Problemas Aula 2.2 - Calor

Escrito por Lucas Tavares

Alguns problemas para você praticar a teoria estudada. O grau de dificuldade dos problemas está indicado com asteriscos (*). Problemas com 1 asterisco é o equivalente a um problema de primeira fase de OBF, 2 asteriscos (**) um de segunda fase,  e 3 asteriscos (***) um de terceira fase.

Questão 1 *

(OBF) Um pedaço de gelo de 0,30 \;\rm kg a 0^{\circ}C é colocado em um recipiente termicamente isolado contendo  2,0 \;\rm kg de água a 10^{\circ}C. Determine a temperatura e a composição final do sistema. Dados: calor específico da água = 1,0 \;\rm{kcal/kg^{\circ}C}; calor latente de fusão da água = 80\; \rm{kcal/kg}

Solução

No equilíbrio térmico, tem-se que a soma dos calores é 0. Sendo assim:

Q_{gelo} + Q_{agua} + Q_{agua}' = 0

Em que Q_{gelo} é o calor associado ao derretimento do gelo,  Q_{agua} é o calor associado ao resfriamento da água e  Q_{agua}' é o calor associado ao aquecimento do gelo derretido. Portanto:

m_{gelo} L + m_{agua} c(T-T_0) + m_{gelo}c T = 0

Substituindo os valores:

0,3\cdot 80 + 2\cdot 1 \cdot (T- 10) + 0,3 \cdot 1\cdot T= 0

Com isso:

T = -1,73 ^{\circ}C

Mas isso é um absurdo, pois não é possível que o sistema atinja o equilíbrio nessa temperatura. Portanto, conclui-se que o gelo não derreteu completamente e a temperatura do equilíbrio é de 0^{\circ}C. Vamos calcular a massa de gelo que permaneceu.

m_{derrete} L + m_{agua} c(0-T_0) = 0

m_{derrete} = \dfrac{m_{agua}cT_0}{L}

m_{derrete} = 0.25\;\rm{kg}

Portanto ainda haverá no sistema:

\boxed{0,05\;\rm{kg\; de\; gelo}}, \boxed{2,25\;\rm{kg\; de\; agua}}

a uma temperatura de \boxed{T = 0^{\circ}C}

[collapse]
Gabarito

\boxed{0,05\;\rm{kg\; de\; gelo}}, \boxed{2,25\;\rm{kg\; de\; agua}}

\boxed{T = 0^{\circ}C}

[collapse]

Questão 2 *

Um bloco de gelo de massa  3,0 \;\rm{kg}, que está a uma temperatura de -9^{\circ}C, é colocado em um calorímetro (recipiente isolado de capacidade térmica desprezível) contendo 5,0 \;\rm{kg} de água, à temperatura de 40,0^{\circ}C. Qual a quantidade de gelo que sobra sem se derreter? Dados: calor específico do gelo c_{g} = 0,5\;\rm{kcal/kg^{\circ}C}; calor latente de fusão do gelo: L = 80 \;\rm{kcal/kg}.

Solução

No equilíbrio, o calor total será nulo. Logo:

m_{derrete} L + m_{gelo}c_{gelo}(T-T_{0_{gelo}})+ m_{agua}c_{agua}(T-T_{0_{agua}}) = 0

m_{derrete} = - \dfrac{m_{gelo}c_{gelo}(T-T_{0_{gelo}})+ m_{agua}c_{agua}(T-T_{0_{agua}})}{L}

Substituindo os valores:

\boxed{m_{derrete} \approx 2,33\;\rm{kg}}

[collapse]
Gabarito

\boxed{m_{derrete} \approx 2,33\;\rm{kg}}

[collapse]

Questão 3 *

Uma barra metálica é aquecida conforme a figura; A, B e C são termômetros. Admita a condução de calor em regime estacionário e no sentido longitudinal da barra. Quando os termômetros das extremidades indicarem 200^{\circ}C e 80^{\circ}C, quanto o intermediário indicará?

