Escrito por Ícaro Bacelar (Revisão por Ualype Uchôa e Rafael Ribeiro)
Você pode acessar a prova aqui.
Questão 1
Pai e filho estão caminhando com velocidade constante por uma via que forma um arco de circunferência e desejam ir do ponto A ao ponto B. Ambos argumentam qual seria o trajeto com o menor tempo: AB ou ADCB. O filho acredita que indo diretamente de A a B pode ir no menor tempo, já o pai pensa que atravessando a via e indo a D, em seguida a C e atravessando novamente a via chegando em B pode chegar primeiro que o filho. A figura ao lado mostra esquematicamente as trajetórias para um ângulo . Qual o ângulo (em radianos) em que os tempos das duas trajetórias serão os mesmos?
Figura 1: Trajetos descritos pelo pai e pelo garoto.
Cinemática
Para que haja equivalência nos tempos de percurso, sabendo que a velocidade de ambos é igual e constante, temos que seus trajetos devem ter comprimentos iguais, visto que o tempo é dado pela razão entre a distância percorrida e a velocidade. Lembrando que o tamanho de um arco equivale ao seu raio multiplicado por seu ângulo, temos que:
Chegamos por fim a:
Ou seja:
OBS: É interessante vermos que o resultado independe de e !
.
Questão 2
Um carro viaja a durante minutos quando o motorista decide fazer uma parada de minutos. Em seguida viaja por mais horas a uma velocidade de . Qual foi a velocidade média da viagem em ? Despreze os intervalos de tempo em que houve aceleração e desaceleração nas paradas e partidas.
Cinemática
A velocidade média é dada pela razão entre o deslocamento do móvel e o tempo total de trajeto, onde contabilizamos inclusive o tempo durante o qual este esteve parado. Primeiramente calcularemos o tempo, em horas:
.
E então, obtemos o seu deslocamento (considerando que o carro viaja sempre no mesmo sentido):
.
E assim, obtemos para a velocidade média:
.
Com os devidos algarismos significativos, a resposta fica:
.
Atente-se: No geral a OBF pede respostas com unidades no S.I, contudo nesta questão (e em algumas outras desta prova) foi especificado que a resposta era para ser dada em . Além disso, as respostas devem estar nos algarismos significativos.
.
Questão 3
A figura mostra um pêndulo simples ideal em várias posições diferentes oscilando entre e . Em cada uma das posições mostradas esquematize o vetor aceleração. Na posição central o pêndulo está na vertical.
Figura 2: Pêndulo simples oscilando entre as posições e .
Cinemática (vetorial)
É importante nós entendermos a dinâmica dessa situação. Em qualquer posição, temos sempre duas forças atuando na massa: a tração do fio e seu peso . Introduzimos o ângulo que o fio forma com a vertical. Veja a figura a seguir para a representação esquemática desse cenário em uma posição arbitrária entre a mais baixa e :
Figura 3: Diagrama de corpo livre para a massa pendular.
Dividimos a gravidade em suas componentes tangencial, , e radial . Veja que, para manter o movimento circular, a soma vetorial da tração e da componente do peso na direção radial atua como força resultante centrípeta. Sendo assim, podemos dividir a aceleração total da massa em duas componentes; a aceleração centrípeta, na direção radial, e a aceleração na direção tangente, devido à componente tangencial do peso (a tração não possui componente tangencial):
Figura 4: Esquematização das componentes radial e tangencial da aceleração.
Feita essa análise, voltemos nossas atenções para o pedido do problema; a análise da aceleração nos pontos , e na posição vertical.
Nas posições de retorno e o pêndulo encontra-se momentaneamente em repouso; logo, a sua aceleração na direção radial (centrípeta) é nula, e há somente aceleração na direção tangente, orientada de forma a fazer a partícula "voltar" para a posição de equilíbrio na vertical.
Na posição vertical (também chamada de posição de equilíbrio, pois é o que verificamos se abandonamos o pêndulo em repouso nessa posição), o pêndulo possui velocidade tangencial não-nula, o que implica que há aceleração centrípeta. Como a velocidade é horizontal (ora para a esquerda, ora para a direita), a aceleração centrípeta aponta para cima, em direção ao centro de curvatura. Não há aceleração tangencial, pois a componente do peso nessa direção, na posição em questão, é nula.
Os vetores estão esquematizados a seguir:
Figura 5: Esquema dos vetores aceleração em cada uma das posições.
OBS.: A aceleração na direção radial é centrípeta, e tem como funcionalidade puramente variar o vetor velocidade da partícula de forma a mantê-la no seu movimento circular. Seria impossível que a aceleração radial tivesse o efeito de acelerar a partícula nessa direção (fazendo-a ganhar velocidade radial), pois o fio é inextensível, o que restringe o movimento da massa. Por isso, podemos seguramente afirmar que não há aceleração radial nas posições extremas.
