OBF 2020 Prova Especial Teórica da 2ª/3ª Fase - (Nível 2)

Escrito por Wanderson Faustino Patricio, Vinicius Névoa, Paulo Henrique e Ualype Uchôa

Questão 1 (exclusiva para alunos da 1ª série)

Em um laboratório de física, há uma pista plana e lisa, de largura L = 20,0\,cm, com pequenos furos por onde é forçada a passagem de jatos de ar. Sobre esta pista, desliza um pequeno disco de plástico com ação desprezível de forças dissipativas graças à uma camada de ar formada entre a superfície inferior do disco e a pista. Em estabelecimentos de diversão, as máquinas de hóquei de mesa apresentam um arranjo parecido com este. Considere que um disco é lançado do ponto O, no instante t = 0, obliquamente, com um ângulo \theta = 60^{\circ} e velocidade de módulo v_{0} = 28,0\,cm/s, conforme ilustrado na figura. Suponha que o disco deslize pela superfície sem a ação de qualquer força resistiva e, ao colidir, ocorra apenas a inversão da componente y de sua velocidade. Usando o sistema de referências adotado na figura, passados 4,00\, s, determine:

(a) número de colisões com as paredes;

(b) distância percorrida pelo disco, em cm;

(c) módulo do deslocamento em relação à posição inicial, em cm.

Assunto abordado

Cinemática do ponto material

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Solução

(a) Antes de mais nada, vamos decompor a velocidade em seus componentes ao longo de x e y:

v_{x} = v_{0} \cos \theta=14 \dfrac{cm}{s}

v_{y} = v_{0} \sin \theta=23.8 \dfrac{cm}{s}

Como a colisão apenas troca o sinal da velocidade em y, o número de colisões é simplesmente a distância (em y) percorrida em 4\,s dividida por L:

\boxed{N= \dfrac{v_{0} \sin \theta \cdot 4}{L}=4.76}

Ou seja, foram 4 colisões completas, e se encaminhando para a quinta.

(b) Para achar a distância percorrida, teremos que utilizar o teorema de pitágoras. Primeiro, vamos determinar a distância em x que o disco percorre entre colisões consecutivas:

d= v_{0} \cos \theta \dfrac{ L}{v_{0} \sin \theta}=11.8\,cm

Assim, cada colisão corresponde uma uma distância percorrida de:

D=\sqrt{L^2+d^2}=23.2\, cm

Portanto, \boxed{D_{total}=ND=4.76 D=110.4\,cm}. Note que se apenas uma fração f da distância entre colisões foi percorrida, D' =\sqrt{(fL)^2+(fd)^2}=f \sqrt{L^2+d^2}, e por isso podemos usar o número quebrado.

(c) Seguindo um raciocínio análogo, ao final de 4 colisões, o disco estará no eixo x, e estará se encaminhando no sentido positivo de y. O deslocamento total em x então é:

D_{x} = N d = 4.76 d

O deslocamento vertical é:

D_{y} = (N-4) L = 0.76 L

Logo:

\boxed{D_{desl}=\sqrt{(4.76d)^2+(0.76L)^2}=58.2 \, cm}

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Gabarito

(a) \boxed{N=4}

(b) \boxed{D_{total}=110.4\,cm}

(c) \boxed{D_{desl}=58.2\,cm}

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Questão 2 (exclusiva para alunos da 1ª série)

Considere dois satélites, B, de mesma massa. Ambos estão em órbitas circulares em torno da Terra, mas o raio da órbita do satélite e 50\% maior que a do satélite A. Sejam E_{c_A} e E_{c_B}, respecitivamente, as energias cinéticas de cada satélite. Use as leis de Kepler e seus conhecimentos de física para determinar a razão E_{c_B}/E_{c_A}.

Assunto abordado

Gravitação universal

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Solução

Como dado pelo enunciado, o raio da órbita do satélite B é 50\% maior que a do satélite A, ou seja:

r_B=r_A+0,5r_A

r_B=1,5r_A

Se os períodos de rotação dos satélites são T_A e T_B, temos, pela terceira lei de Kepler que:

\dfrac{T_A^2}{r_A^3}=\dfrac{T_B^2}{r_B^3}

\dfrac{T_A^2}{r_A^3}=\dfrac{T_B^2}{(1,5r_A)^3}=\dfrac{T_B^2}{1,5^3\cdot r_A^3}

T_B^2=(1,5)^3\cdot T_A^2

Como os satélites estão em movimento circular:

T_A=\dfrac{2\pi r_A}{v_A} e T_B=\dfrac{2\pi r_B}{v_B}

Portanto:

