Sistemas ABO, Rh e MN

Sistemas ABO, Rh e MN

Atualmente, cerca de 40 sistemas de classificação de grupos sanguíneos são conhecidos na especie humana. Nessa aula, serão abordados os três mais conhecidos: ABO, Rh e MN

Sistema ABO de grupos sanguíneos

O sistema ABO é fundamental para entender a compatibilidade sanguínea e as transfusões de sangue, destacando os diferentes tipos de grupos sanguíneos e suas características genéticas. No início do século XX, o médico Karl Landsteiner descobriu que, quando amostras de sangue de diferentes pessoas eram misturadas, em alguns casos as hemácias se aglutinavam e em outros, não. Após pesquisar, Landsteiner conseguiu classificar o sangue humano em quatro grupos: A, B, AB e O, originando o sistema ABO.

Na sua pesquisa, Karl concluiu que a aglutinação era uma reação imunológica entre substâncias dissolvidas no plasma e na membrana das hemácias, que posteriormente foram chamadas de aglutininas e aglutinogênios, respectivamente. Sendo que sua distribuição no sistema ABO se baseava no seguinte:

Vale ressaltar que após a descoberta do sistema ABO, viabilizou-se as transfusões de sangue, já que se tornou possível determinar quando a aglutinação ocorre. Basicamente, um indivíduo portador de uma determinada aglutinina não pode receber sangue cujas hemácias tenham o aglutinogênio correspondente. Por exemplo, uma pessoa do tipo A não pode receber sangue de uma pessoa do tipo B, já que a pessoa do tipo A tem aglutininas anti-B, enquanto a do tipo B tem aglutinogênio B, portanto, a interação entre os dois tipos de sangue causaria a aglutinação.

Logo, podemos criar o seguinte diagrama que representa a compatibilidade entre os grupos sanguíneos:

Onde a ponta da seta representa quem é o receptor e a base da seta representa quem é o doador. Perceba que o tipo O doa para todos os tipos de sangue, e por isso é conhecido como doador universal, já o AB é receptor de todos os tipos, logo, é chamado de receptor universal.

Os quatro fenótipos de grupos sanguíneos (A, B, AB, O) são determinados por três alelos diferentes de um único gene: I^{A}, I^{B}, i. Vale ressaltar que o alelo I^{A} é reponsável pela formação do aglutinogênio A, o alelo I^{B} pela formação do aglutinogênio B, e o alelo i não é responsável pela formação de nenhum aglutinogênio. Portanto, fica claro que pessoas I^{A} I^{A} e I^{A} i são do tipo A, I^{B} I^{B} e I^{B} i são do tipo B, I^{A} I^{B} são do tipo AB e i i são do tipo O.

Portanto, fica evidente que os alelos I^{A} e I^{B} são dominantes sobre o alelo i.

O cruzamento entre indivíduos segue a Lei de Mendel. Por exemplo, o cruzamento entre dois indivíduos com genótipos I^{A} i e I^{B} i é dada por:

Perceba que esse cruzamento ira gerar os seguintes fenótipos: AB (do genótipo I^{A} I^{B}), A (do genótipo I^{A} i), B (do genótipo I^{B} i), O (do genótipo i i) com a proporção 1:1:1:1.

Sistema Rh

Por volta da metade do século XX, Landsteiner descobriu um novo sistema de grupos sanguíneos através de experimentos envolvendo coelhos e macacos do gênero Rhesus, daí a origem do nome do fator Rh. Os coelhos produziram um anticorpo contra as hemácias do macaco, que posteriormente foi denominado anti-Rh. Os pesquisadores então começaram a estudar o sangue humano e perceberam que esse anticorpo causava aglutinação nas hemácias em cerca de 85% das pessoas, enquanto em uma minoria (15%) não era observada nenhuma reação. Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que nas hemácias de algumas pessoas existiam antígenos, que foram chamados de Rh, e em outras esses antígenos estavam ausentes. As pessoas cujas hemácias foram aglutinadas foram denominadas Rh positivo (Rh^{+}), enquanto as que não foram aglutinadas foram denominadas Rh negativo (Rh^{-}).

Logo, fica evidente que pessoas com Rh^{+} não produzem anticorpos quando são expostas antigeno Rh, enquanto pessoas  Rh^{-} produzem. O antígeno Rh está presente apenas no sangue Rh^{+} e não no Rh^{-}. Portanto, podemos criar o seguinte diagrama:

Perceba que uma pessoa com Rh^{-} pode doar para outra com Rh^{+}, já que nenhum anticorpo seria criado no indivíduo Rh^{+}. Entretanto, o contrário (Rh^{+} doar para Rh^{-}) não é válido, uma vez que o antígeno Rh, presente no sangue Rh^{+}, ao entrar em contato com o sangue Rh^{-}, faz com que o indivíduo Rh^{-} crie anticorpos anti-Rh contra os antígenos Rh, tornando a transfusão de sangue fracassada.