Solução

No regime estacionário, o fluxo de calor ao longo da barra será constante. Portanto:

\Phi = \dfrac{ K A (T_A - T_B)}{L_{AB}} = \dfrac{ K A (T_C- T_B)}{L_{CB}}

T_C =(T_A-T_B) \dfrac{L_{CB}}{L_{AB}} + T_B

Substituindo os valores:

\boxed{T_C = 125^{\circ}C}

[collapse]
Gabarito

\boxed{T_C = 125^{\circ}C}

[collapse]

Questão 4 *

Explique o funcionamento físico de um vaso de Dewar, esclarecendo como os conceitos físicos acerca dos processos de transferência de calor são utilizados na sua fabricação.

Solução

Vaso de Dewar é o nome científico dado para a famosa garrafa témica! Com o intuito de manter a temperatura interna da garrafa, vamos construir um vaso de Dewar com o conhecimento que temos. Para o nosso objetivo, temos que extinguir todas as formas de transferência de calor, que podem se dar por convecção, condução e radiação.

Para a radiação, a forma mais simples é utilizando superfícies refletoras. Então utiliza-se uma superfície refletora interna (para manter o calor do café, por exemplo) e uma superfície refletora externa (para manter a água gelada, por exemplo). Para isso, pode-se utilizar papel alumínio para revestir as superfícies da garrafa.

A convecção terá uma contribuição desprezível para a troca de calor, mas para garantir que não ocorra, vamos considerar um vácuo entre as paredes da garrafa. Isso também será útil para evitar a condução. Entretanto, um vácuo perfeito não será possível de consegui. Pode-se então utilizar um material que seja um péssimo condutor de calor. Exemplos de materiais para isso: jornal, isopor.

Perceba que agora o único ponto que haverá uma grande condução de calor será na tampa da garrafa. Para evitar essa condução, utiliza-se uma pequena borrachinha na tampa. Veja na figura abaixo um esquema da garrafa:

[collapse]

Questão 5 **

A energia radiante que a Terra recebe do Sol sob incidência normal, por unidade de tempo e de área, é denominada constante solar e vale C_s = 19,4 \;\rm{kcal/min m^2} . O gelo tem densidade absoluta d = 920 \;\rm{kg/m^3} e calor de fusão L = 80 \;\rm{kcal/kg}. Suponha que a Terra seja revestida por uma camada uniforme de gelo de espessura x, a 0 ^{\circ}C. Determine, em metros, essa espessura, sob condição de que o gelo seja fundido em 30 dias por efeito do calor radiante proveniente do Sol, que ele absorve integralmente, e com exclusão de qualquer outra troca de calor.

Solução

Como o enunciado indica, todo o calor absorvido do sol será utilizado para derreter o gelo. Logo:

C_s T A = d VL

A área em que a Terra recebe radiação do Sol será dada por A = \pi R_T^2. Você pode interpretar isso como sendo a área efetiva da Terra que recebe radiação, pois apenas a face virada para o Sol receberá a radiação.

Como a camada de gelo será muito pequena comparado ao raio da Terra, seu volume se dará por: V = 4\pi R_T^2x. Portanto:

C_s T 2\pi R_T^2 = d 4\pi R_T^2x L

x = \dfrac{C_sT}{2dL}

Substituindo os valores:

\boxed{x \approx 5,7\;\rm{m}}

[collapse]
Gabarito

\boxed{x \approx 5,7\;\rm{m}}

[collapse]

Questão 6 **

(OBF) Um estudante observa que sua família, por comodidade, prefere secar as roupas em uma máquina elétrica ao invés de pendurá-las no varal, onde o clima em geral seco de sua região, as secaria sem custo. Para estimar o gasto mensal com a máquina de secar, o estudante seleciona uma amostra representativa das roupas da casa que, quando secas, têm massa 8,00 kg e, quando úmidas (logo após lavadas e torcidas ou centrifugadas, ou seja, prontas para ir para o varal ou secadora), têm massa de 15,00 kg. Considerando que, na máquina, o calor usado para secar a roupa vem da eletricidade, estime o custo mensal para secar as roupas na secadora sabendo que em média, por mês, são lavados 120 kg de roupas e o custo do energia elétrica na região é de R$0,85/kWh.

