OBF 2019 Segunda Fase - (Nível 3)

Escrito por Antônio Ítalo

Questão 1:

Para algumas situações específicas, é necessário que equipamentos eletrônicos funcionem adequadamente mesmo quando submetidos a acelerações extremas de até 8g, onde g é a aceleração da gravidade. Uma forma de testar esses equipamentos é através de uma plataforma oscilante. O teste é realizado fixando o equipamento à plataforma e posto a oscilar. Se a amplitude de oscilação da plataforma é ajustada para 2,00 cm, qual deve ser o ajuste de sua frequência de oscilação para que o equipamento seja testado dentro do intervalo de acelerações requerido?

Assunto abordado

Oscilações

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Solução

Em uma oscilação harmônica, vale:

a=-\omega^{2} x

Sendo assim, o valor máximo do módulo da aceleração é dado por:

a_{max}=\omega^{2} A

onde A é a amplitude da oscilação e \omega a frequência angular da oscilação. Essa aceleração máxima deve ser igual à:

8g=10,0 m/s^{2}

Substituindo o valor da amplitude, encontramos então que:

\omega^{2}=\dfrac{80}{0,02} s^{-2}

\omega^{2}=4000 s^{-2}

Sabemos que \omega= 2 \pi f, logo:

f^{2}=\dfrac{4000}{4*3,00^{2}} s^{-2}

Pois conforme indicado no início da prova, deve-se utilizar \pi=3,00. Sendo assim:

f=\dfrac{10}{3}\sqrt{10} Hz

Substituindo \sqrt{2}=1,40 e \sqrt{5}=2,20, temos:

f=\dfrac{10*1,40*2,20}{3} Hz= \dfrac{154}{15} Hz \approx 10,3 Hz

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Gabarito

f=\dfrac{154}{15} Hz \approx 10,3 Hz

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Questão 2:

Um avião ultraleve tem uma massa total (com o piloto) de 500 kg e uma velocidade de estol, velocidade mínima do avião para se sustentar no ar, igual a V=24,0 m/s. Considere que, sob as superfícies inferiores de suas asas, o ar escoa com velocidade 25% menor que V e , sobre as superfícies superiores das asas , o ar escoa com uma velocidade 25% maior que V. Estime a área total das asas do avião, sabendo que a densidade do ar é 1,20 kg/m^{3}.

Assunto Abordado

Hidrodinâmica

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Solução

Podemos aproximar as asas do avião para um paralelepípedo com espessura desprezível, possuindo área superior igual à área inferior e igual à A. Sendo assim, deve valer para a sustentação do avião:

\left( P_{inf}-P_{sup} \right) A = Mg

Mas podemos extrair a diferença de pressões pela equação de Bernoulli, note que as diferenças de altura são desprezíveis então não escreveremos esses termos na equação:

P_{sup}+\dfrac{\rho V_{sup}^{2}}{2}= P_{inf}+\dfrac{\rho V_{inf}^{2}}{2}

Sendo assim, temos:

\Delta P =\dfrac{\rho \left( V_{sup}^{2}-V_{inf}^{2} \right) }{2}

Note que:

V_{sup}^{2}-V_{inf}^{2}=V^{2}\left( 1,25^{2} - 0,75^{2} \right) =V^{2}

Logo, substituindo \Delta P, encontramos:

A=\dfrac{2Mg}{\rho V^{2}}

Mas note que a área total das asas será a soma da área superior com a inferior, (desprezando as laterais). Sendo assim:

A_{tot}=\dfrac{4Mg}{\rho V^{2}}

Substituindo, encontramos:

A_{tot} \approx 28,9 m^{2}

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Gabarito

A_{tot} \approx 28,9 m^{2}

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Questão 3:

Tubos de raios catódicos, semelhantes aos tubos de imagem de televisores antigos e modernos aceleradores de partículas, usam campos magnéticos para desviar feixes de íons. Considere um desses feixes em que os íons tem massa m e carga elétrica q, e que se movem com energia cinética E_{c} não relativística. Ao entrar em uma região R de campo magnético \vec{B} uniforme, esse feixe deve ser desviado do anteparo colocado a uma distância x do ponto de entrada em R, conforme ilustrado na figura abaixo. Considerando que a magnitude do campo magnético é ajustável, determine o menor valor de B= |\vec{B}| que faz o feixe sair de R sem colidir com o anteparo. (Em sua resolução admita que a força gravitacional é desprezível.)

