ObInvest 2023 Terceira Fase

ObInvest 2023 - Terceira Fase

Escrito por Lucas Rivelli

Caracterizada por apresentar uma proposta diferente das fases anteriores, nessa fase o objetivo é analisar o quanto que você, competidor, consegue usar todos seus conhecimentos e elaborar uma carteira de investimentos para um cliente previamente selecionado.

Para elaborar o melhor relatório possível, uma série de passos tem de ser considerada, e o primeiro deles é, indubitavelmente, entender seu cliente.

No ano de 2023, tal cliente foi a Marina Farias, influencer digital sobre finanças e investimentos. Marina possui 33 anos, é casada e pretende ter uma filha. Além disso, pretende construir uma casa em 2025 e se considera com uma leve disposição ao risco. A carteira, segundo ela, deve exclusivamente servir aos seus objetivos de médio e longo prazo, já que ela possui uma reserva de emergência. Ademais, Marina não possui aversão a nenhum setor, porém gosta de setores de consumo recorrente e de varejo.

Após entender o contexto de seu cliente, o segundo passo é entender como que o relatório deve ser feito e como que a OBInvest irá avaliá-lo.

No ano de 2023, conforme disponibilizado pela olímpiada, oito perguntas tiveram que ser respondidas ao longo do relatório, sendo elas:

  1. Qual a sua tese de Investimentos?
  2. Qual a estratégia de investimentos utilizada?
  3. Qual a sua visão e justificativa da alocação macroeconômica?
  4. Justifique o porquê de cada ativo escolhido na sua carteira.
  5. Apresente a correlação entre os ativos e a janela de tempo coletada para essa medida, para justificar a diversificação.
  6. Justifique os pesos de cada ativo em seu portifólio.
  7. Qual o risco esperado dessa carteira, e qual a expectativa em relação ao benchmark escolhido?
  8. Elabore também uma segunda ponderação de seu portifólio considerando um risco esperado maior, para servir como opção para a cliente

 

1- Qual a sua tese de investimentos?

Após compreender o perfil de seu cliente, responder essa pergunta é o primeiro passo para a construção de um excelente relatório. Dessa forma, primeiramente é necessário entender o que é uma tese de investimentos.

De forma simplificada, a tese de investimentos é declaração sobre o que o gestor acredita e por quê. Essa tese, sempre embasada em pesquisas e dados, é fundamental para que o corretor consiga compreender o seu relatório e tirar as melhores conclusões possíveis dele. Por isso, ela tem que ser clara e direta, deixando evidente o que você acredita e o porquê vê essa crença como a mais racional.

Dessa forma, é necessário compreender que não existe tese perfeita ou ideal, muitas vezes é a articulação e embasamento do investidor que fazem com que a tese dele seja superior.

No relatório de 2023, diversas teses poderiam ser defendidas e explicadas caso bem embasadas, como no exemplo a seguir.

Sendo assim, a partir de uma análise completa e bem estabelecida, fundamentamos a tese de investimento a partir de três pilares: Resiliência, Opcionalidade e Impacto Social.

Resiliência: Diante de um cenário macroeconômico conturbado, com incertezas em relação ao soft landing da economia americana, ao cenário geopolítico, e principalmente, ao nível do corte de juros pelo banco central brasileiro, vemos a resiliência como uma característica fundamental para a geração de alpha no longo prazo.

Opcionalidade: Caracterizamos opcionalidade como a capacidade de um ativo de sobrepassar o retorno esperado em caso de mudanças no paradigma econômico. Nesse sentido, buscamos por ativos que estejam ligados com as inovações e avanços tecnológicos existentes no contexto atual.

Impacto Social: Por fim, temos como premissa fundamental da tese de investimento empresas que gerem retornos para todos os stakeholders, não somente investidores e executivos. Por isso, buscamos empresas que alcançam resultados de impacto no nível social, seja por meio do meio ambiente, equalidade racial e de gênero ou empreendedorismo social.

 

Como exposto pelo investidor acima, sua tese de investimentos foi embasada em três princípios: Resiliência, Opcionalidade e Impacto Social. O competidor explicou cada um de seus princípios e o porquê de cada um deles, embasando em princípios macroeconômicos, microeconômicos e ESG, o que demonstra amplitude e conhecimento dos termos.

