Fala olímpicos!
O ouro na IOL (Olimpíada Internaciona de Linguística) também é coordenador do Noic de linguística! Dessa forma, não perderíamos a oportunidade de trazer uma entrevista exclusiva para vocês!
- Quando e por que você decidiu se dedicar ao mundo da linguística?
Comecei a estudar linguística no começo do ano passado (2022), quando descobri que passei para a última fase da Olimpíada Brasileira de Linguística (OBL).
A princípio, eu estava estudando só para ir bem na olimpíada, mas acabei descobrindo que eu adoro linguística e todos os fenômenos insanos que acontecem nessa ciência. Comecei a me dedicar muito ao projeto da OBL e às diversas atividades da última fase (listas, provas, debates, pesquisa científica), e acabei encontrando uma comunidade incrivelmente acolhedora, pela qual imediatamente me apaixonei.
Eu sempre gostei muito de aprender idiomas e palavras novas! Isso, somado ao fato dos problemas de linguística serem basicamente enigmas gigantes que você vai desvendando aos poucos, me puxou com muita força para o ambiente competitivo da OBL.
- Onde você se imagina profissionalmente daqui a alguns anos?
Pretendo estar fazendo algo relacionado a tanto linguística quanto tecnologia. Quero ser programador e pretendo trabalhar com linguística computacional (que, a grosso modo, estuda como os computadores “percebem” línguas humanas). Não tenho total certeza de em qual área específica, mas tanto os campos da inteligência artificial (visão computacional, processamento de linguagem natural) quanto o desenvolvimento de jogos me atraem demais.
Também quero celebrar a variedade linguística, valorizando povos tradicionais e suas línguas, que estão cada vez mais em perigo. Seja como ativista ou como trabalhador, quero preservar as línguas do mundo, que são todas lindas.
- O que te motiva na vida?
Me inspira demais a ideia de testar meus próprios limites e ver o que posso fazer de novo todos os dias. Fazer coisas novas, seja pela experiência ou simplesmente pela curiosidade, me dá motivação para esperar pelo amanhã.
Essa motivação vem de várias formas: fazendo uma olimpíada nova e estudando algo totalmente desconhecido (tipo a primeira vez que participei da OBL), memorizando centenas de dígitos do pi só pelo entretenimento, ou mesmo prestando atenção aos detalhes mais simples da vida e das coisas ao meu redor.
- Se você fosse um animal, qual seria?
Tem três animais que vêm à minha cabeça. Primeiramente, uma raposa, porque são animais espertos e conhecidos por se adaptarem bem a quaisquer áreas do mundo (e também porque eu acho fenecos muito fofinhos).
Se não for isso, eu provavelmente seria um gato (pois sou conhecido por dormir bastante ?), ou então um pato, por causa da minha voz de Pato Donald.
- Quais são os seus hobbies?
Gosto muito de jogar videogame para passar o tempo. Também escuto bastante música. Escuto J-Pop ou música eletrônica para me levantar o ânimo, ou então música clássica e electro-swing para ajudar a me concentrar enquanto estudo.
- Como foi a experiência de representar o Brasil na IOL? Quais foram os momentos mais marcantes para você?
Essa ideia de ir a outro país e conhecer pessoas do mundo todo é muito surreal para mim. Até o começo do ano passado, era meu sonho sair do país para participar de uma olimpíada internacional, mas estando no último ano do ensino médio isso era basicamente impossível. Mas aí aconteceu: surpreendendo a todos (até a mim mesmo), passei para a IOL ano passado, e este ano passei de novo.
Por isso, a experiência de representar o Brasil foi nada além disso: surreal. Representar todos os meus companheiros da Escola de Linguística e basicamente todos os brasileiros nessa olimpíada foi uma grande responsabilidade, mas ao mesmo tempo uma experiência única. Eu pude viver meu sonho, sair do país pela primeira vez, perder bilhetes de metrô, tomar banho de hidromassagem, e entrar em um castelo. Coisas que antes eu só via na TV, de alguma forma estavam acontecendo comigo, e até hoje acho que ainda não caiu a ficha.
