Escrito por Antônio Ítalo
Nessa ideia, será mostrada a utilidade de simetrias quando aplicadas em circuitos elétricos. Na Ideia 22 foi mostrada a utilidade dessa ferramente em problemas de mecânica, contudo, ao longo dessa ideia tornará-se notável o fato de que em circuitos suas aplicações são muito mais amplas.
Identificando equipotenciais
Para resolução de circuitos, identificar equipotenciais pode ser um ponto chave, no qual diversos cálculos se tornarão desnecessários. O exemplo mais conhecido desse tipo de situação deve ser o caso da Ponte de Wheatstone. Caso não conheça esse circuito, veja-o a seguir:
Exemplo 1:
Calcule a condição para que a leitura do voltímetro seja zero na seguinte ponte de Wheatstone:
Chamemos de a corrente que passa por e e a corrente que passa por e . Nessa situação, temos as seguintes condições:
Dividindo a primeira pela segunda, temos:
Logo, chegamos na conhecida relação:
Esse resultado é válido mesmo que aja uma série de elementos no lugar do voltímetro. A justificativa para isso é simples. Imagine que comecemos com o circuito de uma ponte balanceada (Relação acima válida) e então adicionemos um resistor entre os pontos de d.d.p. zero. Já que não há diferença de potencial, não haverá corrente passando pelo resistor e consequentemente não haverá mudanças no restante do circuito. Outra possível mudança seria adicionar um fio liso ou até mesmo juntar os dois pontos com diferença de potencial zero. O contrário também é verdade, se tivermos um resistor ligando dois pontos com mesmo potencial, ele não funcionará e poderá ser retirado do circuito, dessa forma podemos tanto juntar os dois pontos em um só ou separá-los retirando o resistor.
Agora que já sabemos algumas das utilidades das equipotenciais vamos para um exemplo prático onde devemos identificar uma equipotencial a partir de simetrias.
Exemplo 2:
Uma rede de pontos é conectada por resistores idênticos de resistência , note que dessa forma cada par de pontos é conectado por um resistor . Calcule a resistência equivalente entre dois pontos quaisquer e da rede. Esse exemplo já foi um problema da Semana.
A partir daqui, consideraremos, por simplicidade, que cada linha reta indica um resistor de resistência . Uma primeira representação dessa rede pode ser a seguinte:
Contudo, podemos rearranjar os pontos dessa rede da seguinte maneira:
Note, contudo, que nesse novo arranjo ignoramos todos as ligações entre os pontos que não são ou , pois, como veremos a seguir, nenhum desses resistores funciona. O motivo para isso é nada mais nada menos que a simetria garantir o fato desses outros pontos estarem em uma equipotencial. Para visualizar isso, perceba que não há nenhuma forma de diferenciar em relação aos pontos e os outros pontos da rede. Podemos até mesmo trocar esses dois pontos de lugar na rede que não veremos diferença no desenho. Concluímos então que esses pontos estão numa equipotencial e, portanto, podemos retirar esses resistores que os ligam do circuito. Dessa forma, teremos resistores de resistência conectados em paralelo, obtendo:
Mas esse conjunto também está associado em paralelo com o resistor de valor que liga e , portanto:
Agora, vamos para um exemplo onde mais de um tipo de simetria pode ser encontrado.
Exemplo 3:
Imagine um cubo formado por resistores idênticos de resistência . Calcule a resistência equivalente entre dois vértices opostos da mesma face do cubo.
Para facilitar, novamente utilizaremos que cada aresta de nosso desenho é um resistor de resistência . Planificando o cubo, obtemos o seguinte desenho:
Sendo o par de pontos entre qual queremos calcular a resistência equivalente. Note que os dois pontos marcados como possuem, por simetria, o mesmo potencial, assim como os dois pontos destacados como . Isso pode ser verificado melhor na figura abaixo:
Podemos então juntar o par de pontos e o par de pontos , de forma que associamos diversos resistores em paralelo. De certa forma, parece que dobramos nossa imagem em relação a reta tracejada, obtemos então:
Notando a presença de uma ponte de Wheatstone equilibrada, podemos remover o resistor entre os antigos pontos e . Resolvendo as associações, obtemos então:
Outra maneira de resolver o problema que seria mais rápida é perceber que os pontos marcados como têm na verdade o mesmo potencial dos pontos marcados como , pois a reta que liga os mesmos é um eixo de simetria entre e . Dessa forma, poderíamos ter cortado os resistores ligando esses pontos imediatamente, restando somente associações em série e paralelo. Os argumentos para mostrar que essa simetria implica em uma equipotencial são um pouco mais complicados, mas podem ser bem visualizados se forem definidos os potenciais dos pontos e como e .
