Escrito por Wanderson Faustino Patricio
Relembrando os princípios dos números complexos
Antes de começarmos a analisar os princípios físicos por trás da ótica física, precisamos relembrar alguns princípios dos números complexos para compreender o método utilizado para essa prova.
Representando complexos em um plano
Consideremos a notação para a unidade imaginária como sendo: .
Seja um número complexo da forma:
; ,
Representemos esse número como um vetor em um plano complexo bidimensional.
Nesse plano complexo, podemos trabalhar com nosso número como se fosse um vetor comum em um plano cartesiano.
Esse vetor possui um comprimento, o conhecido módulo do vetor, e ele possui uma declinação em relação ao eixo real do plano complexo. Seja o módulo do complexo , e a inclinação ().
Utilizando as relações trigonométricas:
e
e
Reorganizando o nosso número complexo temos:
Notação de Euler
Consideremos as duas funções complexas a seguir:
e ;
Para temos:
e
Tirando as derivadas de ambas as funções:
I)
II)
Como :
Unindo as duas equações chegamos a:
Para ,
Com isso chegamos a famosa fórmula de Euler:
Voltando ao nosso número complexo original, vemos que podemos representar nosso vetor no plano complexo como:
Onde é o módulo do nosso vetor, e é a inclinação em relação ao eixo real.
Portanto, vemos que a parte real de é .
Aplicando os princípios complexos à ótica física
Você deve estar se perguntando agora: "como eu vou unir os princípios físicos ao mundo complexo?"
Sabemos que a luz é uma associação entre um campo elétrico e um magnético, oscilantes e perpendiculares entre si.
Ambos os campos seguem a equação de onda. considerando o movimento em apenas uma direção, a nossa equação de onda fica:
e
Os nossos campos, portanto, ficarão na forma:
e
O módulo dos nossos campos possuem uma relação, essa relação é dada por:
Onde é a velocidade da luz no vácuo ( ).
Percebemos que a influência do campo magnético é insignificante em relação à influência do campo elétrico. Portanto, consideraremos apenas o campo elétrico.
Considere o vetor no campo complexo:
A parte real do nosso vetor é:
Podemos considerar, portanto, o nosso vetor como sendo um vetor no plano complexo, pois as características das operações com os nossos vetores continuam as mesmas (viu agora que nós conseguimos interpretar nosso campo elétrico como um vetor no plano complexo? hehehe).
Vejamos como fica o nosso estudo com os vetores complexos.
Considere duas ondas luminosas, paralelas entre si, com diferença de fase (constante) entre elas, sendo sobrepostas em um anteparo;
Duas ondas "gerais"
1º Método: Soma de cossenos
Sejam as duas ondas e :
e
O campo resultante será a soma dos outros dois vetores:
Sabemos que:
I) Para que a intensidade luminosa seja máxima, o módulo do campo resultante deve ser máximo, visto que a intensidade é proporcional ao campo ao quadrado (para todo par ordenado ). Portanto:
;
II) Para que a intensidade luminosa seja mínima, o módulo do campo resultante deve ser mínimo:
;
Esse método pode ser um pouco chato, porque há muitas contas durante a prova. Mas vejamos o segundo método.
2º Método: Vetor complexo
Sabemos que uma diferença de argumento implica numa diferença de ângulo entre os vetores no plano complexo.
Podemos ver que se e sâo paralelos, o módulo do campo resultante será máximo.
Para a intensidade máxima:
;
Se os vetores são antiparalelos o módulo do campo resultante será zero.
Para a intensidade mínima:
;
Percebemos que a análise gráfica dos vetores torna as coisas bem mais simples.
Fenda dupla
Considere um onda luminosa de comprimento de onda , difratando em um conjunto com duas fendas separadas por uma distância , e se sobrepondo em um anteparo, o qual está a uma distância das fendas ().
Como a distância até o anteparo é muito grande, podemos considerar que as ondas que saem da fenda estão paralelas.
As ondas ao entrarem nas fendas estão com fases iguais, porém, ao se locomoverem até o anteparo, as distâncias que cada onda percorre é diferente, resultando em uma diferença de fase.
A fase para cada uma das ondas é:
Como o tempo para as duas ondas é o mesmo, só ocorre diferença no caminho. A diferença na fase é, portanto:
A diferença de caminho entre as duas ondas será:
Como vimos anteriormente, para a intensidade máxima:
Como , .
Mas você pode estar pensando: "não é necessário aprender isso, eu posso fazer as contas".
