Escrito por Antônio Ítalo, Paulo Henrique e Ualype Uchôa
Questão 1 (exclusiva para alunos da série)
Um estudante observa que sua família, por comodidade, prefere secar as roupas em uma máquina elétrica ao invés de pendurá-las no varal, onde o clima em geral seco de sua região, as secaria sem custo. Para estimar o gasto mensal com a máquina de secar, o estudante seleciona uma amostra representativa das roupas da casa que, quando secas, têm massa e, quando úmidas (logo após lavadas e torcidas ou centrifugadas, ou seja, prontas para ir para o varal ou secadora), têm massa de . Considerando que, na máquina, o calor usado para secar a roupa vem da eletricidade, estime o custo mensal para secar as roupas na secadora sabendo que em média, por mês, são lavados de roupas e o custo do energia elétrica na região é de .
Calorimetria
Deve-se perceber que a diferença de massa depois da secagem é proveniente da água que evaporou durante o processo, que é posterior ao de lavagem. Primeiramente, façamos uso de uma proporção simples com os dados do enunciado para encontrar a massa das roupas molhadas no processo mensal (perceba que é a massa apenas das roupas secas ou antes de serem lavadas), e deste número subtraímos os de forma a obter a massa de água evaporada:
O calor necessário em calorias para a evaporação foi, então (note que, em primeira aproximação, podemos desconsiderar o calor sensível, visto também que nada foi informado sobre a temperatura inicial da água):
Em joules:
Façamos, então, uma nova proporção para encontrar o custo C desse processo, em reais, dado que correspondem à :
Questão 2 (exclusiva para alunos da série)
Um aluno de física está estudando simulações computacionais e faz um aplicativo no qual um pequeno quadrado, de lado , se move retilineamente na região entre duas paredes também móveis. O quadrado tem velocidade de módulo constante e, ao colidir com as paredes, inverte imediatamente o sentido de seu movimento. As paredes se movem com velocidades de módulo constantes, porém a parede se move para direita e a parede para a esquerda. A figura abaixo, fora de escala, representa o sistema no início da simulação, instante , no qual a distância entre as paredes é e o quadrado está em contato com a parede . A simulação termina no instante em que o quadrado entra em contato simultâneo com as duas paredes e, portanto, não pode mais se mover. ( e são medidas em relação à tela do computador).
(a) Determine intervalo de tempo de duração de uma simulação .
(b) Seja , , o intervalo entre dois contatos sucessivos do quadrado com as
paredes (, é o intervalo de tempo para a primeira colisão, é o intervalo de tempo
entre a primeira e segunda colisões, etc). Obtenha uma expressão geral para em
função de e dos demais parâmetros do problema.
(c) Use os resultados dos dois itens anteriores e mostre que o intervalo de tempo da simulação
pode também ser obtido pela soma dos intervalos de tempo entre colisões sucessivas, ou
seja, .
Cinemática e Progressões Geométricas
a) Note que, pela igualdade das velocidades das placas, é necessário que o final da simulação ocorra com o quadrado no centro das placas, sendo assim, vale:
Substituindo, obtemos:
b) Analisemos o tempo entre a -ésima colisão e a -ésima colisão, . Pelo conceito de velocidade relativa, esse tempo deve valer:
Onde é a distância entre as placas quando ocorre a -ésima colisão. Note que, pelo conceito de velocidade relativa, temos:
Agora, devemos pensar fisicamente para resolver essas duas relações e achar o valor de para qualquer . Sabemos que ao somar todos os valores de devemos obter um valor finito e, além disso, conforme for aumentando para infinito deve se aproximar de zero. Pensemos agora sobre o valor de . Esse valor deve ser tal que quando for aumentando para infinito se aproxime cada vez mais de . Uma possível solução para que podemos explorar é uma P.G. de razão menor que , pois esse tipo de série possui uma soma convergente e seus termos se aproximam cada vez mais de zero. Escrevemos então:
Onde e são constantes a serem determinadas. Substituindo na primeira equação, obtemos:
Substituindo ambas as equações:
Sendo assim, podemos calcular a partir do :
Logo, o termo geral é:
Substituindo, , , e , obtemos:
c) Agora, temos que o tempo total de simulação é:
Logo:
O somatório acima para tem valor igual à:
Logo:
Substituindo e , obtemos:
a)
b)
c)
Questão 3
"Cientistas da Inglaterra descobriram que a penugem de certas mariposas absorvem do som incidente. De acordo com os pesquisadores o tegumento das mariposas funciona como uma camuflagem acústica para os cliques ultrassônicos de morcegos caçadores de insetos. (Adaptado de www.physicsworld.com/
/a/moths-use-acoustic-camouflaging-fur-to-evade-bats/, acesso 30/11/2018.)"
