OBF 2019 - Segunda Fase (Nível 1)

Escrito por Matheus Ponciano

Questão 1:

Um novo modelo de automóvel está sendo submetido a um teste no qual deve percorrer uma distânica de 120 km, que é dividida em três trechos sucessivos, cada um caracterizado por uma velocidade escalar média. No primeiro trecho de \frac{2}{6} do percurso total sua velocidade escalar média deve ser de 50,0 km/h, que é a velocidade máxima recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No segundo trecho, de \frac{3}{6} do percurso total, sua velocidade escalar média deve ser 80,0 km/h, que é o limite de velocidade da maioria das vias expressas brasileiras. No trecho restante sua velocidade escalar média deve ser 20,0 km/h que é uma velocidade escalar média típica de tráfego em vias congestionadas. Qual é a velocidade escalar média do carro considerando o percurso total?

Assunto abordado

Cinemática.

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Solução

Para descobrir a velocidade média para o percurso completo, basta dividir o comprimento total do percurso (d=120 km) pelo tempo total necessário para fazer este trajeto. Podemos então obter o tempo para cada trecho e somá-los para obter o tempo total. Dessa forma, o tempo de cada trecho é:

Trecho 1:

t_1 = \dfrac{d_1}{v_1}

t_1 = \dfrac{\dfrac{2}{6}*120}{50}

t_1 = \dfrac{4}{5}

t_1 = 0,8 h

Trecho 2:

t_2 = \dfrac{d_2}{v_2}

t_2 = \dfrac{\dfrac{3}{6}*120}{80}

t_2 = \dfrac{3}{4}

t_2 = 0,75 h

Trecho 3:

t_3 = \dfrac{d_3}{v_3}

t_3 = \dfrac{\dfrac{1}{6}*120}{20}

t_3 = \dfrac{20}{20}

t_3 = 1 h

A velocidade média é então:

v = \dfrac{d}{t}

v = \dfrac{d}{t_1 + t_2 + t_3}

v = \dfrac{120}{0,8 + 0,75 +1}

v = \dfrac{120}{2,55}

v \approx 47,1 km/h

Transformando para m/s

v = \dfrac{47,1}{3,6}

v \approx 13,1 m/s

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Gabarito

v \approx 13,1 m/s

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Questão 2:

Satélites geoestacionários estão em órbitas tais que, sob o ponto de vista de um observador na Terra, permanecem fixos. Esses satélites são principalmente utilizados por redes de comunicação que atendem a uma região fixa da Terra. Ligações telefônicas e transmissões televisivas de longa distância, geralmente são feitas por esse tipo de satélite. A terceira lei de Kepler, aplicada a órbitas circulares, estabelece que o período T de translação de um corpo e o raio R de sua órbita se relacionam de modo que \dfrac{T^2}{R^3} é uma constante. Suponha dois satélites E e F em órbitas circulares e coplanares, com o satélite E em órbita geoestacionária e o satélite F com órbita de raio 21% maior que o satélite E. (a) Qual o período de translação do satélite f em horas? (b) Suponha um instante no qual os satélites E e F estão alinhados com um ponto na superfície da Terra e determine o menor intervalo de tempo, em horas, para que isso ocorra novamente.

Assunto abordado

Gravitação, MCU.

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Solução

a) Já que o satélite E é geoestacionário, ele deve ter a mesma velocidade angular que a Terra, para que uma pessoa veja ele parado. Dessa forma, o seu período deve ser o mesmo que o período de rotação da Terra. Logo:

T_E = 24 h

Utilizando a terceira lei de Kepler:

\dfrac{T^2}{R^3} = cte

\dfrac{T_E^2}{R_E^3} = \dfrac{T_F^2}{R_F^3}

T_F^2 = T_E^2 \left( \dfrac{R_F}{R_E} \right) ^3

T_F =T_E \left( \dfrac{R_F}{R_E} \right) ^{\dfrac{3}{2}}

O raio de F, R_F, é 21% maior que o raio de E, R_E. Dessa forma, temos:

R_F = 1,21*R_E

\dfrac{R_F}{R_E} = 1,21

Substituindo:

T_F = T_E \left(1,21\right)^{\dfrac{3}{2}}

T_F = T_E (1,1)^3

T_F =1,331*T_E

T_F = 1,331*24
T_F =31,944

T_F \approx 32 h

b) Para que o tempo de encontro seja mínimo, os satélites devem estar girando em sentidos contrários. Ao se movimentarem no mesmo sentido, eles também se encontrarão, mas demorará mais (cerca de 96 h). Como a questão não especifica, ficamos nessa ambiguidade e se é decidido calcular o menor tempo possível.

