Uma breve introdução à IYPT

Escrito por Guilhermo Cutrim Costa, revisado por Oliver Polachini.

Introdução

Você já ouviu falar da IYPT? O Torneio Internacional de Jovens Físicos (chamado carinhosamente de IYPT, do seu nome em inglês International Young Physicists’ Tournament, pelos participantes) é uma olimpíada de física diferenciada. Ao invés das tradicionais provas teóricas e experimentais, a IYPT consiste em desenvolver soluções para problemas abertos em grupo, apresentando-o inicialmente em forma de relatório e, depois, em uma apresentação nas chamadas Physics Fights – verdadeiros duelos verbais onde competidores discutem as soluções dos problemas em uma nobre busca pela verdade (bem, em teoria…).

A IYPT é a única competição de física com ênfase tanto em experimentos (sim, as suas soluções não podem ficar só no papel – você terá que comparar suas previsões teóricas com resultados experimentais!) quanto em trabalho em grupo (afinal, você vai precisar da ajuda dos seus amiguinhos para desbravar as fronteiras do conhecimento!). A final da fase nacional da competição é um grande evento, no qual, não importando a sua colocação no torneio, você formará memórias inesquecíveis. Em suma, a IYPT é uma olimpíada inigualável.

Caro leitor, você já deve estar completamente convencido que a IYPT é uma olimpíada que merece sua atenção (Caso contrário, aprenda mais sobre a IYPT Brasil visitando seu site oficial ou a nossa página sobre ela, e volte quando tiver mudado de opinião!). Mas talvez você ainda tenha dúvidas sobre essa magnífica competição, e deseje saber mais sobre ela. Ou talvez você memorizou o regulamento da IYPT de cabo a rabo, mas quer dicas de como detonar na mesma.

Por isso, caro(a) leitor(a), nós aqui do NOIC estamos escrevendo um guia de estudos para a IYPT. Nesta primeira postagem, iremos detalhar a estrutura da competição e lhe daremos algumas dicas básicas de como ir bem e, quiçá, obter uma vaga para a fase internacional (quando a pandemia acabar, é claro!). Fique atento ao nosso site, porque novidades sobre essa olimpíada chegarão…

FAQ

Você quer participar da IYPT, mas não tem ideia de como começar? Leia mais! Aqui sanaremos algumas dúvidas comuns sobre a IYPT.

Quem pode participar da IYPT?

Diretamente do regulamento da IYPT Brasil (esse regulamento aqui). Podem participar estudantes regularmente matriculados na 1ª, 2ª, ou 3ª série do Ensino Médio (no ano do Torneio Nacional).

Note que a IYPT começa um ano antes do que você esperaria; por exemplo, os problemas da IYPT 2020 foram lançados em julho de 2019 e o torneio começou em outubro do mesmo ano, com a Fase Classificatória. Já o Torneio Nacional e o Torneio Internacional ocorrerão em março e julho de 2020, respectivamente, como esperado.

Se você não se enquadra nessas condições, mas ainda não começou a faculdade, não desespere-se! Escreva um email para iypt.coordenacao@gmail.com e explique sua situação. A organização da olimpíada pode abrir uma exceção para você, especialmente se seu Ensino Médio tiver quatro anos (Se você já está na faculdade, parabéns! Você poderá participar do Torneio Internacional de Físicos (link em inglês)!). Vale comentar que, devido à pandemia de COVID-19, a IYPT 2020 ocorreu em maio de 2021; por isso, alunos que se formaram no Ensino Médio em 2020 puderam competir.

Como participar da IYPT?

O primeiro passo é formar uma equipe! As equipes têm de três a cinco integrantes. Chame seus amigos e amigas para participar (podem ser de escolas diferentes) e faça sua inscrição. Se sua equipe não for inteiramente composta de alunos e alunas da rede pública, uma taxa de R$ 250,00 precisará ser paga. Se você é aluno de escola particular, tente convencer seu colégio a pagar essa taxa – é um investimento que certamente renderá retornos para o colégio quando sua equipe conquistar o tão-almejado ouro! Você precisará também escolher um aluno ou uma aluna para ser capitão ou capitã da sua equipe, além de escolher um professor ou uma professora para ser líder da sua equipe.

Geralmente, a inscrição precisa ser feita até o final de novembro, um ano antes do começo da competição. Tome cuidado com os prazos e fique atento ao seu email!

Quais são as fases da competição?

Excelente pergunta, joven Padawan! A IYPT consiste em três fases:

  • Fase Classificatória: Nesta fase, as equipes devem produzir cinco relatórios de até 20 páginas. Cada relatório deverá apresentar uma solução de um dos dezessete problemas disponibilizados no site da IYPT Brasil. As soluções devem apresentar tanto resultados teóricos quanto experimentais. Existem duas datas limite para envio de relatórios: a primeira, dos relatórios preliminares, é em outubro, e oferece uma bonificação de 5% na nota de classificação para a fase final. A segunda, dos relatórios finais, é aproximadamente um mês depois, em novembro. Além disso, você, ao longo da sua trajetória na IYPT, perceberá que tudo demora mais que o esperado (a infame falácia do planejamento (link em inglês)). Portanto, é recomendado começar os seus projetos o mais cedo possível. Não faça como o autor desse guia, que já se viu forçado a escrever quinze páginas de relatório em uma noite. Ou como o revisor dele, que teve que reelaborar todo seu aparato experimental na semana do envio de relatórios...
  • Torneio Nacional: Este, sim, é o grande evento! Tradicionalmente realizado em São Paulo, o Torneio Nacional reúne os alunos e alunas de todo o Brasil classificados na Fase Classficatória para que estes participem da maior atração da IYPT: os Physics Fights. Você pode estar se perguntando: “mas que diacho é um Physics Fight?” Bem, caro(a) leitor(a), explicar em palavras a emoção de tais eventos é dificílimo. Para que você realmente compreenda a experiência de um Physics Fight, recomendamos que você assista alguns deles por aqui. Caso você, por qualquer motivo, não possa ver o vídeo acima, aqui segue uma tentativa de expressar o inexpressável. Em um Physics Fight, três equipes alternam entre os seguintes papéis:
    • Equipe relatora: Esta equipe apresenta a sua solução para algum dos problemas do torneio. A equipe relatora só tem dez minutos para fazer sua apresentação, que pode ser a culminação de meses de trabalho! Por isso, é importante fazer slides didáticos e praticar a sua apresentação. Mas o trabalho dessa equipe não acaba por aí: ela também é responsável por defender suas ideias na seção de discussão do Physics Fight, além de responder as perguntas da equipe opositora, avaliadora, e dos jurados. Ufa! Felizmente, a equipe relatora tem a palavra final, e pode clarificar seus pontos antes das temidas questões dos jurados. Este é o papel mais importante, com peso 3.
    • Equipe opositora: Esta equipe tem como seu papel investigar a solução apresentada pela equipe relatora, apontando tanto os pontos positivos e negativos da apresentação da mesma, além de sugerir melhorias teóricas e experimentais na discussão. A equipe opositora cumpre seu papel fazendo perguntas para a equipe relatora, preparando uma breve apresentação que sumariza a opinião da mesma sobre a relatação (geralmente, na forma de pontos positivos, negativos, e sugestões), no debate, onde ela deve desempenhar um papel de liderança, conduzindo o debate para as áreas de maior discordância, e respondendo as perguntas da equipe avaliadora e dos jurados. Este papel tem peso 2.
    • Equipe avaliadora: Esta equipe, como seu nome deixa claro, avalia a performance das duas outras equipes. Seu papel é encontrar erros e pontos que passaram despercebidos pela relatação e pela oposição, além de, é claro, celebrar os aspectos positivos dessas apresentações, por meio de questionamentos direcionados às duas outras equipes, uma apresentação breve, e suas respostas aos questionamentos do júri. Este papel tem peso 1. Entretudo, não o negligencie! Muitas finais de IYPTs foram decididas por pequenos detalhes na avaliação.
    • Uma equipe fará três Physics Fights durante um torneio da IYPT, chamados imaginativamente de PF1, PF2, e PF3. Após essas três rodadas, as equipes nas três melhores posições (além de uma equipe extra, que venceu todos os Physics Fights na qual participou, caso exista tal equipe fora do top 3) participarão do badalado PF Final. Nesse Physics Fight decisivo, que determina quem irá levar o áureo troféu de primeiro lugar e quem terá que se contentar com o troféu um pouco menor da terceira colocação, a emoção é muito maior, já que a fight é, tradicionalmente, no palco do auditório da UNIP Jaguaré: uma grande plateira estará torcendo com você!
  • A IYPT não é só duelos, porém: também há celebrações! As cinco melhores equipes no Torneio Nacional (que são os vencedores de medalhas de ouro ou prata) têm o direito de enviar um membro cada para o Torneio Internacional, compondo assim a delegação brasileira. Caro(a) leitor(a), não duvide do seu potencial de obter uma dessas preciosas vagas! Com a leitura assídua do material que será postado aqui, nada poderá lhe deter!
  • Torneio Internacional: Os cinco brasileiros selecionados, logo após o Torneio Nacional, devem começar a se preparar para o Torneio Internacional. E, não, essa preparação não consiste (apenas) em arrumar suas malas! Devido a algumas diferenças sutis entre o regulamento da nacional e da internacional, a delegação brasileira terá que resolver, no mínimo, 15 dos 17 problemas para não correr o risco de sofrer penalidades. O nível das relações, oposições, e avaliações, é claro, sobe bastante no torneio internacional, então os selecionados para internacional tem muito trabalho pela frente! Em retorno, eles têm a chance única de participar em um evento divertidíssimo e de trazer uma gloriosa vitória para a sua nação. O Brasil não é um país sem peso nessa competição, tendo consistemente trazido pratas altas (5º e 6º lugares) nos últimos anos. Caro(a) leitor(a), sua missão é ajudar o Brasil a obter seu primeiro ouro internacional na IYPT!