Considere uma espécie de morcego que consegue ecolocalizar (detectar) presas que não têm defesa passiva, isto é, que refletem totalmente o som incidente, até no máximo m. Determine, para esses morcegos, o alcance de ecolocalização das mariposas que dispõem dessa camuflagem acústica. Em suas considerações, assuma que as ondas sonoras se propagam esfericamente.
Ondas Esféricas e intensidade sonora
Para resolução dessa questão, é necessário saber somente que a intensidade sonora de uma onda esférica cai com o inverso do quadrado da distância até a fonte, sendo assim, chamando essa constante de , podemos calcular a distância máxima que essas mariposas com camuflagem acústica podem estar de forma que o morcego ainda as identifique. Nessa situação, a intensidade sonora recebida pelo morcego deve ser a mesma que a de quando localiza uma mariposa comum à de distância:
Questão 4
"Konstantin S. Novoselov, na cerimônia de entrega do prêmio Nobel de Física de 2010 que ganhou, juntamente com Andre Geim, iniciou sua palestra dizendo: Muito parecido com o mundo descrito no romance "Planolândia: Um Romance em Muitas Dimensões", de E. A. Abbot, o grafeno é muito mais do que apenas um cristal plano. Ele possui um número de propriedades incomuns que são frequentemente únicas ou superiores às de outros materiais."(Traduzido e adaptado de www.nobelprize.org/uploads/2018/06/novoselov_lecture.pdf.)
O Grafeno é um cristal bidimensional formado por átomos de carbono localizados nos vértices de uma rede hexagonal, conforme representado na figura abaixo. Entre as inúmeras propriedades da "Planolândia", o grafeno é o material mais resistente já testado. Um metro quadrado de grafeno (com a espessura de um só átomo!), consegue sustentar um peso de 40N (de um gato). Considerando que a distância entre dois átomos de carbono no grafeno é
( ) e que a massa molar do carbono é , determine aproximadamente a massa de uma película de grafeno de .
Geometria e Conceitos básicos
Para determinarmos a massa, primeiramente, devemos saber o número de átomos da estrutura, que possui . Uma ótima estimativa deste número se dá através da construção de triângulos equiláteros na figura original, de tal forma que cada triângulo englobe um único átomo, de acordo com a figura a seguir, onde está representada uma porção do arranjo molecular da estrutura, onde os átomos estão em preto:
Observe que os vértices destes triângulos passam pelo centro dos hexágonos. Dando um pequeno "zoom", partiremos para a geometria do problema:
Observe o : seu lado será dado por:
. A altura por sua vez, será:
.
Obtemos, então, a área de cada triângulo:
Dividindo-se a área total da película de grafeno pela área de um triângulo, obteremos o número de átomos (haverão pequenos efeitos de borda que podem ser desprezados):
Substituindo os dados do problema e usando , obtém-se:
Façamos, então, uma proporção com o número de Avogadro para encontrar a massa correspondente, dada a massa molar do carbono de e sabendo que equivale à átomos:
Questão 5
Muito antes da existência dos atuais refrigeradores, alguns povos antigos desenvolveram uma técnica para a produção de gelo. Em uma noite sem luar, na qual a temperatura é de , é possível obter gelo ao colocar uma certa quantidade de água sobre um recipiente de área de , devidamente isolado em sua base, por exemplo com palha, e deixando-o exposto por aproximadamente horas. Esse fenômeno é explicado pelas trocas de energia por radiação térmica entre o corpo e o céu noturno. Em regiões desérticas onde essa técnica é usada, sob certas condições climáticas, o céu pode ser considerado aproximadamente um corpo negro de temperatura . Considere que a taxa com que um corpo troca energia por irradiação com um meio que se comporta como um corpo negro de temperatura é dada por
onde é a constante de Stefan, é a emissividade do corpo, é a área pela qual a energia é irradiada e sua temperatura. Determine a quantidade de gelo, em gramas, obtida na situação descrita acima, considerando que o sistema (conteúdo do recipiente) troca energia apenas com o céu noturno. (Assuma que a emissividade da água é .)