Questão 4
Há mais de anos voos parabólicos têm sido usados para treinamento de astronautas e por cientistas das mais diversas áreas interessados nos efeitos da micro gravidade. A novidade agora é que algumas empresas têm oferecido esse tipo de voo a turistas. Esses voos são feitos em aviões adaptados onde os ocupantes podem experimentar a “ausência” de gravidade. A uma altitude de o piloto inicia uma subida até alcançar com o avião a uma inclinação de , produzindo uma aceleração de aproximadamente . Nesse momento, o piloto reduz a potência do avião a praticamente zero – potência suficiente apenas para vencer o arraste do ar. Durante aproximadamente , o avião e os seus ocupantes são lançados numa trajetória parabólica subindo por mais . Quando o avião atinge novamente o piloto retoma a potência do motor e retorna ao voo horizontal, podendo eventualmente repetir o procedimento. Baseado no texto e fazendo a hipótese de que o avião pode ser considerado como uma partícula, responda:
a) Qual é, em quilômetros por hora, a velocidade do avião no momento em que o piloto reduz a potência?
b) Qual a distância horizontal percorrida pelo avião durante a trajetória parabólica?
c) Supondo que ao retomar a potência o avião descreva uma trajetória circular de raio , qual é a aceleração dos ocupantes no ponto mais baixo da trajetória?
Cinemática - Lançamento Oblíquo
a) Ao ser lançado em uma trajetória parabólica sob a ação da gravidade - um lançamento oblíquo -, o avião sobe mais , como podemos identificar no texto. Entenda que "atingir novamente", para esclarecimento, significa retornar ao mesmo nível vertical de lançamento. Então, sendo a velocidade vertical inicial do avião, e a altura máxima (medida a partir do nível vertical de lançamento), utilizemos a equação de Torricelli:
.
Substituindo os valores, e :
.
E, para obtermos a velocidade inicial, fazemos
,
onde usamos . Convertendo para :
.
OBS.: É importante salientar que o enunciado não deixa claro se a inclinação é medida com relação à horizontal ou vertical. Felizmente, isso não é um problema para nós, pois o ângulo é de .
b) Sabemos que a velocidade horizontal é constante e idêntica à velocidade vertical, basta obtermos o tempo de vôo. Para tal, olhamos para o tempo que o avião demora para chegar ao topo de sua trajetória, e o dobramos, devido à simetria do movimento:
.
Usamos, acima, que a velocidade horizontal possui o mesmo valor da velocidade vertical inicial, pois .
c) Há duas possíveis interpretações para resolver esse item. A primeira considera que a aceleração requisitada é a aceleração total (resultante) do avião naquela posição. Estando em movimento circular, a aceleração resultante do avião corresponde à resultante centrípeta:
No ponto mais baixo sua velocidade é puramente horizontal. Como o enunciado especifica que o piloto pode voltar a repetir o mesmo procedimento de voo, a velocidade horizontal do avião deve ser a mesma que antes do salto, de módulo . Logo, a aceleração centrípeta é dada por:
Logo:
A segunda interpretação, no entanto, considera que a questão desejava encontrar, na realidade, o peso (no caso, a gravidade) aparente sentido por cada passageiro, também conhecida por força normal (simbolizada aqui por ). No caso do ponto mais baixo da trajetória, devemos considerar que:
,
onde é a gravidade aparente sentida pelos passageiros.
OBS: Um argumento em favor dessa interpretação é o fato de que a questão especificou que a aceleração requisitada é a do ponto mais baixo. Seguindo a primeira interpretação, a resposta seria a mesma que calculamos () para qualquer ponto da trajetória, já que o movimento do avião é circular e uniforme, e portanto o módulo da aceleração é igual para qualquer ponto.
a)
b)
c) ou , a depender da interpretação (ver solução)
Questão 5
Um certo planeta tem massa que é o dobro da massa da Terra. Neste planeta, o peso de um corpo é metade do peso na Terra. Qual é o raio deste planeta em termos do raio da Terra?
Gravitação
Primeiro, vamos analisar a variação do peso do objeto; se o peso de algo em um planeta é metade em relação ao do mesmo na Terra, temos que a aceleração gravitacional neste planeta é a metade da Terra, pois:
,
.
Sendo a massa do corpo, a gravidade na superfície do planeta e a gravidade superficial terrestre. Temos que a aceleração gravitacional na superfície de um planeta dada por:
.
Onde é a constante da gravitação universal, a massa do planeta e seu raio. Utilizando o dado de que a massa do planeta é o dobro da massa Terra, obtemos (chame de e os raios da Terra e do planeta, respectivamente):
.
Por fim:
.
Questão 6
Uma bola de futebol de está se movendo a quando um jogador a chuta com uma força constante de na mesma direção de seu movimento. Por quanto tempo o pé do jogador ficará em contato com a bola para aumentar sua velocidade para ?