\left(\dfrac{2\pi r_B}{v_B}\right)^2=(1,5)^3\cdot \left(\dfrac{2\pi r_A}{v_A}\right)^2=\left(\dfrac{2\pi \cdot 1,5 \cdot r_A}{v_B}\right)^2

(1,5)^3\cdot \left(\dfrac{4\pi^2 r_A^2}{v_{A}^2}\right)=\left(\dfrac{4\pi^2 \cdot (1,5)^2 \cdot r_A^2}{v_{B}^2}\right)

(v_A)^2=1,5 (v_B)^2

\rightarrow \dfrac{(v_B)^2}{(v_A)^2}=\dfrac{2}{3}

A energia cinética dos corpos será:

E_{c,A}=\dfrac{m(v_A)^2}{2} e E_{c,B}=\dfrac{m(v_B)^2}{2}

Logo:

\dfrac{E_{c,B}}{E_{c,A}}=\dfrac{\left(\dfrac{m(v_B)^2}{2}\right)}{\left(\dfrac{m(v_A)^2}{2}\right)}

\dfrac{E_{c,B}}{E_{c,A}}=\dfrac{(v_B)^2}{(v_A)^2}

\rightarrow \boxed{\dfrac{E_{c,B}}{E_{c,A}}=\dfrac{2}{3}\approx 0.67}

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Gabarito

\boxed{\dfrac{E_{c,B}}{E_{c,A}}=\dfrac{2}{3}\approx 0.67}

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Questão 3 (exclusiva para alunos da 1ª série)

Uma estudante de física resolveu analisar uma filmagem, com som e imagem, feita de uma exibição de fogos de artifícios. A filmadora eletrônica que utilizou gravou o vídeo em 30 FPS, que é a sigla, em inglês, para 30 quadros (frames) por segundo. Isto quer dizer que o aparelho tira 30 fotografias por segundo em intervalos de tempo igualmente espaçados. Depois, quando se assiste à filmagem, as imagens são exibidas também na taxa de 30 FPS e, por isso, temos a impressão de ver uma cena em movimento a partir de uma sequência de imagens estáticas. Existem vários aplicativos de edição de vídeos, muitos deles de software livre, que podem ser usados para analisar uma filmagem quadro-a-quadro. Em geral, estes aplicativos também mostram representações gráficas da intensidade da onda sonora que chega à filmadora durante a gravação. Ao analisar a filmagem da explosão de um morteiro, a estudante percebe que o som da explosão aparece 52 quadros depois do quadro com o brilho da explosão.

Com seus conhecimentos de física e estas informações, ela conseguiu estimar a distância d entre o morteiro no momento da explosão e a sua filmadora. Qual o valor de d, em metros, que ela estimou?

Assunto abordado

Cinemática: velocidade do som

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Solução

Como a velocidade da luz é muito maior que a do som, podemos dizer que a chegada da luz na filmadora é praticamente instantânea, enquanto o som leva um tempo mais perceptível. Assim, a distância vale d=v_{som} \Delta t. Basta descobrir o tempo elapsado.

Note que a filmagem é reproduzida a 30 quadros por segundo, logo os 52 quadros de duração entre a luz e o som correspondem a \Delta t = \dfrac{52}{30}\, s. Usando v_{som}=340\, m/s:

\boxed{d=340 \cdot \dfrac{52}{30}=589\,m}

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Gabarito

\boxed{d=589\,m}

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Questão 4 (exclusiva para alunos da 1ª série)

Uma caixa de m = 60\, kg é suspensa pelo sistema de polias representados na figura. Os trechos de corda entre as duas polias são paralelos e formam um ângulo \theta = 30^{\circ} com a vertical. Na extremidade da corda, é aplicada uma força \vec T, de módulo T, e que faz um ângulo \alpha com a horizontal. Considerando que o sistema está em equilíbrio estático e as cordas e polias são ideais, determine:

(a) O ângulo \alpha, em graus.

(b) A intensidade da força T, em N.

Assunto abordado

Dinâmica/ Equilíbrio de forças

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Solução

(a) Vamos olhar para as força em cada parte do sistema.

Sabemos que a força em um fio ideal, a força se distribui constante por toda a sua extensão. Sendo F a força de tração no fio de baixo, e P o peso da massa.

