Problemas da Semana 7 - Solução

Escrito por Caique Paiva

Iniciante: Em um estado, quaisquer duas cidades estão ligadas por uma estrada. Um tirano decidiu transformar todas essas estradas em estradas de mão única, de modo que se alguém sair da cidade, ele não consegue mais voltar. É possível fazer tal crueldade?

Conhecimentos Prévios Necessários:

  • Grafos

A resposta é sim!

Primeiro, vamos redefinir o problema para a linguagem de grafos. Uma cidade vai ser um vértice, e dois vértices são ligados por uma aresta se, e somente se, tem uma estrada que vai de uma cidade que ele representa para a outra. Agora, numere os vértices de 1, 2, \cdots , n. Vamos direcionar a aresta \overrightarrow{ij} se i > j. Por exemplo, para n = 4, o grafo ficaria da seguinte maneira

Então, suponha que temos como sair de um vértice v_1 e voltar pra ele. Isso significa que tem um ciclo direcionado no grafo! Seja v_1 v_2 \cdots v_t v_1 esse ciclo, então, significa que as arestas \overrightarrow{v_1 v_2}, \overrightarrow{v_2 v_3}, \overrightarrow{v_3 v_4}, \cdots \overrightarrow{v_{t-1} v_t} \overrightarrow{v_t v_1} estão no grafo, e pela maneira que construimos o grafo, v_1 > v_2, v_2 > v_3, v_3 > v_4, \cdots v_{t-1} > v_t, v_t > v_1, ou seja, v_1 > v_1, absurdo! Portanto, não temos um ciclo, e então esse grafo satisfaz as condições do problema.

 

Intermediário: Seja ABCD um quadrilátero cíclico de circunferência \Gamma e seja X = \overline{AC} \cap \overline{BD}. Sejam E, F pontos em (ABX) de modo que \overline{EF} é paralelo a \overline{AB}. \overline{FX} encontra (CDX) em G. Faça EX encontrar AB em P, e XG encontrar CD em Q. Seja S a intercessão da mediatriz de EG com \Gamma de modo que S está mais perto de A do que de B. Prove que a linha paralela a PQ por S é tangente a \Gamma.

Conhecimentos Prévios Necessários:

  • Quadriláteros Cíclicos
  • Teorema de Tales
  • Potência de Ponto e Eixo Radicais

(Para ampliar a imagem, basta clicar nela)

Lema:  EG \parallel PQ

Prova: Sabemos que AB \parallel EF, então, como ABEFX estão todos na mesma circunferência, e ABEF é um trapézio, logo AE = BF, e então, \angle PXB = \angle EXB = \angle AXF = \angle QXC , além disso, como  ABCD é ciclico,  \angle PBX = \angle ABD = \angle ACD = \angle XCQ , então, \Delta XBP \sim \Delta XCQ.

Além disso, temos que  \angle XGC = \angle XDC = \angle BDC = \angle BAC = \angle BAX = \angle BEX , e já sabemos que \angle BXE = \angle GXC , então \Delta XEB \sim \Delta XGC.

Com essas duas semelhanças, temos que \frac{XP}{XQ} = \frac{XB}{XC} e \frac{XB}{XC} = \frac{XE}{XG}, então \frac{XP}{XQ} = \frac{XE}{XG}, então, por tales,  EG \parallel PQ_\blacksquare

Agora, veja que Pot_{\Gamma}P = PA \cdot PB = PE \cdot PX = Pot_{(EXG)} P por potência de ponto em (ABXE), e Pot_{\Gamma}Q = QC \cdot QD = QG \cdot QX = Pot_{(EXG)} Q por potência de ponto em (CDGX), então, PQ é o eixo radical de \Gamma com (EXG).

Então, seja O o centro de \Gamma e O_1 o centro de (EXG), e como PQ é eixo radical dessas duas circunferências, OO_1 \perp PQ, e como PQ é paralelo a EG, OO_1 \perp EG, e como O_1 está na mediatriz de EG, OO_1 é mediatriz de EG, então O, O_1 e S são colineares! Então, seja l a reta tangente a \Gamma por S, logo  OS \perp l e OS \perp PQ, então l \parallel PQ, como queriamos provar.

 

Avançado:

Seja R^+ o conjunto dos reais positivos. Ache todas as funções f: R^+ \rightarrow R^+ de modo que, para todo x, y

f(xy+f(x)) = xf(y) +2

Conhecimentos Prévios Necessários:

Solução:

Seja P(x, y) a equação f(xy + f(x)) = xf(y) +2.

Lema: f é injetiva.

Prova: Se f(a) = f(b), então

af(b) + 2 = f(ab + f(a)) = f(ab + f(b)) = bf(a)+2

Que implica a = b.

Agora, fazendo

P(f(x), y) \rightarrow f(f(x)y + f(f(x))) = f(x)f(y)+2

P(f(y), x) \rightarrow f(f(y)x + f(f(y))) = f(x)f(y)+2

Então, como f é injetiva, f(x)y + f(f(x)) = f(y)x + f(f(y)) \rightarrow f(f(x)) - f(f(y)) = f(y)x - f(x)y.

Com essa equação, veja que

f(f(x)) - f(f(y)) = f(y)x - f(x)y

f(f(y)) - f(f(z)) = f(z)y - f(y)z

f(f(z)) - f(f(x)) = f(x)z - f(z)x

Então, somando tudo, temos que

f(x)z + f(z)y + f(y)x = f(x)y + f(y)z + f(z)x

Agora, sabemos que existem a, b \in \mathbb{R} tal que f(x) = ax+b e f(y) = ay+b. Vamos provar que f(z) = az+b. Veja que

f(x)z + f(z)y + f(y)x = f(x)y + f(y)z + f(z)x

\rightarrow (ax+b)z + f(z)y + (ay+b)x = (ax+b)y + (ay+b)z + f(z)x

\rightarrow axz + bz + f(z)y + axy + bx= axy + by + ayz + bz + f(z)x

\rightarrow f(z) = \frac{axz+bz+axy+bx-axy-by-ayz-bz}{x-y} = \frac{axz - ayz + bx - by}{x-y} = az+b

Como queriamos provar. Portanto, variando z entre todos os reais positivos, conseguimos que f é linear! Agora, vamos testar isso na equação original.

f(xy+f(x)) = xf(y) +2 \rightarrow a(xy + ax+b)+b = x(ay+b)+2

\rightarrow axy + a^2x + ab + b = axy + xb + 2 \rightarrow x(a^2-b) + ab+b-2 = 0

Para todo x \in \mathbb{R}^+, então, precisamos que a^2 = b, e ab +b - 2 = 0 \rightarrow a^3 + a^2 -2 = 0 \rightarrow (a-1)(a^2 + 2a + 2) = 0 então a = 1 ou a^2 +2a+2 = 0, o que é absurdo, pois a^2+2a+2 = (a+1)^2+1 \ge 1 > 0. Portanto, a = 1 e b = 1, logo, a única solução dessa funcional é f(x) = x+1.