Aula 1.11 - Momento de Inércia

 

Aula de Paulo César

Como visto na aula de torques, o momento de inércia é uma grandeza de grande importância quando estudamos a dinâmica de corpos rígidos, nessa aula aprofundaremos nossos conceitos a respeito desse tópico.

Quando tratamos de uma partícula com dimensões desprezíveis e massa constante, podemos afirmar:

    \vec{F}_{res}=m\vec{a}

 analogamente, para um corpo rígido extenso sujeito à um torque resultante é possível escrever:

  \vec{\tau}=I\vec{\alpha}

Observa-se desse modo um equivalente à massa do corpo na primeira situação para um corpo extenso em rotação, grandeza conhecida como momento de inércia que pode ser interpretada como a resistência de um material à mudanças em seu movimento angular. Para um distribuição discreta de n massas, estando a i-ésima massa a uma distância r_{i} do eixo de rotação, o valor do momento de inércia é dado pela expressão:

I=\sum m_{i}r^2_{i}

GMS020102a

Figura 1: Esquema representativo das grandezas relevantes para o momento de inércia no caso discreto.

para uma distribuição contínua podemos imaginar infinitas massas infinitesimais, desse modo temos:

I=\int r^2dm

adfeagebge

Figura 2: Esquema representativo das grandezas relevantes para o momento de inércia no caso contínuo.

Por exemplo, para uma barra delgada de massa m uniformemente distribuída ao longo de seu comprimento l, o momento de inércia ao redor do centro de massa é dado por:

I=\int r^2dm \Rightarrow I=\frac{m}{l}\int_{-l/2}^{l/2}r^2dr

 \Rightarrow I = \frac{ml^2}{12}

Caso o leitor não possua conhecimento de cálculo existem inúmeras tabelas que contém os valores dos momentos de inércia mais comuns.

A fim de facilitar o cálculo dos momentos de inércia apresentaremos dois teoremas que possibilitarão a obtenção dessas quantidades sem muito esforço. Considere um conjunto de n massas em que o vetor \vec{r_{i}} é a componente perpendicular do vetor posição da partícula em um referencial S, além disso definiremos o vetor \vec{R} como o vetor da posição do centro de massa das n partículas e o vetor \vec{r_{i}}' como a componente do vetor posição da i-ésima massa que é perpendicular ao eixo de rotação, conforme a figura a seguir:

parallel axis theorem

Figura 3: Imagem ilustrando os parâmetros relevantes para a determinação do momento de inércia de um corpo através do teorema dos eixos paralelos.

Assim é possível afirmar que:

\vec{r_{i}}=\vec{d}+\vec{r_{i}}' \Rightarrow r_{i}^2 = d^2 + r_{i}'^2 + 2(\vec{d}\cdot\vec{r_{i}}')

portanto o momento de inércia do sistema no referencial S é dado por:

I=\sum m_{i}d^2 + \sum m_{i}r_{i}'^2 + 2\sum (\vec{d}\cdot\vec{r_{i}}')

Faremos então I_{CM}\equiv \sum m_{i}r_{i}'^2, ou seja, o momento de inércia em relação ao centro de massa do sistema. Observe que \vec{d} é constante durante a soma das massas sendo possível dessa forma retirá-lo do somatório devido à propriedade \vec{A}\cdot(\vec{B}+\vec{C})=\vec{A}\cdot\vec{B} + \vec{A}\cdot\vec{C} resultando em:

I=I_{CM}+Md^2+2\vec{d}\cdot\sum m_{i}\vec{r_{i}}'

Em que M \equiv \sum m_{i}, ou seja, a massa total do sistema. Porém o termo \sum m_{i}\vec{r_{i}}' é, por definição, a posição do centro de massa em seu próprio referencial vezes a massa total do conjunto e portanto o vetor nulo. Assim chegamos no teorema dos eixos paralelos:

I=I_{CM}+Md^2

A demonstração foi feita para um distribuição discreta porém os mesmos argumentos poderiam ser utilizados para o  caso contínuo.

Agora suponha que o mesmo conjunto esteja disposto em um plano e possua momento de inércia I_{x} e I_{y} nos eixos x e y, respectivamente. Pela definição de momento de inércia no eixo z teremos:

I_{z}= \sum m_{i}{r_{i}^2}

nesse caso a distância r_{i} coincide com a distância da partícula à origem do sistema de referência de forma que r_{i}^2=x_{i}^2+y_{i}^2, como pode ser verificado pela imagem:

mnomento de inercia perpendicular

Figura 4: Imagem ilustrando os parâmetros relevantes para a determinação do momento de inércia de um corpo através do teorema dos eixos perpendiculares.

Portanto:

I_{z}=\sum m_{i}x_{i}^2 + \sum m_{i}y_{i}^2

logo:

I_{z}=I_{x}+I_{y}

Esse é o teorema dos eixos perpendiculares, válido apenas para objetos planos. Novamente, os mesmos argumentos utilizados aqui poderiam ser usados para um distribuição contínua. De maneira geral, o momento de inércia em um eixo ortogonal ao plano do corpo é igual à soma dos momentos de inércia de dois momentos de inércia em eixos perpendiculares ao longo desse plano.

Continuando no cenário que estamos estudando, podemos encontrar a energia cinética de um conjunto de partículas se movendo. Para fazer isso, afirmaremos que a velocidade de uma partícula (\vec{v_{i}}) pode ser expressa como a soma da velocidade do centro de massa (\vec{V}) do sistema com a velocidade da partícula em relação ao centro de massa (\vec{v}_{i}'), matematicamente:

\vec{v}=\vec{V}+\vec{v}' \Rightarrow v^2=V^2+v'^2+2(\vec{V}\cdot\vec{v'})

logo, a energia cinética total do corpo é dada por:

T=\sum \frac{1}{2}m_{i}v_{i}^2 \Rightarrow T=\frac{1}{2}\sum m_{i}V^2 + \frac{1}{2}\sum m_{i}v_{i}'^2+\vec{V}\cdot\sum m_{i}\vec{v_{i}'}

Similarmente, o termo \sum m_{i}\vec{v_{i}'} representa a massa total do corpo vezes a velocidade de centro de massa em seu próprio referencial que é \vec{0}. O módulo da velocidade de uma partícula no referencial do centro de massa é dada por v_{i}'=\omega r_{i}' portanto:

T=\frac{1}{2}MV^2+\frac{1}{2}\omega^2\sum m_{i}r_{i}'^2 \Rightarrow T=\frac{1}{2}MV^2+\frac{1}{2}I_{CM}\omega^2

Assim, é possível a calcular a energia cinética do corpo o tratando como uma partícula de dimensões desprezíveis de massa M e velocidade V e em seguida somar a contribuição relacionada à rotação do corpo dada por \frac{1}{2}I_{CM}\omega^2 fazendo novamente analogia ao caso linear em que m \rightarrow I e v \rightarrow \omega. Mais uma vez, os argumentos que foram utilizados para partículas discretas seguem análogos ao caso contínuo.