Solução

Deve-se perceber que a diferença de massa depois da secagem é proveniente da água que evaporou durante o processo, que é posterior ao de lavagem. Primeiramente, façamos uso de uma proporção simples com os dados do enunciado para encontrar a massa das roupas molhadas no processo mensal (perceba que 120 kg é a massa apenas das roupas secas ou antes de serem lavadas), e deste número subtraímos os 120 kg de forma a obter a massa de água evaporada:

  \dfrac{8,00}{120} = \dfrac{15,00}{m}

m = 225 kg \therefore

\Delta m = 225 - 120 = 105 kg = 105 * 10^{3} g

O calor necessário Q em calorias para a evaporação foi, então (note que, em primeira aproximação, podemos desconsiderar o calor sensível, visto também que nada foi informado sobre a temperatura inicial da água):

Q = \Delta m L_{v} = 105 * 10^{3} * 540 = 5,67 * 10^{7} cal

Em joules:

Q = 4,2 * 5,67 * 10^{7} \approx 2,38 * 10^{8} J

Façamos, então, uma nova proporção para encontrar o custo C desse processo, em reais, dado que R$0,85 correspondem à 1 kWh = 3,6 * 10^{6} J:

\dfrac{0,85}{C} = \dfrac{3,6*10^{6}}{2,38*10^{8}} \therefore

\boxed{C \approx R$56,19}

[collapse]
Gabarito

\boxed{C \approx R$56,19}

[collapse]

Questão 7 **

Um bloco de gelo de  1 tonelada, destacado de uma geleira, desliza por uma encosta de 10^{\circ} de inclinação com velocidade constante de 0,1 \;\rm{m/s}. O calor latente de fusão do gelo é de 80\; \rm{cal/g}. Calcule a quantidade de gelo que se derrete por minuto em consequência do atrito. Use se precisar: \sin\theta \approx \theta e \cos\theta\approx 1 ; \theta \ll 1 rad

Solução

A potência dissipada pelo atrito vai se dar por P_{ot} = -Fat v. Como a potência dissipada derreterá o gelo:

\dfrac{\Delta Q}{\Delta t} = - L\dfrac{\Delta m}{ \Delta t}= P_{ot}

Assim:

\dfrac{\Delta m}{ \Delta t} = \dfrac{\mu mg\cos{\theta} v}{L}

Como a velocidade é constante, o bloco está em equilíbrio e assim \mu = \tan \theta \approx \theta = \pi/18

Logo, substituindo os valores:

\boxed{\dfrac{\Delta m}{ \Delta t} \approx 5,2\cdot 10^{-4}\;\rm{kg/s}}

Lembre-se que deve-se converter a unidade do calor latente para \rm{J/kg}

[collapse]
Gabarito

\boxed{\dfrac{\Delta m}{ \Delta t} \approx 5,2\cdot 10^{-4}\;\rm{kg/s}}

[collapse]

Questão 8 **

(OBF) As figuras abaixo ilustram dois arranjos experimentais usados para investigar a taxa de transferência de calor entre os corpos A e B. As temperaturas T_A e T_B, com T_A  data-recalc-dims= T_B" />, são mantidas constantes por equipamentos não representados na figura. Em ambos os arranjos, são usadas duas barras cilíndricas de dimensões idênticas. A barra 1 tem condutividade térmica k_1 e a barra 2 tem condutividade térmica k_2. Ambas as barras são isoladas termicamente em suas superfícies laterais de modo que o calor é conduzido de A a B sem perdas para a vizinhança. Suponha que, no regime estacionário, a taxa de transferência de calor de A para B, nos arranjos I e II sejam, respectivamente \phi_I e \phi_{II}. Determine a razão \phi_{II}/\phi_{II} nos seguintes casos:
(a) as barras têm as mesmas condutividades térmicas k_1 = k_2;
(b) a condutividade térmica de uma barra é o triplo da outra k_1 = 3k_2.

Solução

Resolveremos o problema para o caso geral k_1 \neq k_2, para então depois particularizar de acordo com as condições desejadas.

I) Chame de \phi_1 e \phi_2 o fluxo térmico (energia por unidade de tempo) através das barras 1 e 2, respectivamente. Seja A a secção reta das barras (as dimensões das barras são iguais) e T a temperatura na junção das barras, com T_A data-recalc-dims=T>T_B" />.. Utilizando a Lei de Fourier, temos que

\phi_1=\dfrac{k_1 A \left(T_A-T\right)}{L}.