Termodinâmica: radiação do corpo negro e calorimetria
Há duas interpretações para este problema. Uma considera o calor sensível trocado e a outra não.
A primeira interpretação considera que a "certa quantidade de água" descrita no enunciado é o próprio gelo. Em outras palavras, toda água congela. Primeiramente, a água dentro do recipiente troca calor sensível com a vizinhança até atingir a temperatura de fusão . Perceba que a potência instantânea varia durante essa mudança de temperatura, mas para fins de aproximação, deve-se utilizar uma temperatura média (veja abaixo). Depois que a água atinge ela começa a derreter a temperatura constante (mudança de fase). O calor total trocado (sensível+latente) é dado pelo produto da potência (utilizaremos uma potência média) pela duração do processo( horas). Dessa forma, temos que
Onde e . A potência pode ser aproximada a partir da média das temperaturas dos dois processos
A potência é dada por
Substituindo os valores em :
Observe que essa não é a resposta exata desta solução. Veja mais abaixo para a solução exata. Uma solução mais precisa para essa interpretação seria perceber que o calor latente da água é bem maior do que o calor necessário para resfriá-la em , sendo assim, poderia-se utilizar como estimativa da potência média a potência quando a água estivesse à . Dessa forma, obteríamos:
E a massa derretida seria:
A segunda interpretação considera que, como o enunciado não nos dá informações sobre a massa de água inicial no recipiente, não podemos inferir que toda água derrete. Sendo assim, não há como saber o tempo que água leva para chegar a temperatura de fusão: esse tempo poderia ser arbitrariamente grande, dependendo da massa de água. Esse tempo deveria ser subtraido de para descobrirmos o tempo que a água em fusão troca calor com o céu noturno. Portanto, seguindo essa linha de raciocíonio é natural concluir que o tempo fornecido no enunciado () se refere somente ao tempo que a água em fusão troca calor. O calor sensível não entra nos cálculos, e a temperatura permanence constante durante toda a troca de calor, logo:
Aqui, . Fazendo os cálculos:
E a massa derretida:
Essa é a resposta exata para a segunda interpretação.
Comentários a respeito das interpretações:
Acreditamos que, tendo o enunciado como ferramenta, as duas interpretações são válidas se discorridas corretamente na prova. Caso o aluno optasse pela primeira, ela deveria explicar em sua solução que, no seu entendimento, toda a massa de água derrete. Alternativamente, se o aluno escolhesse a segunda interpretação, seria adequado explicar o porquê de não incluir o calor sensível em seus cálculos por não termos informações da massa inicial e talvez mostrar a expressão que fornece o calor sensível. Acreditamos também que a primeira interpretação é a que os elaboradores da OBF pensaram. Isso porque ela inclui o cálculo do calor sensível e destaca que água precisa ceder certo calor para atingir a temperatura de ebulição. Mas como o enunciado não ficou claro, as duas interpretações deveriam ser, dentro do possível, consideradas corretas.
Solução exata da primeira interpretação (Mesmo que não acompanhe a matemática, veja a conclusão final)
Na solução aproximada, consideramos uma potência média. Aqui, mostraremos que essa solução é de fato bastante concisa visto que a variação de temperatura é baixa comparada com seus valores extremos. Pelo enunciado, a duração total do processo é de seis horas. Portanto, vejamos quanto fica o tempo necessário para a água atingir a temperatura de fusão:
Defina . Essa última integral pode ser resolvida notando que
Portanto, a integral pode ser dividida em duas:
A segunda é simplesmente , a primeira é mais trabalhosa. Fazendo a substituição de variável , ficamos com
Essa última é dada por
Dessa forma, como varia de a , podemos computar essa integral. O resultado para é
A duração do processo de derretimento é de que é igual a
Onde é a potência (constante) durante a fusão da água. Substituindo valores numéricos, somos capazes de determinar exatamente (a menos de aproximações numéricas) :
Esse valor é muito próximo do resultado da segunda interpretação: por que?
