Escrito por Ualype Uchôa e Antônio Ítalo
Questão 1
Considere uma sala em forma de paralelepípedo de lados , é . A altura da sala é dada por e o piso retangular tem lados e . Em um dado instante, uma formiga e uma mosca estão no ponto , que é um dos vértices do piso. Por alguma razão qualquer, ambas querem atravessar a sala, indo ao ponto , localizado no teto, e que está na mesma diagonal principal do paralelepípedo que passa por . Sabendo que ambos podem andar por quaisquer superfícies, inclusive paredes verticais, mas somente a mosca pode voar, determine a menor distância que cada inseto deve percorrer para atingir o ponto .
Geometria
Seja o ponto de partida dos insetos, e o ponto de chegada, com o segmento sendo a diagonal principal do paralelepípedo. Lembrando que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta que passa por estes, o menor caminho que a mosca pode realizar é ir voando em linha reta de A até B. Chame de o comprimento deste trajeto. Utilizando o Teorema de Pitágoras duas vezes, temos:
Substituindo os valores dados:
Usando o valor fornecido de :
.
Para a formiga, a análise do caminho mínimo torna-se menos trivial. Para uma melhor visualização, planifiquemos o sólido geométrico, conforme mostrado a seguir.
Ora, para que a distância percorrida seja mínima, a formiga deve mover-se ao longo da linha tracejada(ela percorre parte do trajeto em uma parede, e o restante ao longo do teto), pois a mínima distância entre dois pontos é uma reta. Chamando de essa distância, temos, novamente, pelo Teorema de Pitágoras:
Substituindo:
Não foi fornecido o valor , mas podemos aproximá-lo, fazendo as contas, para , obtendo:
.
Adendo: Observe que, caso trocássemos a posição dos lados e , obteríamos uma resposta diferente para o caminho percorrido pela formiga:
.
Contudo, esse caminho é maior do que o achado anteriormente, logo, não corresponde à menor distância que a formiga pode percorrer. Existe, ainda, outra forma de planificar a figura, que também resulta em um valor diferente para , que é maior ainda que os outros dois achados anteriormente.
Questão 2
Um estudante observa que sua família, por comodidade, prefere secar as roupas em uma máquina elétrica ao invés de pendurá-las no varal, onde o clima em geral seco de sua região, as secaria sem custo. Para estimar o gasto mensal com a máquina de secar, o estudante seleciona uma amostra representativa das roupas da casa que, quando secas, têm massa e, quando úmidas (logo após lavadas e torcidas ou centrifugadas, ou seja, prontas para ir para o varal ou secadora), têm massa de . Considerando que, na máquina, o calor usado para secar a roupa vem da eletricidade, estime o custo mensal para secar as roupas na secadora sabendo que em média, por mês, são lavados de roupas e o custo do energia elétrica na região é de .
Calorimetria
Deve-se perceber que a diferença de massa depois da secagem é proveniente da água que evaporou durante o processo, que é posterior ao de lavagem. Primeiramente, façamos uso de uma proporção simples com os dados do enunciado para encontrar a massa das roupas molhadas no processo mensal (perceba que é a massa apenas das roupas secas ou antes de serem lavadas), e deste número subtraímos os de forma a obter a massa de água evaporada:
O calor necessário em calorias para a evaporação foi, então (note que, em primeira aproximação, podemos desconsiderar o calor sensível, visto também que nada foi informado sobre a temperatura inicial da água):
Em joules:
Façamos, então, uma nova proporção para encontrar o custo C desse processo, em reais, dado que correspondem à :
Questão 3
Uma bola cai verticalmente sobre um plano inclinado de e, ao colidir com ele no ponto , é lançada em uma direção que forma um ângulo de com a vertical, conforme indicado na figura abaixo. A bola atinge novamente o plano inclinado no ponto , que está a uma altura abaixo de . Determine (a) o intervalo de tempo que a bola demora para ir de a e (b) a intensidade da velocidade da bola em .
