Escrito por Lucas Tavares
Alguns problemas para você praticar a teoria estudada. O grau de dificuldade dos problemas está indicado com asteriscos (*). Problemas com 1 asterisco é o equivalente a um problema de primeira fase de OBF, 2 asteriscos (**) um de segunda fase, e 3 asteriscos (***) um de terceira fase.
Questão 1 *
(OBF) Um pedaço de gelo de 0,30kg a 0∘C é colocado em um recipiente termicamente isolado contendo 2,0kg de água a 10∘C. Determine a temperatura e a composição final do sistema. Dados: calor específico da água =1,0kcal/kg∘C; calor latente de fusão da água =80kcal/kg
Solução
No equilíbrio térmico, tem-se que a soma dos calores é 0. Sendo assim:
Qgelo+Qagua+Q′agua=0
Em que Qgelo é o calor associado ao derretimento do gelo, Qagua é o calor associado ao resfriamento da água e Q′agua é o calor associado ao aquecimento do gelo derretido. Portanto:
mgeloL+maguac(T−T0)+mgelocT=0
Substituindo os valores:
0,3⋅80+2⋅1⋅(T−10)+0,3⋅1⋅T=0
Com isso:
T=−1,73∘C
Mas isso é um absurdo, pois não é possível que o sistema atinja o equilíbrio nessa temperatura. Portanto, conclui-se que o gelo não derreteu completamente e a temperatura do equilíbrio é de 0∘C. Vamos calcular a massa de gelo que permaneceu.
mderreteL+maguac(0−T0)=0
mderrete=maguacT0L
mderrete=0.25kg
Portanto ainda haverá no sistema:
0,05kgdegelo, 2,25kgdeagua
a uma temperatura de T=0∘C
[collapse]
Gabarito
0,05kgdegelo, 2,25kgdeagua
T=0∘C
[collapse]
Questão 2 *
Um bloco de gelo de massa 3,0kg, que está a uma temperatura de −9∘C, é colocado em um calorímetro (recipiente isolado de capacidade térmica desprezível) contendo 5,0kg de água, à temperatura de 40,0∘C. Qual a quantidade de gelo que sobra sem se derreter? Dados: calor específico do gelo cg=0,5kcal/kg∘C; calor latente de fusão do gelo: L=80kcal/kg.
Solução
No equilíbrio, o calor total será nulo. Logo:
mderreteL+mgelocgelo(T−T0gelo)+maguacagua(T−T0agua)=0
mderrete=−mgelocgelo(T−T0gelo)+maguacagua(T−T0agua)L
Substituindo os valores:
mderrete≈2,33kg
[collapse]
Gabarito
mderrete≈2,33kg
[collapse]
Questão 3 *
Uma barra metálica é aquecida conforme a figura; A, B e C são termômetros. Admita a condução de calor em regime estacionário e no sentido longitudinal da barra. Quando os termômetros das extremidades indicarem 200∘C e 80∘C, quanto o intermediário indicará?

Solução
No regime estacionário, o fluxo de calor ao longo da barra será constante. Portanto:
Φ=KA(TA−TB)LAB=KA(TC−TB)LCB
TC=(TA−TB)LCBLAB+TB
Substituindo os valores:
TC=125∘C
[collapse]
Questão 4 *
Explique o funcionamento físico de um vaso de Dewar, esclarecendo como os conceitos físicos acerca dos processos de transferência de calor são utilizados na sua fabricação.
Solução
Vaso de Dewar é o nome científico dado para a famosa garrafa témica! Com o intuito de manter a temperatura interna da garrafa, vamos construir um vaso de Dewar com o conhecimento que temos. Para o nosso objetivo, temos que extinguir todas as formas de transferência de calor, que podem se dar por convecção, condução e radiação.
