Aqui, você encontrará todos os comentários NOIC das provas de 2023 da OBL Fase 2.
Categoria Regular
Problema 1 - Mari
Autoria: Przemysław Podleśny
Comentário: Teresa Lage
Inicialmente, tendo lido o problema inteiro antes de tentar começar a resolvê-lo, chama atenção que existe apenas uma tarefa, com uma instrução: marcar o acento tônico. Então, sabemos que temos que voltar nossa atenção para a sílaba tônica das palavras dadas, tentando entender onde elas estão e como elas mudam de posição.
Olhando rapidamente para o corpus, uma hipótese que pode surgir é a de que a determinação da sílaba tônica esteja relacionada a possíveis mudanças nos substantivos: afinal, temos “vizinho” e “meu vizinho”, “caçador” e “caçador também”...
Mas, se seguimos nessa hipótese, acabamos sem o que fazer: existem muitas formas de variações nominais, e elas não parecem estar interagindo entre si e influenciando a tonicidade de forma regular. Então, talvez seja útil tentar atacar o problema da forma mais simples possível: marcando as sílabas tônicas de acordo com a posição em que aparecem.
Apesar de não sabermos exatamente como funciona a separação silábica da língua mari, a partir dessa marcação conseguimos identificar que as vogais tônicas das palavras apresentadas são, principalmente, a última ou a penúltima vogal da palavra. Podemos reescrever nosso corpus, separando os termos pela posição da vogal tônica, para avaliar melhor:
Olhando para as duas colunas com mais palavras e tentando encontrar a diferença entre elas, surge uma hipótese:
- Palavras terminadas em consoante recebem o acento tônico na última vogal;
- Palavras terminadas em vogal recebem o acento tônico na penúltima vogal.
Essa hipótese funciona para 13 das 14 palavras nas duas primeiras colunas; com a exceção de “ydərémən”.
Sabemos que, caso fôssemos seguir as regras de nossa hipótese, a grafia da palavra deveria ser “ydəremə́n”. Mas, olhando rapidamente o corpus, vemos que, de todas as vogais do problema (a, e, i, o u, ø, y, ə), a única que não recebe o acento tônico é o ə. Com essa estranheza em mente, podemos voltar nossa atenção para as outras palavras intocadas:
Caso resolvêssemos aplicar nossa hipótese a essas palavras, perceberíamos a mesma estranheza em todas elas:
Fica claro que, caso aplicássemos nossa primeira hipótese a todo o corpus, todas as incoerências estariam ligadas a colocar o acento tônico sobre a vogal “ə”. Sendo assim, e prestando atenção especial aos termos “ydərémən”, “ýdərəʃt” e “mǿŋəʃtəʒø”, podemos alcançar a seguinte conclusão, que explica a tonicidade de todas as palavras do corpus:
- Palavras terminadas em consoante recebem o acento tônico na última vogal;
- Palavras terminadas em vogal recebem o acento tônico na penúltima vogal.
- Caso, seguindo essas regras, aconteça um “ə” tônico, deve-se retroceder nas sílabas da palavra (começando do fim) até que encontre-se uma vogal diferente de ə para receber o acento tônico.
E, a partir disso, podemos responder todas as tarefas sem problemas:
Problema 2 - Irmãos e Irmãs
Autoria: Juliana Chaves Almeida
Comentário: Alex Teruel
Uma primeira intuição linguística que podemos resgatar é o fato de que, muito provavelmente, pela quantidade de termos no corpus, haverá diferenças com relação à idade e ao gênero para cada pessoa se referir aos irmãos. A primeira separação que devemos fazer é separar as palavras que são usadas apenas para se referir aos irmãos mais novos das que se referem apenas aos irmãos mais velhos.
A partir disso, podemos definir os nomes utilizados para se referir aos irmãos mais velhos e aos irmãos mais novos.
Podemos perceber que existem mais nomes do que normalmente usamos em português, então podemos levantar a hipótese de que os nomes flexionem em gênero de acordo com o gênero do ego (aquele que se refere) e o gênero do referido.
Analisando a tabela, podemos ver que “ani” é utilizado por mais de três pessoas para se referir aos mais velhos; então, podemos associá-lo, pela quantidade, ao uso pelo ego feminino. Logo, Qinoq, Pilunnguaq e Naasuunguap são meninas.
