Movimentos Vegetais

Apesar de muitas vezes pensarmos nos vegetais como seres estáticos, estes seres são capazes de realizar diversos movimentos, como veremos nesse artigo.

 

Tropismos

 

Tropismos são, essencialmente, crescimentos vegetais orientados pelas condições (chamadas estímulos) às quais a planta está submetida. Um exemplo clássico é o fototropismo, que é o crescimento do caule ou ramos da planta em direção (ou em oposição) à luz. Por se tratarem de crescimentos, os tropismos são considerados movimentos permanentes. O movimento em direção a fonte de estímulo é chamado de ortotrópico positivo (ou somente positivo, para simplificação). Já o movimento em direção oposta à fonte de estímulo é chamado de ortotrópico negativo (ou somente negativo). É possível, ainda, encontrar movimentos angulados em relação à fonte de estímulo (plagiotrópicos, ou, se perpendiculares ao estímulo, diatópicos).

Os tropismos são, em sua maioria, mediados pelas auxinas. No caso do fototropismo, a luz degrada esses hormônios, resultando em uma maior concentração na lateral não iluminada do caule. Essa parte sombreada, então, expande-se mais que o lado iluminado, fazendo com que o caule curve-se em direção à fonte de luz (fototropismo positivo). Podemos, ainda, nos recordar que as raízes são mais sensíveis às auxinas. Portanto, nessas estruturas, o lado iluminado (com menor concentração de auxinas) tende a crescer mais, direcionando a estrutura contrariamente à fonte de luz (fototropismo negativo). É interessante notar que, devido ao fototropismo, o caule da maioria das plantas crescerá em direção ao sol, mesmo se o vegetal for virado de cabeça para baixo.

Exemplo de fototropismo mediado por auxinas

Um caso particular de fototropismo é o chamado heliotropismo, que é o movimento realizado por plantas que “acompanham” o sol ao longo do dia — por exemplo, o girassol. Nesse caso, modifica-se a turgência do pulvino, uma estrutura na base da flor/folha que realiza o tropismo. O turgor de diferentes porções do pulvino causa a “rotação” da flor ou folha em direção ao sol. É válido destacar que, devido ao movimento solar diário, é comum que as plantas apresentem pequenos tropismos oscilatórios, chamados nutações.

Podemos considerar, também, o crescimento em direção ao solo, o geotropismo — às vezes nomeado gravitropismo, ou seja, crescimento de acordo com a direção da gravidade. As raízes, por exemplo, apresentam gravitropismo positivo, enquanto o caule apresenta gravitropismo negativo. Inicialmente, imaginou-se que o geotropismo é apenas uma consequência natural do fototropismo: caules crescem em direção à luz (ao sol, para cima), o que é equivalente a crescer em direção oposta ao solo. No entanto, essa hipótese foi refutada quando o geotropismo foi observado em plantas colocadas em câmaras escuras (ou seja, sem influência da luz).

Uma das principais teorias que tentam explicar a fisiologia por trás do geotropismo é a Teoria dos Estatólitos. Ela considera que bolsas de aminoácido, chamadas estatólitos, encontram-se nas coifas da raiz e se movimentam sob influência da gravidade. Os estatólitos seriam responsáveis por direcionar o fluxo de auxinas na raíz, de modo a gerar um crescimento em direção ao centro gravitacional da Terra (gravitropismo positivo). Essa teoria é sustentada pelo fato de que, desprovidas das coifas, as raízes não apresentam gravitropismo, apesar de ainda apresentarem crescimento.

Há também o tigmotropismo, que é o crescimento na direção de um objeto em contato com a planta. Um exemplo clássico são as gavinhas, estruturas vegetais que se enrolam ao redor de objetos próximos à planta, contribuindo para a sua sustentação.

Gavinha apresentando tigmotropismo

Já o quimiotropismo é o crescimento de estruturas vegetais em resposta a estímulos hormonais. Um exemplo notável é o crescimento do tubo polínico em direção ao óvulo durante a fecundação das angiospermas.Por fim, há o hidrotropismo, que é o crescimento orientado em direção a fontes de água.

 

Nastismos

 

Outra categoria de movimento realizada pelas plantas são os nastismos. Esses movimentos são, em geral, reversíveis e desconsideram a direção do estímulo que os desencadeia. Um exemplo clássico de nastismo ocorre nas dormideiras (Mimosa pudica), que fecham suas folhas quando tocadas ou perturbadas (tigmonastia ou sismonastia). Outro exemplo clássico de sismonastia ocorre nas plantas carnívoras do gênero Dionaea.

O principal mecanismo fisiológico que controla os nastismos é a turgência de células. No caso das dormideiras, por exemplo, o estímulo desencadeia a ação de bombas que transportam íons para o interior das células, resultando na entrada de água e consequente turgor. Quando uma lateral de uma estrutura vegetal (geralmente pequena, como uma folha ou folíolo) fica túrgida, essa estrutura dobra-se, causando o movimento. Após algum tempo, as células túrgidas naturalmente voltam ao seu estado natural, revertendo o movimento.

Os nastismos podem ocorrer devido a uma variedade de estímulos. Além do tigmonastismo (toque) e o seismonastismo (perturbação), que ocorrem na dormideira, há também movimentos de abertura/fechamento de flores e folhas durante a noite (nictinastia/fotonastia), em resposta à diferentes temperaturas (termonastia, que ocorre, por exemplo, nas tulipas), ou em resposta a diferentes níveis de estresse hídrico (hidronastia).

Dormideira, com algumas de suas folhas fechadas

Tactismos

 

Além dos movimentos de estruturas macroscópicas, existem, também, notáveis movimentos de estruturas microscópicas das plantas. De maneira similar aos tropismos, esses movimentos, chamados tactismos, se dão geralmente de maneira direcionada ao estímulo que os desencadeia. 

Na reprodução das pteridófitas, os anterozoides deslocam-se em direção a substâncias químicas presentes no arquegônio (quimiotactismo). Outro exemplo de tactismo é o deslocamento, dentro da célula vegetal, dos cloroplastos em direção à uma fonte de luz (fototactismo).

Cloroplastos movendo-se em direção à luz

 

 

Aula elaborada por Kauí Lebarbenchon.