Aula de Paulo César
Como visto na aula de torques, o momento de inércia é uma grandeza de grande importância quando estudamos a dinâmica de corpos rígidos, nessa aula aprofundaremos nossos conceitos a respeito desse tópico.
Quando tratamos de uma partícula com dimensões desprezíveis e massa constante, podemos afirmar:
analogamente, para um corpo rígido extenso sujeito à um torque resultante é possível escrever:
Observa-se desse modo um equivalente à massa do corpo na primeira situação para um corpo extenso em rotação, grandeza conhecida como momento de inércia que pode ser interpretada como a resistência de um material à mudanças em seu movimento angular. Para um distribuição discreta de massas, estando a i-ésima massa a uma distância do eixo de rotação, o valor do momento de inércia é dado pela expressão:
Figura 1: Esquema representativo das grandezas relevantes para o momento de inércia no caso discreto.
para uma distribuição contínua podemos imaginar infinitas massas infinitesimais, desse modo temos:
Figura 2: Esquema representativo das grandezas relevantes para o momento de inércia no caso contínuo.
Por exemplo, para uma barra delgada de massa uniformemente distribuída ao longo de seu comprimento , o momento de inércia ao redor do centro de massa é dado por:
Caso o leitor não possua conhecimento de cálculo existem inúmeras tabelas que contém os valores dos momentos de inércia mais comuns.
A fim de facilitar o cálculo dos momentos de inércia apresentaremos dois teoremas que possibilitarão a obtenção dessas quantidades sem muito esforço. Considere um conjunto de massas em que o vetor é a componente perpendicular do vetor posição da partícula em um referencial , além disso definiremos o vetor como o vetor da posição do centro de massa das partículas e o vetor como a componente do vetor posição da i-ésima massa que é perpendicular ao eixo de rotação, conforme a figura a seguir:
Figura 3: Imagem ilustrando os parâmetros relevantes para a determinação do momento de inércia de um corpo através do teorema dos eixos paralelos.
Assim é possível afirmar que:
portanto o momento de inércia do sistema no referencial é dado por:
Faremos então , ou seja, o momento de inércia em relação ao centro de massa do sistema. Observe que é constante durante a soma das massas sendo possível dessa forma retirá-lo do somatório devido à propriedade resultando em:
Em que , ou seja, a massa total do sistema. Porém o termo é, por definição, a posição do centro de massa em seu próprio referencial vezes a massa total do conjunto e portanto o vetor nulo. Assim chegamos no teorema dos eixos paralelos:
A demonstração foi feita para um distribuição discreta porém os mesmos argumentos poderiam ser utilizados para o caso contínuo.
Agora suponha que o mesmo conjunto esteja disposto em um plano e possua momento de inércia e nos eixos e , respectivamente. Pela definição de momento de inércia no eixo teremos:
nesse caso a distância coincide com a distância da partícula à origem do sistema de referência de forma que , como pode ser verificado pela imagem:
Figura 4: Imagem ilustrando os parâmetros relevantes para a determinação do momento de inércia de um corpo através do teorema dos eixos perpendiculares.
Portanto:
logo:
Esse é o teorema dos eixos perpendiculares, válido apenas para objetos planos. Novamente, os mesmos argumentos utilizados aqui poderiam ser usados para um distribuição contínua. De maneira geral, o momento de inércia em um eixo ortogonal ao plano do corpo é igual à soma dos momentos de inércia de dois momentos de inércia em eixos perpendiculares ao longo desse plano.
Continuando no cenário que estamos estudando, podemos encontrar a energia cinética de um conjunto de partículas se movendo. Para fazer isso, afirmaremos que a velocidade de uma partícula pode ser expressa como a soma da velocidade do centro de massa do sistema com a velocidade da partícula em relação ao centro de massa , matematicamente:
logo, a energia cinética total do corpo é dada por:
Similarmente, o termo representa a massa total do corpo vezes a velocidade de centro de massa em seu próprio referencial que é . O módulo da velocidade de uma partícula no referencial do centro de massa é dada por portanto:
Assim, é possível a calcular a energia cinética do corpo o tratando como uma partícula de dimensões desprezíveis de massa e velocidade e em seguida somar a contribuição relacionada à rotação do corpo dada por fazendo novamente analogia ao caso linear em que e . Mais uma vez, os argumentos que foram utilizados para partículas discretas seguem análogos ao caso contínuo.