Ao substituirmos nas expressões para e , vemos que . Ou seja, o tempo no qual a temperatura está entre e é consideravelmente menor que o tempo em que a temperatura está fixa em (o que inclusive corrobora com a segunda solução da primeira alternativa, onde consideramos a potência média com o valor de ) correspondendo a fusão da água. Observe que o resultado da segunda interpretação é a massa obtida se desconsiderarmos completamente a transição de para . Quando assumimos que toda a água disponível inicialmente derrete chegamos que o tempo de transição é muito pequeno, comparado as horas. Portanto, é de esperar que esse resultado praticamente coincida com o da segunda interpretação. Mas não conclua então que as duas interpretações são equivalentes: o que acontece é que para concluir que o tempo de transição é pequeno, devemos fazer a consideração da primeira interpretação. Caso não fizéssemos, nunca poderíamos calcular esse tempo. Observe também que a diferença de massa entre a solução aproximada e a exata é de um pouco mais de : quando colocamos uma temperatura média, nós superestimamos o tempo em que a água atinge a temperatura de ebulição. Evidentemente, a solução exata não deve ser requerida na correção da questão: além de ter que computar integrais não triviais, os valores de logaritmos e tangentes não podem ser feitos "na mão".
Questão 6
Uma bola cai verticalmente sobre um plano inclinado de e, ao colidir com ele no ponto , é lançada em uma direção que forma um ângulo de com a vertical, conforme indicado na figura abaixo. A bola atinge novamente o plano inclinado no ponto , que está a uma altura abaixo de . Determine (a) o intervalo de tempo que a bola demora para ir de a e (b) a intensidade da velocidade da bola em .
Cinemática: Lançamento Oblíquo
a) Um bom jeito de analisar a questão é mudar de perspectiva, rotacionando o plano e estudar o movimento do projétil ao longo deste, com os eixos e sendo respectivamente tangencial e normal ao plano, com o positivo apontando plano abaixo (no eixo ) e para fora do plano (no eixo ), e origem no ponto . Desta forma, o movimento passa a ser acelerado em ambos os eixos, com uma aceleração horizontal de e uma vertical . Com um pouco de observação, é fácil ver que a inclinação do vetor velocidade inicial com respeito ao plano é de . Primeiramente, escrevamos a equação horária da posição no eixo horizontal:
Usando a equação horária no eixo , encontramos o tempo total de vôo impondo que , e escolhemos a raiz diferente de zero, pois esta corresponderia ao instante inicial:
Sendo o alcance ao longo do plano, podemos substituir para obtermos :
Substituindo em , e usando , onde , temos, por fim:
Substituindo os valores numéricos:
.
b) Podemos usar a equação de Torricelli em ambos os eixos, e então utilizar o Teorema de Pitágoras, haja vista que essas velocidades são ortogonais entre si. Logo, temos que:
Temos , logo:
Em :
Logo:
Substituindo os dados:
a)
.
b)
Questão 7
A destreza com que os vaqueiros movimentam as cordas em rodeios é fascinante.
Uma manobra bastante conhecida é quando o vaqueiro movimenta a uma corda que contém um laço em sua extremidade que executa um movimento praticamente circular paralelo a um
plano horizontal. A mecânica envolvida na explicação desse fenômeno é igualmente fascinante,
porém demasiadamente complexa para ser abordada aqui. Ao invés disso, você deve considerar
o laço isoladamente, ou seja, um aro circular que gira em um plano horizontal na ausência da
gravidade (ou equivalentemente que gira em um plano horizontal liso sem atrito). Suponha que
o centro de massa do aro está em repouso e que um ponto do aro tem velocidade tangencial .
Demonstre que a velocidade de propagação das ondas nesse laço é .
Relação de Taylor e resultante centrípeta
Para resolução desse problema, será necessário dividir a corda em pedaços muito pequenos e considerar um deles separadamente para podermos achar a tração atuando na corda e então utilizar a relação de Taylor para calcular a velocidade de propagação das ondas na mesma. Veja a imagem a seguir:
Essa imagem representa um certo arco de ângulo da corda.
Note que há duas trações tangenciais que geram uma resultante centrípeta igual à:
Como podemos escolher ângulos arbitrariamente pequenos, utilizemos a aproximação para pequenos ângulos :
Logo:
Substituindo a densidade linear :
Logo:
Contudo, pela relação de Taylor, sabemos que a velocidade de propagação de ondas nessa corda é:
Igualando, obtemos:
Como queríamos demonstrar.
Demonstração
Questão 8
Por que o campo gravitacional da Terra consegue reter o oxigênio de nossa atmosfera mas, o hidrogênio, apesar de ser o elemento mais abundante do universo, se capturado, é posteriormente perdido para o espaço exterior? Esse fenômeno pode ser explicado, em parte, comparando as velocidades típicas das moléculas de (massa molar ) e (massa molar ) na parte superior da atmosfera com a velocidade que um partícula deve ter para escapar do campo gravitacional da Terra. (a) A partir de considerações sobre a energia potencial gravitacional, determine . (b) Supondo que na parte superior da atmosfera a temperatura é de aproximadamente , estime as velocidades típicas das moléculas de e . (c) Responda a questão inicialmente proposta.
Gravitação, teorema da equipartição e conceitos de termodinâmica estatística
a) A velocidade mínima para que uma partícula escape da influência gravitacional da Terra é tal que quando essa partícula "chegar no infinito" ela não deve possuir velocidade pois, se ainda possuísse velocidade, seria possível diminuir a velocidade inicial de lançamento. Sendo assim, conservando a energia mecânica na superfície da Terra e no infinito, temos:
Logo, temos:
Para facilitar os nossos cálculos numéricos, podemos lembrar que:
Logo:
Substituindo os valores de e fornecidos no início da prova, obtemos:
Substituindo informado também no início da prova, obtemos:
b) Aqui devemos perceber que os gases em questão são diatômicos, portanto, possuem duas componentes de energia cinética normalmente: Uma translacional, relativa a velocidade do C.M. de cada molécula e um rotacional, referente à rotação das moléculas em torno do próprio eixo. Note que quando uma molécula desse gás chegar no infinito deve permanecer girando com a mesma velocidade angular devido à conservação do momento angular (A força gravitacional não realiza torque relativo ao C.M.), sendo assim, a fórmula anterior é válida para a velocidade de escape dessas moléculas, já que a energia cinética rotacional não muda e, portanto, se apresenta dos dois lados da equação de conservação da energia, sendo cancelada logo em seguida. Agora, como devemos calcular a velocidade típica do centro de massa dessas moléculas? Como na energia mecânica aparece a velocidade ao quadrado das moléculas é justo encontrar a velocidade R.M.S., sendo assim, temos:
Agora, pelo teorema da equipartição, a energia cinética translacional deve ter graus de liberdade energéticos, ou seja:
Logo, vale:
Note que:
Logo:
Substituindo os valores para o Hidrogênio, obtemos:
Para o Oxigênio, temos:
Note que no enunciado da questão é dada uma massa molar para o gás oxigênio de , o que está incorreto, pois a massa molar do mesmo seria de . Se utilizássemos a massa correta obteríamos:
Note que seria então menor ainda!
c) Ambas as velocidades típicas foram inferiores a velocidade de escape, contudo, nossa estimativa foi inferior ao valor real, já que utilizou-se uma temperatura muito baixa comparadas às da exosfera, que podem chegar à . Além disso, utilizamos para comparação a velocidade de escape da superfície terrestre, que não é o mesmo valor para a exosfera. Outro fator importante é que mesmo que as velocidades típicas sejam ligeiramente menores que a de escape a velocidade do oxigênio é cerca de vezes menor que a de Hidrogênio, garantindo que a taxa com que o oxigênio escapa seja muito menor que a do hidrogênio. Lembre-se que essa é a velocidade típica das partículas, não a velocidade de todas, sendo assim, mesmo com essa velocidade sendo menor que a de escape, algumas partículas podem superar a de escape e, consequentemente, escapar da atmosfera, sendo esse fenômeno bem mais presente para as moléculas de Hidrogênio do que para as de Oxigênio devido sua maior velocidade típica.
a)
b)
ou (Ver solução)
c) Ver solução
Questão 9
Uma bola de basquete pode ser usada para impulsionar uma bola de tênis a uma altura surpreendente. A figura abaixo, fora de escala, representa a configuração inicial de um sistema formado por uma bola de tênis, raio e massa , que está apoiada sobre uma bola de basquete, raio e massa , cuja base está a uma altura acima de um piso horizontal liso. Determine a máxima altura que o centro de cada bola atinge após serem abandonadas do repouso. Considere que a colisão da bola de basquete com o piso é instantânea, de modo que, efetivamente, a bola de basquete em ascensão colide com a bola de tênis enquanto essa está descendo e que todas as colisões são perfeitamente elásticas. (As especificações das bolas são aproximadas e não estão, necessariamente, nos intervalos aceitos oficialmente em cada modalidade esportiva.)
Colisões e Cinemática
Chamaremos aqui de a massa da bola de basquete e a massa da bola de tênis. Considere o instante em que a bola de basquete bate no chão, temos ambas as bolas com velocidade:
Após a colisão da bola de basquete com o solo seu movimento é invertido e a mesma colide com a bola de tênis. Adotaremos como para cima o sentido positivo de velocidades. Conservando o momento nessa colisão, temos:
Pelo coeficiente de restituição:
Substituindo , obtemos:
Sabemos que , logo:
Substituindo, obtemos :
As alturas do centro são dadas então por:
Questão 10
Na figura abaixo, e representam a vista superior de dois espelhos planos,
dispostos em forma de cunha, que formam um ângulo de entre si. Note que o eixo
do sistema cartesiano passa pelo plano do espelho e o eixo (saindo do papel) passa
pela aresta onde os espelhos se tocam. No ponto , entre os espelhos, está localizado um
pequeno objeto. (a) Quantas imagens desse objeto são formadas por esse arranjo de espelhos?
(b) Determine a área da figura convexa (sem concavidades) formada pelo objeto e todas suas
imagens.
Espelhos planos
a) Uma questão com ideia muito semelhante pode ser encontrada resolvida no Simulado 1 OBF Nível 3. Utilizaremos aqui a mesma ideia. Note que quando uma imagem é formada por um dos espelhos a distância dessa imagem ao ponto de encontro dos espelhos é igual à distância do objeto ao ponto de encontro dos espelhos, sendo assim, podemos localizar todas essas imagens baseando-se somente no ângulo com o eixo , . Note que a reflexão em torno de um dos espelhos é tal que há uma simetria no ângulo em torno do plano do espelho, ou seja, a distância angular do objeto ao espelho é igual a distância angular da imagem ao espelho. Façamos então a construção das imagens a partir do objeto, que faz um ângulo inicial de com o eixo . Veja a figura abaixo para uma melhor compreensão.
Primeiramente, por reflexão em , temos:
Além disso, por reflexão em , temos:
Por reflexão da primeira imagem em , temos:
Por reflexão da segunda imagem em , temos:
Por reflexão da terceira imagem em e da quarta imagem em , temos:
Note que essa quinta imagem está na chamada zona morta, ou seja, está atrás de ambos os espelhos, portanto, não gerará novas imagens. Concluindo, temos imagens. Isso poderia também ser concluído da fórmula conhecida:
b) A figura (polígono) formada é a seguinte:
Agora, dividiremos o nosso polígono em triângulos isósceles de lado comum . Note que desses triângulos são retângulos e por isso possuem área:
Contudo, os outros triângulos possuem ângulo entre os lados comuns, possuindo então área:
Somando, obtemos:
Substituindo e convertendo para o S.I., temos:
a) imagens
b)
Questão 11
Uma pequena esfera metálica está pendurada por um fio ideal inextensível de comprimento a um eixo Ligado no teto. Imediatamente abaixo de , a uma distância , há um pequeno pino fixo , cilíndrico e de superfície lisa. A figura abaixo mostra a configuração inicial do sistema. (Fio inicialmente fazendo um ângulo de com a vertical). Determine a relação que e devem satisfazer para que a esfera, após abandonada do repouso em sua posição inicial, cruze a linha imaginária entre e .
Lançamento oblíquo, energia e resultante centrípeta.