Para a radiação, a forma mais simples é utilizando superfícies refletoras. Então utiliza-se uma superfície refletora interna (para manter o calor do café, por exemplo) e uma superfície refletora externa (para manter a água gelada, por exemplo). Para isso, pode-se utilizar papel alumínio para revestir as superfícies da garrafa.
A convecção terá uma contribuição desprezível para a troca de calor, mas para garantir que não ocorra, vamos considerar um vácuo entre as paredes da garrafa. Isso também será útil para evitar a condução. Entretanto, um vácuo perfeito não será possível de consegui. Pode-se então utilizar um material que seja um péssimo condutor de calor. Exemplos de materiais para isso: jornal, isopor.
Perceba que agora o único ponto que haverá uma grande condução de calor será na tampa da garrafa. Para evitar essa condução, utiliza-se uma pequena borrachinha na tampa. Veja na figura abaixo um esquema da garrafa:

[collapse]
Questão 5 **
A energia radiante que a Terra recebe do Sol sob incidência normal, por unidade de tempo e de área, é denominada constante solar e vale Cs=19,4kcal/minm2 . O gelo tem densidade absoluta d=920kg/m3 e calor de fusão L=80kcal/kg. Suponha que a Terra seja revestida por uma camada uniforme de gelo de espessura x, a 0∘C. Determine, em metros, essa espessura, sob condição de que o gelo seja fundido em 30 dias por efeito do calor radiante proveniente do Sol, que ele absorve integralmente, e com exclusão de qualquer outra troca de calor.
Solução
Como o enunciado indica, todo o calor absorvido do sol será utilizado para derreter o gelo. Logo:
CsTA=dVL
A área em que a Terra recebe radiação do Sol será dada por A=πR2T. Você pode interpretar isso como sendo a área efetiva da Terra que recebe radiação, pois apenas a face virada para o Sol receberá a radiação.

Como a camada de gelo será muito pequena comparado ao raio da Terra, seu volume se dará por: V=4πR2Tx. Portanto:
CsT2πR2T=d4πR2TxL
x=CsT2dL
Substituindo os valores:
x≈5,7m
[collapse]
Questão 6 **
(OBF) Um estudante observa que sua família, por comodidade, prefere secar as roupas em uma máquina elétrica ao invés de pendurá-las no varal, onde o clima em geral seco de sua região, as secaria sem custo. Para estimar o gasto mensal com a máquina de secar, o estudante seleciona uma amostra representativa das roupas da casa que, quando secas, têm massa 8,00 kg e, quando úmidas (logo após lavadas e torcidas ou centrifugadas, ou seja, prontas para ir para o varal ou secadora), têm massa de 15,00 kg. Considerando que, na máquina, o calor usado para secar a roupa vem da eletricidade, estime o custo mensal para secar as roupas na secadora sabendo que em média, por mês, são lavados 120 kg de roupas e o custo do energia elétrica na região é de R$0,85/kWh.