Note que o exemplo acima não é um gabarito para a criação de uma tese, e sim um exemplo que descreve de forma clara, direta e bem embasada as principais opiniões e considerações do investidor.

 

2- Qual a estratégia de investimentos utilizada?

Em conjunto com a elaboração de uma boa tese de investimentos, o próximo passo está relacionado com a construção da estratégia. De forma simples, a estratégia é a tese em prática. Ela representa como que o investidor irá, através de sua tese, criar a melhor carteira para seu cliente.

Nesse sentido, ela engloba tanto o modelo de criação do portfólio, quanto o portfólio em si. É nessa parte em que você deve olhar para os ativos disponíveis e estudá-los, entendendo como que cada um se associa aos objetivos de seu cliente e a sua própria tese, como no exemplo abaixo.

Primordialmente, observamos os objetivos de médio prazo do cliente, tanto em relação a construção de uma casa e ao estabelecimento de um escritório de advocacia. A partir dessas exigências, e de uma pesquisa mercadológica sobre o cenário imobiliário de Recife, chegamos na conclusão de que do valor disponível para investimento, 50.8% serão destinados para o cumprimento de tais metas. Logo, vemos os outros 49,2% como o meio de transformação e de geração de valor para o nosso cliente no longo prazo, investindo em ativos que apresentem alto valor intrínseco, com vantagens competitivas e moats que protegem sua capacidade de gerar retornos acima do WACC no prazo estipulado, de forma positiva para toda a sociedade.

A partir de tais ideias, criamos um filtro de ações eficiente, atendendo as necessidades de nossa cliente. O filtro utilizado se foca nos seguintes aspectos: 1- ESG, 2- geração de valor para a sociedade, 3-crescimento e posicionamento da empresa frente a indústria, 4-moats, 5-gestão e 6- valuation. A partir da análise de todas as possibilidades de investimento por meio de tal premissas, chegamos em 10 ativos que atendem aos requisitos para investimento.

 

Note como primeiramente, o investidor analisou os objetivos do cliente, algo fundamental, principalmente ao se consideras as exigências imobiliárias de Marina. Após essa análise, o investidor citou a estratégia de avaliação dos ativos, realizada por meio de um filtro que abrangia uma série de características, como valuation e moats. Além disso, o competidor também manteve cuidado em conectar seus ativos com a tese previamente estabelecida, algo fundamental para a criação de um portfólio coeso e bem estruturado.

 

3- Qual a sua visão e justificativa da alocação macroeconômica?

Além de estabelecer uma tese coesa e uma estratégia bem estruturada, o investidor também deve possuir uma visão macroeconômica bem fundamentada. Note, novamente, de que não existe visão certa ou errada, somente visões bem estruturadas e mal estruturadas.

Um exemplo de uma possível visão macroeconômica é a descrita a seguir:

Como previamente comentado, vemos a economia global e nacional em um cenário de grande incerteza, com alta variação e amplitude nas expectativas econômicas. Contudo, apesar da importância do entendimento sobre as diversas possibilidades de mudança econômica, temos no geral uma opinião mais pessimista que o mercado em relação ao curto e médio prazo, porém com uma mais otimista ao se olhar para o long-run. Essas ideias são baseadas em 1- soft-landing americano, 2- incertezas geopolíticas, 3- juros brasileiro e 4- aumento da produtividade por uso de IA.

1-Apesar da intensificação no mercado de opiniões que defendem o soft landing americano, vemos tal possibilidade como improvável. A resiliência da economia americana diante dos aumentos de juros, a contínua inversão da yield curve e a aparente resistência da inflação indicam um cenário onde os juros serão mantidos por um tempo maior do que o esperado pelo mercado.

2-As mudanças no cenário geopolítico global, iniciado em 2022 com a Guerra na Ucrânia e intensificada com as tensões entre Israel e Hamas no Oriente Médio, demonstram uma mudança no paradigma internacional. O aumento na fabricação de armamentos, o constante crescimento no número de tensões entre ocidente e oriente e a guerra comercial entre EUA e China reforçam a ideia de protecionismo e consequentemente, de juros neutros mais elevados.

3-Diante deste cenário internacional conturbado, a realidade brasileira não se mostra como mais certeira. Os contantes confrontos entre membros do executivo e do banco central, a falta de eficácia do arcabouço fiscal (principalmente devido a indexação de grande parte das despesas), e a dependência do Brasil do setor agro intensificam a possibilidade de jutos mais altos por maior tempo, um cenário ligeiramente mais pessimista que a expectativa do mercado.