\phi_2=\dfrac{k A \left(T-T_B\right)}{L}.

No estado estacionário, deve valer a continuidade de fluxo para a associação em série: \phi_1=\phi_2=\phi_I. Logo:

T_A-T=\dfrac{\phi_I L}{k_1 A}.

T-T_B=\dfrac{\phi_I L}{k_2 A}.

Somando as duas equações, isolamos \phi_I para obter

\phi_I=\left(\dfrac{k_1 k_2}{k_1+k_2}\right)\dfrac{A\left(T_A-T_B\right)}{L}.

II) No segundo cenário (associação em paralelo), o fluxo total \phi_{II} se divide entre as duas as barras. Isto é:

\phi_{II}=\phi_1+ \phi_2.

Novamente, pela Lei de Fourier, vale escrever:

\phi_{II}=\phi_1=\dfrac{k_1 A \left(T_A-T_B\right)}{L}+\dfrac{k_2 A \left(T_A-T_B\right)}{L},

\phi_{II}=\left(k_1+k_2\right)\dfrac{A \left(T_A-T_B\right)}{L}.

Então, a razão \phi_{II}/ \phi_I é dada por:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{\left(k_1+k_2\right)^2}{k_1 k_2}}

(a) Para k_1=k_2:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=4}.

(b) Para k_1=3k_2:

\boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{16}{3} \approx 5,33}.

[collapse]
Gabarito

(a) \boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=4}

(b) \boxed{\dfrac{\phi_{II}}{\phi_I}=\dfrac{16}{3} \approx 5,33}

[collapse]

Questão 9 **

Uma peça, de seção transversal constante, é composta por três metais arranjados, conforme a figura, onde estão indicadas as condutibilidades de cada parte, bem como suas respectivas dimensões. Para o calor fluir no sentido indicado pelas setas, calcule a condutibilidade equivalente da peça.

Solução

Para resolver esse problema, vamos fazer associações das peças! Antes de tudo, vamos definir a espessura (profundidade) da peça total como h, a temperatura da direita, do meio e da esquerda como T_d, T_m e T_e, respectivamente. Percebe-se que as peças de 2k e 3k estão em paralelo. Logo, para a associação, tem-se:

\Phi_{2+3} = \Phi_2 +\Phi_3

\Phi_{2+3} = \dfrac{2k(Lh)(T_m-T_d)}{d} + \dfrac{3k(2Lh)(T_m-T_d)}{d}

\Phi_{2+3} = 8 \dfrac{k(Lh)(T_m-T_d)}{d}

Agora, perceba que o sistema é formado por duas peças, como mostra a figura abaixo:

 

Note que nesse novo sistema, cada peça está em série. Sendo assim:

\Phi_1 = \Phi_{2+3}

\dfrac{k(3Lh)(T_e-T_m)}{2d} = 8 \dfrac{k(Lh)(T_m-T_d)}{d}

19 T_m = 3T_e + 16T_d

Como a associação é em série:

\Phi_{eq} = \Phi_1

\dfrac{k_{eq}(3Lh)(T_e-T_d)}{3d} = \dfrac{k(3Lh)(T_e-T_m)}{2d}

 2k_{eq} (T_e-T_d) = 3k\left(T_e - \dfrac{3T_e + 16T_d}{19}\right)

Portanto:

\boxed{k_{eq} = \dfrac{24k}{19}}

[collapse]
Gabarito

\boxed{k_{eq} = \dfrac{24k}{19}}

[collapse]

Questão 10 **

Têm-se três cilindros de secções transversais iguais de cobre, latão e aço, cujos comprimentos são, respectivamente, 46 \;\rm{cm}, 13 \;\rm{cm} e  12 \;\rm{cm}. Soldam-se os cilindros, formando o perfil em Y, como indica na figura. O extremo livre do cilindro de cobre é mantido a 100^{\circ}C, e dos cilindros de latão e aço, a 0^{\circ}C. Suponha que a superfície lateral dos cilindros esteja isolada termicamente. As condutividades térmicas do cobre, latão e aço valem, respectivamente, 0,92, 0,26 e 0,12, expressas em \rm{cal/cm \, s^{\circ}C} . No regime estacionário de condução, qual a temperatura na junção?

Solução

Perceba que no sistema, a barra de Aço (A) e a barra de Latão (L) estão em paralelo, pois ambas as extremidades estão na mesma temperatura. Perceba também que a barra de Latão + Aço (L+A) estão em série com a barra de Cobre (C). Sendo assim, esse problema fica extremamente parecido com o problema anterior.

Associando as barras em paralelo:

\Phi_{L+A} = \dfrac{k_AS(T-0)}{L_A} \dfrac{k_LS(T-0)}{L_L}

Em que T é a temperatura da junção e S a secção transversal das barras.

Pelas barras em série:

\Phi_{L+A} = \Phi_C

\dfrac{k_AS(T-0)}{L_A} \dfrac{k_LS(T-0)}{L_L} = \dfrac{k_CS(100- T}{L_C}

T\left(\dfrac{K_A}{L_A} +\dfrac{K_L}{L_L} + \dfrac{K_C}{L_C}\right) = \dfrac{100K_C}{L_C}

Substituindo os valores, encontra-se:

\boxed{T = 40^{\circ}C}

[collapse]
Gabarito

\boxed{T = 40^{\circ}C}

[collapse]

Questão 11 ***

Em um belo dia frio de inverno, a temperatura do ar atmosférico é de -T ^{\circ}C. Um cilindro, de material perfeitamente isolante, é preenchido com água a 0 ^{\circ}C. Sabendo que o calor latente de fusão da água vale L, a densidade do gelo vale \rho e a condutividade térmica do gelo vale K_{gelo}, determine o tempo para toda a coluna de água (H) ser transformada em gelo.

Solução

Quando a água é congelada, a camada de gelo formada servirá de isolante térmico de tal forma que o calor do ambiente será conduzido pelo gelo. Portanto, vamos analisar a condução de calor através do gelo. Em um instante genérico, tem-se:

\Phi = \dfrac{K_{gelo} \pi R^2 (-T - 0)}{d}

Em que d é a espessura da camada de gelo que já congelou. Perceba que esse fluxo de calor "negativo" representa a quantidade de calor que a água perde para o ambiente, transformando-se assim em gelo. Portanto, pode-se dizer que:

\dfrac{\delta Q_{agua}}{\delta t} = \dfrac{L\delta m}{\delta t} = \Phi

-L \dfrac{\rho\pi R^2 \delta d}{\delta t} =- \dfrac{K_{gelo} \pi R^2 T}{d}

\delta t = \dfrac{L d \rho}{K_{gelo} T} d\delta d

Para calcular o tempo total, vamos fazer uma analogia à cinemática. Em um MRUV, a velocidade é dada por at. Para calcular o espaço percorrido, pode-se calcular área do gráfico dado por v por t, ou seja, at por t. Da mesma fora, para calcular o tempo total na questão, vamos calcular a área do gráfico de \dfrac{\delta t}{ \delta d} por d. Perceba que nessa analogia, \dfrac{\delta t}{ \delta d} seria a "velocidade do tempo", d seria análogo ao tempo e t análogo ao espaço percorrido. Com isso, tem-se o seguinte gráfico:

Calculando a área desse gráfico e, portanto, t_{total}:

\boxed{t_{total} = \dfrac{L d \rho h^2}{2K_{gelo} T}}

[collapse]
Gabarito

\boxed{t_{total} = \dfrac{L d \rho h^2}{2K_{gelo}T}}

[collapse]

Questão 12 ***

Uma casa tem três paredes idênticas, cada uma delas podendo ser tratada como um corpo negro. A distância entre cada par de planos é muito menor que as dimensões das paredes. Considere que os sistemas estão no vácuo. Determine a temperatura de equilíbrio T_{1} no regime estacionário da parede interna se a parede da esquerda está a uma temperatura T(K) e a da direita tem temperatura 2T(K)

Solução

No equilíbrio, o fluxo resultante em cada placa será nulo, ou seja

\Phi_{recebe} + \Phi_{emite} = 0

Logo, para a paca do meio:

2\sigma A T_1^4 = \sigma A T^4 + \sigma A (2T)^4

Logo,

\boxed{T_1 = \sqrt[4]{\dfrac{17}{2}}T}

[collapse]
Gabarito

\boxed{T_1 = \sqrt[4]{\dfrac{17}{2}}T}

[collapse]

Questão 13 ***

Em um dia quente de páscoa, Matheus Felipe tira da geladeira um pequeno coelho de chocolate de 250 \; \rm{g}, deixa em cima de uma mesa e percebe que o coelho derrete completamente em cerca de 1 \;\rm{hora}. Curioso com isso, Matheus Felipe decide estimar em quanto tempo iria demorar para que um ovo de páscoa de  3 \;\rm{kg} derreta completamente. Ajude Matheus Felipe a estimar esse tempo.

Solução

Como esse é um problema de estimativa, fatores numéricos (como fatores devido à geometria do objeto) não serão considerados. Portanto, analisaremos apenas proporcionalidades entre as grandezas para estimar o tempo de derretimento.

O calor recebido ao longo do chocolate para que ele derreta se dará pela Lei de Fourier. Logo:

\dfrac{\Delta Q}{\Delta t} \; \alpha \; \dfrac{A \Delta T}{L} \; \alpha \; \dfrac{L^2}{L}

\Delta t \; \alpha \; \dfrac{Q}{L}

O calor propagado será utilizado para derreter o chocolate, ou seja

Q \; \alpha \; M

Como a massa é dada pela densidade vezes o volume, teremos que

L \; \alpha \; M^{1/3}

Assim, teremos que:

\Delta t \; \alpha \; \dfrac{M}{M^{1/3}} = M^{2/3}

Sendo assim, o tempo total vai ser proporcional a M^{2/3}. Logo, fazendo uma simples regra de três, teremos que o tempo que o ovo de chocolate vai demorar para derreter será:

\Delta t \approx \left( \dfrac{3}{0,25}\right)^{2/3}

\boxed{\Delta t \approx 5,2 \; \rm{horas}}

[collapse]
Gabarito

\boxed{\Delta t \approx 5,2 \; \rm{horas}}

[collapse]

Questão 14 ***

(OBF) De acordo com a lei de Stefan-Boltzmann, a taxa de energia irradiada por um corpo de área A a temperatura T em um ambiente de temperatura T_a < T é dada por

P=e \sigma A (T^4-T_a^4)

onde \sigma \approx 6 \times 10^{-8} \,W/m^2K^4 é a constante universal de Stefan-Boltzmann, e é a emissividade característica da superfície, que é um valor entre 0 e 1, e as temperaturas são dadas em K. Uma lâmpada de potência P=250\,W é colocada no centro de uma caixa cúbica suspensa por fios e perfeitamente vedada. Suas paredes de lado a\,=\,20\,cm e espessura 1\,cm são feitas de um material sintético de emissividade e\,=\,1 e condutividade térmica é k\,=\,0,5\,W/m\,K. Como o ar é um mal condutor de calor, pode-se considerar que todas as ttrocas de energia da caixa com o ambiente exterior se dão por irradiação. Determine a temperatura de equilíbrio do ar no interior da caixa quando a lâmpada está ligada e a temperatura ambiente é T_a=27^{\circ}C.

Solução

Analisando a caixa inteira, sabendo que um corpo negro (e=1) absorve toda a energia que incide sobre ele, deduz-se que no equilíbrio toda a potência absorvida pelo interior da caixa será transferida para o exterior por condução, e então ao ambiente por radiação.

Portanto,

\sigma e A (T_{ext}^4-T_a^4)=250W e \dfrac{kA (T_{int}-T_{ext})}{L}=250W

Assim, podemos obter o valor de T_{int}.

Agora, analisando cada lado da caixa como uma placa isolada, percebe-se que as potências irradiadas pelas superfícies interna e externa devem ser iguais. Logo:

\sigma e A (T_{int}^4-T^4) = 250\,W

Obtendo então o valor de T, a temperatura do ar no interior da caixa:

\boxed{T=343 \, K}

[collapse]
Gabarito

\boxed{T=343 \, K}

[collapse]

