Escrito por Akira Ito, Matheus Felipe R. Borges, Lucas Tavares, Alex Carneiro, Pedro Tsuchie, João Gabriel Pepato, Gabriel Hemétrio, Paulo Henrique
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Questão 1.
Três bolas de brinquedo, A, B, C, de mesmo raio e massas diferentes são abandonadas, em , da janela de um prédio, localizada acima de um pátio vazio no piso térreo. A tabela ao lado mostra a altura aproximada das bolas em função do tempo .
As bolas estão sob a ação da força gravitacional (peso) e da força de resistência do ar, ou força de arrasto, . Essa força é oposta ao movimento do corpo e sua intensidade é dada por , onde é o módulo da velocidade do corpo em relação ao ar e é uma constante positiva que depende da geometria do corpo e da densidade do ar.
A ação de pode ser desprezada devido, entre outros, à combinação dos seguintes fatores: (1) velocidade suficientemente baixa e (2) corpo suficientemente massivo.
(a) Todos os corpos em queda no ar, depois de um intervalo de tempo suficientemente longo, se movem com velocidade constante, chamada velocidade terminal. Qual a bola mais leve? Ela já atingiu a velocidade terminal? Quando (aproximadamente)? Qual seu valor?
(b) A ação de durante toda a queda é desprezível para alguma bola? Qual? Justifique.
(c) Sejam as massas das bolas. Estime a razão .
(d) É possível estimar a razão ? Por quê?
Cinemática
(a) A bola mais leve é a A, pois se observamos as posições das 3, fica claro que A foi a bola que teve o movimento mais atrapalhado por ter chegado menos longe que as outras no mesmo intervalo de tempo, e como a aceleração da partícula depende da geometria (que é igual), da densidade do ar (que é a mesma), da velocidade (que começa igual) e da massa, sabemos então que este tem que ser o fator decisivo e portanto A é a mais leve.
Agora que esclarecemos que estamos falando da bola A, para sabermos se ela chegou na velocidade terminal ou não, precisamos calcular as 2 últimas velocidades dela, não é um movimento que poderíamos achar sua velocidade por ser de certa complexidade matemática, mas podemos estimar a sua velocidade com alguma precisão. Para isso, iremos pegar 2 instantes de posição e iremos calcular a velocidade “média” entre esses 2 instantes, que por ter um intervalo de tempo pequeno, podemos dizer que aproximadamente refletiria a velocidade instantânea do tempo entre esses 2 instantes, portanto:
E a penúltima velocidade:
Concluímos então que a bola A de fato chegou à velocidade terminal, mas para acharmos os instantes, vamos ver até onde isso vai:
Assim sabemos que o instante foi entre e , e a velocidade terminal é .
(b) Para acharmos isso, vamos ver o quanto deveria ter descido uma partícula em queda livre ao final dos , e se alguma das bolas desceu a mesma altura neste intervalo, então podemos concluir que ela não foi afetada pela resistência do ar.
Escrevendo a função da altura de uma partícula em queda livre:
Como todas as bolas começam em , isso significa que para uma bola que não é afetada pela resistência do ar, ela estaria em . Concluímos então que a bola C sofre ação desprezível da resistência do ar.
(c) Devemos estimar o para cada esfera, começando com a bola A (a massa deve ser a dela pois é a mais leve):
Bola A
Já que sabemos a sua velocidade terminal podemos escrever a segunda lei de Newton:
E no caso de ter atingido a sua velocidade terminal, a aceleração é zero, e usando os valores da questão e da prova:
Usando o mesmo argumento do item (a), sabemos que a bola C tem que ser a mais pesada por ter sido a que se deslocou mais longe do grupo, portanto a massa deve ser a massa da bola B.
Bola B
Agora para bola B, é um pouco mais complicado, vamos começar calculando as 2 últimas velocidades dela, conforme fizemos para a bola A:
Como ela não atinge a velocidade terminal, teremos que tentar estimar a aceleração de outra maneira. Para fazer isso precisamos novamente usar a segunda lei de Newton, mas como não temos uma velocidade terminal com aceleração zero, precisamos de uma aceleração e uma velocidade, portanto primeiro vamos calcular a aceleração média entre essas 2 velocidades:
Note que como a velocidade está variando menos nesses instantes, o erro dessa aceleração é menor. E agora para calcular a velocidade, façamos a média entre elas:
Assim, novamente escrevendo a segunda lei de Newton:
Usando nossos dados:
Assim, temos que:
(d) Não, pois como a bola C, que possui a massa , não sofre nenhuma interferência da resistência do ar, seu movimento independe do valor numérico da sua massa, e portanto não temos como estimar uma relação de sua massa com outra.