Princípio da Superposição
Além de facilitar a identificação de equipotenciais, simetrias podem se mostrar muito úteis no cálculo de resistências equivalentes a partir do princípio da superposição. O exemplo mais conhecido disso provavelmente é em redes infinitas de resistores e em alguns sólidos muito simétricos. Antes de prosseguirmos para os exemplos dessas aplicações mais conhecidas, devemos relembrar o que é o princípio da superposição. Caso nunca tenha visto esse princípio aplicado em circuitos antes, pode ser útil dar uma olhada na Ideia 18 antes de prosseguir, na qual também são discutidas várias técnicas de resolução de circuitos. Aqui, utilizaremos uma extensão do teorema da superposição para fontes de corrente. Como visto na Ideia 18, o teorema da superposição afirma que para calcular a corrente em um ramo de um certo circuito podemos considerar separadamente a corrente gerada por cada bateria do circuito quando as outras são colocadas em curto, contudo, esse teorema pode ser estendido para incluir fontes de corrente. Caso não conheça esse termo, não se preocupe. O que faremos a seguir é ao invés de injetar uma diferença de potencial através de baterias injetar correntes a partir de fontes de corrente e aplicar o princípio da superposição
Exemplo 4:
Calcule a resistência equivalente entre dois vértices vizinhos de um cubo de resistores no qual cada aresta é um fio de resistência .
Chamemos esses vértices de e . Vamos tratar agora de duas situações diferentes antes de utilizar o princípio da superposição:
Situação 1: Injetando corrente em e retirando corrente de todos os outros vértices
Nessa situação haverá uma grande simetria na distribuição de correntes pois não haverá nenhuma diferença entre nenhum dos vizinhos de . Dessa forma, podemos concluir por simetria e pelas regras de Kirchoff que a corrente que vai de para (um dos vizinhos) nessa situação é:
Onde foi usado o sobrescrito para indicar que essa corrente se refere à primeira situação.
Situação 2: Retirando corrente de e injetando corrente em todos os outros vértices
Pelos mesmos argumentos que na primeira situação, a corrente chegando em a partir de será dada por:
Tratemos agora da superposição dessas duas situações.
Situação 3: Situação 2 + Situação 1
Nessa situação temos uma corrente sendo injetada em e uma corrente sendo retirada de . Além disso, sabemos que:
Dessa forma, podemos aplicar a lei de Ohm no resistor que liga e , além da definição de resistência equivalente para obter:
No caso do cubo, seria simples aplicar outras simetrias conforme no exemplo 3 para verificar esse valor, contudo, para sólidos mais complexos o princípio da superposição passa a ser a melhor opção, conforme poderá ser observado no exercícios relacionados.
Cadeias Infinitas
Assim como vimos na Ideia 22, quando trabalhamos com cadeias altamente simétricas/infinitas, podemos acabar encontrando a cadeia dentro dela mesma e assim utilizarmos isso para calcular sua resistência equivalente. O exemplo mais simples disso segue abaixo:
Exemplo 5:
Calcule a resistência equivalente entre os terminais da cadeia infinita mostrada na figura abaixo. Após encontrar a fórmula geral, substitua
Se desconsiderarmos as duas primeiras resistências, pintadas de laranja na figura abaixo, vamos obter uma cadeia idêntica, pintada em azul na figura abaixo.
Sendo assim, chamando de o valor da resistência equivalente da cadeia, deve valer:
Manipulando, temos:
Aplicando Bháskara, obtemos:
Onde a raíz negativa foi descartada por falta de significado físico. Substituindo , obtemos então:
Exercícios Relacionados
Triângulos
Calcule a resistência equivalente entre os pontos e na seguinte configuração:
Você pode tentar calcular a resistência na força bruta ao aplicar diversas transformações Delta Estrela ou aplicar uma simetria e utilizar somente uma transformação. No lugar de uma transformação também pode tentar calcular as correntes por lei das malhas.
Simetria básica
Calcule a resistência equivalente entre os terminais e :
Cadeia infinita com Baterias
Sabendo que a cadeia infinita abaixo de resistores e baterias pode ser trocada por uma bateria equivalente em série com um resistor equivalente, calcule o valor dessa resistência equivalente e dessa bateria equivalente.
Você pode utilizar a mesma técnica utilizada no exemplo 5 com o teorema de Millman ou pode manipular a organização da cadeia para encontrar uma equipotencial e recair em problemas conhecidos.
Dodecaedro
Determine a partir de simetrias e do princípio da superposição a resistência equivalente entre os vértices vizinhos de um dodecaedro de resistores idênticos com resistência .
Simetria Básica 2
Calcule a resistência equivalente entre os pontos e na rede de resistores abaixo.
Generalizando
Determine:
a) A resistência equivalente entre dois vértices opostos da diagonal principal de um quadrado onde cada aresta tem resistência .
b) A resistência equvalente entre dois vértices opostos da diagonal principal de um quadrado onde cada aresta tem resistência .
c) Generalize a solução dos itens anteriores para um cubo N-dimensional. Verifique os casos particulares e .
Para o item , trabalhe em um sistema de coordenadas cartesianas onde cada vértice é caracterizado por coordenadas, podendo cada uma delas ser ou , o comprimento da aresta do cubo N-dimensional. A partir daí, busque simetrias semelhantes às utilizadas no item b).
a)
b)
c)
Malha Infinita
Calcule a resistência equivalente entre dois vértices vizinhos de uma malha quadrada e infinita de resistores onde cada aresta é um resistor de resistência , em seguida, generalize para uma malha semelhante onde cada vértice tem vizinhos.
e
Roda de Resistores
Uma roda de resistores é um polígono regular de lados onde cada aresta é um resistor de resistência . Além disso, há resistores de resistência conectando cada vértice do polígono ao centro da roda. Defina como a resistência equivalente entre dois vértices vizinhos do polígono nessa situação e a resistência equivalente entre um vértice e o centro. Determine em função de , e . (Sem usar ).