Escrito por Paulo Henrique
Apesar dessa ideia apresentar somente conteúdos cobrados a partir da OBF Nível é importante notar que o nível dessa ideia é realmente avançado, sendo improvável de ser cobrado na prova da OBF, entretanto, possível principalmente nas provas da seletiva.
Introdução
Considere um sistema com uma parâmetro característico . Suponha que esse mesmo parâmetro seja variado lentamente ("adiabaticamente") via agentes externos. Agora, seja uma determinada grandeza mecânica. Por hipótese, é necessário um tempo para que mude apreciavelmente. Dizemos que é um invariante adiabático se onde é o intervalo de tempo característico do sistema, ou seja, um intervalo da ordem de grandeza dos que lidamos quando analisamos o sistema. Por exemplo, considere um pêndulo simples de comprimento e que , em outras palavras, é variado adiabaticamente (pode-se fazer isso puxando o fio lentamente através de um buraco no ponto de suporte). Neste caso, deve ser muito maior que , o período do pêndulo. Nessa condição, é dito que o pêndulo está sofrendo uma transformação adiabática.
Oscilador Harmônico
Neste exemplo, será mostrado que a quantia de um ocilador harmônico de frequência dependente do tempo é invariante adiabático. Começemos pela a energia desse ocilador
Observe que este poderia ser o caso do pêndulo simples com e variando adiabaticamente.
Tomando a derivada com relação ao tempo, temos
Onde é a aceleração. Como é de costume em problemas desse tipo, há termos que variam rapidamente e outros lentamente. Os rápidos executam um grande número de oscilações, de modo que podemos substituí-los pelos seus valores médios num período de oscilação. Estes são os dois primeiros termos do lado direito de . Agora, perceba que a média do produto em um período é
Assim como é nulo o valor médio . Pode-se concluir isso tendo em vista a simetria do ocilador harmônico. Mas, de qualquer forma, você é encorajado a calcular esse valores na mão: use a solução do oscilador harmônico e proceda usualmente para calcular a média. Obs: no cálculo dessas médias é tido como constante, devido a hipótese que o processo é adiabático. A solução do oscilador harmômico também permanece inalterada, visto que tudo será calculado dentro de um período. Dessa forma, ficamos com
Integrando, conclui-se que (usando ) , ou seja, é invariante adiabático.
Espaço de fase
Nessa secção iremos enunciar um importante teorema do invariante adiabático, infelizmente, sua demonstração é complicada e não é o foco dessa aula.
Considere que uma partícula possui um movimento oscilatório. Conforme dito antes, suponha que . Nessa transformação adiabática, , o invariante adiabático é conservado. O último é dado pela área sob o gráfico de por ( é o momento correspondente a coordenada ). O gráfico por é chamado de espaço de fase. Ou seja, dado um movimento, possivelmente oscilatório, traçamos o gráfico por em um período completo: a área sob a curva é conservada durante todo o movimento. Evidentemente, essa área não é perfeitamente conservada. Mas a precisão aumenta conforme a razão diminui. Esse resultado é muito importante em toda física. Ele é utilizado desde Termodinâmica até Mecânica Quântica.
Esfera, parede e bloco
Uma pequena esfera de massa se move em uma superfície horizontal, indo pra frente e pra trás colidindo com uma parede e uma bloco. A massa do bloco é , a velocidade inicial da esfera é . Qual a velocidade da esfera no momento em que a distância do bloco a parede dobrou comparado ao valor inicial?
Como a massa do bloco é muito maior que a da esfera, a velocidade adquirida pelo bloco após uma colisão é baixa. Ou seja, a sua distância até a parede varia lentamente (adiabaticamente). Logo, devemos conservar o invariante adiabático (área do espaço de fase) entre os dois momentos (inicial e final). Para a partícula, o espaço de fase é um retângulo de lados e , onde é a distância do bloco a parede e é a velocidade da esfera. Portanto, o invariante adiabático é
A massa da partícula é constante, portanto, como a distância dobrou, a velocidade deve ser reduzida à metade, afim de manter constante.
Pêndulo com amigos
Duas massas, A e B, que possuem massa estão ligadas por uma corda e duas polias sem massa. Inicialmente, o comprimento de cada fio é , então, a massa A recebe um pequeno impulso e balança com amplitude . Depois de muito tempo mesmo, uma das massas atinge a polia. Qual massa atingiu a polia?
Primeiramente, identifiquemos qual parâmetro varia adiabaticamente: o comprimento do fio. Sendo assim, a massa da esquerda é um pêndulo simples com comprimento que varia lentamente. Como o movimento é oscilatório, devemos trabalhar com valores médio sempre que possível. Dessa forma, tratando o conjunto da esquerda como um pêndulo simples, determinemos o valor médio da componente vertical da tração. Defina como sendo o ângulo que o fio faz com a vertical. Por força centrípeta
Por conservação de energia (seja a amplitude angular inicial)
Sendo assim
A componente em é obtida multiplicando a equação acima por . Observe que durante o movimento da massa, o ângulo é sempre menor ou igual a . Logo
Sendo assim
Como
E
O valor médio da componente da vertical também será menor que . Portanto, a massa da esquerda tende a descer após vários períodos. Dessa forma, a massa que atinge a polia é a da direita.
Pêndulo, de novo
A corda de um pêndulo simples passa através de um pequeno buraco no teto. A corda é puxada muito lentamente para cima. A amplitude linear do pêndulo muda? Se muda, como?
Sabemos que o comprimento do fio varia lentamente, portanto, as grandezas características do sistema (comprimento do fio, amplitude, etc) praticamente não mudam durante uma oscilação completa. Sendo assim, a segunda lei de Newton é escrita normalmente e a solução é dada por (para o ângulo com a vertical). Seja , onde é amplitude angular, a amplitude linear e o comprimento instantâneo do fio.
e
Que são as solução usuais do oscilador harmônico (pequenas oscilações). é, evidentemente, a frequência angular . Novamente, buscamos o valor médio da tração. Por força centrípeta
Na equação acima, foi feita a aproximação para pequenos ângulos. Usando a solução para podemos expressar em função do tempo. O resultado é
Usando os valores médios das função trigonométricas ao quadrado (1/2). Temos
Por outro lado, a energia total do pêndulo é (com o zero de energia potencial no teto)
Usando o valor de
Quando o comprimento do fio muda por e amplitude angular por , a energia muda por
Podemos aplicar o teorema da energia cinética e escrever que
Com . Fazendo a operação da equação acima chegamos em
Como a amplitude linear é
Logo, a amplitude diminui. Se multiplicarmos por , teremos
Isso pode ser escrito como sendo
Ou seja, a quantia é um invariante adiabático. Você pode mostrar que esse resultado é análogo ao que foi obtido no primeiro exemplo.
Problemas
1- Para o exemplo "Pêndulo com amigos" determine a velocidade da massa que atinge a polia imediatamente antes da colisão.
2- Desenhe o espaço de fase para um M.H.S. unidimensional
3- Mostre que é constante ao longo de um movimento harmônico a partir da área do espaço de fase.