Diferente do sistema ABO, o sistema Rh é condicionado por apenas dois apenas alelos (R e r), em que R é dominante em relação a r. De forma que indivíduos do genótipo RR e Rr são Rh^{+} e pessoas do genotipo rr são Rh^{-}. Alem disso, o cruzamento entre individuos segue a Lei de Mendel. Por exemplo, o cruzamento entre dois individuos com genótipos Rr e Rr é dada por:

Perceba que esse cruzamento ira gerar os seguintes fenótipos: Rh^{+} (do genótipo RR e Rr) e Rh^{-} (do genótipo rr) com a proporção 3:1.

Eritroblastose Fetal

Diferente dos antircorpos anti-A e anti-B que existem naturalmente, os anticorpos anti-Rh não estão presentes de forma inata no organismo. Uma pessoa Rh^{-} só produzirá anticorpos anti-Rh se entrar em contato com hemácias de sangue do tipo Rh^{+}.

Esse fenômeno pode ocorrer durante a gestação, caso uma mãe com sangue Rh^{-} gere um filho Rh^{+}. Durante o parto (ou em eventuais intercorrências, como hemorragias ou procedimentos invasivos), pode haver mistura sanguínea entre mãe e bebê, levando o sistema imunológico materno a reconhecer as hemácias fetais como corpos estranhos e, consequentemente, a produzir anticorpos anti-Rh.

Se, em uma gestação posterior, a mãe conceber outro filho Rh^{+},

suas células de memória imunológica produzirão rapidamente grandes quantidades de anticorpos anti-Rh, que atravessarão a placenta e destruirão as hemácias fetais. Esse processo causa uma anemia severa no feto, podendo levar a complicações graves e, em casos extremos, ao óbito. Essa condição é chamada eritroblastose fetal.

Atualmente, esse problema pode ser prevenido com a administração da imunoglobulina anti-Rh (RhoGAM) à mãe Rh^{-} logo após o parto do primeiro filho Rh^{+}. Esse tratamento impede a sensibilização do sistema imunológico materno, evitando a eritroblastose fetal em futuras gestações.

Sistema MN

Por volta de 1927, os cientistas Karl Landsteiner e Philip Levine descobriram um novo sistema de grupos sanguíneos ao estudarem a capacidade de aglutinação das hemácias humanas. Para isso, injetaram sangue de diferentes indivíduos em coelhos e observaram que os animais produziam anticorpos específicos que reagiam com certas hemácias humanas. A partir dessas análises, identificaram dois antígenos distintos, denominados M e N.

Dessa forma, o sistema MN foi estabelecido como um sistema sanguíneo baseado nesses dois antígenos. Diferente do sistema ABO, que envolve aglutininas naturais no plasma, o sistema MN normalmente não possui anticorpos naturais contra os antígenos M e N. Portanto, transfusões sanguíneas nesse sistema não apresentam incompatibilidades clínicas significativas.

Apesar de não ter impacto direto em transfusões sanguíneas, o sistema MN tem importância em estudos de genética de populações e pode ser utilizado na determinação de ancestralidade e compatibilidade genética em testes de paternidade.

A herança do sistema MN é codominante, ou seja, os dois alelos, L^{M} e L^{N}, expressam-se simultaneamente nos heterozigotos. Dessa forma, os genotipos L^{M} L^{M} são do tipo M, L^{N} L^{N} são do tipo N, L^{M} L^{N} são do tipo MN.

Assim, um indivíduo com genótipo homozigoto L^{M} L^{M} terá hemácias expressando exclusivamente o antígeno M, enquanto um indivíduo homozigoto L^{N} L^{N} apresentará apenas o antígeno N. Já os heterozigotos L^{M} L^{N} possuirão ambos os antígenos simultaneamente, demonstrando o padrão de herança codominante.

O cruzamento entre individuos segue a Lei de Mendel. Por exemplo, o cruzamento entre dois individuos com genótipos L^{M} L^{N} e L^{M} L^{N} é dada por:

Note que esse cruzamento ira gerar os seguintes fenótipos: M (do genótipo L^{M} L^{M}), MN (do genótipo L^{M} L^{N}) e N (do genótipo L^{N} L^{N}) com a proporção 1:2:1.

Aula elaborada por Vitor Takashi