Assunto Abordado

Força magnética

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Solução

Sabemos que a trajetória de cada partícula do feixe será uma circunferência, sendo assim, no caso limite em que o feixe não atinge o anteparo, essa circunferência deverá tangenciar o anteparo, tendo então raio x. Calculemos o raio dessa circunferência:

qVB=\dfrac{mV^{2}}{R}

R=\dfrac{mV}{qB}

Sendo assim, igualemos esse raio à x:

x=\dfrac{mV}{qB}

B=\dfrac{mV}{qx}

Mas sabemos que:

E_{c}=\dfrac{mV^{2}}{2}

Logo:

V=\sqrt{\dfrac{2E_{c}}{m}}

Substituindo:

B=\dfrac{\sqrt{2mE_{c}}}{qx}

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Gabarito

B=\dfrac{\sqrt{2mE_{c}}}{qx}

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Questão 4:

Uma bolha de ar de 10,0 cm^{3} escapa de um navio naufragado a 50,0 m de profundidade, onda a temperatura é 15,0 ^{\circ}C, e emerge até a superfície onde a temperatura é 25,0 ^{\circ} C. Considere que o ar se comporta como um gás ideal e, à medida que se desloca, o ar da bolha se equilibra termicamente com a água ao redo. Determine o volume da bolha ao chegar á superfície.

Assunto abordado

Gases e hidrostática

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Solução

Pela lei geral dos gases ideais, vale:

\dfrac{P_{0}V_{0}}{T_{0}}=\dfrac{PV}{T}

Note que, pelo teorema de Stevin:

P_{0}=P+\rho g H

Sendo assim, temos:

V=\dfrac{\left(1+\dfrac{\rho g H}{P} \right)T}{T_{0}}V_{0}

Substituindo o valor da pressão atmosférica fornecido no início da prova P=1,00*10^{5} Pa, as temperaturas em Kelvin, a densidade da água (fornecida no início da prova como 1000 kg/m^{3}), a gravidade (fornecida no início da prova como 10,0 m/s^{2}) e a profundidade:

V=\dfrac{\left(1+5 \right)298}{288} * 10,0 cm^{3}

V \approx 62,1 cm^{3}

Convertendo para o S.I. :

V \approx 6,21*10^{-5} m^{3}

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Gabarito

V \approx 6,21*10^{-5} m^{3}

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Questão 5:

Um fenômeno comum em regiões muito frias é o congelamento dos lagos. A água dos lagos sob o gelo permanece aproximadamente a 0,00 ^{\circ} C, pois a camada de gelo acima funciona como um isolante térmico. Porém, se a temperatura do ar é mais fria, a camada de gelo vai crescendo de cima para baixo. Considere a situação em que a temperatura ambiente é -15,0 ^{\circ} C. Dados a condutividade térmica do gelo k=5,00*10^{-3} cal/\left(s \cdot cm \cdot K \right), estime a taxa média de crescimento da camada de gelo, em centímetros por hora, quando ela tem uma espessura de l=3,00 cm.

Assunto Abordado

Condução térmica e Calorimetria

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Solução

Sabemos que a potência térmica devido à condução fornecida à água é:

Pot=\dfrac{kA \Delta T}{l}

Mas, pela calorimetria do sistema sabemos que:

\Delta E= L \Delta M_{gelo}=A\,L\,\rho_{gelo} \Delta l

Sendo assim, vale:

Pot=A\,L\,\rho_{gelo} U

Onde U é justamente a taxa de crescimento da camada de gelo. Igualando as expressões para potencia, temos:

U=\dfrac{k \Delta T}{l \, L \, \rho_{gelo}}

Note contudo que não temos como informação a densidade do gelo, portanto, para efeitos de estimativa, podemos aproximá-la para a densidade da água fornecida no início da prova:

\rho_{gelo} \approx 1,00 g/cm^{3}

Substituindo, encontramos:

U=1,125 cm/h \approx 1,13 cm/h

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Gabarito

U=1,125 cm/h \approx 1,13 cm/h

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Questão 6:

Charles Darwin ficou fascinado com as aranhas que pousavam no convés do HMS Beagle quase dois séculos atrás. Sem asas, as aranhas chegavam ao barco, a 100 km da costa da América do Sul. Como? Novas pesquisas revelam como isso acontece. As aranhas "voam" graças a um processo conhecido como "balonização". Essas aranhas produzem fios de seda, que eletrizados estaticamente, forma "velas" que as transportam. A figura I abaixo representa, esquematicamente, uma aranha "voando" graças à ação do vento. (Trecho adaptado da revista National Geographic - Brasil, edição de maio de 2019.)