Mecânica - Segunda lei de Newton
Pela Segunda Lei de Newton, temos que a força resultante na bola é dada por:
Onde é a massa do corpo e sua aceleração. Para uma força (e, consequentemente, aceleração) constante, a mudança de velocidade de um corpo corresponde a:
A diferença entre as velocidades nos é fornecida, bem como o valor da força e da massa. Portanto, substituindo os valores numéricos:
.
Um aluno mais experiente pode vir a perceber que este procedimento equivale a usar o teorema do impulso, .
.
Questão 7
Engenheiros britânicos estão trabalhando na construção do carro mais veloz do mundo. A expectativa é que o Bloodhound SSC ultrapasse batendo o recorde mundial de velocidade em terra que é, atualmente, de . O carro terá dois estágios de aceleração, onde um motor a jato atuará na primeira fase e um foguete na segunda fase além de um motor a combustão auxiliar. O carro deve estar pronto para os primeiros testes em julho de 2015 e a previsão dos engenheiros é que o teste definitivo ocorra em 2016. O gráfico ao lado mostra a velocidade do veículo em função da distância (dados extraídos de http://www.bloodhoundssc.com) e o ponto destacado marca o início do acionamento do foguete. Usando os dados fornecidos pelo gráfico, determine:
a) O instante de tempo em que o foguete será acionado;
b) O tempo que levará o carro para atingir a velocidade máxima.
Figura 6: Gráfico da velocidade pela distância percorrida pelo carro.
Cinemática - Movimento Acelerado
a) Nessa questão, precisaremos fazer uma consideração (provavelmente esperada pela OBF), que explicaremos por que será bastante razoável: podemos admitir uma aceleração constante para o carro, pois o texto descreve que, até um certo ponto o carro é impulsionado por uma mesma turbina (assim como no estágio que o segue, até alcançar a velocidade máxima, porém com uma turbina mais potente). Além disso, o comportamento do gráfico da questão evidencia isso, de certa forma. Para convencê-lo disso, observe o formato do gráfico de velocidade versus distância (cuja dependência é , pela equação de Torricelli, partindo do repouso):
Figura 7: Gráfico da velocidade versus posição para o MRUV.
Realmente, o comportamento é, de certa forma, semelhante ao observado! Não era necessário que o aluno tivesse essa visualização no momento da prova, mas é importante que a ressaltemos. Prosseguindo com a resolução:
Denote por a velocidade no instante de acionamento , e a aceleração nessa primeira etapa. Sabendo que o carro parte do repouso, temos
e
.
Do gráfico, podemos estimar e . Com isso, substituindo valores:
,
e
.
Logo:
.
Também podemos aproximar a curva aparente descrita pela velocidade nas distâncias iniciais para uma reta, obter o valor médio da velocidade e dividir a distância percorrida pelo mesmo, obtendo o mesmo valor.
b) Partindo já do ponto de ativação da turbina até o ponto de velocidade máxima podemos considerar como um movimento uniformemente variado novamente (conforme já discutimos), sendo a ideia passada pelo enunciado. É conveniente analisarmos a equação do movimento a partir do momento em que o segundo estágio é acionado, tendo em vista que a aceleração mudará. Seja a velocidade máxima, o instante em que isso ocorre, a distância percorrida desde a partida até o momento em questão e a aceleração desse estágio. Chamando também , teremos:
,
e
Nosso maior empecilho é determinar os valores para e . Uma estimativa razoável é e . Manipulando as equações e substituindo os valores numéricos, de um modo análogo ao que fora feito no item passado, obtemos
.
Em segundos:
.
Logo:
.
Perceba que pequenas alterações nos valores de distância e e velocidade escolhidas não iriam alterar a resposta em seus algarismos significativos.
a) .
b) .
Questão 8
Uma bola é lançada horizontalmente do topo (patamar) de uma escada. Se as dimensões dos degraus são de largura e de altura, qual é o intervalo de valores para a velocidade de lançamento de forma que o primeiro degrau atingido pela bola seja o -ésimo degrau?
Figura 8: Projétil e escada
Cinemática - Lançamento Oblíquo
Neste caso, temos um lançamento oblíquo e sabemos a região, tanto na horizontal quanto na vertical, na qual a massa deve cair. Tal intervalo de locais de queda rege o intervalo de velocidades possíveis. Devemos então encontrar o ponto mínimo e o máximo desta região. É visível que o máximo equivale a ponta do -ésimo degrau, porém o mínimo não ocorre no início deste, pois temos a condição de que a bolinha não pode bater no degrau anterior. Ou seja, nosso ponto mínimo se dá pelo extremo do -ésimo degrau. Por convenção, vamos orientar o eixo para a direita e o eixo para baixo. Então:
Para o ponto máximo:
,
.
Assim obtemos:
E para o ponto mínimo:
,
.
Que nos leva a:
.
Como o projétil não pode colidir com o -ésimo degrau, sua velocidade deve ser maior que a mínima calculada. Por fim, temos:
.