Solução
Deve-se perceber que a diferença de massa depois da secagem é proveniente da água que evaporou durante o processo, que é posterior ao de lavagem. Primeiramente, façamos uso de uma proporção simples com os dados do enunciado para encontrar a massa das roupas molhadas no processo mensal (perceba que 120 kg é a massa apenas das roupas secas ou antes de serem lavadas), e deste número subtraímos os 120 kg de forma a obter a massa de água evaporada:
8,00120=15,00m
m=225 kg ∴
Δm=225−120=105 kg =105∗103 g
O calor necessário Q em calorias para a evaporação foi, então (note que, em primeira aproximação, podemos desconsiderar o calor sensível, visto também que nada foi informado sobre a temperatura inicial da água):
Q=ΔmLv=105∗103∗540=5,67∗107 cal
Em joules:
Q=4,2∗5,67∗107≈2,38∗108 J
Façamos, então, uma nova proporção para encontrar o custo C desse processo, em reais, dado que R$0,85 correspondem à 1 kWh =3,6∗106 J:
0,85C=3,6∗1062,38∗108 ∴
C≈R$56,19
[collapse]
Questão 7 **
Um bloco de gelo de 1 tonelada, destacado de uma geleira, desliza por uma encosta de 10∘ de inclinação com velocidade constante de 0,1m/s. O calor latente de fusão do gelo é de 80cal/g. Calcule a quantidade de gelo que se derrete por minuto em consequência do atrito. Use se precisar: sinθ≈θ e cosθ≈1 ; θ≪1rad
Solução
A potência dissipada pelo atrito vai se dar por Pot=−Fatv. Como a potência dissipada derreterá o gelo:
ΔQΔt=−LΔmΔt=Pot
Assim:
ΔmΔt=μmgcosθvL
Como a velocidade é constante, o bloco está em equilíbrio e assim μ=tanθ≈θ=π/18
Logo, substituindo os valores:
ΔmΔt≈5,2⋅10−4kg/s
Lembre-se que deve-se converter a unidade do calor latente para J/kg
[collapse]
Gabarito
ΔmΔt≈5,2⋅10−4kg/s
[collapse]
Questão 8 **
(OBF) As figuras abaixo ilustram dois arranjos experimentais usados para investigar a taxa de transferência de calor entre os corpos A e B. As temperaturas TA e TB, com TA>TB, são mantidas constantes por equipamentos não representados na figura. Em ambos os arranjos, são usadas duas barras cilíndricas de dimensões idênticas. A barra 1 tem condutividade térmica k1 e a barra 2 tem condutividade térmica k2. Ambas as barras são isoladas termicamente em suas superfícies laterais de modo que o calor é conduzido de A a B sem perdas para a vizinhança. Suponha que, no regime estacionário, a taxa de transferência de calor de A para B, nos arranjos I e II sejam, respectivamente ϕI e ϕII. Determine a razão ϕII/ϕII nos seguintes casos:
(a) as barras têm as mesmas condutividades térmicas k1=k2;
(b) a condutividade térmica de uma barra é o triplo da outra k1=3k2.

Solução
Resolveremos o problema para o caso geral k1≠k2, para então depois particularizar de acordo com as condições desejadas.
I) Chame de ϕ1 e ϕ2 o fluxo térmico (energia por unidade de tempo) através das barras 1 e 2, respectivamente. Seja A a secção reta das barras (as dimensões das barras são iguais) e T a temperatura na junção das barras, com TA>T>TB.. Utilizando a Lei de Fourier, temos que
ϕ1=k1A(TA−T)L.
ϕ2=kA(T−TB)L.
No estado estacionário, deve valer a continuidade de fluxo para a associação em série: ϕ1=ϕ2=ϕI. Logo:
TA−T=ϕILk1A.
T−TB=ϕILk2A.
Somando as duas equações, isolamos ϕI para obter
ϕI=(k1k2k1+k2)A(TA−TB)L.
II) No segundo cenário (associação em paralelo), o fluxo total ϕII se divide entre as duas as barras. Isto é:
ϕII=ϕ1+ϕ2.
Novamente, pela Lei de Fourier, vale escrever:
ϕII=ϕ1=k1A(TA−TB)L+k2A(TA−TB)L,
ϕII=(k1+k2)A(TA−TB)L.
Então, a razão ϕII/ϕI é dada por:
ϕIIϕI=(k1+k2)2k1k2
(a) Para k1=k2:
ϕIIϕI=4.
(b) Para k1=3k2:
ϕIIϕI=163≈5,33.
[collapse]
Gabarito
(a) ϕIIϕI=4
(b) ϕIIϕI=163≈5,33
[collapse]
Questão 9 **
Uma peça, de seção transversal constante, é composta por três metais arranjados, conforme a figura, onde estão indicadas as condutibilidades de cada parte, bem como suas respectivas dimensões. Para o calor fluir no sentido indicado pelas setas, calcule a condutibilidade equivalente da peça.