As velocidades angulares para cada satélite são:

\omega_E = \dfrac{2\pi}{T_E}

\omega_F = -\dfrac{2\pi}{T_F}

A velocidade angular de F em relação a E é então:

\omega_r = \omega_E -\omega_F

\omega_r = \dfrac{2\pi}{T_E} + \dfrac{2\pi}{T_F}

\omega_r = 2\pi \left(\dfrac{1}{T_E} +\dfrac{1}{T_F}\right)

\omega_r = 2\pi \left(\dfrac{T_F +T_E}{T_FT_E} \right)

Nesse referencial, o satélite E está parado e o satélite F dará uma volta, percorrendo então um ângulo de \theta = 2\pi. Assim:

2\pi = \omega_rt

2\pi = 2\pi \left(\dfrac{T_F +T_E}{T_FT_E} \right) t

t = \dfrac{T_FT_E}{T_F+T_E}

t = \dfrac{32*24}{32+24}

t =\dfrac{32*24}{56}

t = 13,714 h

t \approx 13,7 h

 

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Gabarito

t \approx 13,7 h

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Questão 3:

Em um laboratório didático, uma estudante deve fazer as marcas para a escala linear de um termômetro de mercúrio. O equipamento foi fabricado encerrando-se uma certa quantidade de mercúrio em um recipiente de vidro, de coeficiente de dilatação desprezível, de paredes muito finas e inicialmente vazio (vácuo). A figura abaixo ilustra esquematicamente o recipiente, que é formado por um bulbo esférico ligado a um tubo cilíndrico muito fino (capilar). Ele está acoplado a uma placa fixa sobre a a qual devem ser feitas as marcas da escala. Para efeitos de calibração, o equipamento vem com duas marcas já feitas e que correspondem às temperaturas de 20^o C e 60^o C. A tarefa da estudante é acrescentar duas outras marcas T_m e T_M que devem corresponder, respectivamente,  às mínima e máxima temperaturas que esse equipamento pode medir. Considerando ainda que as marcas devem ser feitas para valores inteiros de temperatura na escala Celsius, quais os valores de T_m e T_M que a estudante deve acrescentar à escala?

Assunto abordado

Termometria.

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Solução

A escala é linear, então a relação entre a temperatura em Celsius e a altura do mercúrio deve ser algo do tipo:

T = T_o + a*H

Onde T_o é a temperatura quando o mercúrio está na altura 0 e H é a altura da coluna de mercúrio.

Tendo uma variação de temperatura relacionada à uma variação de altura, sendo ambas conhecidas, podemos descobrir o valor de a. Pela figura, temos que uma variação de 40^oC está relacionada à um aumento de 6 cm da coluna de mercúrio, desta forma:

a = \dfrac{\Delta T}{\Delta H}

a =\dfrac{40}{6}

a =\dfrac{20}{3}

Dessa forma podemos descobrir T_o:

T = T_o + \dfrac{20}{3}H

Para a temperatura de 20^oC:

20 = T_o + \dfrac{20}{3}*5

T_o = 20 -\dfrac{100}{3}

T_o = \dfrac{20*3 - 100}{3}

T_o = -\dfrac{40}{3}

T_o \approx - 13,3^oC

Podemos então descobrir a maior temperatura mensurável, que é na ponta de cima do termômetro:

T_f = -\dfrac{40}{3} + \dfrac{20}{3}*25

T_f = \dfrac{500-40}{3}

T_f = \dfrac{460}{3}

T_f \approx 153,3^o C

Para a marcação da escala, T_m deve ser o menor inteiro maior que T_o e T_M deve ser o maior inteiro menor que T_f, dessa forma:

T_m data-recalc-dims=-13,3" />

T_m= -13^oC

T_M<153,3

T_M = 153^oC

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Gabarito

T_m= -13^oC

T_M = 153^oC

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Questão 4:

A resistência à tração (capacidade de resistir a forças de tração sem se romper) da seda de aranha é comparável com a do aço e vale R_T = 2000*10^6 N/m^2. Considerando que um fio de aranha tem o formato cilíndrico, estime seu comprimento máximo impondo a condição que deve ser capaz de sustentar o próprio peso quando pendurado verticalmente. Sabe-se que a densidade da seda de aranha é \rho = 0,200 g/cm^3. (em sua resolução, suponha que a seda de aranha é inextensível.)

Assunto abordado

Análise dimensional, leis de Newton.

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Solução

Por análise dimensional podemos perceber que a resistência à tração R_T deve ser algo do tipo:

R_T = \dfrac{T}{A}

Onde T é a tração no fio e A é a área transversal do fio.