Cinemática: Lançamento Oblíquo
a) Um bom jeito de analisar a questão é mudar de perspectiva, rotacionando o plano e estudar o movimento do projétil ao longo deste, com os eixos e sendo respectivamente tangencial e normal ao plano, com o positivo apontando plano abaixo (no eixo ) e para fora do plano (no eixo ), e origem no ponto . Desta forma, o movimento passa a ser acelerado em ambos os eixos, com uma aceleração horizontal de e uma vertical . Com um pouco de observação, é fácil ver que a inclinação do vetor velocidade inicial com respeito ao plano é de . Primeiramente, escrevamos a equação horária da posição no eixo horizontal:
Usando a equação horária no eixo , encontramos o tempo total de vôo impondo que , e escolhemos a raiz diferente de zero, pois esta corresponderia ao instante inicial:
Sendo o alcance ao longo do plano, podemos substituir para obtermos :
Substituindo em , e usando , onde , temos, por fim:
Substituindo os valores numéricos:
.
b) Podemos usar a equação de Torricelli em ambos os eixos, e então utilizar o Teorema de Pitágoras, haja vista que essas velocidades são ortogonais entre si. Logo, temos que:
Temos , logo:
Em :
Logo:
Substituindo os dados:
.
Questão 4
Um aluno de física está estudando simulações computacionais e faz um aplicativo no qual um pequeno quadrado, de lado , se move retilineamente na região entre duas paredes também móveis. O quadrado tem velocidade de módulo constante e, ao colidir com as paredes, inverte imediatamente o sentido de seu movimento. As paredes se movem com velocidades de módulo constantes, porém a parede se move para direita e a parede para a esquerda. A figura abaixo, fora de escala, representa o sistema no início da simulação, instante , no qual a distância entre as paredes é e o quadrado está em contato com a parede . A simulação termina no instante em que o quadrado entra em contato simultâneo com as duas paredes e, portanto, não pode mais se mover. ( e são medidas em relação à tela do computador). Determine: (a) o intervalo de tempo de duração da simulação e (b) o instante em que ocorre a quarta colisão com uma parede.
Cinemática: MRU
a) Note que, pela igualdade das velocidades das placas, é necessário que o final da simulação ocorra com o quadrado no centro das placas, sendo assim, vale:
Substituindo, obtemos:
b) Chame de (onde ) o intervalo de tempo entre a (i-1)-ésima e a i-ésima colisão. Desta forma, é o intervalo de tempo até a primeira colisão, é o intervalo de tempo entre a primeira e a segunda colisão, e assim por diante. Entremos no referencial da placa à esquerda, subtraindo, então, para a esquerda de todos os móveis. Temos então que a placa da direita sempre se moverá com para a esquerda, e o quadrado com para a direita ao se afastar da placa esquerda, e para a esquerda ao aproximar-se dela. Convencionando o sentido positivo para a direita, temos, até a primeira colisão:
Seja :
Para a segunda colisão, a distância entre o quadrado e a placa é de . Logo:
Para a terceira colisão, a distância entre o quadrado e a placa direita é de , então:
Por fim, analisemos a quarta colisão, quando a distância entre o quadrado e a placa é de :
Nos foi pedido o tempo até a quarta a colisão. Sendo ele , tem-se:
Que pode ser reescrito como:
Substituindo os valores fornecidos, encontramos:
a)
b) .
Questão 5
A Lua vista da Terra é um fenômeno que vem nos fascinando desde os primórdios da Humanidade. Parte I, faça um diagrama que explique as fases da Lua no qual (1) a Terra ocupa a posição central, (2) é representada a trajetória da Lua em período orbital, (3) é indicado a direção aproximada dos raios solares e (4) é apresentado a Lua em quatro posições correspondentes às suas quatro fases. Parte II, (a) o que é o lado oculto da Lua?, (b) que condições o movimento lunar deve satisfazer para que ele exista? e (c) Faça uma cópia do diagrama feito na parte II e represente, em cada posição da Lua, a sua face oculta.