Como a polia está em equilíbrio, a força resultante na horizontal deve ser zero. Portanto:

T\cos{\alpha}=2T\sin{\theta}

\rightarrow \cos{\alpha}=2\sin{\theta}

\cos{\alpha}=2\sin{30^{\circ}}=2\cdot \dfrac{1}{2}

\cos{\alpha}=1

\rightarrow \boxed{\alpha=0^{\circ}}

(b) A polia também está em equilíbrio na vertical. Portanto:

2T\cos{\theta}+T\sin{\alpha}=F

2T\cdot \dfrac{\sqrt{3}}{2}+T\cdot 0=F

F=T\sqrt{3}

A massa também está em equilíbrio, logo:

F=P=mg

T\sqrt{3}=mg

\rightarrow T=\dfrac{mg\sqrt{3}}{3}

\rightarrow \boxed{T=340 \,N}

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Gabarito

(a) \boxed{\alpha=0^{\circ}}

(b) \boxed{T=340\, N}

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Questão 5

Uma ducha com água aquecida, de potência 4,20\, kW, ou seja, que utiliza energia elétrica a uma taxa 4,20\, kJ por segundo, liga automaticamente quando a torneira é aberta, permitindo uma vazão mínima de 3,00 litros por minuto. A partir daí, à medida que a torneira é aberta para permitir vazões maiores, o aquecedor elétrico permanece operando à mesma potência. A vazão máxima desta ducha é de 6,60 litros de água por minuto.

(a) Qual a temperatura máxima possível da água liberada pela ducha em um dia de inverno, em ^{\circ}C, no qual a água que entra na ducha está a 15,0^{\circ}C?

(b) Se a ducha está ligada, qual a temperatura mínima possível da água liberada em um dia de verão, em ^{\circ}C, no qual a água que entra na ducha está a 24,0^{\circ}C?

Assunto abordado

Calorimetria/ Transferência de calor

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Solução

(a) Existem duas coisas a ser analisadas nesse problema que podem variar: a variação de temperatura da água e a sua vazão.

Definamos algumas coisas primeiro: \rho é a densidade da água, c é o calor específico da água, T_0 é a temperatura inicial da água, z é a vazão da água, e T é a temperatura final da água.

Calculemos primeiramente a quantidade de energia que é fornecida pelo aquecedor após um intervalo de tempo \Delta t:

P_{ot}=\dfrac{\Delta E}{\Delta t}=\dfrac{E-0}{\Delta t}

E=P_{ot}\cdot \Delta t   Eq(01)

Suponhamos que entra um volume \Delta V de água pela torneira. Pela equação da vazão:

z=\dfrac{\Delta V}{\Delta t}

\Delta V=z\cdot \Delta t

A quantidade de massa de água que entra é:

\Delta m=\rho \Delta V

\Delta m=\rho z \Delta t

Como está sendo transferido calor para a água, a água sofrerá uma variação de temperatura \Delta T, dado por:

E=\Delta m\cdot c\Delta T

E=\rho zc(T-T_0)\Delta t   Eq(02)

Juntando as Eq(01) Eq(02):

P_{ot}\cdot \Delta t=\rho zc(T-T_0)\Delta t

P_{ot}=\rho zc(T-T_0)

\rightarrow \boxed{T=T_0+\dfrac{P_{ot}}{\rho zc}}   Eq(03)

Perceba que a temperatura final depende inversamente da vazão de água. Como queremos a temperatura máxima, devemos ter a vazão mínima.

Como dado pelo enunciado, a vazão está no intervalo:

3,00 \dfrac{L}{min} \leq z \leq 6,60 \dfrac{L}{min}

Transformando para unidades do SI sabemos:

1L=0,001 m^3=1000 cm^3, 1 min=60 s e 1 g=0,001 kg

Logo:

3,00\cdot \dfrac{0,001 m^3}{60 s} \leq z \leq 6,60 \dfrac{0,001 m^3}{60 s}

0,00005 \dfrac{m^3}{s} \leq z \leq 0,00011 \dfrac{m^3}{s}

Portanto, utilizaremos o valor de z=0,00005 \dfrac{m^3}{s}.