(a) Bola mais leve: C, Sim, entre e ,
(b) Sim, Bola C
(c)
(d) Não, pois não sofre nenhuma ação da resistência do ar.
Questão 2.
Um carro está estacionado em um plano inclinado de ângulo θ = 30◦. Para se assegurar que não deslize,
foram colocados calços sob as rodas, conforme esquema na figura. O calço, que está fixo no plano inclinado, forma
ângulo α com ele. Considere uma roda em equilíbrio estático no qual atua uma força F de intensidade de 6000 N. Essa força, aplicada no eixo da roda, corresponde à resultante da carga do carro mais o peso da própria roda. Desconsidere as forças de atrito. Determine e , respectivamente, as intensidades das forças que o plano inclinado e o calço exercem na roda, nos seguintes casos:
(a) α = 45◦
(b) α = 60◦
Dinâmica/Estática
As forças atuantes na roda são:
Agora, temos que decompor as forças em suas componentes paralelas e perpendiculares ao plano. Para deixar a imagem menos poluídas, representaremos apenas as forças e os ângulos:
OBS: Se você está com dificuldade em entender como o ângulo entre a força e a direção perpendicular foi calculado, observe a representação a seguir:
Agora, basta decompormos as forças, calcularmos as forças resultantes em cada direção, igualando-as a 0.
A força resultante na direção paralela ao plano é:
A força resultante na direção perpendicular ao plano é:
.
Resolvendo esse sistema, temos que:
Substituindo o valor de e os respectivos valores de , obtemos os seguintes valores:
a) ,
b) ,
OBS: No item b), os valores e estão diferentes porque usamos a aproximação de dada pela prova. Se usassemos o valor exato, obteríamos que, no item b), tanto quanto são iguais a .
a) , , b) ,
Questão 3.
Considere uma bancada horizontal de um laboratório didático na qual foi fixado um semicilindro rígido de raio r. Uma pequena esfera de massa m está conectada ao
semicilindro por um fio de massa desprezível e comprimento L = πr, conforme a gura. Inicialmente, com θ = 0, o fio é vertical e tangencia o semicilindro. Determine o menor valor da intensidade da velocidade inicial da esfera, v0 = |v0|, para que a esfera atinja a configuração com θ = 135◦
com o fio tensionado.
Dinâmica/Estática
Como a tração é sempre perpendicular à trajetória da massa, não há trabalho sendo realizado na massa, então a energia é conservada.
Denotaremos o comprimento do trecho da corda que NÃO está enrolado por , que é dado pela subtração do comprimento do trecho enrolado da corda do comprimento total da corda : .
A energia potencial da massa em função de é dada por:
A energia cinética da massa é dada por
Onde é a velocidade da massa
Assim, a energia total é dada por
Por conservação de energia, essa energia deve ser igual á energia inicial , que é:
Então:
A resultante centrípeta é:
Substituindo essa igualdade na equação da conservação de energia, temos que:
Quando é igual a 135 graus (ou radianos), temos
Como, nesse instante, o fio deve estar tensionado, .
Assim,
Substituindo por (como foi dito no ínicio da solução):
Usando que , , e , obteremos que:
Questão 4.
Considere uma máquina térmica que opera ciclicamente extraindo calor de uma fornalha a e um rio que está a . Um estudante de física faz um protótipo usando um gás ideal monoatômico como o subsistema responsável pelas transferências de energia.
O gás ideal está encerrado na câmara de um cilindro ao qual está acoplado um pistão. Quando o pistão é travado o volume do gás é mantido constante. Quando a trava é removida o gás interage com um agente mecânico externo, trocando energia na forma de trabalho com ele, durante sua expansão ou compressão. As paredes do cilindro são condutoras de calor.
A primeira versão do protótipo opera de acordo com o ciclo de quatro etapas:
- O cilindro com o pistão travado e o gás com volume , pressão de , e temperatura , é inserido na fornalha. Aguarda-se o equilíbrio térmico.
- Com o cilindro na fornalha, remove-se a trava do pistão. O gás se expande, realizando trabalho, até atingir o volume .
- O pistão é travado e transfere-se o cilindro da fornalha para o rio. Aguarda-se o equilíbrio térmico.
- Com o cilindro na água, remove-se a trava do pistão. Comprime-se o gás, realizando trabalho sobre ele, até atingir novamente o volume .
(a) Qual o trabalho realizado (saldo da energia mecânica transferida) pelo gás, por ciclo?
(b) Qual a eficiência deste protótipo de máquina térmica?
(c) Qual a máxima eficiência termodinâmica que uma máquina térmica pode ter operando usando a fornalha como fonte quente e o rio como fonte fria?