Para um conjunto de dois vetores dá realmente para fazer de uma forma aproximadamente simples. Mas e para um conjuntos de 4,5, ou 10 vetores? Não é nada fácil somar 10 funções cosseno.
Difração em fenda única
Considere uma onda luminosa com intensidade difratando em um sistema com uma única fenda. Como a intensidade no anteparo se relaciona com a posição angular?
Considere que a abertura da fenda é .
O módulo do campo elétrico que entra é . A intensidade é:
Para a resolução, consideraremos que a onda que entra, são várias ondas com amplitude de campo , com tendendo ao infinito.
A distância entre as duas ondas é:
Como visto anteriormente, a diferença de fase entre duas ondas consecutivas é:
Guardemos o valor de como .
Representando os vetores no plano complexo:
Parece um pouco bagunçado o desenho, mas somente duas partes são realmente importantes:
Podemos ver que:
e
Como o nosso valor de tende ao infinito:
Colocando os valores:
A intensidade da onda na parede é:
Portanto:
Ainda prefere fazer essas contas somando cossenos?
Para Memorizar
Questão 01) Basicamente aplicar a fórmula
Cinco ondas luminosas (intensidade ) são sobrepostas em um anteparo:
Qual é a intensidade da onda resultante?
Questão 02) "Essa questão é de geometria?"
Cosidere um sistema de difração com três fendas. A separação entre a primeira e a segunda fenda é , e entre a segunda e a terceira é . Mostre que a intensidade mínima de difração é zero, se e somente se tal que é múltiplo de 3.
Sabemos que a luz a luz que difrata nas fendas é formada pela composição de um campo elétrico e um magnético perpendiculares. Porém o módulo do campo elétrico é aproximadamente vezes maior do que o módulo do campo magnético, portanto, podemos considerar apenas a influência do campo elétrico.
Os campos seguem a equação de onda, logo, nosso campo elétrico é da forma: .
Podemos portanto imaginar o vetor campo elétrico como um número no plano complexo.
Perceba que uma variação no termo , será refletido em uma variação no ângulo do vetor no plano complexo.
Os vetores do campo elétrico em cada fenda estão representados na figura a seguir.
Seja o campo elétrico na primeira fenda .
O campo elétrico na segunda fenda será .
Vemos que será a diferença entre os ângulos do campo elétrico na segunda e na primeira fenda.
Analogamente, é a diferença entre os ângulos do campo elétrico na terceira e na segunda fenda.
Da trigonometria podemos tirar que:
é
Reorganizado as equações temos:
Temos três vetores de campo elétrico com mesma intensidade saindo das fendas. Para que a intensidade seja zero, o vetor campo elétrico resultante deve ser zero. A única maneira de a resultante de três vetores de mesmo módulo ser zero é se os vetores formarem um triângulo equilátero.
Temos a seguinte representação:
Para o triangulo equilátero:
•, com
•, com
Logo:
Vemos portanto que tal que (mod 3).
tal que (mod 3).
Questão 03) É muito trabalho
Uma grade de difração é montada com fendas retangulares de largura (e comprimento infinito), sendo a distância entre elas. Existe um anteparo a uma distância , paralelo ao plano da grade. Primeiramente, responda aos itens a seguir:
a) Ache o padrão de intensidade no anteparo quando uma onda plana monocromática de comprimento de onda e intensidade incide em uma única fenda.
b) Ache o padrão de intensidade no anteparo quando uma onda plana monocromática de comprimento de onda e intensidade incide na grade toda.
Agora, cada fenda conterá um polarizador linear em um certa direção. Imagine que o primeiro polarizador polariza a onda na direção vertical, o segundo polariza em uma direção que faz um ângulo com a vertical, o terceiro , e assim por diante, até que o último volta a polarizar na vertical.
c) Ache o padrão de intensidade no anteparo quando uma onda plana monocromática de comprimento de onda e intensidade incide na grade com polarizadores.
Questão 04) Interferência tripla
Considere que em um ponto do espaço existam simultaneamente três ondas:
Para qual valor de (entre e ) a diferença de fase entre a onda resultante e a primeira é ?
Questão 05) Isso é meio repetitivo
Duas ondas tranversais de mesma frequência () sâo produzidas em uma fio de aço de de diâmetro e densidade volumétrico , submetido a uma tensão . As ondas são dadas por:
e ; onde
a) Escreva a expressão da onda harmônica progressiva resultante da superposição dessas duas ondas.
b) Calcule a intensidade da onda resultante.
c) Se fizermos variar a diferença de fase entre as duas ondas, qual é a região entre os valores máximo e mínimo possíveis da intensidade da resultante?