Aplicando as informações no resultado final:

T=15,0^{\circ}C+\dfrac{4,20 \dfrac{kJ}{s}}{1\dfrac{g}{cm^3}\cdot 0,00005 \dfrac{m^3}{s}\cdot 1\dfrac{cal}{g\cdot^{\circ}C}}

T=15,0^{\circ}C+\dfrac{4,20\cdot 1000\dfrac{J}{s}}{1\cdot \dfrac{0,001 kg}{0,000001 m^3}\cdot 0,00005 \dfrac{m^3}{s}\cdot 1\cdot \dfrac{4,2 J}{0,001 kg\cdot^{\circ}C}}

T=15,0^{\circ}C+20,0^{\circ}C

\rightarrow \boxed{T=35,0^{\circ}C}

(b) Como queremos agora a temperatura mínima, podemos utilizar a Eq(03) com a condição de que a vazão seja a máxima (z=0,00011 \dfrac{m^3}{s}):

T=24,0^{\circ}C+\dfrac{4,20\cdot 1000\dfrac{J}{s}}{1\cdot \dfrac{0,001 kg}{0,000001 m^3}\cdot 0,00011 \dfrac{m^3}{s}\cdot 1\cdot \dfrac{4,2 J}{0,001 kg\cdot^{\circ}C}}

T=24,0^{\circ}C+9,090909...^{\circ}C

T=33,090909...^{\circ}C

Como todas as temperaturas foram apresentadas com um algarismo significativo:

\rightarrow \boxed{T=33,1^{\circ}C}

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Gabarito

a) \boxed{T=35,0^{\circ}C}

b) \boxed{T=33,1^{\circ}C}

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Questão 6

Um posto de gasolina instalou densímetros em suas bombas para atestar a qualidade do produto. Os combustíveis utilizados nos automóveis são misturas de hidrocarbonetos, cuja densidade varia com a composição, isto é, com a quantidade de cada componente da mistura. Assim, se a mistura for alterada pelo acréscimo de alguma substância destinada a "dar volume" ao combustível, o densímetro acusará a adulteração.

O modelo de densímetro adotado pelo posto utiliza duas esferas plásticas ocas de mesmos volumes e massas, de cores diferentes, contendo um sólido particulado, que serve de lastro. A massa de lastro dentro de cada uma das esferas é diferente, e calculada para que uma das esferas flutue e a outra permaneça no fundo, conforme é ilustrado na figura. Além disso, elas devem permanecer em suas posições originais ainda que o combustível sofra uma variação de densidade dentro de uma certa faixa de tolerância determinada pelo distribuidor. No entanto, se a densidade do combustível é aumentada por uma diferença maior do que a tolerável, a esfera que está embaixo sobe. Se, ao contrário, a densidade do combustível é diminuída, a esfera de cima desce.

Considere um densímetro em que as esferas, de volumes iguais a V , devem manter suas posições relativas quando a densidade do combustível varia em 5\% para mais ou para menos. Suponha que o combustível é adulterado de forma que a esfera de baixo está na situação limite em que começa a subir. Seja v o volume da parte da esfera de cima que está emersa, determine a razão \dfrac{v}{V}.

Assunto abordado

Hidrostática: empuxo

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Solução

Seja m_{a} a massa da esfera de cima e m_{b} a massa da esfera de baixo, massas essas que são diferentes para que a primeira flutue enquanto a última boie. A condição crítica para a esfera de cima ocorre quando o combustível é 5% menos denso do que deveria, e nessa condição o volume emerso é nulo e a esfera está prestes a afundar:

m_{a} g = 0.95 \rho V g

A situação crítica para a esfera de baixo é quando a densidade do combustível é 5% maior do que deveria, e então essa esfera está prestes a flutuar e a normal que o fundo aplica sobre ela é nula:

m_{b} g = 1.05 \rho V g

Esse par de equações determina completamente as massas das esferas m_{a} e m_{b}. Vamos então para a pergunta do problema: se a esfera de baixo está prestes a subir, isso quer dizer que densidade do fluido vale 1.05 \rho, e como o fluido está mais denso que o normal, a esfera de cima não vai precisar deslocar um volume de líquido tão grande para flutuar. Seja então v o volume emerso da esfera de cima, o que significa que seu peso está sendo sustentado pelo peso de um volume V-v de um líquido de densidade 1.05 \rho. Em equações:

m_{a} g = 1.05 \rho (V-v)

Usando a primeira equação para substituir o valor do peso da esfera de cima:

 0.95 \rho V g = 1.05 \rho (V-v) g

 0.95 V = 1.05 (V-v)

Rearranjando:

\boxed{\dfrac{v}{V}=1-\dfrac{0.95}{1.05}=0.095}

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Gabarito

\boxed{\dfrac{v}{V}=0.095}

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Questão 7

A figura abaixo representa dois instantâneos de uma mesma onda mecânica transversal senoidal que se propaga para a direita em uma corda esticada. Sabendo que o intervalo de tempo que separa os dois instantâneos é de 0,05\,s, determine a velocidade transversal máxima da onda, em m/s.

