Por apresentarem características morfológicas que lembram as de uma planta, os fungos foram inicialmente classificados juntamente com outros seres vegetais. Atualmente, no entanto, os fungos constituem um reino próprio — o reino Fungi — e são estudados por profissionais conhecidos como micólogos. Nessa aula, vamos entender mais sobre os fungos.
Assim como ocorre nas plantas, os fungos possuem células dotadas de parede celular. Há, entretanto, uma diferença fundamental: no reino Plantae, a parede celular é primariamente formada por celulose, ao passo que a quitina é a principal formadora da parede celular dos fungos. Além disso, as células dos fungos não apresentam plastos, organelas tradicionalmente presentes nas plantas. Sua alimentação, portanto, é de natureza heterotrófica, podendo obter seus nutrientes de diversas maneiras, a depender da espécie e das condições ambientais. Deve-se notar, ainda, que muitos fungos possuem, assim como as plantas e as algas, vacúolos celulares, que podem desempenhar diversas funções, como armazenamento de substâncias e osmorregulação, por exemplo.
Os fungos podem ser unicelulares ou multicelulares, estes últimos não apresentando tecidos diferenciados. A maioria dos fungos unicelulares é desprovida de estruturas locomotoras, como flagelos, sendo, portanto, imóveis. O reino Fungi apresenta representantes com reprodução sexuada e assexuada, com algumas espécies capazes de realizar as duas modalidades de reprodução.
Diversas espécies de fungos são saprófitas obrigatórios, isto é, alimentam-se exclusivamente de matéria orgânica em decomposição. Há, ainda, fungos parasitas obrigatórios ou facultativos e, por fim, fungos que vivem em simbiose com plantas (formando estruturas chamadas de micorrizas) ou algas (líquens), obtendo nutrição a partir dos seres aos quais se encontram associados.
Do ponto de vista humano, os fungos são de extrema importância. Espécies do gênero Saccharomyces são notáveis por seu emprego em processos de fermentação utilizados para a produção de pães, cerveja e outros alimentos. Além disso, os fungos são muito empregados na indústria farmacêutica. O primeiro antibiótico, por exemplo, foi descoberto pelo médico britânico Alexander Fleming quando este observou que a presença de fungos do gênero Penicillium impedia a proliferação de bactérias em uma cultura — isso ocorria porque esses fungos liberam uma substância, a penicilina, capaz de matar as bactérias. Os fungos podem, ainda, contribuir para a alimentação humana, sendo algumas espécies de cogumelos comestíveis e apreciadas na gastronomia.
As células dos fungos costumam formar longos filamentos ramificados denominados de hifas. A totalidade das hifas de um mesmo organismo é chamada de micélio. As hifas se agrupam formando macroestruturas, como os “cogumelos”, que não passam de estruturas reprodutivas dos fungos.
Tradicionalmente, podemos classificar as hifas em dois tipos. Primeiro, há aquelas em que apresentam uma clara divisão entre as células que as formam. Essa divisão é feita por paredes celulares espessas, chamadas septos, e as hifas que possuem essa configuração são chamadas de septadas. Por outro lado, algumas espécies de fungos apresentam os núcleos de suas células dispostos em um grande citoplasma contínuo, sem a divisão por septos. As hifas assim estruturadas são chamadas de asseptadas ou cenocíticas.
Como mencionado anteriormente, o reino Fungi apresenta indivíduos com reprodução tanto sexuada quanto assexuada. A reprodução assexuada pode ser classificada em dois tipos: somática e espórica. A reprodução espórica ocorre gerando um novo indivíduo inicialmente conectado ao progenitor, com gradual separação. Esse processo pode se dar por brotamento/gemação das células do fungo ou por fragmentação das hifas. No caso da reprodução espórica, o organismo progenitor forma, por mitose, células denominadas de mitósporos que são, então, espalhadas pelo ambiente, dando origem a novas hifas. Nos fungos aquáticos, é comum que esses mitósporos sejam flagelados, podendo se deslocar pela água. Esses mitósporos móveis são chamados de zoósporos. Já nos fungos terrestres, os mitósporos são geralmente imóveis, sendo chamados de aplanósporos.
Para melhor compreender a reprodução sexuada, precisamos conhecer algumas das estruturas reprodutoras que os fungos formam. Muitas espécies de fungos possuem órgãos geradores de gametas, os gametângios. Na maioria das espécies, todos os gametângios são iguais (isogametângios), ao passo que algumas espécies possuem duas formas (heterogametângios): anterídios, produtores de gametas masculinos, e ascogônios, produtores de gametas femininos.
O processo de reprodução sexuada consiste em três etapas. Primeiro, há a fusão das células de hifas de dois diferentes fungos, em um processo de duas etapas: a fusão citoplasmática (plasmogamia) e dos núcleos (cariogamia). Em algumas espécies, essas hifas passam por um processo de diferenciação, tornando-se os gametângios mencionados acima. Após essas duas etapas, um zigoto será formado. A etapa final consiste em uma meiose do zigoto, formando esporos. Estes últimos originam novos indivíduos.
Existem seis principais filos de fungos:
- Chytridiomycota: fungos de ambiente aquático e nutrição saprófita, são conhecidos por liberarem zoósporos flagelados no meio em que se encontram, promovendo, assim, sua propagação.
- Neocallimastigomycota: filo notável por sua presença em ambientes com pouco ou nenhum oxigênio, sendo encontrados, por exemplo, no trato digestivo de alguns mamíferos herbívoros, contribuindo para o processo de digestão desses animais.
- Blastocladiomycota: possui representantes saprófitos de ambiente terrestre e parasitas de insetos.
- Glomeromycota: nesse filo, encontramos os principais fungos a se associarem às plantas, formando as micorrizas.
- Ascomycota: é o principal filo, contando com em torno de três quartos de todas as espécies de fungos. Os representantes desse filo ocupam diversos nichos ecológicos e apresentam grande diversidade quanto ao modo de obtenção de alimentos: podemos encontrar desde parasitas de insetos até fungos formadores de líquens.
- Basidiomycota: são os fungos desse filo que formam as macroestruturas que conhecemos popularmente como “cogumelos”.
Aula elaborada por Kauí Lebarbenchon