Questão 15 ***

(OBF) Muito antes da existência dos atuais refrigeradores, alguns povos antigos desenvolveram uma técnica para a produção de gelo. Em uma noite sem luar, na qual a temperatura é de 5 ^{\circ}C, é possível obter gelo ao colocar uma certa quantidade de água sobre um recipiente de área de 35 cm^{2}, devidamente isolado em sua base, por exemplo com palha, e deixando-o exposto por aproximadamente 6 horas. Esse fenômeno é explicado pelas trocas de energia por radiação térmica entre o corpo e o céu noturno. Em regiões desérticas onde essa técnica é usada, sob certas condições climáticas, o céu pode ser considerado aproximadamente um corpo negro de temperatura -20 ^{\circ}C. Considere que a taxa com que um corpo troca energia por irradiação com um meio que se comporta como um corpo negro de temperatura T_{n} é dada por

P= e\sigma A\left(T^4-T_n^4\right)

onde \sigma = 5,7.10^{-8} \dfrac{W}{m^{2}K^{4}} é a constante de Stefan, e é a emissividade do corpo, A é a área pela qual a energia é irradiada e T sua temperatura. Determine a quantidade de gelo, em gramas, obtida na situação descrita acima, considerando que o sistema (conteúdo do recipiente) troca energia apenas com o céu noturno. (Assuma que a emissividade da água é 0,9.)

Solução

Há duas interpretações para este problema. Uma considera o calor sensível trocado e a outra não.

A primeira interpretação considera que a "certa quantidade de água" descrita no enunciado é o próprio gelo. Em outras palavras, toda água congela. Primeiramente, a água dentro do recipiente troca calor sensível com a vizinhança até atingir a temperatura de fusão 273 \, K. Perceba que a potência instantânea varia durante essa mudança de temperatura, mas para fins de aproximação, deve-se utilizar uma temperatura média (veja abaixo). Depois que a água atinge 273 \, K ela começa a derreter a temperatura constante (mudança de fase). O calor total trocado (sensível+latente) é dado pelo produto da potência (utilizaremos uma potência média) pela duração do processo(6 horas). Dessa forma, temos que

m\left(L+c\Delta{T}\right)=P\Delta{t}          (1)

Onde \Delta{T}=5K e \Delta{t}=6h. A potência pode ser aproximada a partir da média das temperaturas dos dois processos

T=\dfrac{\left(278+273\right)K}{2}=275,5 K

A potência é dada por

P=e{\sigma}A\left(T^4-T_n^4\right)=0,299 W

Substituindo os valores em (1):

m=18,07 g

Observe que essa não é a resposta exata desta solução. Veja mais abaixo para a solução exata. Uma solução mais precisa para essa interpretação seria perceber que o calor latente da água é bem maior do que o calor necessário para resfriá-la em 5 K, sendo assim, poderia-se utilizar como estimativa da potência média a potência quando a água estivesse à 0^{\circ}C. Dessa forma, obteríamos:

P=0,262 W

E a massa derretida seria:

m=15,85 g

A segunda interpretação considera que, como o enunciado não nos dá informações sobre a massa de água inicial no recipiente, não podemos inferir que toda água derrete. Sendo assim, não há como saber o tempo que água leva para chegar a temperatura de fusão: esse tempo poderia ser arbitrariamente grande, dependendo da massa de água. Esse tempo deveria ser subtraido de 6h para descobrirmos o tempo que a água em fusão troca calor com o céu noturno. Portanto, seguindo essa linha de raciocíonio é natural concluir que o tempo fornecido no enunciado (6h) se refere somente ao tempo que a água em fusão troca calor. O calor sensível não entra nos cálculos, e a temperatura permanence constante durante toda a troca de calor, logo:

L\Delta{m}=P\Delta{t}=e{\sigma}A\left(T^4-T_n^4\right)

Aqui, T=273K. Fazendo os cálculos:

P=0,262 W

E a massa derretida:

\Delta{m}=16,84\,g

Essa é a resposta exata para a segunda interpretação.

Comentários a respeito das interpretações:

Acreditamos que, tendo o enunciado como ferramenta, as duas interpretações são válidas se discorridas corretamente na prova. Caso o aluno optasse pela primeira, ela deveria explicar em sua solução que, no seu entendimento, toda a massa de água derrete. Alternativamente, se o aluno escolhesse a segunda interpretação, seria adequado explicar o porquê de não incluir o calor sensível em seus cálculos por não termos informações da massa inicial e talvez mostrar a expressão que fornece o calor sensível. Acreditamos também que a primeira interpretação é a que os elaboradores da OBF pensaram. Isso porque ela inclui o cálculo do calor sensível e destaca que água precisa ceder certo calor para atingir a temperatura de ebulição. Mas como o enunciado não ficou claro, as duas interpretações deveriam ser, dentro do possível, consideradas corretas.