Como faço para ir bem na IYPT?

Uma pergunta perniciosa, caro(a) leitor(a). Faço das palavras de Euclides as minhas: > Não há estrada magna para a IYPT. (E, que fique claro, também não há cartas magnas para IYPT!) Entretudo, existem algumas dicas que podem te auxiliar na sua árdua jornada.

  • Faça previsões teóricas e compare-as com experimentos
    Um aspecto crucial do método científico que, infelizmente, às vezes está em falta na IYPT é a parte na qual, bem, você testa a sua hipótese. Não importa quão bonito é seu modelo teórico, se ele discorda com os resultados dos seus experimentos, ele está errado! Por isso, é muito importante verificar que seu modelo funciona, comparando as previsões obtidas (de preferência, previsões quantitativas, mas, para alguns problemas, leis de potência ou previsões qualitativas são o melhor que podemos encontrar) com os resultados experimentais. E, é claro, se o seu modelo teórico se baseia em um castelo de cartas de simplificações e suposições, pense quão convincente é para um jurado ver uma prova experimental que o seu castelo se sustenta! Muitas apresentações tem uma boa base teórica e bons experimentos, mas não tomam o simples passo de fazer uma compaação explícita! Um simples gráfico com uma curva teórica, pontos experimentais, e um coeficiente de fit, que não demoraria 15 minutos para fazer (se você já tiver familirialidade com algum software de produção de gráficos como o gnuplot e a biblioteca de Python matplotlib, é claro) já colocam a sua apresentação em outro patamar.
  • Use apêndices Uma boa relação envolve antecipar possíveis objeções à sua solução e preparar de antemão respostas possíveis. A melhor maneira de ter essas respostas na ponta da língua é preparar alguns slides com essas respostas e colocá-los no final da sua apresentação. Assim, você prova para os jurados que você já pensou na objeção levantada, e não corre o risco de se confundir na hora de responder o questionamento. Não existem limites para o poder dos seus apêndices: veja as apresentações de Singapura no Torneio Internacional para ter algumas ideias. As apresentações dessa nação octacampeã têm mais slides de apêndice do que de conteúdo normal. O céu é o limite!
  • Cuidado com o tempo! Um dos fatores que entram na scoresheet dos jurados (um gabarito que rege como os pontos devem ser distribuídos), em todos os papéis, é o bom uso do tempo. Esse critério é bem amplo, mas, em geral, você deve usar todo o tempo alocado e nem um segundo a mais. Como relator, pratique a sua apresentação e use suas considerações finais ao máximo, buscando maximizar sua nota. Como opositor ou avaliador, sempre use todo o tempo que você tem para perguntas. Afinal, sempre haverão pontos de confusão ou vulnerabilidades na teoria do relator; é quase fisicamente impossível resolver um problema da IYPT de maneira definitiva, muito menos comunicar essa solução, fruto de meses de trabalho, em meros 10min de apresentação!