g} e  \vec{a_{cf}} para obtermos a gravidade efetiva  g_{ef} :

Utilizando a regra do paralelogramo acima, podemos aplicar a lei dos cossenos:

 g_{ef}^2 = g^2 + a_{cf}^2 - 2 \cdot g \cdot a_{cf} \cdot \cos \phi

Substituindo  a_{cf} = w^2 R \cos \phi :

 g_{ef}^2 = g^2 + w^4 R^2 \cos^2 \phi - 2g w^2 R \cos^2 \phi

Como o enunciado menciona que  w é baixo, podemos desprezar o termo contendo  w^4 :

 g_{ef}^2 \approx g^2 - 2g w^2 R \cos^2 \phi

Evidenciando  g e tirando a raiz:

 g_{ef} \approx g \left(1 - \frac{2w^2 R \cos^2 \phi}{g} \right)^{\frac{1}{2}}

Novamente, como  w é baixo, podemos aplicar uma aproximação binomial:

 g_{ef} \approx g \left(1 - \frac{w^2 R \cos^2 \phi}{g} \right)


 \boxed{g_{ef} \approx g - w^2R\cos^2 \phi}

Com o resultado encontrado e a devida análise da função cosseno, percebe-se que, quanto maior a latitude  \phi , maior será a gravidade efetiva. Portanto, para minimizar o peso efetivo de Romene, buscamos a menor gravidade efetiva, o que corresponde à menor latitude. Entre as opções disponíveis, a de menor latitude é Fortaleza.

Avançado

Hiratinha com dor de cabeça

a) Considerando uma camada de espessura  dr da atmosfera, com área de contato  A entre as camadas vizinhas e densidade aproximadamente constante  \rho , podemos estabelecer o equilíbrio de forças levando em conta a pressão exercida pelas camadas vizinhas e a força peso:
Pelo equilíbrio de forças:

 (P + dP) dA + mg - PA = 0


 (P + dP) dA + mg = PA


 dP dA + mg = 0


 dP dA = -mg


 dP = - \frac{mg}{dA}

Dividindo por  dr em ambos os lados:

 \frac{dP}{dr} = - \frac{mg}{dA \cdot dr}


 \frac{dP}{dr} = - \frac{mg}{dV}

Como  \rho = \frac{m}{dV} :

 \boxed{\frac{dP}{dr} = - \rho g}

b) Pela primeira lei da termodinâmica, temos que  dq = dU + dW
Como o enunciado estabeleceu o modelo da atmosfera adiabática: dq = 0
Assim,  dU = - dW

Utilizando as devidas definições termodinâmicas de dU e  dW :

 n C_v dT = - P dv

Utilizando Clayperon para substituir  P = \frac{nRT}{V} :

 n C_v dT = - \frac{nRT dV}{V}


 C_v \frac{dT}{T} = -R \frac{dV}{V}


 \frac{dT}{T} = - \frac{R}{C_v} \frac{ dV}{V}

A partir da definição de que C_p = C_v + R
Divindo ambos lados da equação por C_v e definindo  \gamma = \frac{C_p}{C_v} , temos que  \gamma = 1 + \frac{R}{C_v} .
Assim,  \frac{R}{C_v} = \gamma - 1
Substituindo na equação que estávamos trabalhando:

 \frac{dT}{T} = ( \gamma - 1 ) \frac{dV}{V}

Integrando:

 \int_{T_0}^{T_f} \frac{dT}{T} = ( \gamma - 1 ) \int_{V_0}^{V_f} \frac{dV}{V}

Como  \int_{X_0}^{X} \frac{dx}{x} = \ln \left(\frac{X}{X_0} \right) :

 \ln \left(\frac{T_f}{T_0} \right) = (\gamma - 1) \ln \left(\frac{V_f}{V_0} \right)

Com as devidas propriedades do logaritmo, temos que:

 \ln \left(\frac{T_f}{T_0} \right) = \ln \left({\frac{V_f}{V_0}}^{\gamma - 1} \right)


 \frac{T_f}{T_0} = {\frac{V_f}{V_0}}^{\gamma - 1}

Chegando em:

 {V_f}^{\gamma - 1} T_f = {V_0}^{\gamma - 1} T_0

Pela lei de Clayperon, temos que  T = \frac{PV}{nR} :

 P_f V_f^{\gamma} = P_0 V_0^{\gamma}

Divindindo ambos os lados pela massa, como  \rho = \frac{m}{V} :