Assunto abordado

Mecânica: ondas transversais em uma corda

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Solução

Pela figura fornecida, podemos extrair a velocidade de propagação da onda v (pelo deslocamento dos picos, por exemplo, no intervalo de tempo fornecido) e o comprimento de onda \lambda (pela distância entre os picos):

v=\dfrac{\Delta{s}}{\Delta{t}}=\dfrac{1m}{0,05s}=20m/s

\lambda=8m

A amplitude vertical pode ser obtida pela figura também (metade da distância vertical entre um pico e um vale):

A=\dfrac{4mm}{2}=2.10^{-3}m

O movimento transversal dos pontos da corda pode ser considerado um M.H.S. de período T_y. Perceba que, após um período horizontal T_x=\dfrac{\lambda}{v}=0,4s, todos os pontos da corda retornam para suas posições verticais originais. Portanto, como nesse período T_x os pontos realizam uma única oscilação vertical, segue que T_y=T_x. Como o movimento dos pontos da corda é um M.H.S., a velocidade máxima que um desses pontos pode ter é \boxed{v_{max}={\omega}_yA}=\dfrac{2\pi}{T_y}A=0,03\, m/s.

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Gabarito

\boxed{0,03\,m/s}

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Questão 8

Considere um sistema planetário hipotético formado por uma única estrela em torno da qual orbita um planeta que possui uma única lua (satélite natural). Neste sistema, as órbitas do planeta em torno da estrela e da lua em torno do planeta são circulares e coplanares e o período de translação do planeta em torno da estrela é de T_P = 360\,dias. Sabendo que, após um eclipse solar, o próximo eclipse lunar ocorre 30 dias depois, determine o período orbital da lua em torno do planeta, em dias, nos seguintes casos.
(a) O planeta e a sua lua percorrem suas órbitas no mesmo sentido, por exemplo, ambas no sentido anti-horário.
(b) O planeta e a sua lua percorrem suas órbitas em sentidos opostos.

Assunto abordado

Eclipses solar e lunar

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Solução

Observe as figuras abaixo, que representam o deslocamento angular da lua em torno do planeta durante o intervalo de 30 dias entre os eclipses:

(a) 

Para descobrir o ângulo \alpha, o deslocamento do planeta, façamos a proporção entre os intervalos de tempo: \dfrac{\alpha}{2\pi}=\dfrac{30}{360}\to{\alpha=\dfrac{\pi}{6}}. Pela figura acima, é fácil ver que o deslocamento angular da lua foi \Delta{\theta}=\alpha+\pi=\dfrac{7\pi}{6}. Com o deslocamento angular e o intervalo de tempo em mãos, podemos calcular o período orbital:

\omega=\dfrac{2\pi}{T}=\dfrac{\dfrac{7\pi}{6}}{30d}\to{\boxed{T=51,43dias}}

(b) A situação é parecida com a do item anterior. Nesse caso, a lua se move no sentido horário e, portanto, seu deslocamento angular é agora \Delta{\theta}'=\pi-\alpha, conforme a figura abaixo.

 

\omega=\dfrac{2\pi}{T'}=\dfrac{\dfrac{5\pi}{6}}{30d}\to{\boxed{T'=72dias}}

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Gabarito

(a)

\boxed{T=51,43\,dias}

(b)

\boxed{T'=72\,dias}

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Questão 9

Uma fonte de radiação laser que pode ser submergida é fixada no fundo de uma cuba inicialmente vazia. A fonte é orientada na direção de um anteparo vertical de modo que o feixe laser emitido faz um ângulo \theta = 60^{\circ} com a horizontal. Adotando o sistema de referências da figura, observa-se que, quando a fonte é ligada, o feixe atinge o anteparo no ponto P de coordenada y_p = 50\, cm. Depois, quando a cuba é preenchida com um líquido de índice de refração n=\sqrt{2} até um nível y_1 = 10\, cm, verifica-se que o feixe atinge o anteparo em um ponto Q (não representado na figura).
(a) Qual a coordenada y_Q do ponto Q, em cm?
(b) O arranjo experimental permite deslocar o aparelho laser ao longo do eixo x. Mantendo-se
a orientação do feixe, para que coordenada x, em cm, deve ser movido o ponto de origem
do feixe de modo que o mesmo atinja o ponto P com a cuba preenchida com o líquido?

Assunto abordado

Óptica geométrica: refração

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Solução

(a)

Seja \alpha o ângulo com a normal do raio refratado. Pela Lei de Snell:

n\sin{\left(90^{\circ}-\theta\right)}=n_{ar}\sin{\alpha},

\sin{\alpha}=n\cos{\theta}=\dfrac{\sqrt{2}}{2} \rightarrow \alpha=45^{\circ}.

Encontramos uma relação entre as alturas observando que a distância \overline{\rm AB} pode ser determinada de duas formas:

\overline{\rm AB}=\overline{\rm AP} \cos{\theta}=\overline{\rm AO}\cos{\theta}+\overline{\rm OQ}\sin{\alpha},

\dfrac{y_P}{\tan{\theta}}=\dfrac{y_1}{\tan{\theta}}+\left(y_Q-y_1\right)\tan{\alpha}.

Isolando y_Q e substituindo os outros números:

\dfrac{50}{\sqrt{3}}=\dfrac{10}{\sqrt{3}}+\left(y_Q-10\right) \rightarrow

\rightarrow \boxed{y_Q=\dfrac{40}{\sqrt{3}}+10\approx33,5\,cm}.

Onde foi utilizado \sqrt{3}=1,7 dado na capa da prova. Aqui, cabe uma ressalva importante; o resultado obtido é uma das duas possíveis respostas para o problema. Uma resposta levemente diferente pode ser obtida ao racionalizar o denominador com \sqrt{3} e fazer as contas com \sqrt{3}=1,7:

\boxed{y_Q=\dfrac{40\sqrt{3}}{3}+10\approx32,7\,cm}.

Ambas as respostas excedem a margem de 2% (relativas umas às outras) de precisão para pontuação integral imposta pela OBF 2020, contudo é menor que 5% que corresponde à margem para pontuação. Ao nosso ver, deveria-se aceitar uma margem de erro maior nessa questão em específico, devido ao caráter dúbio da resposta final ao utilizar-se a aproximação da capa da prova.

(b) É evidente que o laser há de ser deslocado para a esquerda, até a posição A'. Seja \overline{\rm AA'}=-x (pois a distância é positiva, enquanto a coordenada x<0) e O' o novo ponto de refração.  Observe os esquemas abaixo. A nova trajetória do raio está destacada em vermelho.

 

 

 

Nas figuras acima, "//" ou "/" indica paralelismo entre segmentos; o segmento \overline{\rm AO'} é paralelo à \overline{\rm AO}, enquanto \overline{\rm O'P} é paralelo à \overline{\rm OQ}. Na figura à direita, tem-se representado o quadrilátero QPOO' formado. Utilizando trigonometria, observa-se que:

-x\sin{\left(90^{\circ}-\alpha\right)}=\left(y_P-y_Q\right)\sin{\alpha} \rightarrow x=y_Q-y_P

O que nos leva, por fim, a:

\boxed{x=\dfrac{40}{\sqrt{3}}-40\approx -16,5\,cm}.

E outra possível resposta, pelos mesmos motivos de (a):

\boxed{x=\dfrac{40\sqrt{3}}{3}-40\approx -17,3\,cm}.

A mesma discussão de (a) também cabe aqui.

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Gabarito

(a) Há duas respostas corretas possíveis (ver solução):

 \boxed{y_Q=\dfrac{40}{\sqrt{3}}+10\approx33,5\,cm}

\boxed{y_Q=\dfrac{40\sqrt{3}}{3}+10\approx32,7\,cm}

(b) Há duas respostas corretas possíveis (ver solução):

\boxed{x=\dfrac{40}{\sqrt{3}}-40\approx -16,5\,cm}.

\boxed{x=\dfrac{40\sqrt{3}}{3}-40\approx -17,3\,cm}.

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Questão 10

Em um laboratório de física, é usado um sistema massa-mola para determinar a velocidade com que um projétil é disparado. O sistema é constituído por um bloco de massa M = 5,00 kg que está apoiado em uma superfície horizontal de atrito desprezível e está preso a uma parede rígida vertical através de uma mola de constante elástica k = 4500 N/m. Para fazer a medida da velocidade v_0 de um projétil de massa m = 10,0 g, o mesmo é disparado contra o bloco, que está inicialmente em repouso, nas condições mostradas na figura. A parte do bloco que recebe o impacto é feita de um material deformável que aloja o projétil em seu interior. Considere que a mola se deforma apenas depois do projétil se alojar completamente no bloco (colisão projétil-bloco instantânea). Determine a velocidade v_0 do projétil, em m/s, no caso em que a medida da amplitude de oscilação do bloco após o impacto é de 2,50 cm.

Assunto abordado

Mecânica: Conservação de Energia e momento linear

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Solução

O alojamento da bala no bloco configura uma colisão inelástica. Já que a mola se deforma apenas depois da colisão, o momento linear do sistema se conserva antes e logo após o choque. Sendo v a velocidade do conjunto depois, temos:

mv_0=\left(M+m\right)v,

v=\dfrac{m}{M+m}v_0.

A colisão inelástica dissipa energia. Após ela, não há trabalho de forças que ocasionem dissipações, portanto a energia mecânica se conserva. Veja que a amplitude do movimento oscilatório é precisamente a deformação máxima da mola, pois ocorre no momento em que o conjunto chega ao repouso instantâneo. Igualando à energia cinética inicial do conjunto à energia mecânica final (que é puramente potencial elástica):

\dfrac{\left(M+m\right)v^2}{2}=\dfrac{kA^2}{2},

\dfrac{m^2v_0^2}{M+m}=kA^2 \rightarrow

\rightarrow \boxed{v_0=A\sqrt{\dfrac{k\left(M+m\right)}{m^2}} \approx 375,4\, m/s}.

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Gabarito

\boxed{v_0\approx 375,4\, m/s}.

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Questão 11

As figuras abaixo ilustram dois arranjos experimentais usados para investigar a taxa de transferência de calor entre os corpos A e B. As temperaturas T_A e T_B, com T_A  data-recalc-dims= T_B" />, são mantidas constantes por equipamentos não representados na figura. Em ambos os arranjos, são usadas duas barras cilíndricas de dimensões idênticas. A barra 1 tem condutividade térmica k_1 e a barra 2 tem condutividade térmica k_2. Ambas as barras são isoladas termicamente em suas superfícies laterais de modo que o calor é conduzido de A a B sem perdas para a vizinhança. Suponha que, no regime estacionário, a taxa de transferência de calor de A para B, nos arranjos I e II sejam, respectivamente \phi_I e \phi_{II}. Determine a razão \phi_{II}/\phi_{II} nos seguintes casos:
(a) as barras têm as mesmas condutividades térmicas k_1 = k_2;
(b) a condutividade térmica de uma barra é o triplo da outra k_1 = 3k_2.

Assunto abordado

Termologia: Condução térmica

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Solução

Resolveremos o problema para o caso geral k_1 \neq k_2, para então depois particularizar de acordo com as condições desejadas.

I) Chame de \phi_1 e \phi_2 o fluxo térmico (energia por unidade de tempo) através das barras 1 e 2, respectivamente. Seja A a secção reta das barras (as dimensões das barras são iguais) e T a temperatura na junção das barras, com T_A data-recalc-dims=T>T_B" />.. Utilizando a Lei de Fourier, temos que

\phi_1=\dfrac{k_1 A \left(T_A-T\right)}{L}.

\phi_2=\dfrac{k A \left(T-T_B\right)}{L}.

No estado estacionário, deve valer a continuidade de fluxo para a associação em série: \phi_1=\phi_2=\phi_I. Logo:

T_A-T=\dfrac{\phi_I L}{k_1 A}.

T-T_B=\dfrac{\phi_I L}{k_2 A}.

Somando as duas equações, isolamos \phi_I para obter

\phi_I=\left(\dfrac{k_1 k_2}{k_1+k_2}\right)\dfrac{A\left(T_A-T_B\right)}{L}.

II) No segundo cenário (associação em paralelo), o fluxo total \phi_{II} se divide entre as duas as barras. Isto é:

\phi_{II}=\phi_1+ \phi_2.

Novamente, pela Lei de Fourier, vale escrever:

\phi_{II}=\phi_1=\dfrac{k_1 A \left(T_A-T_B\right)}{L}+\dfrac{k_2 A \left(T_A-T_B\right)}{L},

\phi_{II}=\left(k_1+k_2\right)\dfrac{A \left(T_A-T_B\right)}{L}.

Então, a razão \phi_{II}/ \phi_I é dada por:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{\left(k_1+k_2\right)^2}{k_1 k_2}}

(a) Para k_1=k_2:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=4}.

(b) Para k_1=3k_2:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{16}{3} \approx 5,33}.

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Gabarito

(a) \boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=4}

(b) \boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{16}{3} \approx 5,33}

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Questão 12

Uma prateleira vazia de massa 25,0 kg, altura H = 1,80 m e largura L = 40,0 cm está montada sobre pequenos rodízios ideais que rolam pelo piso liso com ação desprezível de forças dissipativas. A prateleira, inicialmente em repouso, é empurrada por uma força horizontal \vec{F}, de intensidade F = 100 N, aplicada a uma altura h, conforme ilustrado na figura. Considere que os rodízios têm massa e dimensões desprezíveis e que o centro de massa da prateleira está em seu centro geométrico. Determine:
(a) a aceleração a do centro de massa da prateleira, em m/s^2;
(b) a menor altura h_{min}, em m, na qual \vec{F} pode ser aplicada sem que a prateleira tombe;
(c) a maior altura h_{max}, em m, na qual \vec{F} pode ser aplicada sem que a prateleira tombe.

Assunto abordado

Estática do Corpo Rígido: condições de tombamento

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Solução

(a) Utilizando a 2ª Lei de Newton:

F=ma,

100=25,0 * a \rightarrow \boxed{a=4,0\,m/s^2}.

(b) Solução 1: No referencial da Terra

Para a condição llimite de h_{min}, o corpo encontra-se na iminência de tombar para trás. Logo, a normal N_2 no canto direito tende a zero. Pelo equilíbrio vertical, N_1=mg. Na iminência de tombar, o torque resultante das forças atuantes no bloco em relação ao seu centro de massa (CM) deve ser nulo. Da figura, igualamos os torques horários aos anti-horários:

F\cdot \left(\dfrac{H}{2}-h_{min}\right)=N_1 \cdot \dfrac{L}{2},

ma\left(\dfrac{H}{2}-h_{min}\right)=\dfrac{mgL}{2} \rightarrow

\rightarrow \boxed{h_{min}=\dfrac{H}{2}-\dfrac{gL}{2a}=0,4\,m}.

Comentário:

O aluno poderia optar por impor a condição de torque nulo, por exemplo, usando a roda da direita como pivô. Esse raciocínio infelizmente é errôneo, pois o torque resultante (no referencial da Terra) em relação à qualquer outro ponto que não seja o CM é diferente de zero. O torque resultante das forças atuando em um corpo - calculado em relação à um ponto de referência - equivale à taxa de variação temporal do seu momento angular (\vec{\tau}=d\vec{L}/dt) em relação àquele mesmo ponto. Em relação ao CM, não há variação de momento angular (nesse caso, o momento angular em si é nulo), e portanto o torque tem de ser zero, de fato. Para que o torque resultante em relação à qualquer outro ponto arbitrário seja zero, é necessário executar uma mudança de referencial. É óbvio que, no referencial do corpo rígido, todos os seus pontos estão parados em relação à ele mesmo; portanto, o momento angular é constante e igual a zero e, desta forma, o torque resultante, qualquer que seja o ponto de referência para o cálculo, também será. Isso nos leva à Solução 2.

OBS.: Vale ressaltar que a expressão \tau=d\vec{L}/dt não é exatamente válida se tomamos como referência um ponto acelerado, como os pontos de contato com o solo em nosso caso. A exceção é quando esse ponto coincide com o CM, e por isso nosso raciocínio funciona no referencial da Terra.

Solução 2: No referencial do bloco

Para entrar no referencial do corpo rígido, basta somarmos ao bloco a força inercial -m\vec{a}, aplicada em seu centro de massa:

Podemos, então, igualar os torques horários aos anti horários em relação à roda esquerda, considerando agora o torque da força fictícia:

F\cdot h_{min}+mg\cdot \dfrac{L}{2}=ma \cdot \dfrac{H}{2},

h_{min}=\dfrac{H}{2}-\dfrac{gL}{2a}=0,4\,m.

O que produz exatamente o mesmo resultado obtido previamente. Perceba que impor a condição de toque nulo no referencial do bloco em relação ao CM é idêntico à Solução 1, como era de se esperar, pois o torque produzido pela força de inércia nesse caso será zero.

(c)

Para a condição llimite de h_{max}, o corpo encontra-se na iminência de tombar para frente Logo, a normal N_1 no canto esquerdo tende a zero. Pelo equilíbrio vertical, N_2=mg. igualamos os torques horários aos anti-horários:

F\cdot \left(h_{max}-\dfrac{H}{2}\right)=N_1 \cdot \dfrac{L}{2},

ma\left(h_{max}-\dfrac{H}{2}\right)=\dfrac{mgL}{2} \rightarrow

\rightarrow \boxed{h_{max}=\dfrac{H}{2}+\dfrac{gL}{2a}=1,4\,m}.

O processo é feito de forma análoga ao da Solução 2 do item (b) caso deseje-se zerar os torques utilizando a roda direita como pivô, por exemplo.

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Gabarito

(a)  \boxed{a=4,0 \, m/s^2}

(b) \boxed{h_{min}=0,4\,m}

(c) \boxed{h_{max}=1,4\,m}

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