Máquinas Térmicas
(a) Para calcularmos este trabalho façamos primeiro o gráfico do ciclo, e para isso precisamos entender o que acontece em cada processo:
Processo 1
A partícula é aquecida de maneira isobárica (volume constante) de para , portanto calculando a pressão ao final desse processo usando a lei de Gay-Lussac:
Processo 2
Agora nós temos uma expansão isotérmica(temperatura constante) de para , portanto calculando a pressão ao final desse processo usando a lei de Charles:
Processo 3
Agora temos um esfriamento isobárico, de para , repetindo o processo:
Processo 4
Por último, temos uma contração isotérmica de para , e repetindo o processo:
E assim desenhamos o seguinte diagrama:
Observação: O ciclo não fecha certinho em e ele não passa em exatamente , mas aproximamos pois a diferença de entre a temperatura inicial do sistema e a do rio é desprezível e os valores são muito próximos destes.
Para calcularmos o trabalho total gerado por este ciclo, precisamos somente calcular o trabalho da curva do processo 2 e subtrair do trabalho da curva do processo 4, já que não há trabalho realizado nas outras curvas.
Primeiro precisamos calcular , o produto do número de mols com a constante dos gases ideais, então usando a lei dos gases ideais no instante inicial, temos:
Sabendo que o trabalho de um processo isotérmico que vai de um volume a um volume vale , então calculando o trabalho total do ciclo:
Observação: Na prova não foi fornecido o valor de , portanto deixaremos a resposta com ambos os formatos.
(b) Como a definição de eficiência é , e já calculamos o trabalho, precisamos agora calcular o calor total que entra no sistema. Como os processos de entrada de calor são o 1 e o 2, sabemos que .
Processo 1
No processo 1, temos uma curva isobárica, e portanto , lembremos que o gás é monotômico e por isso sua capacidade térmica molar vale , assim:
Processo 2
No processo 2, temos uma curva isotérmica, e portanto , e como já vimos o quanto vale , temos:
Agora, com tudo em mãos vamos calcular a eficiência:
(c) Como sabemos, a eficiência máxima de uma máquina térmica, é a eficiência de uma máquina de Carnot, que vale:
Usando que é a temperatura fria, como sendo a do rio, e , a temperatura quente, como sendo a da fornalha, temos:
(a)
(b)
(c)
Questão 5.
Durante uma experiencia de óptica em um laboratório didático, uma estudante faz a montagem na qual uma vela de de altura é posicionada entre uma lente convergente e um espelho côncavo, conforme diagrama mostrado na figura. O espelho e a lente têm distâncias focais, respectivamente de e . A lente e a vela e a lente são posicionadas, respectivamente, a e do espelho.
(a) Determine a posição e a altura da imagem vista pela estudante.
(b) Apresente o esquema com os raios de luz que determinam geometricamente a imagem.
Óptica
(a) Inicialmente, vale ressaltar que o estudante verá duas imagens da vela, uma que é formada pelos raios que passam apenas pela lente e outra formada pelos raios que refletem no espelho e passam pela lente. Pelo comando da questão "Determine a posição e a altura da imagem vista pelo estuante" só é pedido as informações de uma imagem, então calcularemos a imagem que os raios foram refletidos pelo espelho e passaram pela lente. (Pois afinal o espelho está ali por um motivo)
i) Reflexão dos raios no espelho.
Achando a posição:
Achando a altura:
ii) Imagem final.
Achando a posição:
Achando a altura:
Logo, a imagem está a uma distância à direita da lente e altura , porém invertida.
Obs.: A imagem que é formada direto pela lente é
Achando a posição:
Achando a altura:
(b) Para utilizar o esquema de raios usaremos as seguintes propriedades:
Para a lente:
1.Raios paralelos convergem no plano focal.
2.Raios que passam pelo centro óptico não sofrem desvio.
Para o espelho:
1.Raios paralelos convergem no foco.
2.Raios que passam pelo centro óptico desviam com o mesmo angulo de incidência.
Utilizando essas propriedades podemos encontrar as imagens, utilizei o auxílio das imagens encontradas por meio das equações para montar o diagrama de raios.
Questão 6.
No início do século XX, principalmente depois da descoberta da equivalência entre massa e energia por Einstein, foram propostos modelos nos quais a massa do elétron era devida apenas à atração eletrostática. Considere que o elétron é formado por três partículas com massas desprezíveis (quando distantes) e cargas iguais a . Dados, aproximadamente, massa do elétron e carga elementar , determine:
(a) A energia W necessária para aproximar as três partículas, inicialmente afastadas, até uma
distância d uma da outra.
(b) Desconsiderando a interação necessária para manter as partículas próximas, qual seria o valor de segundo esses modelos do início do século XX?
(c) Qual seria o valor do raio do elétron dessa proposta?
Eletroestática
(a)
Para encontrar o trabalho necessário para juntar as três partículas basta encontrar a energia de interação entre as partículas duas a duas.
(b) A energia encontrada anteriormente pode ser relacionada com a expressão da energia de Einstein para a energia de repouso da partícula. Não é necessário considerar a energia de repouso de cada partícula unicamente, por ser dito no enunciado que elas têm massa desprezível.
Substituindo os valores (dado na folha de dados), , e encontramos
(c) Para encontrarmos o raio do elétron, consideraremos as partículas pontuais, assim, o raio será o raio do círculo circunscrito ao triangulo formado pelas três partículas.
(a)
(b)
(c)
Questão 7.
Uma espira quadrada de aresta e resistância está na presença de um campo magnético uniforme de direção perpendicular ao plano da espira, sentido saindo do plano do papel e cuja intensidade B aumenta com a taxa constante (). Um voltímetro de resistência interna é ligado à espira por fios de resistências desprezíveis conforme mostrado na figura. Determine:
(a) O valor da corrente i que percorre a espira quadrada quando x = a.
(b) A tensão V no voltímetro em função de x.
Circuitos/eletromagnetismo
(a) Solucionaremos a questão para um qualquer. Aplicaremos a lei de Faraday em cada uma das voltas e no sentido horário. Para uma dada volta:
Em módulo
A resistência do fio obedece à lei de Ohm, ou seja, para um pedaço da espira de comprimento :
Logo,
Ainda,
Para , nosso sistema fica:
Resolvendo o sistema:
(b) A voltagem que o voltímetro mede
Substituindo no sistema:
Da primeira equação:
Substituindo na segunda:
Em módulo
(a)
(b)
Questão 8.
O ponto A da figura ao lado representa uma ambulância que se desloca com velocidade constante de módulo . No instante em que ela começa a atravessar uma praça quadrada, de lados , sua sirene de é ligada. Assim que a ambulância cruza a praça, a sirene é desligada. Nos pontos B e C estão situados dois observadores. Desconsidere a largura das ruas e suponha que o som da sirene se propaga isotropicamente.
(a) Determine, para cada observador (B e C), a maior e menor frequência sonora com que ouvem o som da sirene.
(b) Sejam e as frequências da ambulância percebidas por B e C. No mesmo plano cartesiano, faça gráficos de e em função do tempo . Use o eixo horizontal para . Adote como o instante em que a ambulância liga as sirenes.
Efeito Doppler
(a) Para o observador B, nós temos que a ambulância se aproxima dele, e assim que o cruza, ela desliga sua buzina, e assim nós temos que considerar o efeito doppler da aproximação, e depois a frequência normal no momento que ela passa por ele. Lembrando que a fórmula para o efeito Doppler é:
Onde é a velocidade do som, a velocidade do observador e a velocidade da fonte, o sentido adotado é positivo do observador para a fonte. Assim sendo a frequência percebida por B quando a ambulância se aproxima é: (Lembrem de converter a velocidade da ambulância de para )
E a frequência mínima é quando a ambulância cruza ele, assim tendo uma velocidade perpendicular a ele, que não constitui como uma aproximação ou afastamento de B, assim:
Para o observador C, nós vamos ter algo quase igual, mas agora devemos ter um cuidado com o ângulo de aproximação.
A verdadeira velocidade de aproximação é e não , pois a componente perpendicular a reta que liga a ambulância A ao observador C não importa para o efeito Doppler. Podemos ver que a velocidade fica cada vez mais perpendicular a esta reta, e portanto a velocidade máxima de aproximação é no instante inicial, quando . Após isto nós teremos um momento onde a velocidade estará totalmente perpendicular (quando a ambulância cruza a praça), e estes serão os momentos de máximo e mínimo, respectivamente. Portanto:
E a mínima:
(b) A frequência percebida pelo observador B em função do tempo é fácil de ver que será a máxima até o instante final, onde será a mínima, mas para termos uma ideia de como deve ser a frequência percebida pelo observador C em função do tempo, vamos escrever em função do tempo.
Mas como a ambulância realiza um movimento retilíneo uniforme partindo da ponta oposta a C, temos que , assim:
Colocando isso na equação da frequência percebida por B:
Substituindo os valores numéricos e fazendo o gráfico de ambas as frequências chegamos em:
Mas sendo razoáveis, podemos entender que não era esperado do aluno que fosse feito um gráfico perfeito de tal curva, portanto durante a prova, acreditamos que o esperado era apenas uma curva como essa, que podia ser encontrada fazendo uma reta ligando do ponto máximo ao ponto mínimo de C e dela, fazer uma curva muito suave com concavidade para baixo, como a do gráfico.