Solução
Para resolver esse problema, vamos fazer associações das peças! Antes de tudo, vamos definir a espessura (profundidade) da peça total como h, a temperatura da direita, do meio e da esquerda como Td, Tm e Te, respectivamente. Percebe-se que as peças de 2k e 3k estão em paralelo. Logo, para a associação, tem-se:
Φ2+3=Φ2+Φ3
Φ2+3=2k(Lh)(Tm−Td)d+3k(2Lh)(Tm−Td)d
Φ2+3=8k(Lh)(Tm−Td)d
Agora, perceba que o sistema é formado por duas peças, como mostra a figura abaixo:

Note que nesse novo sistema, cada peça está em série. Sendo assim:
Φ1=Φ2+3
k(3Lh)(Te−Tm)2d=8k(Lh)(Tm−Td)d
19Tm=3Te+16Td
Como a associação é em série:
Φeq=Φ1
keq(3Lh)(Te−Td)3d=k(3Lh)(Te−Tm)2d
2keq(Te−Td)=3k(Te−3Te+16Td19)
Portanto:
keq=24k19
[collapse]
Questão 10 **
Têm-se três cilindros de secções transversais iguais de cobre, latão e aço, cujos comprimentos são, respectivamente, 46cm,13cm e 12cm. Soldam-se os cilindros, formando o perfil em Y, como indica na figura. O extremo livre do cilindro de cobre é mantido a 100∘C, e dos cilindros de latão e aço, a 0∘C. Suponha que a superfície lateral dos cilindros esteja isolada termicamente. As condutividades térmicas do cobre, latão e aço valem, respectivamente, 0,92,0,26 e 0,12, expressas em cal/cms∘C . No regime estacionário de condução, qual a temperatura na junção?

Solução
Perceba que no sistema, a barra de Aço (A) e a barra de Latão (L) estão em paralelo, pois ambas as extremidades estão na mesma temperatura. Perceba também que a barra de Latão + Aço (L+A) estão em série com a barra de Cobre (C). Sendo assim, esse problema fica extremamente parecido com o problema anterior.
Associando as barras em paralelo:
ΦL+A=kAS(T−0)LAkLS(T−0)LL
Em que T é a temperatura da junção e S a secção transversal das barras.
Pelas barras em série:
ΦL+A=ΦC
kAS(T−0)LAkLS(T−0)LL=kCS(100−TLC
T(KALA+KLLL+KCLC)=100KCLC
Substituindo os valores, encontra-se:
T=40∘C
[collapse]
Questão 11 ***
Em um belo dia frio de inverno, a temperatura do ar atmosférico é de −T∘C. Um cilindro, de material perfeitamente isolante, é preenchido com água a 0∘C. Sabendo que o calor latente de fusão da água vale L, a densidade do gelo vale ρ e a condutividade térmica do gelo vale Kgelo, determine o tempo para toda a coluna de água (H) ser transformada em gelo.

Solução
Quando a água é congelada, a camada de gelo formada servirá de isolante térmico de tal forma que o calor do ambiente será conduzido pelo gelo. Portanto, vamos analisar a condução de calor através do gelo. Em um instante genérico, tem-se:
Φ=KgeloπR2(−T−0)d
Em que d é a espessura da camada de gelo que já congelou. Perceba que esse fluxo de calor "negativo" representa a quantidade de calor que a água perde para o ambiente, transformando-se assim em gelo. Portanto, pode-se dizer que:
δQaguaδt=Lδmδt=Φ
−LρπR2δdδt=−KgeloπR2Td
δt=LdρKgeloTdδd
Para calcular o tempo total, vamos fazer uma analogia à cinemática. Em um MRUV, a velocidade é dada por at. Para calcular o espaço percorrido, pode-se calcular área do gráfico dado por v por t, ou seja, at por t. Da mesma fora, para calcular o tempo total na questão, vamos calcular a área do gráfico de δtδd por d. Perceba que nessa analogia, δtδd seria a "velocidade do tempo", d seria análogo ao tempo e t análogo ao espaço percorrido. Com isso, tem-se o seguinte gráfico:

Calculando a área desse gráfico e, portanto, ttotal:
ttotal=Ldρh22KgeloT
[collapse]
Gabarito
ttotal=Ldρh22KgeloT
[collapse]
Questão 12 ***
Uma casa tem três paredes idênticas, cada uma delas podendo ser tratada como um corpo negro. A distância entre cada par de planos é muito menor que as dimensões das paredes. Considere que os sistemas estão no vácuo. Determine a temperatura de equilíbrio T1 no regime estacionário da parede interna se a parede da esquerda está a uma temperatura T(K) e a da direita tem temperatura 2T(K)

Solução
No equilíbrio, o fluxo resultante em cada placa será nulo, ou seja
Φrecebe+Φemite=0
Logo, para a paca do meio:
2σAT41=σAT4+σA(2T)4
Logo,
T1=4√172T
[collapse]
Questão 13 ***
Em um dia quente de páscoa, Matheus Felipe tira da geladeira um pequeno coelho de chocolate de 250g, deixa em cima de uma mesa e percebe que o coelho derrete completamente em cerca de 1hora. Curioso com isso, Matheus Felipe decide estimar em quanto tempo iria demorar para que um ovo de páscoa de 3kg derreta completamente. Ajude Matheus Felipe a estimar esse tempo.
Solução
Como esse é um problema de estimativa, fatores numéricos (como fatores devido à geometria do objeto) não serão considerados. Portanto, analisaremos apenas proporcionalidades entre as grandezas para estimar o tempo de derretimento.
O calor recebido ao longo do chocolate para que ele derreta se dará pela Lei de Fourier. Logo:
ΔQΔtαAΔTLαL2L
ΔtαQL
O calor propagado será utilizado para derreter o chocolate, ou seja
QαM
Como a massa é dada pela densidade vezes o volume, teremos que
LαM1/3
Assim, teremos que:
ΔtαMM1/3=M2/3
Sendo assim, o tempo total vai ser proporcional a M2/3. Logo, fazendo uma simples regra de três, teremos que o tempo que o ovo de chocolate vai demorar para derreter será:
Δt≈(30,25)2/3
Δt≈5,2horas
[collapse]
Questão 14 ***
(OBF) De acordo com a lei de Stefan-Boltzmann, a taxa de energia irradiada por um corpo de área A a temperatura T em um ambiente de temperatura Ta<T é dada por
P=eσA(T4−T4a)
onde σ≈6×10−8W/m2K4 é a constante universal de Stefan-Boltzmann, e é a emissividade característica da superfície, que é um valor entre 0 e 1, e as temperaturas são dadas em K. Uma lâmpada de potência P=250W é colocada no centro de uma caixa cúbica suspensa por fios e perfeitamente vedada. Suas paredes de lado a=20cm e espessura 1cm são feitas de um material sintético de emissividade e=1 e condutividade térmica é k=0,5W/mK. Como o ar é um mal condutor de calor, pode-se considerar que todas as ttrocas de energia da caixa com o ambiente exterior se dão por irradiação. Determine a temperatura de equilíbrio do ar no interior da caixa quando a lâmpada está ligada e a temperatura ambiente é Ta=27∘C.
Solução
Analisando a caixa inteira, sabendo que um corpo negro (e=1) absorve toda a energia que incide sobre ele, deduz-se que no equilíbrio toda a potência absorvida pelo interior da caixa será transferida para o exterior por condução, e então ao ambiente por radiação.
Portanto,
σeA(T4ext−T4a)=250W e kA(Tint−Text)L=250W
Assim, podemos obter o valor de Tint.