4-Por fim, trazendo um pouco de luz para o cenário de investimentos global, os recentes avanços com algoritmos de machine learning e inteligência artificial abrem a possibilidade para uma evolução estrutural nos níveis de produtividade global, aumentando assim, o PIB potencial.

 

4- Justifique o porquê de cada ativo escolhido na sua carteira

Caso você tenha realizado corretamente todos os passos anteriores, essa parte se torna mais simples. A sua função é usar de sua tese, estratégia e perspectiva macroeconômica para embasar de defender a seleção dos ativos de sua carteira, como demonstrado a seguir:

Tesouro Selic 2029: Em síntese com nossa expectativa macroeconômica, acreditamos que a manutenção dos juros nesse patamar por maior tempo permitirá um rendimento interessante no pós-fixado, diferentemente do esperado nos títulos pré-fixado.

Nike: Existem poucas empresas com a capacidade de geração histórica e resiliente de fluxo de caixa. Uma empresa extremamente antifrágil e resiliente as mudanças macroeconômicas. Boas expectativas de lucro, alto ROIC e valuation atraente, além de ser ativa em diversos projetos sociais ligados aos esportes.

 

5- Apresente a correlação entre os ativos e a janela de tempo coletada para essa medida, para justificar a diversificação.

Não existe nenhuma mágica na resposta dessa pergunta. Como demonstrado a seguir, é necessário coletar os dados de preço dos ativos selecionados e elaborar uma matriz de correlação. Por mais complicado que isso possa parecer, a própria olímpiada te ensina a fazer isso ao longo da competição, facilitando muito o processo final.

Abaixo temos tanto o código de python que gera a matriz, que deve ser ultilizada no relatório.

 

 

6- Justifique os pesos de cada ativo em seu portifólio.

Você pode realizar essa etapa de várias formas, desde modelos qualitativos simples (como alocar 10% em x setor, 30% em y), até modelos quantitativos um pouco mais complexos, como Markowitz ou Black-Litterman.

No exemplo abaixo, por exemplo, o investidor usou de uma alocação baseada no modelo Black-Litterman, justificada principalmente pela correlação entre os ativos e pelas opiniões do investidor sobre os setores.

 

7- Qual o risco esperado dessa carteira, e qual a expectativa em relação ao benchmark escolhido?

Para avaliar o risco esperado da carteira, diversas métricas podem ser utilizadas, tanto qualitativas quanto quantitativas, como demonstrado abaixo.

Com esta alocação, fundamentada tanto na correlação entre os ativos como nas expectativas individuais de cada ativo, esperamos atingir um retorno consideravelmente acima tanto do CDI quanto do Ibovespa, gerando valor para nosso cliente, com um risco (beta) de apenas 0.63 quando comparado ao Ibovespa. Tal beta, consideravelmente abaixo da média do mercado, ocorre pela escolha consciente e pela diversificação de ativos nacionais e internacionais, visando a estabilidade e o crescimento patrimonial, com expectativas de 11%a.a de crescimento real (descontando a inflação).

 

No caso acima, o investidor usou do beta para calcular seu riso, uma métrica comum e popular no mercado. Além disso, também justificou este risco na alocação consciente e na diversificação, demonstrando uma abordagem tanto qualitativa quanto quantitativa.

 

8- Elabore também uma segunda ponderação de seu portifólio considerando um risco esperado maior, para servir como opção para a cliente.

Por último, o competidor é desafiado a criar uma alocação para um rico esperado maior, servindo de segunda opção para o cliente. Nesse caso, diversas abordagens podem ser feitas, como investir em ativos mais arriscados, mudar os pesos entre os setores, ou alterar a razão entre ativos variáveis e fixos.

Não existe opção certa ou errada, tudo é relativo de como você prefere estabelecer o seu portfólio. Como exemplo, o investidor abaixo diminuiu a proporção alocada no Tesouro Selic, resultando em um portfólio mais arriscado que o primeiro.

 

Respondendo todas as perguntas e utilizando corretamente todas as ferramentas disponíveis, é possível fazer um excelente relatório que engloba todos os aspectos necessários. Os exemplos descritos aqui não são gabaritos, e sim, possíveis interpretações que atendem as necessidades do relatório: satisfazendo o cliente e gerando retornos no longo prazo.