Na sistemática clássica de cinco reinos proposta por Whittaker em 1969, os protistas foram conceituados como todos os eucariontes que não se encaixavam nos reinos Animalia, Plantae ou Fungi. Algas uni- ou multicelulares e protozoários dos mais diversos tipos compartilhavam, então, um mesmo grupo taxonômico, apesar de exibirem morfologias tão distintas. Por sua vez, o Reino Plantae agrupava organismos multicelulares, imóveis na fase adulta e capazes de realizar fotossíntese. Embora esse método classificatório tenha sido redefinido por análises moleculares, ela permanece útil para entendermos, de forma didática, como surgiu a noção clássica de “protistas” e “plantas” no estudo evolutivo dos eucariontes.
Reino Protista
Começando pelo Reino Protista, podemos notar que esses organismos são majoritariamente unicelulares, embora existam formas coloniais ou multicelulares simples, como algumas algas verdes. Eles apresentam organelas eucariontes, mitocôndrias e, em muitos casos, plastídios, como cloroplasto, resultantes de endossimbiose. A nutrição dos protistas varia: há algas fotossintetizantes (autotróficas), protozoários que ingerem partículas orgânicas (heterotróficos) e mixotróficos como no gênero Euglena, capazes de alternar entre diferentes métodos de nutrição conforme muda a disponibilidade de nutrientes.
Em termos de movimentação, os protistas desenvolveram diferentes estruturas locomotoras: flagelos em Euglenozoa, cílios em ciliados como Paramecium e pseudópodes em amebas. Essas estruturas não só garantem deslocamento em água e meio viscoso, mas também participam da captura de alimento e da interação com o ambiente. É interessante ser capaz de identificar esses diferentes métodos de locomoção em imagens microscópicas.

Do ponto de vista reprodutivo, a reprodução assexuada por bipartição ou esporulação é a forma dominante de reprodução na grande parte dos protistas, favorecendo rápida multiplicação. No entanto, grupos como os ciliados realizam conjugação, trocando material genético e aumentando a variabilidade populacional. Algumas algas também exibem ciclo de alternância de gerações, de maneira similar às plantas.
Protozoários patogênicos desempenham papel crucial na saúde pública, como patógenos de importantes doenças, destacando-se gêneros como Plasmodium, Toxoplasma e Trypanosoma. O ciclo de vida do Plasmodium, agente da malária, envolve estágios em vertebrados (esporozoítos, merozoítos e gametócitos) e no mosquito Anopheles, sendo essencial compreender cada fase para o desenvolvimento de estratégias de controle. Já o Toxoplasma gondii é transmitido principalmente por oocistos presentes em fezes de gatos e pode causar complicações severas em gestantes e indivíduos imunocomprometidos. Por fim, os tripanossomas, como Trypanosoma cruzi — responsável pela doença de Chagas — apresentam ciclos complexos nos quais o inseto vetor (barbeiro) infecta o hospedeiro humano, e a forma amastigota se prolifera em tecidos cardíacos e musculares, ocasionando manifestações clínicas que variam de agudas a crônicas.Cobriremos essas e outras protozoonoses em mais detalhes em outras aulas do curso.
Ecologicamente, os protistas do fitoplâncton marinho são responsáveis por grande parte da produção primária dos oceanos, capturando gás carbônico e liberando oxigênio. Em ambientes de água doce e solos úmidos, atuam como micro predadores de bactérias, regulando populações microbianas e promovendo ciclagem de nutrientes. Essa versatilidade ecológica torna os protistas seres centrais nas cadeias tróficas e e nos ciclos biogeoquímicos do planeta.

Na biotecnologia, protistas fotossintetizantes, como algas diatomáceas e verdes, são usados na produção de biocombustíveis, biossorventes e compostos de alto valor — carragenanas, alginatos e pigmentos.
Reino Plantae
Já no Reino Plantae, podemos destacar que nele se reúnem organismos pluricelulares autotróficos com parede celular de celulose e cloroplastos. A alternância de gerações haplodiplonte é característica marcante, com uma importante distinção: nas briófitas, o gametófito é dominante, enquanto nas pteridófitas, gimnospermas e angiospermas o esporófito é dominante
As plantas terrestres subdividem-se em briófitas (musgos e hepáticas), pteridófitas (samambaias e licopódios), gimnospermas (coníferas e outras plantas que possuem sementes, mas não flor e fruto) e angiospermas (plantas com flor e fruto). Cada grupo apresenta adaptações singulares: briófitas sem sistema vascular, pteridófitas com vasos condutores mas sem sementes, gimnospermas com sementes nuas que toleram condições secas e angiospermas com flores que possibilitam polinização especializada e frutos que favorecem a dispersão pela fauna. Essas distinções são aprofundadas em outras aulas do nosso curso.

O Reino Plantae exerce um papel fundamental na ecologia global ao atuar como base da maioria das cadeias tróficas terrestres, convertendo energia solar em biomassa por meio da fotossíntese e fixando dióxido de carbono atmosférico em moléculas orgânicas que sustentam consumidores primários e secundários. As plantas influenciam diretamente o ciclo da água, pois, através da transpiração, liberam vapor d’água para a atmosfera, contribuindo para a formação de nuvens e a regulação climática em larga escala. Além disso, seus sistemas radiculares estabilizam o solo, impedindo a erosão, e promovem a formação de húmus ao incorporar matéria orgânica, o que favorece a retenção de nutrientes e a manutenção da fertilidade. Em ecossistemas florestais, as copas formam um dossel que modula a luz disponível para outras espécies e cria micro-habitats essenciais para numerosas comunidades de insetos, aves e mamíferos. Plantas pioneiras, como gramíneas e algumas briófitas, colonizam áreas recém perturbadas, iniciando processos de sucessão ecológica que, ao longo do tempo, culminam em comunidades clímax mais complexas, nas quais samambaias, gimnospermas e angiospermas coabitam em equilíbrio dinâmico. A interação com microrganismos do solo, especialmente as associações micorrízicas, amplia a absorção de água e minerais pelas raízes, enquanto o mutualismo com polinizadores — desde insetos a aves e morcegos — garante a reprodução e a dispersão de sementes em escalas local e regional. Em ambientes aquáticos, plantas emergentes e flutuantes servem de refúgio e fonte de alimento para organismos aquáticos, além de filtrar sedimentos e poluentes, contribuindo para a qualidade da água. Assim, o Reino Plantae não apenas sustenta a vida, mas também estrutura paisagens, regula ciclos biogeoquímicos e mantém serviços ecossistêmicos vitais para a estabilidade ambiental e o bem-estar humano.
Protistas e plantas atuam de forma integrada nos ecossistemas: o fitoplâncton produz oxigênio e sustenta a base de cadeias aquáticas, enquanto as plantas mantêm ciclos de carbono e água em terra firme, influenciando o clima e o solo.
Aula elaborada por Kaui P. Lebarbenchon