Solução exata da primeira interpretação (Mesmo que não acompanhe a matemática, veja a conclusão final)

Na solução aproximada, consideramos uma potência média. Aqui, mostraremos que essa solução é de fato bastante concisa visto que a variação de temperatura é baixa comparada com seus valores extremos. Pelo enunciado, a duração total do processo é de seis horas. Portanto, vejamos quanto fica o tempo necessário {\Delta{t}}_0 para a água atingir a temperatura de fusão:

\dfrac{dQ}{dt}=-e{\sigma}A\left(T^4-T_n^4\right)=\dfrac{mcdT}{dt}

{\Delta{t}}_0=\dfrac{mc}{e{\sigma}A}\int_{273K}^{278K} \dfrac{dT}{T^4-T_n^4}

Defina T/T_n=u. Essa última integral pode ser resolvida notando que

\dfrac{1}{u^4-1}=\dfrac{\dfrac{1}{u^2-1}-\dfrac{1}{u^2+1}}{2}

Portanto, a integral pode ser dividida em duas:

\int \dfrac{1}{u^4-1}du=\dfrac{\int \left(\dfrac{1}{u^2-1}\right)du-\int \left(\dfrac{1}{u^2+1}\right)du}{2}

A segunda é simplesmente \arctan{u}, a primeira é mais trabalhosa. Fazendo a substituição de variável u=\sec{\beta}, ficamos com

\int \dfrac{1}{u^2-1}du=\int \dfrac{\sin{\beta}\sec^2{\beta}}{\sec^2{\beta}-1}d\beta=\int \csc{\beta}d\beta

Essa última é dada por \ln\left(\tan{\dfrac{\beta}{2}}\right)

Dessa forma, como u varia de 1,0988 a 1,0791, podemos computar essa integral. O resultado para {\Delta{t}}_0 é

{\Delta{t}}_0\approx{0,04875\dfrac{mc}{e{\sigma}AT_n^3}}

A duração do processo de derretimento é de 6h-{\Delta{t}}_0 que é igual a

{\Delta{t}}_1=\dfrac{Lm}{P}

Onde P é a potência (constante) durante a fusão da água. Substituindo valores numéricos, somos capazes de determinar exatamente (a menos de aproximações numéricas) m:

m\approx{16,82 \, g}=0,01682 \, kg

Esse valor é muito próximo do resultado da segunda interpretação: por que?

Ao substituirmos m nas expressões para {\Delta{t}}_0 e {\Delta{t}}_1, vemos que {\Delta{t}}_0\approx{0,3h}. Ou seja, o tempo no qual a temperatura está entre 278K e 273K é consideravelmente menor que o tempo em que a temperatura está fixa em 273K (o que inclusive corrobora com a segunda solução da primeira alternativa, onde consideramos a potência média com o valor de 273 K) correspondendo a fusão da água. Observe que o resultado da segunda interpretação é a massa obtida se desconsiderarmos completamente a transição de 278K para 273K. Quando assumimos que toda a água disponível inicialmente derrete chegamos que o tempo de transição é muito pequeno, comparado as 6 horas. Portanto, é de esperar que esse resultado praticamente coincida com o da segunda interpretação. Mas não conclua então que as duas interpretações são equivalentes: o que acontece é que para concluir que o tempo de transição é pequeno, devemos fazer a consideração da primeira interpretação. Caso não fizéssemos, nunca poderíamos calcular esse tempo. Observe também que a diferença de massa entre a solução aproximada e a exata é de um pouco mais de 1 g: quando colocamos uma temperatura média, nós superestimamos o tempo em que a água atinge a temperatura de ebulição. Evidentemente, a solução exata não deve ser requerida na correção da questão: além de ter que computar integrais não triviais, os valores de logaritmos e tangentes não podem ser feitos "na mão".

[collapse]
Gabarito

m=16,82 \,g=0,01682 \, kg

[collapse]

 

OBS: Caso você queira um desafio nível TBF, você pode fazer esse problema do CF.