O fio para se sustentar deve exercer em uma de suas pontas uma tração equivalente ao próprio peso, em direção oposta para que o fio não caia. O peso do fio será:

P = T = m g

A massa m do fio, por ser cilíndrico, será:

m = \rho V

m = \rho L A

Onde L é o comprimento do fio. Assim:

T =\rho L A g

R_T = \dfrac{\rho L A g}{A}

R_T = \rho L g

L = \dfrac{R_T}{\rho g}

L = \dfrac{2000*10^6}{0,200*10^3*10}

L = \dfrac{2000*10^6}{2000}

L= 1,00*10^6 m

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Gabarito

L= 1,00*10^6 m

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Questão 5:

Uma esteira transporta cascalho até uma caçamba de comprimento L=2,00 m localizada à sua frente. A figura abaixo, na qual d=1,50 m e h =2,50 m, representa esquematicamente a situação de seu funcionamento. Suponha que a esteira se mova com velocidade constante e que o cascalho não rola nem escorrega sobre ela. Desconsiderando as dimensões do cascalho e o efeito resistivo do ar, determine o intervalo de velocidades no qual a esteira pode operar sem que o cascalho caia fora da caçamba.

Assunto abordado

Cinemática: lançamento horizontal em um campo gravitacional uniforme

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Solução

O tempo que o cascalho leva para atingir a caçamba é obtido através da relação de distância percorrida em um M.U.V

h=gT^2/2

Sendo assim

T=\sqrt{\dfrac{2h}{g}}

A partir do tempo de queda, obtemos o alcance do cascalho (o mesmo possui velocidade horizontal V)

A=VT

Esse mesmo alcance não pode ser menor que d nem maior que L+d. Portanto

d\leq{A}\leq{L+d}

d\leq{V\sqrt{\dfrac{2h}{g}}}\leq{L+d}

Logo

d\sqrt{\dfrac{g}{2h}}\leq{V}\leq{(L+d)\sqrt{\dfrac{g}{2h}}}

Substituindo os valores numéricos fornecidos no enunciado

2,1 m/s\leq{V}\leq{4,9 m/s}

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Gabarito

2,1 m/s\leq{V}\leq{4,9 m/s}

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Questão 6:

O transporte de cargas, especialmente aquelas frágeis, exige uma acomodação adequada. Para um carregamento de caixas, é necessário que elas sejam presas ou justapostas a fim de não se movimentarem no interior do compartimento de cargas. Suponha uma situação na qual este cuidado não tenha sido observado e caixas idênticas, de massa m=80,0 kg, foram simplesmente empilhadas conforme ilustrado na figura abaixo. Determine a velocidade máxima, em km/h , que este caminhão pode trafegar, sem que as caixas escorreguem no compartimento em eventuais freadas totais que ocorrem em distâncias de no máximo d=10,0 m com desaceleração constante. Sabe-se que o menor coeficiente de atrito estático é aquele entre uma caixa e o assoalho do compartimento de carga e vale \mu = 0,500.

Assunto abordado

Leis de Newton, cinemática

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Solução

A força de atrito estático máxima para uma pilha de caixas é:

F_{at} = \mu M g

O caminhão desacelerar com uma desaceleração constante a. Em um referencial dentro do caminhão, isto gera uma força de inércia na pilha de caixas, sendo esta força:

F = Ma

Para que a caixa não escorregue, esta força deve ser menor ou igual á força de atrito máxima. No caso limite:

F_{at} = F

\mu M g =M a

a = \mu g

a = 0,5 * 10

a = 5 m/s^2

Aplicando a equação de Torricelli no caminhão:

V^2 = V_o^2 + 2 a \Delta S

0 = V_o^2 - 2*5 \Delta S

V_o^2 = 10 \Delta S

Para a velocidade ser máxima, \Delta S é máximo, que é no caso de ele ser igual a d=10 m. Logo:

V_o ^2=10*10

V_o = 10,0 m/s

Transformando para km/h

V_o = 36,0 km/h

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Gabarito

V_o = 36,0 km/h

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Questão 7:

Um estudante está investigando o fenômeno de flutuação e dissolução usando provetas graduadas em mililitros (ml), todas elas contendo inicialmente 100 ml de água pura. Ele ainda dispõe de sal de cozinha, limalha de ferro (densidade \rho_f = 8,00 g/ml) e um ovo de codorna de massa m e densidade \rho_o= 1,05 g/ml. Ao acrescentar sal de cozinha em uma delas observa que, para quantidades menores que 10,0 g, todo o sal se dissolve e o volume da solução permanece em 100 ml. Ao acrescentar uma massa m de limalha de ferro, igual à massa do ovo de codorna, observa que essa não se dissolve e o volume da água aumenta. Ao acrescentar o ovo de codorna em água pura, ele observa que o ovo afunda e o nível de água da proveta atinge o valor de 112 ml. (a) Determine a massa m_s, em gramas, do sal de cozinha que o estudante deve acrescentar na proveta com o ovo de codorna para que esse flutue livremente na solução, ou seja,  permaneça totalmente submerso sem tocas as paredes do recipiente. (b) Entre quais marcas está o nível do líquido da proveta na qual foi acrescentada a limalha de ferro? (c) O que acontece se o ovo de codorna é retirado da proveta com a água salgada e colocado na proveta com limalha de ferro? (Considere que o ovo de codorna se mantém inalterado, com volume fixo e sem ganho ou perda de matéria, nas situações experimentais descritas.)

Assunto abordado

Propriedades da matéria.

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Solução

a) Para que o ovo fique flutuando, o empuxo exercido sobre ele deve ser exatamente o seu peso. Dessa forma, temos:

E = P

\rho_l V_o g = \rho_o V_o g

\rho_l = \rho_o

Como a densidade do ovo é maior que a densidade da água(\rho_a =1,00 g/ml), adiciona-se sal à água. A nova densidade da solução vai ser:

\rho_l = \dfrac{m_a + m_s}{V_a}

Temos então:

\rho_o*V_a = m_a + m_s

m_s = \rho_o*V_a - m_a

m_s = 1,05*100 -100

m_s = 105-100

m_s =5,00 g

b) Na terceira proveta, ao colocar o ovo, observa-se que a marcação do nível de água aumenta de 100 ml para 112 ml. Essa variação de volume é causada pela adição do ovo, sendo este volume o volume do ovo. Assim:

V_o = 12 ml

E a massa de ovo m é:

m = \rho_oV_o

O volume de limalha de ferro para ter a mesma massa m será:

m = \rho_fV_f

\rho_oV_o = \rho_fV_f

V_f = \dfrac{\rho_oV_o}{\rho_f}

V_f = \dfrac{1,05*12}{8}

V_f = \dfrac{1,05*3}{2}

V_f = 1,5*1,05

V_f = 1,575

Ao colocar este volume de ferro na segunda proveta, pelo ferro não ser solúvel em água, ocorre um incremento do nível de água. A nova marcação será:

100 + 1,575 =101,575 ml

Que fica então entre as marcações de 101 ml e 102 ml.

c) Na proveta que tem a limalha de ferro, o ferro está depositado no fundo da proveta, e a densidade da água permanece inalterada já que o ferro não é dissolvido pela água. O ovo então, ao ser colocado nesta proveta, afunda, pois sua densidade é maior que a da água.

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Gabarito

a) m_s =5,00 g

b) 100 + 1,575 =101,575 ml

A água fica então entre as marcações de 101 ml e 102 ml.

c) O ovo afunda.

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Questão 8:

Uma carga de m=5,00 kg pode deslizar na superfície lisa, sem atrito, de um plano inclinado de \theta = 30,0^o. A carga está presa por uma corda ao centro de uma polia móvel que por sua vez se acopla a uma polia fixa através de outra corda. Essa tem uma de suas extremidades fixas, enquanto a outra é puxada por uma força horizontal constante \vec F. Veja figura abaixo. Assuma que as cordas e polias são ideais e que o sentido positivo da aceleração da caixa aponta para cima ao longo do plano inclinado. Determine a aceleração da caixa quando a intensidade da força horizontal aplicada é F = |\vec F| = 10,0 N.

Assunto abordado

Dinâmica: plano inclinado e polias

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Solução

Como a corda é ideal, todos os pontos da mesma estão submetidos a mesma força F. Por outro lado, a polia móvel, também ideal, possui massa 0, ou seja, a força resultante sentida por ela é nula. Logo, a força que a massa deve fazer na polia é 2F apontando para baixo do plano inclinado, a fim de anular a força resultante na polia móvel. Pela terceira lei de Newton, a polia exerce uma força 2F para cima do plano inclinado. Portanto, pela segunda lei de Newton

F_{Res}=2F-mg\sin{\theta}=ma

a=2F/m-g\sin{\theta}

Substituindo os valores fornecidos no enunciado, chegamos no resultado esperado

a=-1m/s^2

E, portanto, a caixa desce o plano inclinado.

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Gabarito

a=1m/s^2

Descendo o plano inclinado

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