Agora, analisando cada lado da caixa como uma placa isolada, percebe-se que as potências irradiadas pelas superfícies interna e externa devem ser iguais. Logo:
σeA(T4int−T4)=250W
Obtendo então o valor de T, a temperatura do ar no interior da caixa:
T=343K
[collapse]
Questão 15 ***
(OBF) Muito antes da existência dos atuais refrigeradores, alguns povos antigos desenvolveram uma técnica para a produção de gelo. Em uma noite sem luar, na qual a temperatura é de 5 ∘C, é possível obter gelo ao colocar uma certa quantidade de água sobre um recipiente de área de 35 cm2, devidamente isolado em sua base, por exemplo com palha, e deixando-o exposto por aproximadamente 6 horas. Esse fenômeno é explicado pelas trocas de energia por radiação térmica entre o corpo e o céu noturno. Em regiões desérticas onde essa técnica é usada, sob certas condições climáticas, o céu pode ser considerado aproximadamente um corpo negro de temperatura −20 ∘C. Considere que a taxa com que um corpo troca energia por irradiação com um meio que se comporta como um corpo negro de temperatura Tn é dada por
P=eσA(T4−T4n)
onde σ=5,7.10−8 Wm2K4 é a constante de Stefan, e é a emissividade do corpo, A é a área pela qual a energia é irradiada e T sua temperatura. Determine a quantidade de gelo, em gramas, obtida na situação descrita acima, considerando que o sistema (conteúdo do recipiente) troca energia apenas com o céu noturno. (Assuma que a emissividade da água é 0,9.)
Solução
Há duas interpretações para este problema. Uma considera o calor sensível trocado e a outra não.
A primeira interpretação considera que a "certa quantidade de água" descrita no enunciado é o próprio gelo. Em outras palavras, toda água congela. Primeiramente, a água dentro do recipiente troca calor sensível com a vizinhança até atingir a temperatura de fusão 273K. Perceba que a potência instantânea varia durante essa mudança de temperatura, mas para fins de aproximação, deve-se utilizar uma temperatura média (veja abaixo). Depois que a água atinge 273K ela começa a derreter a temperatura constante (mudança de fase). O calor total trocado (sensível+latente) é dado pelo produto da potência (utilizaremos uma potência média) pela duração do processo(6 horas). Dessa forma, temos que
m(L+cΔT)=PΔt (1)
Onde ΔT=5K e Δt=6h. A potência pode ser aproximada a partir da média das temperaturas dos dois processos
T=(278+273)K2=275,5K
A potência é dada por
P=eσA(T4−T4n)=0,299W
Substituindo os valores em (1):
m=18,07g
Observe que essa não é a resposta exata desta solução. Veja mais abaixo para a solução exata. Uma solução mais precisa para essa interpretação seria perceber que o calor latente da água é bem maior do que o calor necessário para resfriá-la em 5 K, sendo assim, poderia-se utilizar como estimativa da potência média a potência quando a água estivesse à 0∘C. Dessa forma, obteríamos:
P=0,262 W
E a massa derretida seria:
m=15,85 g
A segunda interpretação considera que, como o enunciado não nos dá informações sobre a massa de água inicial no recipiente, não podemos inferir que toda água derrete. Sendo assim, não há como saber o tempo que água leva para chegar a temperatura de fusão: esse tempo poderia ser arbitrariamente grande, dependendo da massa de água. Esse tempo deveria ser subtraido de 6h para descobrirmos o tempo que a água em fusão troca calor com o céu noturno. Portanto, seguindo essa linha de raciocíonio é natural concluir que o tempo fornecido no enunciado (6h) se refere somente ao tempo que a água em fusão troca calor. O calor sensível não entra nos cálculos, e a temperatura permanence constante durante toda a troca de calor, logo:
LΔm=PΔt=eσA(T4−T4n)
Aqui, T=273K. Fazendo os cálculos:
P=0,262W
E a massa derretida:
Δm=16,84g
Essa é a resposta exata para a segunda interpretação.