A partir dessa análise, também podemos concluir que angaju deve ser usado por uma pessoa do gênero masculino. Assim, podemos supor que Kunuk seja um menino.
Podemos ver que Naasuunguaq e Maannguaq chamam Kunuk de ani. A partir disso, concluímos que Maannguaq é uma menina, confirmando que Kunuk é um menino e, portanto, Aputsiaq é um menino.
Ao analisar a segunda coluna, vemos que pessoas anteriormente marcadas como meninas também utilizam angaju para se referir a Qinoq, também marcada como menina. Em oposição, notamos o aleqa sendo utilizado por alguém supostamente do gênero masculino. Percebemos, então, que existem nomes que são utilizados por ambos os gêneros quando as duas pessoas têm o mesmo gênero. Podemos ver, também, que todos os irmãos, independente do gênero, chamam Maannguaq (que é a irmã mais nova de todos) de nuunu.
Agora que sabemos o gênero de todos os irmãos, podemos definir o nome das relações entre eles:
- ani: irmão mais velho (ego feminino);
- aleqa: irmã mais velha (ego masculino)
- angaju: irmão mais velho do mesmo gênero do ego;
- aqqalu: irmão mais novo (ego feminino);
- naja: irmã mais nova (ego masculino);
- nuka: irmão mais novo do mesmo gênero do ego.
- nuunu: irmã caçula.
Sabendo disso, já podemos realizar todas as tarefas:
A. Complete a tabela:
B. Defina o gênero de cada uma das seis pessoas.
Considerando nossas descobertas:
- Meninas: Qinoq, Pilunnguaq, Naasuunguaq, Maannguaq;
- Meninos: Aputsiaq, Kunuk.
Problema 3 - ADLaM
Autoria: Artur Corrêa Souza
Comentário: Alex Teruel, João Guilherme Camilo
Após uma rápida olhada no corpus, podemos perceber que esse problema envolve 2 áreas: sistema de escrita e morfossintaxe.
Vamos primeiramente nos atentar ao sistema de escrita, já que se faz necessário para as primeiras lacunas.
Conforme o enunciado, esse sistema de escrita é um alfabeto, ou seja, apresenta grafemas para consoantes e vogais. A partir disso, podemos perceber duas coisas:
- Como a quantidade de grafemas em ADLaM e na transcrição é semelhante, porém, de “trás para frente”, podemos concluir que a direção dessa escrita é direita-esquerda;
- Vogais longas são duplicadas na transliteração, entretanto, são representadas por somente um grafema, que possui um diacrítico sobreposto ( ? para “a” e ? para “e” e “o”).
Assim, podemos descobrir, a partir do corpus. o que significam os grafemas em ADLaM:
Assim, já temos o suficiente para preencher as lacunas [1], [2], [4], [5], [6] e [7]:
- [1] mi lootike: ?? ???????;
- [2] men lootete: ??? ???????;
- [4] ?? ?????? ?????: ɓe soodii kaaba (apesar de ?? não ter aparecido transcrito, sabemos que ? é a vogal i com o diacrítico que indica vogal longa - sendo transcrita como “ii”);
- [5] ?? ????? ??: on piyii ɓe;
- [6] ?? ??????: on piyete;
- [7] ?? ?????? ???: ɓe lootay men.
Agora, vamos dar atenção para a morfossintaxe do problema.
Comparando as transcrições do ADLaM às expressões em português, podemos encontrar alguns padrões de repetição:
Com essas marcações, podemos notar que:
- A ordem da frase é sujeito-verbo-objeto (SVO);
- Os verbos possuem uma forma simples, como sood (comprar), loot (lavar), hirt (jantar) e piy (bater), que são acompanhadas de sufixos, como -ay, -ike, -oto, -ano, -ete e -ii.
Além disso, temos o suficiente para marcar quem são os sujeitos e os objetos:
Os substantivos (kaaba e leemune) permanecem da mesma forma sendo sujeito ou objeto.
Voltando para os sufixos, vamos comparar as frases em que aparecem sufixos repetidos:
Comparando as duas frases que contêm o prefixo -ay, percebemos que elas estão no futuro simples, além de possuírem um objeto, sobre quem o sujeito pratica uma ação.
Comparando as frases que contêm -ike, percebemos que estão no pretérito perfeito, e que o sujeito pratica uma ação sobre si mesmo ou é o agente de um verbo intransitivo (sujeito agente).
Comparando as frases que contêm -ete, vemos que estão no futuro simples, e que o sujeito sofre uma ação (sujeito paciente).
Comparando as frases que contêm -ii, vemos que as frases estão no pretérito perfeito, além de possuírem um objeto, sobre quem o sujeito pratica uma ação.
Os sufixos -oto e -ano não se repetem no corpus, mas podemos analisar suas frases seguindo o que foi analisado nos demais sufixos.
Analisando essa frase, percebemos que o sufixo -oto está presente quando a frase está no futuro simples, e o sujeito pratica uma ação sobre si mesmo ou é o agente de um verbo intransitivo (sujeito agente).
Analisando essa frase, vemos que o sufixo -ano está presente quando a frase está no pretérito perfeito, e o sujeito sofre uma ação (sujeito paciente).
Dessa forma, podemos classificar os sufixos verbais:
Agora que entendemos o que significa cada parte da frase, podemos completar as lacunas que restaram:
- [3] Na linha 15, temos somente a frase em português “vocês me lavaram”, em que o sujeito é “vocês”, desempenhando o papel de agente da ação, o objeto é “me”, o verbo é “lavar” e está no pretérito perfeito. Assim, sua tradução para a língua fulfulde seria on lootii lan: ?? ?????? ???.
- [8] em “milho foi comprado”, o sujeito é “milho”, desempenhando o papel de paciente, e o verbo é “comprar”, estando no pretérito perfeito. Assim, milho foi comprado: kaaba soldano;
- [9] em “eles se lavarão”, o sujeito é “eles”, desempenhando o papel de agente e de paciente, e o verbo é “lavar”, estando no futuro simples. Logo, eles se lavarão: ɓe loototo;
- [10] on piyete: vocês serão batidos / vão bater em vocês;
- [11] ɓe lootay men: eles nos lavarão.
Com lacunas preenchidas, podemos completar a tabela:
Problema 4 - Aritana
Autoria: Fernando César Gonçalves Filho
Comentário: João Guilherme Camilo, Teresa Lage
Passando um olho rápido sobre todo o problema, fica claro que temos que elaborar uma análise sintática do corpus antes de qualquer coisa. E uma boa forma de iniciar essa análise é tentar achar termos que se repetem entre as frases em yawalapíti.
Uma observação atenta do corpus denuncia a existência de apenas dois verbos que ocorrem em todas as frases: "dar" e "ver". Além disso, todas as frases estão no presente simples - logo, não precisamos nos preocupar com o tempo dos verbos.
Com essa divisão, percebemos duas coisas:
- a repetição regular das formas "-iputi", para "dar", e "-unupi", para "ver";
- a existência de alguns prefixos repetidos modificando as formas verbais: “p-”, “in-” e “n-”.
Tendo em mente a existência desses prefixos, a análise de outros termos repetidos fica menos nebulosa:
Com essas novas marcações, sobram não marcados apenas pronomes e alguns substantivos que não se repetem; o que descobrimos até agora é base o suficiente para a identificação da posição dos substantivos não repetidos:
A partir disso, podemos tecer algumas conclusões importantes para o problema (e para problemas de sintaxe no geral):
- A ordem da frase é sujeito-verbo-objeto (SVO);
- Em frases do verbo “dar”, indica-se primeiro o que é dado (objeto direto) e depois a quem se dá (objeto indireto);
- O locativo (onde acontece a ação) é indicado ao fim da frase.
Já descobrimos bastante coisa, mas ainda não entendemos os pronomes. Depois de analisar o corpus, sabemos que existem posses pronominais, sujeitos pronominais e objetos pronominais, de três pessoas do discurso distintas (primeira do singular, segunda do singular e terceira do singular feminina) que ainda não desvendamos.
Sabendo qual a ordem da frase, podemos começar procurando os sujeitos pronominais. Talvez seja útil “deixar de lado” os substantivos que já marcamos e focar apenas no intocado em cada sentença:
Percebemos que os sujeitos pronominais são prefixos aos verbos:
- “n-”, quando sujeito “eu”;
- “p-”, quando sujeito “você”;
- “iɾu in-”, quando sujeito “ela”.
É razoável pensar que posses e objetos pronominais funcionem seguindo uma lógica parecida de prefixos. Continuando a análise, dessa vez atentos a posses pronominais, temos:
De fato, as posses pronominais funcionam por meio de prefixos idênticos aos marcadores de sujeito pronominal. Entretanto, podemos perceber uma pequena variação fonética nas formas dos prefixos, que é importante registrar:
* Não há, no corpus, uso do prefixo marcador de segunda pessoa do singular antes de consoante; entretanto, por analogia, é possível supor que seja “pu-”.
Assim, temos quase totalmente decifrados os pronomes apresentados, restando apenas os objetos pronominais:
Os objetos pronominais são palavras levemente diferentes dos prefixos de sujeito e posse, mas não muito. Podemos completar nossa tabela:
Assim, restam apenas dois detalhes não decifrados no corpus:
- Algumas frases terminadas com sufixo “-ɲa”;
- Algumas expressões de posse que recebem o sufixo “-la”.
Avaliando, fica claro que “-ɲa” existe para indicar o locativo da sentença:
Para descobrir o que deve significar a terminação -la, uma boa ideia é tentar comparar expressões com -la a outras sem o sufixo:
Assim, podemos nos perguntar: o que sete, amiku e kawaɾu tem em comum entre si que os difere de iɾ̥u, uwa e pa? Observando, percebemos que existe uma semelhança muito grande entre as primeiras e suas traduções para o português: sete/CD (cedê), amiku/amigo e kawaɾu/cavalo. Essa semelhança não existe no segundo grupo. Assim, podemos concluir que o sufixo -la é adicionado em expressões de posse nas quais o possuído é empréstimo do português. Essa noção é exatamente o que precisamos para resolver a tarefa A:
- niputi iɾu imoto hiu - eu te dou o motor dela deveria ser escrito niputi iɾu imotola hiu, já que, devido à semelhança de moto/motor, é possível supor que a palavra "moto" seja empréstimo;
- punupi numatʃila iɾu inukuɲa - você vê o meu milho na mata dela deveria ser punupi numatʃi iɾu inukuɲa, já que a palavra "matʃi" - "milho" dificilmente é empréstimo do português.
E, finalmente, podemos responder a tarefa B:
- eu te dou o carvão - niputi ɨɾira hiu
- você vê a tua mata - punupi puku
- teu tio me dá o meu cavalo na casa - puwa iputi nukawaɾula nu paɲa
- a tartaruga dela vê o amigo na mata dela - iɾu iniɾ̥u unupi amiku iɾu inukuɲa
Problema 5 - Nɔɔle
Autoria: Lai Otsuka
Comentário: João Guilherme Camilo, Teresa Lage
Ao parear as expressões, podemos entender como funciona o sistema de numeração do muan. Como ponto de partida do problema, é necessário notar que essas expressões são compostas por um numeral e um substantivo contável.
Ao analisar o corpus, podemos perceber que existem 5 substantivos contáveis:
Tampas (x2), francos CFA (x5), bigornas (x1), pessoas (x2) e colheres (x3).
A partir disso, devemos procurar, entre as expressões em muan, termos que se repetem na mesma quantidade de vezes que os substantivos contáveis em português.
A partir disso, podemos perceber que gɔli aparece 5 vezes, lɛbhulapɛ aparece 2 vezes, tɔ aparece 3 vezes, mɛɛ aparece 2 vezes e gbɛŋ só aparece uma vez. Portanto, fica claro que:
gɔli - francos CFA;
tɔ - colheres;
gbɛŋ - bigornas.
Além disso, notamos que, na ordem das expressões em muan, o substantivo contável antecede o numeral.
Partindo para os numerais, vemos na expressão (c) que yaga está contando "colheres", e provavelmente indica um número básico - já que o numeral é representado por apenas uma palavra. Logo, yaga deve corresponder ao número 3, e (c ) - (10).
Analisando o corpus como um todo, vemos o termo mia repetindo-se em quase todas as expressões, então podemos pensar que seja uma base numérica. Comparando expressões em que aparecem o substantivo tɔ (i e k), sabemos que:
vu ta soo e mia yiziɛ ɓɛ yiziɛ = 15 e 84, em alguma ordem.
Um deles apresenta o que desconfiamos ser uma base numérica (mia yiziɛ ɓɛ yiziɛ) - então, deve ser o número maior (84). Por consequência, (i) - (12) e (k) - (8).
Analisando a escrita do número 84:
- mia yiziɛ ɓɛ yiziɛ
a estrutura parece ser (mia * yiziɛ) + yiziɛ. Assim, pode-se supor que: 84 = 20 * 4 + 4.
Então: a base (mia) é igual a 20 e yiziɛ é igual a 4. Ainda não entendemos o que significa o termo ɓɛ.
Continuando, vemos que a expressão (5) possui o número 33. Sabendo que 3 = yaga, provavelmente sua expressão em muan termina em yaga; assim, (d) - (5). Então, 33 é escrito
- mia do ɓɛ vu ta yaga
e mɛɛ = pessoas, fazendo lɛbhulapɛ = tampas.
Analisando essa construção:
- mia do ɓɛ vu ta yaga
vemos mia (20) e a mesma estrutura 20 * x + y. Então, 33 = 20 + 13; assim, concluímos que do = 1, e vu ta yaga = 13. O termo vu ta aparece repetidas vezes em outras expressões - logo, talvez seja outra base; além disso sabemos que yaga = 3. Então, 13 (vu ta yaga) = 10 + 3.
Essa hipótese se confirma com a expressão (k), em que
- vu ta soo = 15
já que 15 = 10 + 5. Então, vu ta = 10 e soo = 5.
Como sabemos que gbɛŋ = bigornas, podemos relacionar as expressões (4) - (f). Assim, slɔayiziɛ = 9.
Como já sabemos que yiziɛ = 4 e 9 = 5 + 4, podemos pensar que slɔa seja uma marca do sistema de numeração muan: slɔa-x = 5 + x.
Olhando para a expressão (b), vemos que ela termina em vu ta slɔado, e conhecemos todos esses termos:
- slɔado = 5 + 1 = 6, então
- vu ta slɔado = 10 + 6 = 16.
Vemos também que a expressão apresenta mia multiplicado por um número. O único número das expressões em português que termina com 6 é 56; logo,
- mia plɛ ɓɛ vu ta slɔado = 20 * plɛ + 16;
e plɛ = 2.
Assim, podemos corresponder (b) - (1).
Vendo o substantivo da expressão (h), podemos relacionar (h) - (7); assim,
- mia plɛ ɓɛ slɔaplɛ = 20 * 2 + 7.
e slɔaplɛ = 5 + 2 = 7.
Analisando o substantivo de (m), podemos relacionar (m) - (9), então
- mɛɛ waa do kɛmɛ plɛ ke mia plɛ ɓɛ vu ta slɔaplɛ = 1257.
Sabemos que mia plɛ = 20 * 2 = 40 e, vu ta slɔaplɛ = 10 + 7 = 17; juntas, formam 57. Então, devemos olhar apenas para waa do kɛmɛ plɛ ke, que deve formar 1200.
- waa do kɛmɛ plɛ ke = waa * 1 + kɛmɛ * 2 = 1200;
assim, podemos concluir que waa = 1000 e kɛmɛ = 100.
Após essas correspondências, percebemos que os termos ke, ɓɛ e ta não significam numerais, mas tem a função de separar as ordens numéricas. Podemos perceber, em (m), que
- ke separa as centenas das vintenas;
- ɓɛ separa as vintenas de números entre 1 e 19;
- ta separa o número 10 dos números básicos
Por fim, vamos olhar para as expressões (a), (e), (g), (j) e (l). Já temos o suficiente para descobrir o que significam os numerais:
(a) mia yiziɛ = 20 * 4 = 80
(e) waa plɛ = 1000 * 2 = 2000
(g) kɛmɛ soo ke mia yaga ɓɛ vu = 100 * 5 + 20 * 3 + 10 = 570
(j) mia plɛ ɓɛ vu = 20 * 2 + 10 = 50
(l) kɛmɛ do ke mia plɛ = 100 * 1 + 20 * 2 = 140
Apesar de nenhum desses números aparecer no corpus, fica clara uma propriedade interessante: todos os resultados das multiplicações desses números por 5 estão presentes no corpus:
- 80 * 5 = 400;
- 2000 * 5 = 10000;
- 570 * 5 = 2850;
- 50 * 5 = 250;
- 140 * 5 = 700
Então, podemos relacionar as seguintes expressões: (a) - (3), (e) - 11, (g) - (2), (j) - (13) e (l) - (6). Além disso, percebemos que, ao contarmos francos CFA, devemos escrever por extenso apenas um quinto da quantidade contada.
Após a apresentação de todos os fenômenos, podemos fazer um breve resumo:
- Substantivos contáveis:
- gɔli = francos CFA
- lɛbhulapɛ = tampas
- tɔ = colheres
- mɛɛ = pessoas
- gbɛŋ = bigornas
- Números básicos:
-
- do (1)
- plɛ (2)
- yaga (3)
- yiziɛ (4)
- soo (5)
- Somadores:
-
- slɔa (5 + x):
- slɔado = 6;
- slɔaplɛ = 7;
- slɔayaga = 8 (não apresentado no problema);
- slɔayiziɛ =9.
- slɔa (5 + x):
-
- vu (10)
- Multiplicadores:
-
- mia (20)
- kɛmɛ (100)
- waa (1000)
- Outros termos:
-
- ke (separa centenas de vintenas)
- ɓɛ (separa vintenas de números de 1 a 19)
- ta (separa 10 de números básicos)
- Contagem dos francos CFA:
-
- quantidade de francos CFA = 5 * número por extenso
- Ordem das expressões de numeração em muan:
-
- Substantivo contável - numeral
Assim, partimos para a resolução das tarefas.
- Faça a correspondência entre as colunas.
Como apresentado na apresentação dos fenômenos:
- b 5. d 9. m 13. j
- g 6. l 10. c
- a 7. h 11. e
- f 8. k 12. i
- Traduza para o português:
- mɛɛ waa yiziɛ kɛmɛ yaga ke vu:
- mɛɛ = pessoas; waa yiziɛ = 1000 * 4; kɛmɛ yaga = 100 * 3; vu = 10 → 4000 + 300 + 10 = 4310 pessoas.
- lɛbhulapɛ kɛmɛ slɔaplɛ ke mia yiziɛ ɓɛ slɔado:
- lɛbhulapɛ = tampas; kɛmɛ slɔaplɛ = 100 * 7; mia yiziɛ = 20 * 4; slɔado = 6 → 700 + 80 + 6 = 786 tampas.
- gɔli mia yaga ɓɛ vu ta soo:
- gɔli = francos CFA; mia yaga = 20 * 3; vu ta soo = 10 + 5 = 15; 60 + 15 = 75 → 75 * 5 = 375 francos CFA.
- Traduza para o muan, em extenso:
- 999 bigornas:
- 999 = 900 + 99; 900 = 100 * 9; 99 = 80 (20 * 4) + 19 (10 + 9); bigornas = gbɛŋ → gbɛŋ kɛmɛ slɔayiziɛ ke mia yiziɛ ɓɛ vu ta slɔayiziɛ.
- 135 francos CFA:
- 135 ÷ 5 = 27; 27 = 20 + 7; francos CFA = gɔli → gɔli mia do ɓɛ slɔaplɛ.
- 5620 colheres:
- 5620 = 5000 + 600 + 200; 5000 = 1000 * 5; 600 = 100 * 6; 20 = 20 * 1; colheres = tɔ → tɔ waa soo kɛmɛ slɔado ke mia do.
Categoria Mirim
Problema 1 - Sníchim
Autoria: Lai Otsuka
Comentário: João Guilherme Camilo
Após uma análise no corpus, ficam claros os padrões de repetições:
Assim, podemos definir os substantivos (os termos possuídos):
- lám7: casa
- snex̱’ílh: canoa
- sná7: nome
- sḵʼmái7: cachorro
- sníchim: língua (o título do problema!)
Por fim, podemos definir quais são os pronomes possessivos (os termos possuidores):
E agora, podemos resolver as tarefas:
A. Traduza para o português:
- snex̱’ílhchet: snex̱’ílh (canoa) + -chet (nosso/nossa): nossa canoa.
- 7nsná7: 7n- (meu/minha) + sná7 (nome): meu nome.
- sníchims: sníchim (língua) + -s (dele): língua dele.
B. Traduza para o squamish:
- nome dele: nome (sná7) + dele (-s): sná7s.
- canoa de vocês: canoa (snex̱’ílh) + de vocês (7e- e -iap): 7esnex̱’ílhiap.
- meu cachorro: meu (7n-) + cachorro (sḵʼmái7): 7nsḵʼmái7.
Problema 2 - Zoológico Cherokee
Autoria: Fernando César Gonçalves Filho, Lai Otsuka
Comentário: João Guilherme Camilo
Analisando o corpus, sabemos que devemos procurar padrões de repetição:
A expressão (d) chama atenção por consistir de apenas duas sílabas iguais (sa), então provavelmente está relacionada à expressão (8), que possui apenas dois grafemas iguais. Então, “Ꮜ” corresponde a “sa”, e podemos fazer a correspondência (8) - (d).
Isso nos faz desconfiar que o sistema de escrita cherokee seja um silabário, ou seja, cada grafema represente uma sílaba inteira.
A aparição do grafema “Ꮜ” ("sa") no início da expressão (7) indica que provavelmente está ligada à expressão (i) - assim, a direção de escrita do cherokee é esquerda-direita, e (7) - (i).
Sabendo disso, podemos marcar a correspondência entre as palavras em escrita cherokee e as suas transcrições para o alfabeto latino.
Assim, podemos definir os grafemas da escrita cherokee:
e podemos responder às tarefas:
A. Relacione as colunas, conectando os nomes de animais escritos no sistema de escrita cherokee (1-10) com suas respectivas formas no nosso alfabeto (a-j).
- f 6. h
- e 7. i
- j 8. d
- c 9. g
- b 10. a
B. Escreva, no nosso alfabeto, os nomes dos seguintes animais em cherokee:
- ᎩᎵ ‘cachorro’: gili.
- ᏌᎾᏩ ‘esmerilhão (pássaro)’: sanawa.
- ᎠᏣᏗ ‘peixe’: atsadi.
- ᏥᏍᏆᎸᎾ ‘cottus (peixe)’: tsisqualvna.
Problema 3 - Irmãos e Irmãs
Autoria: Juliana Chaves Almeida
Comentário: Alex Teruel
Uma primeira intuição linguística que podemos resgatar é o fato de que, muito provavelmente, pela quantidade de termos no corpus, haverá diferenças com relação à idade e ao gênero para cada pessoa se referir aos irmãos. A primeira separação que devemos fazer é separar as palavras que são usadas apenas para se referir aos irmãos mais novos das que se referem apenas aos irmãos mais velhos.
A partir disso, podemos definir os nomes utilizados para se referir aos irmãos mais velhos e aos irmãos mais novos.
Podemos perceber que existem mais nomes do que normalmente usamos em português, então podemos levantar a hipótese de que os nomes flexionem em gênero de acordo com o gênero do ego (aquele que se refere) e o gênero do referido.
Analisando a tabela, podemos ver que “ani” é utilizado por mais de três pessoas para se referir aos mais velhos; então, podemos associá-lo, pela quantidade, ao uso pelo ego feminino. Logo, Qinoq, Pilunnguaq e Naasuunguap são meninas.
A partir dessa análise, também podemos concluir que angaju deve ser usado por uma pessoa do gênero masculino. Assim, podemos supor que Kunuk seja um menino.
Podemos ver que Naasuunguaq e Maannguaq chamam Kunuk de ani. A partir disso, concluímos que Maannguaq é uma menina, confirmando que Kunuk é um menino e, portanto, Aputsiaq é um menino.
Ao analisar a segunda coluna, vemos que pessoas anteriormente marcadas como meninas também utilizam angaju para se referir a Qinoq, também marcada como menina. Em oposição, notamos o aleqa sendo utilizado por alguém supostamente do gênero masculino. Percebemos, então, que existem nomes que são utilizados por ambos os gêneros quando as duas pessoas têm o mesmo gênero. Podemos ver, também, que todos os irmãos, independente do gênero, chamam Maannguaq (que é a irmã mais nova de todos) de nuunu.
Agora que sabemos o gênero de todos os irmãos, podemos definir o nome das relações entre eles:
- angaju: irmão mais velho do mesmo gênero do ego;
- aqqalu: irmão mais novo (ego feminino);
- naja: irmã mais nova (ego masculino);
- nuka: irmão mais novo do mesmo gênero do ego.
- nuunu: irmã caçula.
Sabendo disso, já podemos realizar todas as tarefas:
A. Complete a tabela:
B. Defina o gênero de cada uma das seis pessoas.
Considerando nossas descobertas:
- Meninas: Qinoq, Pilunnguaq, Naasuunguaq, Maannguaq;
- Meninos: Aputsiaq, Kunuk.