Conceitos de Astronomia: Fases da Lua
Parte I: Vide diagrama a seguir:
Onde a Terra está representada em azul, e os raios de luz vindos do sol chegam praticamente paralelos. A órbita da Lua em torno do Terra também está indicada, junto às setinhas, que indicam o sentido da translação da Lua ao redor do nosso planeta. A porção branca da lua corresponde à parte visível (iluminada pelo Sol) e a porção escura à parte que não está iluminada pelo sol.
Parte II:
a) O lado oculto da Lua é o hemisfério da lua que não pode ser visto por nenhum observador terrestre; isto é, sempre vemos um mesmo lado da lua, enquanto o outro lado permanece oposto.
b) O período de revolução da Lua em torno da Terra deve ser igual ao seu período de rotação em torno do próprio eixo, pois, assim, ambos os giros se compensam e nós nunca conseguiremos ver o outro lado da Lua.
c) Usando os conhecimentos dos itens a) e b), copiamos o diagrama da parte 1, com o lado oculto da Lua representado em vermelho:
Ver solução.
Questão 6
Um estudante de física deseja estimar a profundidade de um poço. Ele dispara o cronômetro no instante em que abandona uma pedra sobre sua boca e observa que levou para ouvir o som da pedra atingindo a água. Assumindo que a velocidade do som é , qual a profundidade do poço?
Cinemática
O tempo que levará para o estudante ouvir o som é a soma do tempo que levou para a pedra cair com o tempo que levou para o som subir, sendo assim:
Isolando o termo com a raiz quadrada e elevando ambos os lados da equação ao quadrado, temos:
Simplificando:
Aplicando Bháskara:
Como escolhemos o sinal correto? Podemos analisar o caso limite , onde deve ser igual à zero. Para isso ocorrer, devemos escolher o sinal negativo. Para facilitar os cálculos numéricos, note que:
Portanto, podemos utilizar a aproximação binomial para facilitar os cálculos numéricos:
Utilizando a aproximação binomial, obtemos:
Substituindo, obtemos:
Questão 7
Um prumo é um instrumento usado determinar a direção vertical em determinado ponto. Em cada ponto da Terra, a direção do zênite é dada pela linha imaginária que liga o ponto ao centro da Terra. Devido à rotação da Terra, a linha do prumo é, em geral, ligeiramente desviada em relação à direção do zênite. Na figura abaixo, o laboratório hipotético está localizado exatamente sobre o polo Norte. O conjunto formado por fios ideais, um dinamômetro e uma massa , pendurado num ponto fixo do teto, funciona como um prumo. Na posição do laboratório , a linha do zênite é indicada pelo eixo e vemos que coincide com a linha do prumo, que está sendo tensionada por uma tração . O laboratório hipotético está localizado em uma cidade costeira exatamente sobre o paralelo de latitude sul. Nesse laboratório, a direção do zênite é indicada pelo eixo e é pendurado um prumo exatamente igual ao anterior. No laboratório , a linha de prumo é tencionada por uma tração e sua direção está desviada da direção do zênite por um ângulo , que está representado, fora da escala, na figura abaixo. Determine (a) o ângulo e (b) o desvio relativo de em relação à , ou seja . (c) Qual a orientação do eixo representado na figura em relação aos pontos cardeais do laboratório ? Considere a Terra esférica, com raio .
Referenciais não inerciais: Efeitos da rotação terrestre na gravidade
a) Para a análise do fenômeno, observe o esquema a seguir (fora de escala), onde podemos ver a terra, de raio , girando em torno do seu próprio eixo (linha tracejada) com velocidade angular :
Para um corpo de prova na superfície a uma latitude (que pode estar associada ao hemisfério Norte ou Sul), desenhamos as acelerações (ou gravidades) às quais este está submetido, no seu próprio referencial, que é não-inercial. A gravidade é devido à atração gravitacional entre os corpos, e tem módulo . Contudo, ainda há uma gravidade fictícia devido à força centrífuga, produzida pelo efeito de rotação e que possui módulo , onde é a distância do ponto ao eixo, isto é, . Logo, o corpo estará submetido à uma gravidade total efetiva que chamaremos de . Note que, nos pólos, essa gravidade tem valor máximo e igual à , pois o efeito rotacional é nulo. Utilizando lei dos cossenos no triângulo de vetores, temos que:
De antemão, façamos uma estimativa da velocidade angular da terra, sabendo que seu período de rotação é de :
Que é um valor muito pequeno, o que nos permite desprezar o termo . Reescrevendo a expressão:
É evidente que . Logo, utilizaremos a aproximação para :
Substituindo os valores:
.