Comentários a respeito das interpretações:
Acreditamos que, tendo o enunciado como ferramenta, as duas interpretações são válidas se discorridas corretamente na prova. Caso o aluno optasse pela primeira, ela deveria explicar em sua solução que, no seu entendimento, toda a massa de água derrete. Alternativamente, se o aluno escolhesse a segunda interpretação, seria adequado explicar o porquê de não incluir o calor sensível em seus cálculos por não termos informações da massa inicial e talvez mostrar a expressão que fornece o calor sensível. Acreditamos também que a primeira interpretação é a que os elaboradores da OBF pensaram. Isso porque ela inclui o cálculo do calor sensível e destaca que água precisa ceder certo calor para atingir a temperatura de ebulição. Mas como o enunciado não ficou claro, as duas interpretações deveriam ser, dentro do possível, consideradas corretas.
Solução exata da primeira interpretação (Mesmo que não acompanhe a matemática, veja a conclusão final)
Na solução aproximada, consideramos uma potência média. Aqui, mostraremos que essa solução é de fato bastante concisa visto que a variação de temperatura é baixa comparada com seus valores extremos. Pelo enunciado, a duração total do processo é de seis horas. Portanto, vejamos quanto fica o tempo necessário Δt0 para a água atingir a temperatura de fusão:
dQdt=−eσA(T4−T4n)=mcdTdt
Δt0=mceσA∫278K273KdTT4−T4n
Defina T/Tn=u. Essa última integral pode ser resolvida notando que
1u4−1=1u2−1−1u2+12
Portanto, a integral pode ser dividida em duas:
∫1u4−1du=∫(1u2−1)du−∫(1u2+1)du2
A segunda é simplesmente arctanu, a primeira é mais trabalhosa. Fazendo a substituição de variável u=secβ, ficamos com
∫1u2−1du=∫sinβsec2βsec2β−1dβ=∫cscβdβ
Essa última é dada por ln(tanβ2)
Dessa forma, como u varia de 1,0988 a 1,0791, podemos computar essa integral. O resultado para Δt0 é
Δt0≈0,04875mceσAT3n
A duração do processo de derretimento é de 6h−Δt0 que é igual a
Δt1=LmP
Onde P é a potência (constante) durante a fusão da água. Substituindo valores numéricos, somos capazes de determinar exatamente (a menos de aproximações numéricas) m:
m≈16,82g=0,01682kg
Esse valor é muito próximo do resultado da segunda interpretação: por que?
Ao substituirmos m nas expressões para Δt0 e Δt1, vemos que Δt0≈0,3h. Ou seja, o tempo no qual a temperatura está entre 278K e 273K é consideravelmente menor que o tempo em que a temperatura está fixa em 273K (o que inclusive corrobora com a segunda solução da primeira alternativa, onde consideramos a potência média com o valor de 273 K) correspondendo a fusão da água. Observe que o resultado da segunda interpretação é a massa obtida se desconsiderarmos completamente a transição de 278K para 273K. Quando assumimos que toda a água disponível inicialmente derrete chegamos que o tempo de transição é muito pequeno, comparado as 6 horas. Portanto, é de esperar que esse resultado praticamente coincida com o da segunda interpretação. Mas não conclua então que as duas interpretações são equivalentes: o que acontece é que para concluir que o tempo de transição é pequeno, devemos fazer a consideração da primeira interpretação. Caso não fizéssemos, nunca poderíamos calcular esse tempo. Observe também que a diferença de massa entre a solução aproximada e a exata é de um pouco mais de 1 g: quando colocamos uma temperatura média, nós superestimamos o tempo em que a água atinge a temperatura de ebulição. Evidentemente, a solução exata não deve ser requerida na correção da questão: além de ter que computar integrais não triviais, os valores de logaritmos e tangentes não podem ser feitos "na mão".
[collapse]
Gabarito
m=16,82g=0,01682kg
[collapse]
OBS: Caso você queira um desafio nível TBF, você pode fazer esse problema do CF.