A repulsão eletrostática entre os fios é a responsável pelo ângulo de abertura da "vela" de uma aranha voadora. Considere um modelo bastante simplificado para descrever essa abertura no qual a carga q e massa m de um fio de teia de aranha, ao invés de estarem distribuídas ao longo de seu comprimento, estão concentradas em uma única partida localizada na sua extremidade final. As extremidades iniciais do fio estão unidas em um único ponto fixo preso no corpo da aranha. Para simplificar ainda mais, considere o caso no qual a "vela" é formada por apenas dois fios idênticos de comprimento l e não há ação dos ventos. Logo, existe uma configuração na qual os fios permanecem pendurados, estáticos, sob a ação do campo gravitacional, das forças eletrostática e, naturalmente, das forças necessárias para manter suas extremidade iniciais fixas. A figura II abaixo representa esse modelo. Determine o valor da carga q supondo que o equilíbrio ocorre para \theta=60,0^{\circ} em uma "vela" no qual l=2,00 cm. Tipicamente, a densidade da seda de aranha é 0,200 g/cm^{3} e um fio de teia tem diâmetro de 2,00 \mu m.

Assunto Abordado

Eletrostática

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Solução

Primeiramente, calculemos a massa m de cada fio:

m=\rho V= \rho \pi \dfrac{d^{2}}{4} l

Substituindo (com \pi=3), encontra-se:

m=1,2*10^{-11} kg

Agora, escrevamos a condição de equilíbrio para uma carga na vertical:

mg=T\cos \left( \dfrac{\theta}{2} \right)

Na horizontal, então:

\dfrac{kq^{2}}{\left(2l \sin \left( \dfrac{\theta}{2} \right) \right)^{2}} =T \sin \left( \dfrac{\theta}{2} \right)

Divindo as duas equações obtemos:

\tan \left( \dfrac{\theta}{2} \right)=\dfrac{kq^{2}}{4mgl^{2} \sin^{2} \left( \dfrac{\theta}{2} \right)}

q=2l \sin \left( \dfrac{\theta}{2} \right) \sqrt{\dfrac{mg \tan \left( \dfrac{\theta}{2} \right)}{k}}

Substituindo os valores fornecidos e o valor de m calculado anteriormente, fazendo também a aproximação: \sqrt{1,7}=1,3, encontramos:

q \approx 1,7 * 10^{-12} C

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Gabarito

q \approx 1,7* 10^{-12} C

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Questão 7

Pequenas bolinhas de vidro maciço, de índice de refração n_v = 1,30, são brinquedos tradicionais em muitas regiões do Brasil. Dependendo da região em que se vive, são conhecidas como bolas de gude, bolitas, balebas, etc. Considere uma bolinha de vidro transparente de 20,0 mm de diâmetro na qual, durante sua fabricação, ficaram aprisionadas duas minúsculas bolhas de ar. Uma bolha (bolha A) ficou exatamente no centro da bolinha e a outra (bolha B) a 5,00 mm de sua superfície. Considere que uma pessoa aproxima a bolinha de vidro de seu olho, direcionando sua visão para as bolhas de ar, com a bolha B mais próxima de si. A que distância, ao longo da linha de visada e em relação à superfície da bolinha, ela vê as imagens (a) da bolha A e (b) da bolha B?

Assunto abordado

Dioptros esféricos

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Solução

Para a resolução do problema é necessário que o aluno conheça a equação que localiza a imagem de um objeto em um processo de refração num dioptro. Caso não esteja familiarizado com isso, veja a demonstração abaixo. O nosso objetivo é determinar a distância imagem, dado a distância objeto, índices de refração e o raio de curvatura da superfície onde ocorre a refração. Observe o diagrama abaixo, que contém todos os paramêtros relevantes

Pela lei de snell

n_1\sin{{\theta}_1}=n_2\sin{{\theta}_2}

Também temos que

{\theta}_1=\alpha+\beta

e

\beta=\gamma+{\theta}_2

A partir daqui consideremos somente raios paraxaiais, ou seja, com \alpha, \beta e \gamma pequenos. Nesse regime, temos

{\alpha}\approx{l/s}

{\beta}\approx{l/r}

{\gamma}\approx{l/s}

Agrupando essas equações chegamos na equação do dioptro esférico

\dfrac{n_1}{s}+\dfrac{n_2}{s\prime}=\dfrac{n_2-n_1}{r}

Para generalizar o resultado tanto para superfícies convexas quanto para côncavas, é interessante adotar a seguinte convenção de sinais

1- A distância s é positiva se o objeto está lado da luz incidente.

2- A distância s\prime é positiva se a imagem está no lado da luz refratada.

3- r é positivo se o centro de curvatura (ponto C na figura) está no lado da luz refratada.

Agora, voltemos para o problema. Observe que n_1 é o índice de refração do meio onde está o objeto. No presente caso, esse meio é a da bolha (índice de refração 1,30) e o meio da luz refratada é o ar.

a)

\dfrac{1,30}{10 mm}+\dfrac{1}{s_a}=\dfrac{1-1,30}{-10 mm}

Isso gera, em módulo (a distância é negativa pois é virtual, gerada dentro da bolha)

s_a=10^{-2} m

b) O processo é análogo, a única diferença é que a distância objeto agora é 5 mm. Aplicando a equação do dioptro, obtemos (em módulo, novamente)

s_b=4,35.10^{-3} m

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Gabarito

a)

s_a=10,0.10^{-3} m

 

b)

s_b=4,35.10^{-3} m

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Questão 8

Uma estrela de nêutrons é composta essencialmente por nêutrons que estão ligados por meio da atração gravitacional mútua. Tais estrelas possuem uma densidade \rho comparável à de um núcleo atômico, que é de aproximadamente 10^{14} g/{cm}^3, e algumas possuem uma frequência de rotação de f_0 = 500 Hz. Considerando que uma estrela de nêutrons seja uma esfera homogênea, e que a Lei da Gravitação Universal de Newton possa ser aplicada em uma primeira aproximação, (a) determine a frequência máxima f_M com a qual essa estrela pode girar, sem que sua massa se desprenda do equador. (b) Qual a diferença relativa entre o valor modelado e o valor observado (f_M-f_0)/f_0? Assuma o valor da constante de gravitação universal como sendo G=6,7.10^{-11} m^3/(s^2 \cdot kg)

Assunto abordado

Gravitação

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Solução

a) Considere uma partícula de massa m no equador e não se esqueça que o referencial fixado à esfera é não inercial, pois a mesma está rotacionando. Dado que a estrela como um todo rotaciona com uma frequência \omega, devemos ter, no equador

mg\geq{m{\omega}^2R}          (1)

Onde R é o raio da estrela. Isso se deve ao que, no referencial da esfera girante, atuam o peso e a força centrífuga, a última por sua vez aponta para fora. Caso o contrário fosse verdadeiro, essa partícula teria um peso efetivo (soma da atração gravitacional com a força centrífuga) apontando radialmente para fora, ocasionando o despredimento de massa. Essa situação é parecida com a qual vivemos aqui na Terra: no equador a gravidade efetiva sentida por uma pessoa é g-{\omega}^2R_T. Como o período da terra é de 24 horas, achamos o \omega. Com o valor de g e R_T calculamos essa gravidade efetiva. No caso da terra, a diferença é pouca. Observe que não distinção entre g e g_e nos polos de um planeta. Lá o raio de giro é nulo, portanto, não há força centrífuga, e seu peso efetivo é igual ao peso real (dado pelo produto mg). Depois dessa análise, voltando para o problema, vemos que a condição necessária implica que, utilizando o valor de g na superfície da estrela

\dfrac{GM}{R^2}\geq{{\omega}^2R}

Observe que para uma esfera maciça

M=(4/3){\pi}R^3{\rho}

Ou seja

\dfrac{M}{R^3}=(4/3){\pi}{\rho}          (2)

Usando as equações (1) e (2), obtemos \omega e consequentemente f=\omega/{2\pi}

f\leq{\dfrac{\sqrt{G{\rho}}}{3}}          (3)

Evidentemente, f_M é obtido tornando a igualdade em (3):

f_M=862,8 Hz

Aqui foi usado \pi=3.

b) Esse item consiste simplesmente na substituição dos valores de f_0 e f_M, o valor obtido é, aproximadamente

0,726

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Gabarito

a) 862,8 Hz

b) 0,726

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