Aula 2 - Economia positiva, Economia normativa e modelos

Nesta aula, abordaremos três conceitos importantes: positividade, normatividade e modelos. Estes não são conceitos cobrados com frequência nas olimpíadas de economia, mas são imprescindíveis para o bom entendimento da matéria. A partir de agora, os modelos nos acompanharão durante toda nossa caminhada econômica, e os conceitos de positividade e normatividade serão especialmente importantes quando falarmos de políticas públicas e o que os governos devem ou não fazer.

Economia positiva

A Economia positiva é o ramo da Economia que lida com como as coisas são. Aqui, nos baseamos em fatos, dados e experimentos, e buscamos descrever como o mundo funciona. Por isso, podemos dizer que a Economia positiva é descritiva e objetiva. Suas hipóteses podem ser testadas, e então comprovadas ou falsificadas, e as teorias buscam explicar as relações de causa e efeito entre as variáveis. Vamos a um exemplo:

Se afirmarmos que "em geral, subir a taxa de juros resulta numa queda da inflação", isso é uma afirmação positiva. Por quê? Porque essa é uma relação de causa e efeito bem estabelecida, que conseguimos explicar através de modelos e comprovar com dados e experimentos reais. Ela não carrega uma opinião, apenas constata um fato que podemos testar e provar ser verdadeiro.

Vejamos outro exemplo: "o governo deveria subsidiar a agricultura nacional." Nesse caso, não temos uma afirmação positiva. Mas, por que não? Porque essa não é uma afirmação que descreve como as coisas são. Ao invés disso, ela nos diz como as coisas deveriam ser. Ela é baseada em um julgamento de valor, pois parte do pressuposto de que o resultado do subsídio do governo à agricultura é bom. Quando dizemos que uma coisa é boa ou não, estamos entrando num campo subjetivo. Não conseguimos comprovar através de dados e experimentos se uma coisa é boa, porque algo "ser bom" é relativo. Se essa afirmação não é uma afirmação positiva, então o que ela é? Ela é uma afirmação normativa, que vamos estudar logo abaixo.

Economia normativa

A Economia normativa, como vimos no exemplo anterior, é aquela que lida com como as coisas deveriam ser. Ela é baseada em julgamento de valor e em opiniões, ou seja, é subjetiva. Cada pessoa acredita que as coisas deveriam ser de um jeito, mas não conseguimos testar para avaliar qual desses jeitos é o melhor, porque melhor e pior são coisas subjetivas. Diferente da Economia positiva, que descreve analiticamente como as coisas são, a Economia normativa tenta nos dizer como as coisas deveriam ser baseando-se em um conjunto de valores. Alguns outros exemplos de afirmações normativas: "o capitalismo é melhor que o socialismo", ou "o socialismo é melhor que o capitalismo"; "o banco central deveria subir a taxa de juros"; "o governo deveria cobrar mais impostos dos mais ricos"; "o governo deveria oferecer um sistema de saúde gratuito para todos".

Você que está lendo provavelmente concorda com algumas dessas afirmações e discorda de outras. Quais afirmações você acha que estão corretas, porém, depende dos seus valores e opiniões. Isso não acontecia com as afirmações da Economia positiva. "Se subirmos o preço para além do preço de equilíbrio, algumas pessoas vão parar de consumir" não é algo que depende de opiniões para ser verdade ou não. Essa é uma relação que podemos verificar através de dados e experimentos no mundo real, e portanto não é uma afirmação normativa.

Em geral, nossos estudos se concentram na parte positiva da Economia. A Economia normativa estará sempre presente, porém, e será bastante relevante em questões como sistemas econômicos e políticas públicas. É importante conseguirmos diferenciar as duas para sabermos quando estamos diante de um fato testável e comprovável e quando estamos diante apenas de uma opinião.

Modelos

Agora vamos direcionar nossa discussão para um outro tema: os modelos econômicos. Modelos econômicos são, basicamente, descrições simplificadas da realidade que nos permitem criar hipóteses testáveis sobre a economia. O exemplo mais famoso, do qual você provavelmente já ouviu falar, é o da Oferta e Demanda.

 

 

O modelo da Oferta e Demanda, assim como todos os outros modelos, é uma ferramenta que nos dá uma noção de como as coisas se comportam quando determinado evento acontece. O preço subiu? As pessoas vão passar a comprar menos. O preço caiu? As pessoas vão passar a comprar mais. Os custos de produção diminuíram? A oferta de produtos vai aumentar, e os preços vão cair. Todas essas são previsões que podemos testar, e então comprovar ou falsificar. Perceba, portanto, que os modelos econômicos estão relacionados principalmente com a Economia positiva.

Um ponto importante de notar é que os modelos não são uma descrição exata da realidade. Como não existem medidas objetivas de resultados econômicos, os modelos sempre carregarão uma pequena parcela de incerteza e subjetividade. Às vezes eles falham e, quando isso acontece, é um sinal de que o modelo talvez possa ser melhorado. Apesar da falta de exatidão, porém, eles são fundamentais para o estudo da Economia, e foram responsáveis por aproximá-la cada vez mais do método científico.

Os modelos que veremos nas aulas iniciais serão, em geral, bastante simples. Essa é uma das belezas da Economia: com uma pequena caixa de ferramentas bem estabelecidas, conseguimos responder diversas questões sobre o comportamento dos indivíduos, dos mercados e da sociedade. Se você decidir se aprofundar na área, porém, descobrirá que na fronteira do conhecimento econômico existem modelos muito mais complexos, e que geralmente fazem uso extensivo da matemática. No momento, porém, você não precisa se preocupar com isso. Abordaremos tudo aquilo que você precisa saber para ir bem nas olimpíadas de Economia, e depois teremos aulas extras aprofundando alguns temas interessantes.

Exercícios

Lista de exercícios 2 (em breve!)

Leituras adicionais

Introdução à Economia - Gregory Mankiw. Capítulo 2: Pensando como um economista.

Economia - Daron Acemoglu. Capítulo 2: Métodos econômicos e questões econômicas.