Quanto aos momentos mais marcantes, vou listar alguns que eu consigo me lembrar com muitos detalhes, em ordem cronológica:
- Quando descobri que passei para a IOL pela primeira vez. Ficar entre os 8 melhores na seletiva era só um desejo que eu tinha com migalhas de esperança, que do nada virou um dos momentos mais felizes da minha vida.
- Quando embarquei em um avião de Guarulhos para Frankfurt, na Alemanha. Depois de 3 horas perdido no maior aeroporto do Brasil, eu estava finalmente deixando o país e me aventurando em um lugar totalmente novo.
- Minha primeira vez passeando pela Ilha de Man. Ignorando o fato que era bizarramente frio, era tudo lindo e muito novo para mim. O mais absurdo foi quando o pessoal da IOL nos guiou ao local da competição, e descobrimos que era literalmente um castelo.
- A segunda vez que passei para a IOL. O que me deixou mais feliz não foi o meu próprio resultado, e sim descobrir que meu melhor amigo, o Satoshi, passou junto comigo (depois de eu ter ajudado ele a estudar para a seletiva).
- Nossos passeios na Bulgária. Todas as vezes que subi as montanhas, passeei por Bansko ou perdi meu chinelo em um festival foram muito memoráveis, ainda mais com os outros “ioelers” 🙂
- O show do Imagine Dragons! Sim, fomos em um show deles depois da IOL, para comemorar nossos resultados incríveis (foram de MUITO longe os melhores da história do Brasil).
- Como foi o treinamento da IOL que ocorreu na Romênia?
O treinamento foi muito divertido! Para um pouco mais de contexto: antes da IOL esse ano, passamos uma semana na Romênia para treinar com a equipe romena, na Universidade de Bucareste. Foi um treinamento intenso e passamos horas e horas na universidade, treinando questões de todos os tipos, individuais e em equipe. Mesmo assim, valeu muito a pena, porque pudemos conhecer melhor a cidade nas horas vagas. Deu até para ir em uma lojinha de açaí!
- Como foi o processo para conquistar sua medalha de ouro?
Foi trabalhoso, mas ao mesmo tempo divertido. Eu me divirto bastante resolvendo problemas de linguística, e isso com certeza contribuiu nos meus estudos. No fim, foi muito uma questão de eu estar mentalmente preparado e confiante para fazer a prova (e também de um pouco de sorte de cair os tipos de questões que eu sou o melhor resolvendo).
- Você tem algum sonho irrealizável?
Tenho certeza que não. Há 2 anos, eu achava irrealizável o sonho de passar em uma olimpíada internacional. Há 7 anos, eu achava impossível passar na prova do colégio militar. E antes disso, eu achava que nunca ia gostar de estudar línguas (ou linguística, sendo mais específico). Tem muitas coisas, ainda hoje, que eu vejo como irrealizáveis. Mas só o tempo pode me dizer o que é e o que não é possível.
- Quais seriam suas dicas e conselhos para alguém mais novo que se interessa pela linguística?
A primeira coisa que eu gostaria de fazer é te parabenizar! Você está entrando em um mundo incrível e sem limites (que é o estudo das línguas), além de estar prestes a conhecer a comunidade maravilhosa e acolhedora.
Eu acho que a coisa mais difícil de pegar no começo é como fazer questões, e para isso eu tenho duas dicas:
- Procure materiais legais de aprofundamento! O NOIC está abrindo um curso que você pode acessar aqui. Uma parte legal da linguística é que, para as olimpíadas, não tem muito conteúdo teórico que você precisa aprender. O que vale mais é aprender boas estratégias de resolução.
- Faça muitas questões, aprenda com a experiência! Veja vídeos de resolução do canal da OBL (que é por onde eu aprendi várias estratégias que usei na IOL), e resolva o máximo de questões que conseguir. Eu criei uma planilha de estudos para resolver questões, você pode acessar ela aqui.
É isso olímpicos! Esperamos que tenha gostado da entrevista! Se você se interessou pela área e quer descobrir mais, então visite nossa área de linguística!