É importante notar a diferença entre essa questão e uma questão clássica bem mais simples. Na versão mais conhecida dessa questão, pede-se a relação que e devem satisfazer para que seja dada a volta completa com um movimento circular, ou seja, sem a corda ficar solta. Nessa situação, contudo, queremos somente que a esfera cruze a linha imaginária entre e , o que pode ser realizado após a corda se soltar. Devemos então analisar a seguinte situação como limite: Em um certo ângulo com a vertical, a tração será zero e, a partir daí nossa esfera realizará um lançamento oblíquo que deve ter uma trajetória que passa pela linha imaginária. Primeiramente, devemos descobrir o ângulo em função de e . Comecemos conservando a energia mecânica:
Pela resultante centrípeta:
Igualando, obtemos :
Note que esse também será o ângulo de lançamento da nossa partícula. A partir da equação da trajetória podemos encontrar a altura com que a partícula cruza a linha imaginária relativa ao pino fixo:
Substituindo e simplificando, temos:
Substituindo , temos:
Queremos que valha:
Como , temos:
Temos então que a condição que e devem satisfazer é:
Substituindo as raízes informadas na prova, obtemos:
Questão 12
Um prumo é um instrumento usado determinar a direção vertical em determinado ponto. Em cada ponto da Terra, a direção do zênite é dada pela linha imaginária que liga o ponto ao centro da Terra. Devido à rotação da Terra, a linha do prumo é, em geral, ligeiramente desviada em relação à direção do zênite. Na figura abaixo, o laboratório hipotético está localizado exatamente sobre o polo Norte. O conjunto formado por fios ideais, um dinamômetro e uma massa , pendurado num ponto fixo do teto, funciona como um prumo. Na posição do laboratório , a linha do zênite é indicada pelo eixo e vemos que coincide com a linha do prumo, que está sendo tensionada por uma tração . O laboratório hipotético está localizado em uma cidade costeira exatamente sobre o paralelo de latitude sul. Nesse laboratório, a direção do zênite é indicada pelo eixo e é pendurado um prumo exatamente igual ao anterior. No laboratório , a linha de prumo é tencionada por uma tração e sua direção está desviada da direção do zênite por um ângulo , que está representado, fora da escala, na figura abaixo. Determine (a) o ângulo e (b) o desvio relativo de em relação à , ou seja . (c) Qual a orientação do eixo representado na figura em relação aos pontos cardeais do laboratório ? Considere a Terra esférica, com raio .
Referenciais não inerciais: Efeitos da rotação terrestre na gravidade
a) Para a análise do fenômeno, observe o esquema a seguir (fora de escala), onde podemos ver a terra, de raio , girando em torno do seu próprio eixo (linha tracejada) com velocidade angular :
Para um corpo de prova na superfície a uma latitude (que pode estar associada ao hemisfério Norte ou Sul), desenhamos as acelerações (ou gravidades) às quais este está submetido, no seu próprio referencial, que é não-inercial. A gravidade é devido à atração gravitacional entre os corpos, e tem módulo . Contudo, ainda há uma gravidade fictícia devido à força centrífuga, produzida pelo efeito de rotação e que possui módulo , onde é a distância do ponto ao eixo, isto é, . Logo, o corpo estará submetido à uma gravidade total efetiva que chamaremos de . Note que, nos pólos, essa gravidade tem valor máximo e igual à , pois o efeito rotacional é nulo. Utilizando lei dos cossenos no triângulo de vetores, temos que:
De antemão, façamos uma estimativa da velocidade angular da terra, sabendo que seu período de rotação é de :
Que é um valor muito pequeno, o que nos permite desprezar o termo . Reescrevendo a expressão:
É evidente que . Logo, utilizaremos a aproximação para :
Substituindo os valores:
.
Para descobrirmos o desvio angular (que é o ângulo entre os vetores e ), usemos Lei dos Senos:
Substituindo os valores numéricos:
Como , vale a aproximação , desta forma:
Em graus:
Onde foi usado .
b) Como fora visto no item a), a gravidade sentida pelo prumo é , de tal forma que . Já a tração , então, calculamos o desvio relativo:
c) Observe a figura a seguir (fora de escala), que representa a terra vista de perfil:
Em azul estão representados os eixos e ; em laranja, a direção da gravidade efetiva; em preto, uma das linhas tracejadas representam a direção Norte-Sul, e a outra a linha do Equador. Está representado também o Polo Sul . Perceba que o esquema está correto, pois a gravidade efetiva aponta para algum ponto no plano do Equador no lado direito da figura (primeiro quadrante). Para que analisemos a orientação do eixo em relação aos pontos cardeais do laboratório, observe que a direção Norte-Sul cruza com este eixo em algum ponto no espaço. Um observador do laboratório que olha "em direção a esse ponto" estará mirando o ponto cardeal sul(pois ele encontra-se no Hemisfério Sul). Desta forma, o sentido oposto corresponde ao ponto cardeal Norte, que é exatamente o sentido positivo do eixo .
a)
b)
c) A orientação do eixo é positiva no sentido do ponto cardeal Norte.