Para descobrirmos o desvio angular (que é o ângulo entre os vetores e ), usemos Lei dos Senos:
Substituindo os valores numéricos:
Como , vale a aproximação , desta forma:
Em graus:
Onde foi usado .
b) Como fora visto no item a), a gravidade sentida pelo prumo é , de tal forma que . Já a tração , então, calculamos o desvio relativo:
c) Observe a figura a seguir (fora de escala), que representa a terra vista de perfil:
Em azul estão representados os eixos e ; em laranja, a direção da gravidade efetiva; em preto, uma das linhas tracejadas representam a direção Norte-Sul, e a outra a linha do Equador. Está representado também o Polo Sul . Perceba que o esquema está correto, pois a gravidade efetiva aponta para algum ponto no plano do Equador no lado direito da figura (primeiro quadrante). Para que analisemos a orientação do eixo em relação aos pontos cardeais do laboratório, observe que a direção Norte-Sul cruza com este eixo em algum ponto no espaço. Um observador do laboratório que olha "em direção a esse ponto" estará mirando o ponto cardeal sul(pois ele encontra-se no Hemisfério Sul). Desta forma, o sentido oposto corresponde ao ponto cardeal Norte, que é exatamente o sentido positivo do eixo .
a)
b)
c) A orientação do eixo é positiva no sentido do ponto cardeal Norte.
Questão 8
"Konstantin S. Novoselov, na cerimônia de entrega do prêmio Nobel de Física de 2010 que ganhou, juntamente com Andre Geim, iniciou sua palestra dizendo: Muito parecido com o mundo descrito no romance "Planolândia: Um Romance em Muitas Dimensões", de E. A. Abbot, o grafeno é muito mais do que apenas um cristal plano. Ele possui um número de propriedades incomuns que são frequentemente únicas ou superiores às de outros materiais."(Traduzido e adaptado de www.nobelprize.org/uploads/2018/06/novoselov_lecture.pdf.)
O Grafeno é um cristal bidimensional formado por átomos de carbono localizados nos vértices de uma rede hexagonal, conforme representado na figura abaixo. Entre as inúmeras propriedades da "Planolândia", o grafeno é o material mais resistente já testado. Um metro quadrado de grafeno (com a espessura de um só átomo!), consegue sustentar um peso de 40N (de um gato). Considerando que a distância entre dois átomos de carbono no grafeno é
( ) e que a massa molar do carbono é , determine aproximadamente a massa de uma película de grafeno de .
Geometria e Conceitos básicos
Para determinarmos a massa, primeiramente, devemos saber o número de átomos da estrutura, que possui . Uma ótima estimativa deste número se dá através da construção de triângulos equiláteros na figura original, de tal forma que cada triângulo englobe um único átomo, de acordo com a figura a seguir, onde está representada uma porção do arranjo molecular da estrutura, onde os átomos estão em preto:
Observe que os vértices destes triângulos passam pelo centro dos hexágonos. Dando um pequeno "zoom", partiremos para a geometria do problema:
Observe o : seu lado será dado por:
. A altura por sua vez, será:
.
Obtemos, então, a área de cada triângulo:
Dividindo-se a área total da película de grafeno pela área de um triângulo, obteremos o número de átomos (haverão pequenos efeitos de borda que podem ser desprezados):
Substituindo os dados do problema e usando , obtém-se:
Façamos, então, uma proporção com o número de Avogadro para encontrar a massa correspondente, dada a massa molar do carbono de e sabendo que equivale à átomos: