Fala olímpicos!
A Olimpíada Internacional de Economia aconteceu do dia 24 de julho ao dia 2 de agosto, na Grécia. O Brasil obteve o primeiro lugar na competição mundial! E para comemorar trouxemos uma entrevista mais que especial de um dos nossos medalhistas de ouro Pedro Porto.
Confira abaixo quais dicas de Pedro para quem está começando, quais são seus hobbies, um pouquinho da experiência na Grécia e muito mais!
- Quando e por que você decidiu se dedicar ao mundo da economia?
Desde o nono ano a ideia de participar em olimpíadas de economia, mais especificamente a OBECON, já me atraía. Entretanto, por conta do tempo já apertado durante o ensino médio, eu hesitava em tirar tempo das olimpíadas de matemática (que já estavam mais “garantidas” para mim) para dedicar às de economia. Por isso, quando finalmente acabei o ensino médio, decidi dar essa tentativa e acabou sendo bem melhor do que imaginei.
- Onde você se imagina profissionalmente daqui a alguns anos?
Como eu sou alguém que desde muito tempo tem certeza que quer entrar no mercado financeiro, nos próximos anos pretendo estar aí iniciando minha carreira em IB (também gosto muito de Asset Management, então talvez eu mude de ideia) no BTG Pactual aqui no Brasil, caso eu decida retornar depois de fazer faculdade fora, ou em algum dos bancões como o Goldman Sachs, caso eu decida ficar por lá.
Acredito que é sempre estar pensando no próximo passo, na próxima meta. Para mim, isso é importante pra não simplesmente acomodar quando consegue uma conquista significativa, que é uma coisa que infelizmente acontece com muita gente, a pessoa conquista o que queria, passa a achar que já cumpriu o dever e acaba relaxando, e como consequência entra num processo de queda absurda. Por isso, desde minha primeira conquista na minha primeira olimpíada, que foi um prata na Olimpíada de Matemática de Goiás, eu sempre coloco na cabeça esse pensamento de “e agora?”; nesse início, colocava minha meta como conquistar as olimpíadas nacionais; depois de ter conseguido meu ouro na OBMEP e prata na OBM, coloquei como meta chegar nas internacionais; depois de ter medalhas na IGO e OM-CPLP, coloquei metas em expandir para outras áreas como astronomia por exemplo, na qual depois acabei chegando a ser membro suplente do time brasileiro pras internacionais, e assim o processo continuou até chegar o hoje.
- Se você fosse um animal, qual seria?
Provavelmente eu seria um camaleão; digo isso porque acho que a habilidade dele de mudar para se adaptar de acordo com seu ambiente é de certa forma análoga à minha versatilidade para me adaptar a qualquer coisa que me coloquem para fazer, habilidade essa que é o que está por trás do meu sucesso em matemática, física, astronomia, e economia, ao mesmo tempo.
- Como o desafio NOIC de Business Case te auxiliou na sua conquista?
Acredito que ele foi a oportunidade perfeita que apareceu na hora exata que eu precisava para desenvolver as habilidades que estavam me faltando. Até aquele momento eu não tinha muita noção de como fazer um business case, já que só tinha feito uma vez antes, para a IEO Winter Challenge, e que mesmo assim não contava, já que não era sequer uma correção especializada e não tive nenhum tipo de feedback. Por conta disso, tiveram algumas coisas que eu só consegui perceber no desafio NOIC, principalmente o aspecto da praticidade: acredito que até como resultado da minha bagagem em olimpíadas de matemática, eu tinha muito a teimosia de fazer as coisas absolutamente corretas, deixar o modelo financeiro 100% redondo e embasado, deixar todas as mínimas pontinhas aparadas, e eu percebi que simplesmente não é isso que vai te fazer ganhar o case, e sim muitas outras coisas muito mais importantes que eu deixava de lado por querer focar demais só no conteúdo - por exemplo storytelling, a parte gráfica dos slide, etc; querendo ou não, os juízes são humanos, então importa muito mais você vender sua ideia de uma maneira harmoniosa e clara do que você ter uma análise tão minuciosa sobre a qual eles sequer vão perguntar muito.
- Quais são os seus hobbies?
Diria que meu hobby principal é tocar guitarra, já que eu sou um cara completamente obcecado por jazz e blues especificamente, então passo grande parte do tempo aprendendo riffs e truques desses gêneros; além desse, acredito que o segundo maior seriam as cartas, isso porque sou um colecionador de baralhos, então gosto muito de passar horas e horas vendo novos baralhos para importar, fico ligado em novas coleções, etc; e o terceiro, que na verdade é bem relacionado, seriam os jogos de baralho, principalmente poker e blackjack.
- Como foi a experiência de representar o Brasil na Grécia? Quais foram os momentos mais marcantes para você?
Acredito que as melhores palavras para descrever a experiência seriam gratificante e enriquecedor, isso tanto pelas pessoas que conheci durante esse caminho todo - os amigos que fiz na delegação brasileira e que quero levar pra vida toda, as personalidades importantes que conheci, como o André Esteves e o Roberto Sallouti, e os participantes de outros países, como por exemplo os mexicanos, com quem jogamos bola e saímos para um beach club juntos - quanto pelo lugar em si - até porque foi minha primeira vez na Europa, e ir visitar a Grécia, conhecer a Acrópole e o Estádio Olímpico, ir para uma ilha mundialmente famosa como Mykonos, entre outras coisas, seriam experiências que eu não teria nem mesmo nos meus sonhos se não fosse pela IEO. Por último, diria que representar o Brasil na Grécia foi tenso, isso porque nosso país tem um histórico tão forte que existe uma tensão e um medo enorme de “deixar a peteca cair”.
- Como foi o processo para conquistar sua medalha de ouro?
Muito árduo e cheio de dúvidas, isso porque em questão de poucos meses eu tive que absorver uma quantidade absurda de conteúdos e habilidades, ao mesmo tempo em que conciliava uma das faculdades mais difíceis e demandantes do Brasil, que é a Engenharia na Escola Politécnica da USP, com ainda o fator extra de eu estar participando de olimpíadas de economia pela primeira vez, então durante os estudos para a OBECON eu me questionava se eu não estava fazendo algo vazio demais, isso porque via pessoas que estudavam há muito mais tempo que eu, tinham participado de mais edições que eu, e achava que não teria alguma chance.
- Você tem algum sonho irrealizável?
Sim, com certeza vários, sendo o principal deles me tornar um pesquisador em astrofísica; não porque acho que isso seja um sonho impossível em si, claro que é possível se tornar um pesquisador em astrofísica, só falo impossível no sentido de conciliar isso com uma carreira em IB.
- Quais seriam suas dicas e conselhos para alguém mais novo que se interessa pela economia?
Arrume pessoas para trilhar todo esse caminho com você; não importa o quão motivado você esteja, essa motivação não é suficiente para te manter sentado numa cadeira estudando por meses, você PRECISA de alguém com você que torne esse processo engajante, sirva como um “fiscal” de disciplina, e sirva de um gancho que te puxa para cima. Não existe nada que motiva mais você a estudar do que discutir os problemas de uma lista, por exemplo, com algum amigo seu que está estudando junto.
Mas essa primeira dica serve para qualquer coisa, falando agora especificamente sobre economia, diria que o mais importante é nunca se dar por convencido. A regra é a seguinte, se tá simples e direto demais, tá errado; fuja de pessoas e materiais que te fornecem conclusões fáceis demais, procure sempre aquilo que tenha análises profundas o suficiente para considerar os efeitos, contra efeitos, e efeitos indiretos. De longe a coisa mais importante para começar a pensar como um economista é entender que você sempre vai estar falando de trade-offs, escolher algo sempre vai implicar em deixar de escolher outra coisa, e você como economista tem que saber lidar com esse ônus ao invés de simplesmente esconder um dos efeitos e só falar sobre o mais conveniente. Uma frase engraçada que ilustra isso é a do presidente americano Truman: “give me a one-handed economist!”