 \boxed{P_f \rho_f^{-\gamma} = P_0 \rho_0^{-\gamma}}

c) O ponto de incidência na mesosfera está em uma camada infinitesimal com densidade  \rho , enquanto a camada a uma distância  h do centro da Terra possui densidade  \rho_0 . As camadas superiores à mesosfera têm um índice de refração resultante  n_1 , enquanto a camada entre a distância  r e  h , destacada em vermelho na imagem abaixo, possui índice de refração  n_2 :
Com essas definições e os dados fornecidos no enunciado, podemos aplicar a Lei de Snell e o conceito de ângulo limite:

 n_1 \sin \beta = n_2 \sin 90^{\circ}


 \sin \beta = \frac{n_2}{n_1}

Como os índices de refração são proporcionais à densidade:

 \sin \beta = \frac{\rho_0}{\rho}

Agora, precisamos determinar a razão entre as densidades  \rho_0 e  \rho . Para isso, primeiro encontraremos a densidade em função da pressão da camada analisada e da temperatura ao nível do mar. Utilizaremos os índices  P_m e  T_m para não confundir com  P_0 , que está associada à camada de  \rho_0 . De acordo com a lei das transformações adiabáticas mencionada no item anterior:

 \rho = \rho_m \left(\frac{P}{P_m}\right)^{\frac{1}{\gamma}}

Por Clayperon:

 P_m \mu = \rho_m R T_m


 \rho_m = \frac{P_m \mu}{RT_m}

Desse modo, temos que:

 \rho = P^{\frac{1}{\gamma}} \cdot P_m^{1 - \frac{1}{\gamma}} \frac{\mu}{RT_m}

Agora que temos qualquer densidade em função da pressão da camada analisada, assim como a pressão e a temperatura ao nível do mar, podemos utilizar a relação do item A para descobrir essa pressão qualquer em uma camada a distância r do nível do mar:

 \frac{dP}{dr} = - \rho g


 \int_{P_m}^{P} P^{- \frac{1}{\gamma}} dP = - P_m \frac{\mu g}{R T_m} \int_{0}^{r} dr


 \frac{\gamma-1}{\gamma} (P^{1-\frac{1}{\gamma}} - P_m^{1-\frac{1}{\gamma}}) = -P_m^{1 - \frac{1}{\gamma}} \frac{\mu g r}{RT_m}


 P^{1-\frac{1}{\gamma}} - P_m^{1-\frac{1}{\gamma}} = -\frac{\gamma}{\gamma - 1}P_m^{1 - \frac{1}{\gamma}} \frac{\mu g r}{RT_m}


 P^{1-\frac{1}{\gamma}} = \left(1 - \frac{\gamma \mu g r}{RT_m (\gamma - 1)} \right) P_m^{1 - \frac{1}{\gamma}}


 P = P_m \left(1 - \frac{\gamma \mu g r}{RT_m (\gamma - 1)} \right)^{\frac{\gamma - 1}{\gamma}}

Com este resultado, agora podemos especificar a pressão nas camadas desejadas na questão. Sendo  P a pressão associada à densidade  \rho e  P_0 a pressão associada à densidade  \rho_0 , consulte a imagem novamente para entender melhor os índices. Utilizando  R_{\oplus} como o Raio da Terra:

 P = P_m \left(1 - \frac{\gamma \mu g (r - R_{\oplus}) }{RT_m (\gamma - 1)} \right)^{\frac{\gamma - 1}{\gamma}}


 P_0 = P_m \left(1 - \frac{\gamma \mu g (h - R_{\oplus}) }{RT_m (\gamma - 1)} \right)^{\frac{\gamma - 1}{\gamma}}

A razão  \frac{P}{P_0} é:

 \frac{P}{P_0} = \left( \frac{RT_m(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_m(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{\gamma-1}{\gamma}}

Agora que já temos a razão entre as pressões das duas camadas analisadas utilizando o modelo adiabático, podemos determinar a razão entre as densidades correspondentes. Com isso, seremos capazes de calcular o ângulo de incidência.
Utilizando a relação descoberta no item b)

 P \rho^{-\gamma} = cte

Derivando:

 dP \rho^{-\gamma} = P \gamma \rho^{-\gamma - 1} d\rho

Dividindo por  \rho^{-\gamma} em ambos os lados:

 dP = \gamma P \frac{d\rho}{\rho}


 \frac{dP}{P} = \gamma \frac{d\rho}{\rho}

Integrando:

 \int_{P_0}^{P} \frac{dP}{P} = \gamma \int_{\rho_0}^{\rho} \frac{d \rho}{\rho}


 \ln \left(\frac{P}{P_0}\right) = \gamma \ln \left(\frac{\rho}{\rho_0}\right)

Dessa forma, descobrimos que:

 \frac{P}{P_0} = \frac{\rho}{\rho_0} e^{\gamma}


 \frac{\rho_0}{\rho} = \frac{P_0}{P} e^{\gamma}

Utilizando o resultado encontrado de  \frac{P}{P_0} :

 \frac{\rho_0}{\rho} = e^{\gamma} \left( \frac{RT_m(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_m(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{\gamma}{\gamma-1}}

Utilizando o resultado encontrado,  \beta = \arcsin \left( \frac{\rho_0}{\rho} \right) , e a notação da temperatura ao nível do mar como  T_0 (evitada durante a solução para não confundir com a temperatura da camada associada a  \rho_0 ):

 \boxed{\beta = \arcsin \left( e^{\gamma} \left( \frac{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{\gamma}{\gamma-1}} \right )}

d) Ao analisar a variação de momento na "colisão dos fótons com a atmosfera", devemos considerar a definição de albedo  \alpha = \frac{P_r}{P_i} e a figura a seguir:
O único momento que causará força na cabeça de Hiratinha é aquele na direção normal, considerando os vetores  p \cos \beta e  -\alpha p \cos \beta , que representam o momento dos fótons que chegam e são refletidos, respectivamente. Portanto, sendo  \overline{p} o momento médio de um fóton e  dN o número infinitesimal de fótons que atingem a cabeça em um intervalo  dt , a variação de momento é:

 dp = \overline{p} \cos \beta dN - (- \alpha \overline{p} \cos \beta dN )


 dp = ( 1 + \alpha) \overline{p} dN \cos \beta

O número infinitesimal de fótons  dN que atingem a cabeça pode ser expresso em função da densidade volumétrica de fótons  \eta , da área da cabeça  A , da velocidade da luz  c e do intervalo de tempo  dt :

 dN = \eta A c dt

Assim:

 dp = ( 1 + \alpha) \overline{p} \eta A c dt \cos \beta


 \frac{dp}{A dt} = ( 1 + \alpha) \overline{p} \eta c \cos \beta

Encontramos que a pressão P é:

 P = ( 1 + \alpha) \overline{p} \eta c \cos \beta

No entanto, agora, para expressar a pressão  P em função das variáveis do problema, analisaremos o fluxo de fótons:

 \phi = \frac{1}{A} \frac{dN}{dt}


 \phi = \eta c

Com o fluxo de fótons determinado, podemos expressar o fluxo de energia  F em função da energia média de um fóton  \overline{\varepsilon} :

 F = \phi \overline{\varepsilon}


 F = \eta c \overline{\varepsilon}

Sabendo que  \overline{\varepsilon} = \overline{p} c :

 F = n \overline{p} c^2


 n \overline{p} c = \frac{F}{c}

Substituindo isso na expressão para a pressão, obtemos:

 P = ( 1 + \alpha) \cos \beta \frac{F}{c}

Perceba que devemos encontrar o  cos \beta pela identidade trigonométrica  \sin^2 \beta + \cos^2 \beta = 1 :

 \cos^2 \beta = 1 - \sin^2 \beta


 \cos^2 \beta = 1 - \left( e^{2\gamma} \left( \frac{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{2 \gamma}{\gamma-1}} \right )


 \cos\beta = \sqrt{ 1 - \left( e^{2\gamma} \left( \frac{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{2 \gamma}{\gamma-1}} \right )}

Além disso, note que ainda não temos o fluxo do laser. Iremos encontrá-lo usando a equação de Pogson:

 m - m_{\odot} = -2.5 \log \left(\frac{F}{F_{\odot}} \right)

Logo:

 F = F_{\odot} \cdot 10^{\frac{m-m_{\odot}}{2.5}}

Substituindo o fluxo do laser  F e  \cos \beta na expressão de pressão encontrada anteriormente:

 \boxed{P = \frac{( 1 + \alpha) F_{\odot} \cdot 10^{\frac{m-m_{\odot}}{2.5}}}{c} \sqrt{ 1 - \left( e^{2\gamma} \left( \frac{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( r - R_{\oplus})}{RT_0(\gamma -1) - \gamma \mu g ( h - R_{\oplus})}\right)^{\frac{2 \gamma}{\gamma-1}} \right )}}